Dona Deolinda nasceu e sempre viveu aqui em nossa Capital, São Paulo, na realidade ela jamais pisou em outra cidade, nem mesmo Santos, Jundiaí, ou nenhuma outra cidade da Grande São Paulo. Deolinda sempre foi uma pessoa virgem de outras cidades. Ou seja, jamais saiu de nossa capital.
Nasceu na Barra Funda em 31-08-1910 - AC (antes do Corinthians), na Rua Vitorino Camilo e, se estivesse viva até hoje, estaria com 100 anos e comemorando seu centenário juntamente com seu time, o Corinthians. Em 1929 morou na Rua Dona Veridiana, depois foi para a Rua Tenente Lande, na chamada Lapa de baixo e, por fim, veio para a Freguesia e aqui viveu até o final de seus dias.
Foi educadora, pessoa muito querida e amada por todos os que a conheceram. Era uma professora carinhosa compreensiva, gostava de ouvir, falar e trocar idéias com todos os seus alunos, até mesmo aqueles mais difíceis.
Solteirona, aprendeu com as mulheres mais velhas de sua época a não confiar muito nos homens, a coisa que ela mais ouvia de sua mãe, avó e tias era: - Cuidado menina, os homens são todos iguais. Afirmação que posso garantir ser uma grande mentira e não passar de mito. No exame médico que fiz para a seleção militar, em 1958, no Quartel do Exército, o 4º RI em Quitaúna, eu já pude constatar pessoalmente que, se você colocar 40 homens pelados juntos, nenhum é igual ao outro; uns são grandes até exagerados, outros médios e alguns até pequenos demais.
Na igreja ela cantava no coro, era catequista, acendia a vela do padre, sempre com aquele seu jeitinho ingênuo, cuidadoso, carinhoso, falando baixinho; em verdade, era mesmo como todos costumavam dizer, a mão direita e a esquerda da paróquia.
Em 29 de Agosto de 2002, ano em que a Freguesia do Ó comemorou seus 422 anos de fundação, eu encontrei-me com ela, bem idosa com seus 92 aninhos de vida muito bem vividos, é claro, carinhosa simpática e ingênua como sempre.
Toda feliz e sorridente me cumprimentou e, pela conversa, percebi que sua memória já não era tão boa; falou dos sobrinhos que foram meus amigos de infância e então, toda gentil, explicou a razão de toda sua felicidade, com sua voz já fraca e arrastada.
- Nosso mundo, Arthur, é uma coisa muito boa; ainda tem muita gente boa e educada nesse mundo. Imagine você que eu peguei, ontem, o vagão do metro tão lotado, mas tão lotado, que não aguentei mais e fiquei de cócoras. Aí, um cidadão muito gentil e delicado, levantou-se para me dar seu lugar e ainda comentou:
-Sente-se aqui, minha senhora, esses marmanjos ai sentados quando entra uma mulher bonita, jovem, e de mini-saia eles vão logo dando o lugar, porém, quando entra um bucho igual à senhora eles fingem que não estão vendo.
-É, Dona Deolinda! E agora com o Tiririca, pode acreditar, que melhor que isso não fica.
Por Arthur Miranda (tutu)
Nasceu na Barra Funda em 31-08-1910 - AC (antes do Corinthians), na Rua Vitorino Camilo e, se estivesse viva até hoje, estaria com 100 anos e comemorando seu centenário juntamente com seu time, o Corinthians. Em 1929 morou na Rua Dona Veridiana, depois foi para a Rua Tenente Lande, na chamada Lapa de baixo e, por fim, veio para a Freguesia e aqui viveu até o final de seus dias.
Foi educadora, pessoa muito querida e amada por todos os que a conheceram. Era uma professora carinhosa compreensiva, gostava de ouvir, falar e trocar idéias com todos os seus alunos, até mesmo aqueles mais difíceis.
Solteirona, aprendeu com as mulheres mais velhas de sua época a não confiar muito nos homens, a coisa que ela mais ouvia de sua mãe, avó e tias era: - Cuidado menina, os homens são todos iguais. Afirmação que posso garantir ser uma grande mentira e não passar de mito. No exame médico que fiz para a seleção militar, em 1958, no Quartel do Exército, o 4º RI em Quitaúna, eu já pude constatar pessoalmente que, se você colocar 40 homens pelados juntos, nenhum é igual ao outro; uns são grandes até exagerados, outros médios e alguns até pequenos demais.
Na igreja ela cantava no coro, era catequista, acendia a vela do padre, sempre com aquele seu jeitinho ingênuo, cuidadoso, carinhoso, falando baixinho; em verdade, era mesmo como todos costumavam dizer, a mão direita e a esquerda da paróquia.
Em 29 de Agosto de 2002, ano em que a Freguesia do Ó comemorou seus 422 anos de fundação, eu encontrei-me com ela, bem idosa com seus 92 aninhos de vida muito bem vividos, é claro, carinhosa simpática e ingênua como sempre.
Toda feliz e sorridente me cumprimentou e, pela conversa, percebi que sua memória já não era tão boa; falou dos sobrinhos que foram meus amigos de infância e então, toda gentil, explicou a razão de toda sua felicidade, com sua voz já fraca e arrastada.
- Nosso mundo, Arthur, é uma coisa muito boa; ainda tem muita gente boa e educada nesse mundo. Imagine você que eu peguei, ontem, o vagão do metro tão lotado, mas tão lotado, que não aguentei mais e fiquei de cócoras. Aí, um cidadão muito gentil e delicado, levantou-se para me dar seu lugar e ainda comentou:
-Sente-se aqui, minha senhora, esses marmanjos ai sentados quando entra uma mulher bonita, jovem, e de mini-saia eles vão logo dando o lugar, porém, quando entra um bucho igual à senhora eles fingem que não estão vendo.
-É, Dona Deolinda! E agora com o Tiririca, pode acreditar, que melhor que isso não fica.
Por Arthur Miranda (tutu)
7 comentários:
Salve Da. Deolinda!
Aethur voce alem de ótimo é um felizardo. Eu gostaria tanto de poder enmcontrar minhas professoras do primário (era assim mesmo que se intitulava o curso, Da. Lourdes, Da. Rina e até a megera Da. Angela, mas nunca vi essa possibilidade.
Paciência né?
Olá, Arthur!
Parabenizo a todos os professores e professoras, pelo caminho redentor que é a educação, principalmente a educação das crianças.
Desta forma, bem humorada, ficou excelente este preito de amor e gratidão, na figura de Dona Deolinda.
A alegoria trouxe, também, um tema importantíssimo, as eleições....a escolha de nossos representantes, na Câmara e no Senado e também na Presidência República.
A educação é a arma mais poderosa. Há que se educar as crianças para não ter que doutrinar os adultos...
Esclarecimento, conhecimento, clareza das informações e passá-las de forma correta, sem iludir às crianças, acredito ser o caminho para salvarmos nossa nação e todo o mundo.
Pretensão?? Não. Fatos.
Oxalá possamos contribuir com isto, de uma maneira ou de outra.
"Sim. Nós podemos."
Muita paz!
Olá, Arthur!
Com que então D.Deolinda, com 92 anos ainda conseguia ficar de cócoras dentro de um vagão de metrô?! Coisas que víamos nas pessoas de "antigamente", mas que já não vemos mais na atualidade, pois hoje não se usa mais ficar nessa posição, até mesmo porque as pessoas não conseguem. Quanto à falta de educação dentro dos coletivos, está virando uma peste, pior que erva daninha! São jovens, adolescentes, que se sentam em qualquer lugar vazio, inclusive aqueles reservados para idosos, gestantes e demais pessoas com necessidades especiais, e lá ficam, fingindo que estão dormindo ou, então, na cara de pau mesmo, sem se dignarem a oferecer o lugar às pessoas mais necessitadas. Mesmo fora desses lugares reservados, não custaria nada um gesto de gentileza e respeito, não acha? Mas parece mesmo que a gentileza não está com nada hoje em dia. Vale mais a famosa "lei de Gerson", onde impera o dar-se bem em qualquer circunstância. Aqui entra o comentário da Soninha (acima), enfatizando a necessidade de muito mais empenho dos nossos governantes no quesito educação, que anda cada vez mais esquecido por todos. É hora de pensarmos muito bem nos discursos e programas de governo dos candidatos e priorizarmos aqueles que se preocupam com a base fundamental de uma sociedade que é a educação. Em decorrência da educação o resto já melhora, como a saúde e a segurança; embora estas duas também devam ser priorizadas ao lado daquela. E para nós, que estamos desfrutando o auge da maturidade, se torna cada vez mais urgente nos empenharmos por essas melhoras que nunca vêm. Um grande carinho e gratidão a todas as donas Deolindas, às já em outro plano e às que ainda estão por aqui. E um grande abraço a você, criador destas deliciosas crônicas.
Doce recordação, Miranda, consagrando a vida de uma professora, não uma simples mestra e sim uma senhora PROFESSORA, cuja profissão debilitada com a esmagadora filosofia do "quanto pior, melhor" em matéria de ensino.
Com relação a falta de educação nos coletivos, eu, quando jovem, sempre respeitei os idosos, em bonde, ônibus, trens e até no avião bem antes de se tornar lei. Agora que sou um deles, (idoso DP (depois do Palmeiras)não deixo por menos, escolho um destes "dorminhocos" e convido-o a me dar seu lugar. "Se balançar o corpo, vai pra mão do delegado", como diz o samba do Billi Blanco.
Parabéns, Tutu.
O que é a vida, Arthur. Coisas extraordinárias acontecem, diáriamente. Vc encontrar sua professora, e a pobre ainda estar tomando, com tal idade, um apertado coletivo. E de pé. Sofreu, até encontrar una buona anima, que, mesmo sem muita fineza, ofertou-lhe o lugar.
Morei tb na Vitorino Camilo, no ano que passamos em S. Paulo,1946. Uma boa e simples pensão familiar, prédio, que,junto com seus colegas, sobradinhos da quadra,
pitorescamente sobrevive até hoje. Abraços.
Arthur, que sorte encontrar ainda viva a sua professora, infelizmente a má educação ainda persiste em algumas pessoas, gostei do final quando o cavalheiro gentilmente chamou a Dna, Deolinda de bucho, depois dessa só o Tiririca sendo eleito com 3 milhões de votos, parabéns pelo texto, abraços. Nelinho.
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