quarta-feira, 25 de novembro de 2015

As esfihas duplas


 
imagem: Rua Barão de Itapetininga - década de 60
 
No início dos anos 60, bem ali, na rua Barão de Itapetininga, junto à Livraria Francesa, o seu Natalino vendia aquelas esfihas gordurosas em uma estufa que ficava na porta de um bar.
Em volta da tal estufa, transeuntes de poder aquisitivo irrisório, eu era um deles, se reuniam para degluti-las na hora do almoço.
Eu era office-boy e trabalhava ali perto, na Galeria Califórnia, e sempre marcava o ponto na porta daquela bar.
"Seu Natalino, manda ver uma esfiha dupla aí para mim, não comi nada até agora" pedia eu.
Com o pegador de metal, o seu Natalino colocava uma esfiha sobre a outra e as dobrava colocando-as naquele papelzinho liso que não absorvia nada.  Era a tal "esfiha dupla". Depois de encharcá-la de limão com aquelas bisnáguas um tanto encardidas, seu Natalino estendia o braço dando-me a preciosa iguaria. Além do limão, o que não faltava era o óleo que a esfiha esbanjava.
Normalmente o freguês se inclinava para a frente e recuava os pés para trás evitando que o óleo caísse no sapato quando a esfiha era abocanhada. Como ganhava pouco e não tinha grana para gastar em sanduíche e em PF, as esfihas duplas do seu Natalino quebravam um galhão.
Bons tempos aqueles.
Por Nelson José Xavier da Silva
 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Lembranças da 4ª série

 
imagem: "O SOLDADO TANAKA" - DE GEORG KAISER - 1959 TEATRO BELA VISTA - SÃO PAULO TARCÍSIO MEIRA E SÉRGIO CARDOSO


Quando estava na 4ª série do ginásio (oitava série ou novo ano hoje), fazia parte de uma comissão de alunas que não queria a diretora na nossa escola (Instituto Feminino de Educação Padre Anchieta). A famosa Dona Helena.
Enfim, um dia, o jornal da hora do almoço da TV Tupi (Tico-Tico e Maurício Loureiro Gama) chamou essa comissão para falar do caso e eu, no auge da minha adolescência, vi Tarcísio Meira no mesmo ônibus que eu (um daqueles que saía da Praça do Patriarca). Eu o conhecia dos teleteatros da mesma TV Tupi e, como acompanhava as críticas no jornal, sabia do ator jovem e bonito, que havia participado de O Soldado Tanaka. Naqueles tempos eu só havia assistido Gigi no Teatro Bela Vista, com Paulo Goulart, onde Conchita de Moraes apareceu e foi aplaudida em cena aberta (eu não entendi, mas aplaudi também porque sabia que era alguém importante). 
Bem, tudo isso, apenas para dizer que hoje assisti, via internet, ao Roda Viva, onde Tarcísio Meira foi entrevistado e, não sei porque, lembrei do meu amigo Miguel. Até sei, pois o Miguel Chammas era o diretor-produtor-primeiro ator do GATO, Grupo Amardor de Teatro Ozanam e, um vez, trabalhou no Teatro Bela Vista e participou de um "teatro jovem", inclusive com Osmar Prado.
Padre Anchieta, Miguel, Tarcísio Meira, Teatro Bela Vista são passado, mas não passaram .
Por Teresa Fiore
 

sábado, 7 de novembro de 2015

Molecagens

 
 
imagem etraída da internet: Rua Tuiuti - Tatuapé - década de 50 e 60
 
Tatuapé, parte de cima, década de cinquenta, a única rua calçada com paralelepípedos era a Tuiuti, a artéria principal do bairro, as travessas, ruas do Ouro, Platina e paralelas eram todas de terra.
 A molecada se divertia, as brincadeiras mudavam sem que ninguém percebesse, era tempo de uma coisa, de repente era de outra, tempo de pião, bola de gude, pipa, raquete. Cada bairro tinha sua peculiaridade. Num lugar os garotos empinavam pipa, noutros maranhão ou papagaio, nós empinávamos quadrado ou barraca.
 Uns jogavam bolinha de gude, outros burquinha, mesmo sendo o mesmo jogo. Nós jogávamos raquete, noutros bairros o mesmo jogo era betis ou taco. Mãe da rua, queimadas, palha ou chumbo, onde está fica. As únicas brincadeiras que não tinham seu tempo certo eram as peladas de futebol, entre nós ou contra os da rua de cima ou de baixo, que as vezes rendia belas brigas, coisa de que anos depois riamos a valer. E no mês de junho, os balões e fogueiras.
 Havia também o tempo de colecionar figurinhas, as famosas Balas Futebol,
 colecionávamos as figurinhas com a foto dos jogadores e jogava-se fora as balas, intragáveis de tão doces. Certa ocasião, por absoluta falta de dinheiro e excesso de imaginação, começamos a colecionar maços de cigarros, e como nas figurinhas, tinham os fáceis e os difíceis. Marcas como Continental, Belmonte, Macedonia, Beverly, eram os mais fáceis, tinham os mais ou menos, Hollywood, Luiz XV, Mistura Fina, e os mais difíceis eram os famosos cigarros ovais Fulgor, Castelões, Aspásia e o dificílimo
Caporal Lavado, havia também o Negritos, um cigarro com papel escuro adocicado e uma infinidade de quebra peito que naquele tempo não vinham com o aviso que cigarro faz mal e nem as fotos assustadoras de hoje, que parece, ainda não assustam ninguém. O bairro estava crescendo e com inúmeras construções, brincávamos no monte de areia, de caminhão, e o nosso "caminhão" era um tijolo.
Cada coisa no seu tempo, não sei dizer se era melhor ou pior do que nestes tempos de videogames, lan houses etc., mas lembro-me que o grande "bandido" da época era o Menegueti, uma espécie de Robin Hood, que nos dias de hoje seria um Franciscano, e o mais grave que acontecia com as pessoas, as adultas claro, era um "nervoso" que era curado com chá de cidreira. Não se ouvia falar em stress, depressão ou síndrome do pânico.
Como diria minha mama Angelina: Mária Vérgine, como era buono San Paolo nos  anos tchincoenta.
 
Por José Beira