quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Rafael - o craque

Em pé: Goiano, Olavo, Idário, Homero, Roberto e Gilmar. Agachados: Cláudio, Luizinho, Baltazar, Rafael e Nonô.

1946 - Depois de um "rachinha" no Parque D. Pedro II, nos reunimos no salão de recepção da paróquia de São Vito Mártir. Quase todos Congregados Marianos, dirigidos pelo Roque Teófilo, colaborador da antiga Rádio 9 de julho e, posteriormente, militar e mensageiro cristão pela Rádio Bandeirantes.
O Roquinho, como o chamávamos carinhosamente, atendendo o apelo da garotada, como eu, na faixa de 14 a 16 anos, resolveu fundar um clube de futebol. Em junho desse ano nascia o Juvenil São Vito, posteriormente o “Extra” e depois São Vito F.C.
Quase todos os elementos de origem italiana, “bareses”, de Polignano à Mare, pequena província de Bari e que hoje empresta seu nome à antiga rua Alvares de Azevedo, onde está localizada a igreja de São Vito.
Na f
ormação da diretoria, além de mim, estavam meu primo Vicente Carrieri, Rafael Chiarella, Francisco Stoppa e o Roquinho, naturalmente.
Nos sobrenomes de todos, no time, predominava os oriundos, Chiarella, Laruccia, Monaco, Carone, Labate, Calcagnite, Stoppa, Teófilo, Dragone, Batelli, Zupo, Carrieri, Scarico, Latini, Borreli, etc. Junto a “baresada” contavámos, também, com os espanhóis Rufino, Salgueiro, Ruiz etc. Árabes como Scaf, Simbol, Moisés, Carduz etc.
É com muita saudade que recordamos os jogos de rua, que antecederam a formação do Clube S. Vito, onde já se vislumbrava o vistoso e brilhante futebol do Rafael Chiarella, que todos queriam ter do seu lado nos “rachinhas” de rua ou no parque Dom Pedro II.
Pra se ter uma idéia de como o Rafa tinha uma intimidade com a bola, a partir de uma jogada simples, mesmo que seu marcador soubesse o que ele faria, era driblado com toda a facilidade. Tinha um lance, quando a pelada era disputada na calçada do “parafuso”, antiga metalúrgica na antiga rua Alvares de Azevedo, ele usava a parede como tabela, como se fosse snooker, deixando seu adversário com cara de bobo, inclusive eu. Não era preciso ser adivinho ou futurologista pra se prever o futuro craque que seria o Rafael.
Os jogos do São Vito eram todos nos campos do adversário e, quando chegavámos, a assistência era enorme, porque sabiam que aquela tarde ia ter Rafael. Só uma coisa ele decepcionou: palmeirense “roxo” de carteirinha, mesmo com ajuda de parentes, conselheiros do Palmeira, não conseguiu entrar no “verdâo”.
Na época o Palmeiras já sofria do assédio dos famigerados “corneteiros”, que sempre p
rejudicaram o time na seleção de novos valores. Com a ajuda de Nardo, outra vítima dos “corneteiros”, foi para o Corinthians, com 17 ou 18 anos, completando uma carreira simplesmente BRILHANTE, tendo conquistado, entre tantos títulos, o de Campeão do IV Centenário, em 1954.
São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos, Portuguesa etc, tinham, na época, grandes craques, mas, o Rafa se destacava pelo finíssimo futebol que praticava e encantava. Ele era o somatório de um Heleno de Freitas, com Ademir da Guia e um Didí.
Hoje, só resta a lembrança daqueles bons tempos. O Rafael, como quase todo o time do Coringão daqueles anos, já faleceram.

Por Modesto Laruccia

11 comentários:

Soninha disse...

Olá, Modesto!

Sampa com seus ídolos...com seus valores...com suas paixões...
Bacana suas recordações, Modesto.
Eu não entendo muito de futebol...
Mas, estou procurando ficar mais atenta e, as memórias futebolísticas mostradas, aqui, pelos autores, estão me ajudando a conhecer um pouco mais do esporte predileto dos brasileiros.
Valeu, Modesto!
Obrigada.
Muita paz!

Luiz Saidenberg disse...

Boas recordações, Modesto, de um grande craque e ainda seu companheiro das peladas no Brás.
Bela homenagem. Abraço.

Zeca disse...

Sua narrativa, Laruccia, me faz sentir como se estivesses vivendo tudo aquilo que, com suas belas crônicas, traz de volta para o presente. E posso sentir-me feliz por fazer parte desse saudoso passado que nos deixou belas lembranças e muita saudade. Inclusive de pessoas que deixaram impressas as suas marcas, como os craques que, pessoas como você, felizmente, não deixam que se percam pelo tempo.
Obrigado pelos bons momentos em que me ajuda a viajar de volta ao passado e rever tudo aquilo que, sabemos, não voltará jamais.
O tempo se encarrega de fazer com que tudo à nossa volta mude e, com isso, nós também vamos nos adaptando e mudando. Se não fossem as lembranças e a saudade, nossas vidas seriam menos ricas.
Abraço.

Unknown disse...

Modesto,conhecia esse time do Corinthians da foto.Pois naquele tempo,sabíamos de cor e salteado, a escalação do nosso time e também a dos adversários.
O Rivelino, assim como o Rafael, também era palmeirense e fez carreira no time da fazendinha.
Uma bonita homenagem ao grande craque Rafael,com quem você teve o privilégio de jogar.
Um abraço

Miguel S. G. Chammas disse...

Modesto, um dos sonhos de minha vida que nunca pude ver realizado era assistir a, pelo menos, um jogo com o Rafael envergando a poderosa camisa alvi-verde.
Lindo relato.

Modesto disse...

Quero agradecer a Sonia, nossa editora, pelas fotos e ilustrações, neste e noutros textos, que enriquecem sobremaneira os escritos apresentados. Apesar de ter privado da amizade com o Rafael, não tinha e nem sabia da existência da foto do Rafa.
Muito obrigado, Sonia.

Arthur Miranda disse...

Sabe Modesto, eu adorei a chegada do Rafael no meu timão, pois acho que todo corintiano sentia que ele seria a continuação do grande Luizinho, já com sua carreira em declínio. Rafael era o futuro. Assisti muito jogos do Rafael no Pacaembú, e acho que todo corintiano como eu gostavam do futebol brilhante do Rafa, a minha unica queixa contra o Rafael era o fato do mesmo desfalcar o Coringão quando o jogo era fora e o mesmo não viajar de Avião ( palmeirense medroso)kkkkkk. Parabéns Modesto por recordar em sua narrativa esse grande meia Rafael.

MLopomo disse...

Rafael realmente era um craque, Modesto. Só não entendo como que ele com esse sobrenome jogava no Corinthians, No jogo de 6 de fevereiro de 1955, Corinthians 1 x 1 Palmeiras, empate que deu o titulo ao Corinthians, ele só não definiu o jogo já ao final, porque era ainda bastante jovem. Chegou livre a frente de Laércio e numa pequena indecisão dele, fez a defesa.Lamentavelmente Rafael Chiarella, faleceu muito jovem.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Modesto, maravilhosa homenagem ao Rafael, excelente meia-esquerda que, infelizmente, não vestiu a gloriosa camisa do Palmeiras, parabéns pelo texto, Nelinho.

Laruccia disse...

Um recado ao Miranda e ao Lopomo: realmente o Rafa tinha um medo patológico de viajar de avião. Na juventude sua mãe, Dna Lúcia, carregava seus bolsos de remédio. Talvez aí, resida a lenda de que ele morreu de cirrose hepática. Nunca bebia nada, a não ser guaraná e coca-cola.
Mario, quanto ao sobrenome, Chiarella, ele era realmente palmeirensa mas, vc não deve esquecer que o Corinthians foi fundado por italianos, também.

MLopomo disse...

Modesto. É verdade o Corinthians foi fundado por italianos,um deles Salvador Lopomo era homônimo de meu avô, só que era da família do Bom Retiro, e meu avô Salvador Lopomo da família Lopomo de Pinheiros.Quem descobriu isso foi o Mauro Pinheiro, em 1970, quando eu estava na radio bandeirantes e ele recebeu um livro dos 60 anos do Corinthians, e na ata de fundação constava o sobrenome Lopomo. Mesmo palmeirense digo que o Corinthians foi grande principalmente na década de 50