segunda-feira, 29 de julho de 2013

Memórias médicas



Sou um memorialista, não nego, mas nem todas as minhas memórias são de coisas agradáveis. Algumas poucas, bem sei, são amargas e dolorosas, mas não posso me furtar em lembrá-las.
A memória que originou este texto é recente. Aconteceu há poucos dias, mas tenho certeza, será lembrada com dor até o fim de meus dias.
Bem, sem mais delongas, sem rodeios e caminhos tortuosos, vamos ao registro desse episódio constrangedor a que me submeti recentemente.
Quando entramos na “melhor idade” somos obrigados a dar “melhor vida profissional” aos médicos e demais profissionais da área da saúde. Comigo nada é diferente.  Há poucos dias fui a uma consulta com a geriatra que controla minha vida, receitando drogas que possam me manter ativo e independente. Independente até a página terceira, pois ganhei de uns tempos para cá, a companhia constante de minha fiel escudeira em todas as entrevistas médicas que sou obrigado a comparecer.
Necessário registrar que não estou, de forma alguma, reclamando da companhia, mas na presença dela algumas mentiras, ou melhor, algumas ocultações de verdades não mais me são permitidas. Ela não permite e me desmente abertamente.
Pois muito bem. Nessa recente consulta eu já havia decidido que iria comentar de minha preocupação em reativar um acompanhamento urológico, mercê de pequenos probleminhas que vinham ocorrendo. Essa decisão veio à baila na consulta e, questionado, disse que estava inclinado, acreditando ser necessária uma consulta com o especialista da área.
Ela, de imediato recomendou uma colega especialista em Urologia e prescreveu os exames preliminares de sangue e urina que eu devia fazer para apresentar na primeira consulta.
Sabendo ser uma médica quem iria me atender, desarmaram-se as “restrições machistas”. Marquei a data, fiz os exames e esperei o momento da consulta.
Na data aprazada, nos encaminhamos, eu e minha fiel escudeira para o local onde a médica nos atenderia. Lá chegando, bisbilhotei e descobri que a doutora em questão era bem mais jovem do que eu imaginara. Assim sendo, fiquei ainda mais tranquilo. Na certa ela era adepta de procedimentos mais modernos e teria abolido as práticas hediondas de urologistas do passado.
Fui chamado e adentramos ao consultório. Sentamo-nos e o bombardeio de perguntas teve início. Respondia a todas lógico, evitando pintar de vermelho ou ser demais alarmista nas respostas. Evitava olhar para o lado da minha acompanhante para não ver o olhar reprovativo para algumas respostas menos esclarecedoras.
Pronto, a inquisição terminava sem maiores consequências. Analisando os resultados dos exames que eu lhe apresentara, a médica conclui que meu caso não era de extrema dificuldade. Uma acentuada perda de hormônios exigia uma reposição imediata. Outros pequenos problemas deveriam ser combatidos ministrando remédios paliativos.
Convidou-me a médica a acompanhá-la para o outro lado do consultório, sem a minha acompanhante e  pediu-me que deitasse numa maca. Confesso que no momento, dando vazão à minha veia histriônica, pensei, agora ela vai me “abusar”.
Deitei. Pediu-me ela então que soltasse minha cinta, abaixasse a calça e a cueca até os joelhos, dobrasse as pernas e relaxasse o corpo.
Disse, então, a frase mais indesejada “-Fique calmo, não vai doer nada!” e, de imediato, procedeu ao gesto odiado, mas claro, necessário.
Pensei: “até tu, doutora?”. Nem tive tempo de buscar uma resposta mais esclarecedora; ela, como se estivesse ministrando uma aula, foi apalpando, ou melhor, dedilhando e dizendo, aqui está a próstata, não tem nada de anormal, apenas está um tanto alterada devido sua idade.
Terminou a consulta, mandou que eu me recompusesse e disse, vou lhe ministrar uns remédios para o período de um mês e depois, no seu retorno, vamos ver como estará (acho que ela gostou de me dedilhar).
Recebi a receita, agradecemos e saímos. Comentei com a Sonia que tinha sido abusado com muito carinho, no que ela concordou.
E nos dirigimos à farmácia para comprar os tais remedinhos. Foi então que eu percebi que minha urologista era, realmente, uma grande tarada. Um dos remedinhos por ela receitado tinha o custo, absurdo de R$ 269,00. Prova mais do que clara que ela queria mesmo me F......., não comprei o remédio e estou pensando seriamente se irei ao retorno da consulta, uma vez que ainda sou um pobre e remediado aposentado que ganha pouco e não tem reposição de perdas há muitos anos.




Por Miguel Chammas

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Flagrado no ato


A cena é mais que clássica, e já se prestou a muitos contos e mesmo piadas. O cidadão vai para a cama com a amante, no apartamento dela, e eis que o marido volta, depois de perder o avião, ou desistir da viagem. E aí, o outro fica no mato sem cachorro, ou num apartamento sem saída, com uma sacadinha para o abismo, ou coisa assim.
É trágico, ou cômico, ou em dois exemplos, de Fernando Sabino e Luiz Fernando Veríssimo, tragicômico. Mas, no fim essas histórias terminam bem, o que deve ser difícil na dura realidade.Espera-se que este caso também termine numa boa, mas isto vocês vão saber no final.
Meu amigo trabalhava em publicidade, num agencia da Av. Brigadeiro Luís Antonio. Numa pitoresca galeria de esquina. Tinha algum dinheiro e lá o seu charme, e por isto a bela morena engraçou-se com ele. Ela vivia com um senhor considerávelmente mais velho, o de imediato já levanta suspeitas sobre seu caráter. E assim prosseguia o caso. Um belo dia...
Aliás, bela noite. Ficaram de se encontrar após o expediente dele. Mas não é de hoje que agencias de propaganda não respeitam limites de horário. Ele, louco para revê-la, o outro tinha ido para o hospital, e ela estava livre. E o serviço entrando, mais e mais. Tudo urgente, para amanhã.
Passava muito da hora combinada, e não conseguia desgrudar dali. Até que, a deshoras, terminou enfim sua missão. Ela devia estar furiosa, achou melhor ir até o apartamento, que ficava na Alameda Santos, ali perto.
Estacionou e entrou no velho prédio, sem complicações. Naqueles inícos dos anos 70 porteiro, câmera eletrônica, tudo isso era raridade. Chegava-se, e geralmente entrava-se dar sem maiores satisfações. Bateu à porta, e a morena apareceu de baby doll. Puxou-o para dentro.
Mais tarde descansava na cama do casal, e aí, como na história clássica...a chave girou na fechadura da sala! O dono da casa teria tido alta do hospital? Desistido do tratamento, que não era coisa grave? Não havia como escapar. Pior que na crônica de Sabino, em que havia uma sacada com persianas para se esconder, ali não havia nada. A grande vidraça nua dando para o vazio.
Para baixo da cama, se esconder no armário? Complicadas soluções. Na dúvida, aguardou o desenlace. Mas, então, graças, era só a irmã mais nova que voltava do colégio! Meu amigo suspirou de alívio. Recobrou o ânimo, e como escreveu Rubem Braga, " éramos rapazes "!
Respirou fundo, e partiu para o segundo tempo.



Por Luiz Saidenberg

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O mais longo dos dias (dentro de um cinema)


imagem enviada pelo autor, sem legenda

Houve um momento em minha vida que cinema era mais sagrado do que missa.
Aos 14 anos de idade já estava em processo de rompimento com a igreja pela falta de respostas às minhas perguntas ou a não divulgação das verdades desejadas.
Depois de estudar em colégio de padres e pela obrigatoriedade em assistir missas todos os domingos, acabei achando tudo meio sufocante.
Sempre tive um lado espiritual forte dentro de mim, mas que esbarrava nos dogmas e ainda ter que engolir a tudo de modo obrigatório.
Frequentava então as missas da paróquia de São Dimas na Vila Nova Conceição. Mas o que era imperdoável eram os comentários jocosos das beatas sobre as roupas repetidas e risinhos de deboches todos os domingos.
Tal comportamento acabou por me levar a romper com essa rotina.
Estudei na Escola Meninópolis (Brooklin) e no Colégio São Alberto (perto do Paraíso). Tentando buscar respostas acabei por encontrar novos caminhos... 
Morando no bairro de Vila Nova Conceição, éramos bem servidos no quesito de cinemas.
Eram cinco salas de exibições ao largo da mesma avenida: Cine Graúna -1960 (depois Chaplin), Cine Guarujá (depois Excelcior), Cine Bruni Vila Nova-1966 (depois Cinelândia II), Cine Vila Rica -1963 (depois Del Rey) e Cine Radar. No Brooklim havia ainda o Meninópolis e na Joaquim Floriano, o Cine Iguatemi.    
Ao entrar adolescência, não perdia uma matinê aos domingo. Com tal variedade de salas, dava até pra escolher.
Nessa época, os meninos andavam à caça nas matines especificamente para arrumar alguma namorada. Tentar era parte do jogo. Os resultados nem sempre eram satisfatórios.
No escurinho do cinema todos os gatos são pardos, então a ordem era atacar, enrolar ou puxar conversa mole e aproveitando para oferecer Dropes Dulcora ou Mentex para suavizar qualquer hálito. Se o papo colasse, era meio caminho andado. Quanto mais vivência, melhor era o aprendizado. A ordem era arriscar sob pena de ficar sozinho.
Com os hormônios fervendo éramos levados avante quase que sem perceber
Era a época da aproximação em relação às garotas e vive versa.
Garotas e garotos tinham seus medos e receios, mas também tinham vontades e desejos. Era a energia parecido com um imã.
Iniciada a sessão, o escuro dentro do cinema pouco dava pra perceber algum tipo de beleza. O que valia mesmo era a paquera. Uma gracinha bem colocada poderia render o céu é o infinito. Uma palavra mal colocada colocava tudo em risco.
Hoje sabemos que o bom humor é a chave na paquera.
Aceito a gracinha, era o sinal verde quase que imperceptível para seguir adiante...
Perguntas sobre o nome, onde moravam e estudavam, se estava gostando do filme ajudavam a pavimentar a conversa. Ficávamos a espreita de algum pequeno sorriso, que hoje sabemos que poderia de incentivo ou nervosismo.
Mas ali nada disso era sabido
Depois de alguma conversa, passava-se a segunda etapa, que era tentar aproximação das mãos.
A procura pelo contato das mãos, calor delas acabavam por misturar as ansiedades.
As tentativas eram muitas. Os resultados eram menores.
Mas quando davam certo, corações quase pulavam de corpo de cada um.
Apertar a mão de uma garota até então desconhecida era empolgante, gerava energia de calor, satisfação e de bem estar.
Nas primeiras vezes, dava vontade de querer parar o tempo e assim permanecer para sempre.
Amigos mais experientes já usavam a técnica de posicionar o braço por cima da cadeira e do ombro da menina.
Mas esse era um passo ainda futuro.
Passávamos o filme inteiro a esperar uma cena de amor para tentar algo mais arriscado, um beijo no rosto ou nos lábios...
Para aquele domingo escolhemos o Cine Excelcior, o filme não ajudava muito, passava Os Dez Mandamentos com 4 horas de exibição, era cansativo, mas dava mais tempo para se fazer diversas tentativas...
A sessão começou às 14 horas e terminaria às 18.
Após muitas tentativas que ocuparam quase 4 horas com poucos resultados, resolvemos ficar para tentar para a sessão seguinte.
Fracasso total, pois o público já era outro.
Ao invés de ir embora ficamos indo pra cá e pra lá sem ter certeza do que fazer.
A lotação do cinema era de 600 lugares. Éramos em 4 amigos.
Depois de muito perambular fomos novamente ao banheiro para fumar escondido.
Saindo do banheiro vimos algo no chão. Era uma carteira que aparentava estar bem gordinha.
A intenção era gritar, mas abafamos nossos gritos após abri-la.
Encontramos uma carteira com quase Cr$ 400,00. A entrada para o cinema custava Cr$ 10,00.
Ao ver tanto dinheiro assim ficamos excitadíssimos.
Resolvermos ficar sentados na segunda fileira para observar se o dono estaria à procura.
Assim permanecemos por mais uma sessão de quatros horas.
Aguardamos calados e ansiosos durante todo esse tempo.
Fomos os últimos sair da sessão ao final dessa sessão que terminou às 22 horas.
Na rua dividimos em quatro partes a grana e fomos para o Chico Hambúrguer na Galeria do Bruni. Hambuguers , milkshakes, bananas splits... Comemos até não poder mais...
Depois compramos cigarros e soltamos fumaças até cansar e ainda sobrou muito dinheiro que ficou para a outra semana...
Mais tarde, disfarçadamente, deixamos a carteira vazia, mas com todos os documentos na caixa do correio do cinema.
Sim, foi errado. Politicamente incorreto. Éramos jovens, imprudente e imaturos, mas foi divertido.
Com o tempo a gente amadurece e toma prumo.



Por Luigy Marques   

segunda-feira, 22 de julho de 2013

"E agora, José?"


Imagem: Museu do Ipiranga

Num tom levemente interrogativo, o meu pai nos convidava a dar uma volta pelos jardins do Museu do Ipiranga. Invariavelmente a resposta era positiva e rápida. Silencioso sempre, o meu pai olhava o entorno, provavelmente se lembrando da sua infância pobre no Ipiranga e eu, na minha meninice, olhava com respeito os jardins magníficos. De tão gigantesco e sagrado eu imaginava  que aquele espaço nem era meu. Especialíssimo demais para uma mortal que ainda dava os primeiros passos para algum entendimento.
Visitávamos o lugar com uma roupa melhor, com o par de meias mais branco e não comprávamos pipoca do carrinho e nem sorvete de groselha.
Tentei comprar um picolé uma vez. Aluna de quarto ano primário, a professora resolveu nos levar até lá. A turma caminhou por ali, observando todos os detalhes possíveis. Perguntei a ela se eu poderia comprar um sorvete, ela respondeu: “mas, Vera, eu não sou tua mãe”.  Não comprei.
Mas por ali rondava alguma poesia, melodias incrustadas  nas paredes, dentro de uma arquitetura singular para a historia do Brasil.  Com uma arquitetura  de inspiração renascentista e  a  busca da beleza mais perfeita,  a forte presença dos aspectos humanistas e a utilização sistemática da perspectiva marcaram a renovação artística. Uma renovação  nascida numa Itália economicamente próspera e que se desabrochara na grande produção do conhecimento. Do ponto de vista técnico, a arquitetura eclética também se aproveitou dos novos avanços da engenharia do século XIX, como a que possibilitou construções com estruturas de  ferro forjado e, além do uso e mistura de estilos estéticos históricos, a arquitetura eclética  se caracterizou pela simetria, busca de grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa.

A cidade de São Paulo passou a ser o nosso maior retrato das grandes mudanças do final do mesmo  século XIX. A antiga cidade de taipa de pilão foi sendo gradativamente substituída por construção de tijolos, trazidos pelos ingleses e fabricados posteriormente por italianos. A grande produção do café dinamizou a economia e o progresso se tornou bem mais visível. A abolição da escravatura promoveu uma forte migração – do campo uma generosa massa de escravos libertos se deslocou para a cidade buscando um trabalho mais digno e longe do açoite. Italianos, portugueses, espanhóis e mais tarde japoneses, árabes, judeus e tantos outros vieram para uma cidade única, receptiva para o trabalho e capaz de conviver com as diversidades  culturais. Ou melhor, mesclando os valores para então gerar um saber mais refinado, ímpar, riquíssimo.
Foi o período da história em que o  desenvolvimento comercial, urbano e cultural se firmaram de modo inconteste . Com uma indústria nascente, aos poucos o operariado urbano  foi se formando e os bairros operários, com o Ipiranga, Braz, Mooca, Belém foram ganhando uma dinâmica própria, com as suas habitações pequenas, sempre ao lado da fábrica. E tudo na mesma cor.
E foi nesse momento histórico, no meio a transformações significativas e únicas, que surgiu a ideia de se erigir um monumento para homenagear um marco político daquele mesmo século: o episódio da Independência do Brasil ganharia o seu espaço cultural próprio, o Museu do Ipiranga.
Bem ali,às margens do riacho, onde foi teoricamente difundido  um imaginário coletivo apropriado para aquele tempo: a figura do herói, a valorização do ideal de nação.
Para a edificação do Museu,  foi contratado como  o engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi em 1884, somente inaugurando sua obra arquitetônica 6 anos depois.
E não há um estudante no país que não tenha se encantado com aquela história amarrada de romantismo: o herói deu um grito, foi aplaudido, passou a ser venerado e a nação passou a ser tecida com as cores  verde, sendo referência à casa de Bragança, da qual fazia parte D. Pedro I e o  amarelo simbolizando a casa dos Habsburgos, da qual fazia parte a princesa  Leopoldina, esposa do Imperador.
Com ou sem a influência da Escola Romântica, sempre pronta a idealizar, o monumento retrata uma parte da identidade nacional. Impossível se passar por ali indiferente. Tem história ali, tem vida em movimento. Centenas de operários  construíram um símbolo num trabalho envolvendo suor e um cansaço infinito. Ciência e paixão, sonhos e buscas. Tempo... ah, o tempo, sempre cercado da eterna musicalidade das almas inquietas, da necessidade imperiosa do contar e deixar o olho brilhar com o encantamento das conquistas...
E leio na Folha de São Paulo (edição eletrônica – 05/04/20l3)

“Os banheiros estão interditados por falta de condições, o mato invade os jardins, um resto de pipa está enroscado em uma das surradas estátuas dos representantes da independência do Brasil e a cripta com os restos mortais de d. Pedro 1º serve de "motel" para casais mais afoitos.
Os elementos formam o atual cenário do complexo dentro do Parque da Independência, com o Monumento à Independência, museu e áreas protegidas, no Ipiranga, na zona sul de São Paulo”.

E, apesar de todos esses pesares, atropelos de sentimentos, refletindo sobre a construção histórica do Brasil, é preciso resistir. Fabricar forças para que o conhecimento tenha espaço, saber que as críticas haverão de inundar as nossas almas, ferir sonhos, mas o projeto de nação não foi definido.  É preciso gritar, mas gritar muito, muito mais que o grito simbólico do primeiro imperador. Urrar, fazer acordar... acordar para o respeito aos trabalhadores do conhecimento, criticar apontando soluções, sofrer para a defesa do espírito. E jamais esmorecer. Que tenhamos vida, crenças e a sabedoria para não nos entregarmos à mesmice.
Por isso, cito Drummond:


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!





Por Vera Moratta

sábado, 20 de julho de 2013

Quando a TV chegou



Fiquei pasma quando vi o que minha televisão atual é capaz de fazer. É uma máquina poderosa, praticamente igual a um computador, de tela fina de led, fácil de carregar, de uma imagem muito precisa onde podemos assistir programas em 3D.
Olhando para meu novo monumento aqui na sala de tevê acabei por lembrar-me da primeira televisão que ganhamos quando ainda éramos crianças, lá no bairro da Penha. Da marca SEMP preta e branca, era formada por uma grande caixa com uma tela finalizada com um tubo, além de muito pesada tinha um seletor de canais barulhento e toda vez que girávamos ele fazia um tlec, tlec. Às vezes produzia um chiado e a imagem sumia restando apenas faixas horizontais que podiam ser arrumadas nos botões de sintonia fina.
Bem, na verdade era um trambolho se compararmos com as televisões dos dias de hoje, mas, para nós, era a melhor televisão do mundo, pois sabíamos que iríamos assistir os desenhos animados que eram apresentados dentro da seção “Zás Trás” e que a garotada da rua compareceria em massa em casa, pois éramos a única família a ter uma televisão, o que era uma grande novidade para todos.
Nossa alegria foi imensa quando a TV chegou, minha mãe achou melhor colocá-la sobre um móvel da sala e sentávamos no chão para assisti-la. Aos poucos, fomos nos familiarizando com os canais, com o seletor barulhento e com nosso novo horário de lazer. Meu pai era muito controlador e claro que controlava também os programas que podíamos assistir.
Lembro-me das dos desenhos alegres e deliciosos, eram uma atração infantil e que nos divertiam muito, inclusive os comerciais que passavam nos intervalos entre os desenhos. Nossos olhos eram praticamente colados na tevê para não perder sequer uma imagem, tudo era importante e bem vindo, tanto é que deixou uma marca gostosa de ser lembrada.
 O comercial que eu mais gostava e que dava água na boca era o do Biscoito São Luiz, tinha uma música fácil de memorizar e ao mesmo tempo aparecia uma linda lancheira cheia de biscoitos, que eu imaginava serem os mais gostosos que existiam.
Outros comerciais também eu gostava, como a do Cobertor Parahyba, aquela musiquinha que acompanhava , marcava minha hora de dormir.
Alguns dos comercias eram feitos com desenhos animados e uma boa sonoridade para fisgar as crianças.  Ainda me lembro de um comercial em forma de desenho animado da VARIG, ele contava a historia do Brasil, tinha “jingle” fácil e era de interação com público. O outro comercial também da Varig mais tocado na época do natal, tinha uma apresentação com uma estrelinha da companhia e o “jingle” era de Natal, tudo muito bonito para meus olhos de criança.
Desta forma, a televisão entrou em minha vida e também naqueles televizinhos da Rua Antônio Lobo, local em que eu morava. Com o tempo ela foi barateando e outras pessoas foram adquirindo. Com o tempo a TV se alastrou e hoje faz parte de todas as casas dos paulistanos, inclusive nas mais humildes desta grande cidade de São Paulo. Temos TVs de última geração até as mais simples, mas estão todas ali, fazendo parte do cotidiano das nossas famílias, entrando nas casas e na vida de todos os paulistanos.




Por Maragarida Peramezza

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Bolivianos



“ Compadre, vengo sangrando desde los puertos de Cabra. Si yo pudiera, mocito, ese trato se cerraba. Pero yo ya no soy yo, ni mi casa es ya mi casa” [Federico García Lorca, Romance Sonámbulo, em Obra Poética Completa]

Explosão de cores e buzinas, a pontilhar tarde invernal paulista com numerosos pontos de luz. Acordes andinos. O grupo com suas vestimentas típicas, toma de assalto a calçada da esquina da Praça Floriano, em SP. Munidos de suas quenas (flautas) e zampoñas (flautas de Pã), rasqueados de violões, charangos, e  marcações rítmicas de bombos lagueros.
Pintar a vida de imigrantes, com cores e acordes de sonhos mutantes. Eles estão por toda parte.  Por vezes, são confundidos com índios ou japoneses. Gente de pele morena, cabelos lisos e olhos puxados. Movidos a sonhos de melhores oportunidades. Fugindo da miséria em busca de oportunidade. Precariedade. Segunda maior comunidade de migrantes na cidade. Atrás apenas de portugueses, e superior a chineses e peruanos. São Paulo, cenário de passos e descompassos. Cidade que abraça e também sufoca.
Expressões sérias, solenes. Ainda pulsa a lembrança do menino assassinado por chorar e também porque os pais não tinham mais dinheiro. Residência provisória em cubículos. Tirar o RNE (Registro Nacional de Estrangeiro), só com emprego regular e renda. Por trás das máquinas de costura muito suor e sangue. Na luta contra o preconceito vencendo dificuldades. Um medo travado que paralisa a voz e suga a crença na justiça. Violência a estancar a fé e motivar a meia volta. Volver à terra natal. O que mais se deseja: “La paz”.
Dias de angústia e silêncio. A violência que fascina e tange. Violência grátis sem necessidade de passaporte. Em acordes dissonantes.




Por Suely Schraner

terça-feira, 16 de julho de 2013

O estouro da "boyada"



(A hora e a vez das feministas)

Boyada: – Bando, agrupamento de Office-boys (risos).

Fui um adolescente paulistano em plena Ditadura!
Ah! Os anos 60... Foi assim: Juscelino deixou a Presidência do Brasil ainda em clima de festa. Secou os cofres públicos, mas nos legou Brasília, a nova Capital Federal. A “Corte” saiu do Rio de Janeiro e mudou-se, mui a contragosto, para o Planalto Central. E o Rio de Janeiro - Distrito Federal - virou Estado da Guanabara.
Pois bem: Saiu o “Jusça”, ainda no “porre” da inauguração da “Novacap” e em seguida, subiu a rampa o Jânio Quadros, o homem que pretendia nos governar por “bilhetinhos” e de uma forma absoluta, ditatorial e paternalista. E o homem fez das suas no poder. Até condecorou o Cheguevara! E isso deu o que falar... Isso e a situação do Brasil fizeram com que as Forças Armadas começassem a se articular. Então, qual criança mimada e petulante, o Jânio resolveu renunciar, achando que “logo voltaria nos braços do povo”. Não voltou!... Ahahahaa! Assumiu o seu Vice, o João Goulart. Ai, a coisa degringolou de vez. Suas medidas salvacionistas e populistas (que uns diziam socialistas e, outros, comunistas) acabaram por levar o país à Revolução de 64. O bom do governo “Jango” foi Maria Theresa Goulart – a Primeira-dama mais “gostosa” que o Brasil já teve desde Nair de Teffé (Anos 10. Esposa de Hermes da Fonseca). E viva a Ditadura! Mas não por muito tempo. O “namoro” durou pouco...
Nos anos 60, a boyada “estourava” pelo Centro da Cidade, rumo aos seus compromissos e, no corre-corre, atropelava os transeuntes. Com os “milicos no poder”, transitar pelo centro de São Paulo era um misto de terror e prazer, êxtase e agonia. E sustos! Assalto a bancos, invasão do Martinelli que estava se transformando em um cortição vertical, onde os milicos acreditavam que havia “células” e terroristas (Puro mito.); suspeitas de bombas nos bancos e órgãos públicos. Os terroristas roubavam, matavam e morriam. E os sequestros?! Era o terror ganhado espaço na cidade.
Mas, um Office-boy era acima de tudo um otimista. “Borravam-se” de medo, mas se divertiam muito. E os boys transformavam a pichação “Abaixo a Ditadura” em “Abaixo a Dentadura” e “Abaixo a ‘Dita’ Dura”... Não! A ‘dita’ dura, não mesmo! Tem que continuar dura!
E havia repressão por toda parte. E passeatas. Passeata da turma do TFP, pedindo assinaturas contra todos e contra tudo. Estudantadas políticas, conflitos. Enfim, reprimia-se tudo, rebelava-se contra tudo. E estavam na moda os cassetetes de borracha – a grande estrela urbana do período!
A Cidade sufocada, quase em Estado de Sitio, voltou a uma normalidade incerta. Os “reaças” ainda faziam das suas; as greves se intensificaram e muitas, muitas passeatas relâmpago. Reação e Situação ainda  se enfrentavam. O governo então “endureceu”...
A turma da Ordem Política e Social mantinha o povo sob controle, tanto que a cidade deu uma aquietada. Mas, para não cair na ociosidade e perder “a mão”, o DOPS inventou mil e uma maneiras de repressão. Veio então, a “Moralizadora”. Começaram por vigiar a “Boca do Lixo”, os puteiros femininos e gays de Santa Efigênia e Campos Elíseos. Mas, não bastava: eles foram atrás das “meninas de luxo” que “trabalhavam” em boates do tipo “La Ronde” e “Michel”; perseguiram as prostitutas que “faziam a vida” pelas ruas; as lésbicas do Ferro’s Bar e os travestis da Avenida São João.  Era a vez das mulheres. Perseguiram até a Cassandra Rios e a Adelaide Carraro! E volta e meia, os “porta-jóias” (camburões) levavam as “táxi-girls” dos “dancings”, as “vedettes” e “show-girls” dos teatros de revista. Então, o  mulherio começou a “chiar”. E a se organizar, agrupar-se e sair para as ruas reivindicando os seus direitos... E, claro, direitos negados! Também iam presas. E “camburão” da Vadiagem era o que mais se via pela cidade...
Fim de quinzena era um inferno para os Office - Boys. Perdiam-se horas de lazer na Secretaria da Fazenda. Minutos preciosos de ociosidade eram desperdiçados dentro dos Cartórios de Protesto. E, não bastasse isso, reunida, a boyada estourava pelo Viaduto do Chá e invadia a “Light”, para depois, seguir para a Companhia Telefônica Brasileira e para os escritórios que ficavam lá no prédio dos Diários Associados e prédios comerciais adjacentes. Um subir e descer escadas que não acabava mais. E foi num desses fins de quinzena que, andando pela Rua Sete de Abril, eu, em meio à boyada, me deparei com uma passeata inusitada.
O mulherio (cerca de 30 mulheres, ou mais) saiu da Praça da República e entrou na Sete de Abril. Formavam um grupo compacto  que caminhava em nossa direção. Era um absurdo conjunto de feministas gritando palavras de ordem contra a ditadura repressiva e pregando a libertação e os direitos da mulher. As mulheres do grupo caminhavam decididas - a líder, com um sutiã na mão, símbolo da libertação da mulher - e todas com a blusa aberta, mostrando e balançando a peitaria. Diante daquela visão, os pedestres ficaram paralisados e, claro, excitadíssimos! O transito ficou atravancado. E a boyada, sacana como o diabo gosta, começou a assoviar e a dizer “gracinhas”. O mulherio continuava a caminhada, enquanto uma a uma do grupo despia a blusa. A boyada enlouqueceu diante daquele presente de papai do céu: um montão de peitos dançando livres em plena luz do sol. E os boys que, naquele momento, eram zero por cento de consciência política e cem por cento de testosterona, começaram a gritar: “As calcinhas! Tirem as calcinhas, já”! E em seguida, em coro: ”Sutiã na mão, calcinha no chão”!...
A cavalaria saiu da Republica e entrou com tudo na Sete de Abril, tentado controlar a situação, empurrando todo o mundo contra as paredes e para dentro de lojas e prédios. Tomavam e quebravam as máquinas dos fotógrafos-jornalistas, e, quebravam a cabeça deles também. Os policiais da PM largaram as viaturas nas ruas vicinais e “enquadraram” o mulherio que, por sua vez, partiu para os palavrões, acusando a Cavalaria e a PM de ser machista e chauvinista, e, de “mastins raivosos a serviço dos usurpadores do poder”. Mais viaturas, desta vez os camburões do DEOPS fecharam todo o quarteirão. As libertárias recuaram, tentando voltar à República. Encurraladas, nada mais puderam fazer. Foram empurradas contra a parede.
boyada ria, ironizava, divertia-se vendo como os policiais não sabiam o que fazer com toda aquela peitaria livre e solta. Estava difícil controlar e imobilizar com as mãos aquele mulherio raivoso e agressivo. Usavam o cassetete para mantê-las reunidas. E agrupadas ficaram até a chegada da Polícia Feminina.
O mulherio foi levado pelas policiais de volta a Avenida Ipiranga, onde foram revistadas no pouco que vestiam. E a boyada estava lá, junto, para conferir... Afinal, nunca se vira tanta peitaria “dando sopa” nesta São Paulo de Deus! A boyada continuava gritando: ”Sutiã na mão, calcinha no chão”! Chegaram mais policiais que, junto com a cavalaria e os cassetetes dispersaram os boys e a multidão. Aqueles desmancha-prazeres!
E, do outro lado da avenida, na calçada da República, vimos chegar mais camburões para levar o mulherio. E safada, com a testosterona a mil, a boyada se divertia, dizendo, a cada viatura que saia: “Está saindo o caminhão do Leite Vigor”... “Sai agora o caminhão do Leite União”... “Lá se vai o caminhão do Leite Paulista”... “ Com tanto buraco nas ruas todo esse leite vai virar coalhada”! Risadas, gargalhadas... De repente, acontece mais um “estouro” da boyada! Era preciso ligar para a firma e avisar que a cidade estava um caos. A boyada então disparou, levantando a poeira do chão, atropelando as pessoas, em busca de um telefone público... O dia tinha-se transformado em uma aventura e tanto!
À noite os telejornais mostraram o Brasil “cor-de-rosa”. Na manhã seguinte os jornais publicaram mais uma receita culinária que nunca dava certo. E fotógrafos e jornalistas cuidaram de suas feridas... Mas a boyada, ilesa, teve assunto para muitos meses.



Por Wilson Natale

sábado, 13 de julho de 2013

O falso progresso




Ao depararmos com a violência que reina nas grandes cidades, (e nas pequenas, também), tem-se a impressão de que vivemos numa época em que o materialismo impera, com tal intensidade que, melhor seria não  ter nascido.
Em outros tempos não havia tantos crimes, assaltos, sequestros, latrocínios, com ou sem a participação de menores. Principalmente em São Paulo. Verdade, isso? Nem tanto.
Se atentarmos, só  com o aumento da população em 50 anos,  a poderosa e imbatível facilidade de informações resultante do espetacular progresso eletrônico, nós, dessa faixa etária podemos, perfeitamente, avaliar o resultado disso na proximidade que se nos depara com a facilidade de comunicar-se via oral, teleobjetiva, transportável, encurtando distâncias que, sendo geograficamente sempre as mesmas, se tornam tão acessíveis, de fácil alcance que tornam o mundo mais pequeno, “menor” do que antigamente.

Faço este preâmbulo em favor da grande e boa parte da população, seja aqui em São Paulo ou em qualquer cidade do Brasil, até mesmo de outros países, que mantém sua dignidade, sua postura, seu comportamento e seu desejo de formar um mundo melhor e mais humano.
Para ilustrar esta posição, como a maioria dos colaboradores deste BLOG, tenho alguns casos pra contar sobre o falso conteúdo de que no passado a vida era bem melhor e mais civilizada, onde imperava o respeito, educação, menos miséria, mais amor, mais alegria enfim, ser feliz custava bem menos.

No meu querido bairro do Braz, quando eu era garoto, década de 40 ou 50, presenciei uma orgia selvagem, protagonizada por garotos da mesma idade que eu.
Eu me conheço muito bem, posso falar do garoto de 8 a 12 anos com muita liberdade e sei dos meus limites, de minha coragem, de minha esperteza, da minha indolência, de minhas fraquezas, da minha gula, dos meus sonhos, fantasias, onde a realidade era um trampolim pra eu alcançar tudo o que eu amava e queria. Sempre tive bons amigos, sempre fui feliz, nunca me deixava levar por atitudes torpes, covardes, mantinha (e mantenho até hoje, graças a Deus) uma linha de conduta onde a maldade não tinha (e não tem) morada.

Gostava, como todo garoto nessa idade, de brincar, jogar bola, “esconde-esconde”, “uma-na-mula” e toda a parafernália de  jogos infantis. Colecionava figurinhas, jogava “bafa-a-bafa”, etc. Difícil entrar numa briga, tão comum nessa idade, tinha medo, não me atraia socar (e levar, também).

Numa tarde, junto com estes garotos, estávamos brincando quando apareceu o “valentão”, o Andó, de triste memória que, dentro dos limites possíveis e imagináveis de um garoto de nossa idade, praticar um mal, voluntariamente, era fácil, pra ele. Nas rodas da turminha, ele “ensinava” como nascia uma criança. Com tenra idade, contava com detalhes todo transcorrer de um parto. Isso na faixa de 7 ou 8 anos. Não acreditei e deixei bem claro que era impossível uma criança sair de “buraco” tão pequeno e estreito. (naquela época os ensinamentos sobre isso não passavam de uma horta ou uma ave que sustentava no bico um bebê, vindo do céu...). Havia tempo pra tudo e todas as informações vinham no devido momento. Mas, o Andó, tinha todas as informações. Esperto demais, sempre mais vivo e, com isso se vangloriava de ser o “bam bam” e, na maioria das vezes, com uma boa dose de maldade.

Uma ocasião, no meio da turminha, chegou perto de mim com um pedaço de barbante e me intimou a ajuda-lo num “servicinho” em que todos iriam colaborar. Consistia no que, essa missão? O Andó explicou: Um vizinho descobriu uma gata que acabava de parir um bom número de gatinhos e o tal  vizinho mostrou onde estava a ninhada, num descampado da rua Assumpção. Ele queria “limpar” o terreno e pediu ao Andó, que enfiasse todos os filhotes num saco e fosse joga-los no rio Tamanduateí, ali pertinho. “Se vocês me ajudarem, vamos fazer isso, ó”: - passou o pedaço de barbante no pescocinho do filhote e o estrangulou, caindo na gargalhada falando que era mais fácil  transporta-los, sempre acompanhado do resto da turma.

Fiquei horrorizado, corri pra minha casa em prantos, minha mãe quis saber a razão e falei. Minha mãe chorou comigo, amante da natureza com poucas, achava uma selvageria sem limites, iria falar com os pais do “valentão”.
De nada adiantou, “são crianças, querem só brincar...”, respondeu sua mãe ou seu pai, não lembro direito, acho que os dois.
Deixando transparecer, com essa resposta, uma educação pouco amistosa, fui me afastando deles, selecionando novas amizades.
Obrigado.




Por Modesto Laruccia

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Aniversário do blog



Neste último mês de Junho (2013), nosso blog completou 3 anos.
Muitos textos, muitas fotos, muitas histórias pudemos ver e ler aqui. Já são 679 textos publicados, recheados de emoções.
Não fosse a colaboração de nossos amados e respeitados autores, esta meta jamais seria alcançada. O blog ainda é o que é, graças aos textos geniais, às histórias fantásticas trazidas por estes escritores, contadores de histórias.
Ao criarmos este espaço humilde era nossa intenção agregar os amigos e amigas, autores do site São Paulo Minha Cidade que, havia algum tempo, estava parado. Hoje, percebo que, mesmo o site tendo voltado à ativa, com seus altos e baixos, os colaboradores do blog continuaram perseverantes também aqui no blog, acrescentando brilho a este trabalho e trazendo novos amigos.
Sou imensamente grata por tudo isto. E espero continuar recebendo estas histórias maravilhosas de todos os queridos autores deste blog.
Que Deus os abençoe com muita saúde, sempre... Sustentando a todos na palma de Sua mão.
Parabéns a todos!
Muita paz!


Por Sonia Astrauskas

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Luzes que se apagam




Estava demorando. Diria que a luz estava pisca piscante, e ameaçava sumir a qualquer instante. Há muitos anos que o Cine Lumiére estava ali, na Joaquim Floriano.
Simples, honesto, com bela seleção de filmes, um remanescente da nossa época de juventude, do cinema de rua, que existia em qualquer bairro, e também no Centro de São Paulo, estes majestosos e em grande número.
Vi muita coisa boa ali, na simplicidade do cine decente e barato. Quase todos Woody Allen que assisti, filmes franceses, argentinos, italianos e nacionais. Nem estacionamento pagava; parava na ruazinha bem próxima e, em poucos passos, lá estava.
E ainda pegava pouco trânsito; era só descer a Santo Amaro, subir para a Joaquim Floriano e logo veria a humilde fachada. Uma vez, faz tempo,  perdi durante uma sessão um belo relógio Fóssil, que havia comprado na Macy´s, de Nova Iorque.
Só me dei conta ao sairmos na rua noturna. Voltamos, avisei na gerência, mas sem esperanças. Pois não é que me ligam, no dia seguinte? O excelente baixinho bilheteiro, que ainda há pouco trabalhava lá, o havia encontrado, varrendo a sala.
Querem cine melhor do que este? Pois é, bom demais para acreditar e, por isto mesmo, não existe mais. O Lumiére claudicava. Certa vez fomos ver um belo desenho francês, O Mágico. Feito a mão, como nos bons tempos, com a história de um ilusionista decadente, inspirado em Jacques Tati, que só encontrava plateias vazias, como estava no momento a do velho cine. Antes de o filme terminar, o Fim chegou, pensei. Logo, cerrar-se-ão cortinas e portas do espetáculo.
Ainda assim, o cineminha aguentou mais um tempo, e chegamos a encontrar sessões quase lotadas. Quase sempre pelos mesmos frequentadores; pessoas da terceira idade do bairro, que iam mais pelo hábito, nem tanto pela programação que, volto a afirmar, eram de primeira.
Ainda voltamos a ele, talvez há um mês. Mas, agora, na sessão de reclamações do suplemento da Folha, o atestado de óbito. Um espectador saudoso lastima, e com razão; a última sessão do cinema fora no dia 20 de Junho.
Um dos últimos cines de rua, de uma cidade em que sair na rua é cada vez mais uma aventura para audazes. Mais um pedaço bonito do passado que se encerra.
O Lumiére, tênue chama que se apagou discretamente, como sempre existiu.



Por Luiz Saidenberg

terça-feira, 2 de julho de 2013

Desabafo




Pois é, amigos do recém falecido site, SPMC, assassinado por delinquentes da fauna "populista" que infesta nossa querida SP. Fomos derrotados pelos tentáculos desse maldito "polvo" que é a política. Um prefeito que nada tem haver com nossa querida cidade, caindo de paraquedas no trono municipal, ninguém sabendo de onde veio, comandado por um partido cujo patrono nem paulista é. Estávamos tranquilos em nosso cantinho, sempre dentro dos padrões impostos pela equipe, sem envolvimento com política; de repente, com a revoltante "compra de votos", se elege, vencendo até o Sr. Serra, sufragado pelos votos de "nossos queridos conterrâneos", que aqui vivem. Não tenho preconceito e nem sou bairrista fanático, (só um pouquinho), mas ter que "engolir" goela abaixo um estranho no ninho, deixando-nos sem o SPMC,  é demais, insuportável, indigesto; não podemos, simplesmente, cruzar os braços, este site é nosso, por direito adquirido. Eu sei que você tem seus afazeres, Sonia, suas atividades não podem sofrer interrupções, precisamos comunicarmo-nos no maior número possível de voluntários, a fim de aguentar até a coisa melhorar.
Já somos aposentados, com salários de "fome", atravessando uma faze da vida atingindo a idade provecta, (nem todos, evidentemente) limitados por dezenas de motivos, uma das poucas distrações que desfrutávamos, era este site.

Não vou perder a linha, tenho que respeitar meus colegas e a vc, principalmente, que sofrem comigo, mas, a vontade que tenho de berrar nomes de origem pouco decentes, aaah, isso eu tenho, vocês podem imaginar o que quiserem, mas a realidade é bem pior.



Por Modesto Laruccia