sábado, 24 de novembro de 2012

OUTRAS MEMÓRIAS PATERNAIS



Outro dia, escrevi sobre o  Sr. Alfredo, meu pai e, com o coração machucado com acontecimentos presentes, não dei o devido valor a lances  memorialistas que me envolveram as ideias.
Depois de escrever, já devidamente acomodado no lugar de costume de meu sofá, novos flashes vieram povoar meus pensamentos. Então, registrei alguns deles no bloco de rascunhos e, depois, com mais calma, relatei-os neste texto.
Saí do meu confortável sofá, nada disso, trouxe a mesinha do notebook até a frente do meu confortável sofá, onde eu estava confortavelmente (redundantemente) instalado e  me preparei para digitar o texto.
Após angustiantes 30 minutos, nada havia sido digitado no Word que, à minha frente, permanecia puramente branco e imaculado.
Lembrei que até meus quatorze anos, via meu pai com a regularidade costumeira em nossa casa da Rua Augusta. Todos os dias, quando a noite descia lá fora, ele chegava. Então, era servido o jantar. Depois da mesa do jantar desfeita, da louça lavada, minha mãe e minha tia também se sentavam à volta da mesa para uma conversa informal ou para “assistir” com os ouvidos aos programas de Rádio que mais nos agradavam, tais como “Balança mas não cai”, “História das Malocas”, entre outros.
Nessas reuniões familiares foram tomadas grandes decisões, entre elas as viagens a Santos, para visitar meu Tio Miguel e minha Tia Maria.
Nessa casa, que tinha um único banheiro e residiam 12 pessoas, não aconteciam congestionamentos, tudo caminhava dentro de uma ordem natural, sem maiores problemas.
Depois, mudamos para a Rua Major Diogo ao lado do TBC e em cima do Nick Club. Meu pai ainda se fazia presente. Lembro-me dele amassando a pimenta dedo de moça, no prato, até fazer um patezinho para, depois, servir-se do feijão e dos demais complementos.
Lembro doa seus acessos de tosse todas as manhãs. Tosse que o levou anos depois à morte.
Nessa época, começaram a acontecer os primeiros distúrbios no casamento de meus pais. Foi aí que eu descobri que o grande ideal de meu pai era ter uma filha. Não podendo realizar esse sonho pelas vias naturais, minha mãe foi atrás da adoção de uma menina. Adotou uma que foi o xodó dele e dos irmãos, já crescidos.
Ela foi a única presente à sua cabeceira quando ele desencarnou.
Na verdade, mesmo sabendo disso, eu nunca senti ciúme da minha irmãzinha. O amor que lhe dedicava foi motivo de grandes desavenças no meu matrimônio. Minha “exposa”, ainda hoje jura que ela é minha filha, fruto de uma aventura passageira. O que não é verdade.
A grande verdade, que só hoje eu descobri, é que nunca pensei que me lembraria de verdade do meu pai depois de sua passagem para o outro plano.
Ledo engano. Lembro-me dele todos os dias quando, em baixo do chuveiro, pego o aparelho para me barbear.
Aí a raiva aparece. Por não ter um grande relacionamento com os filhos, meu pai nunca nos ensinou a forma correta de escanhoar a barba. Hoje eu sofro com isso, pois lá na minha juventude, sem saber como, eu pegava seu aparelho Gilette  e passava na face de todas as maneiras. Isso fez com que meus pelos da barba tivessem as raízes alteradas. Hoje minha barba cresce para todos os lados e me judiam quando, nas manhãs, me barbeio.
Pronto, está aí a pior lembrança que tenho do Sr Alfredo!

por: Miguel Chammas

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

UMA HISTÓRIA DO TEATRO DE REVISTA


 
No final do ano de 1964, famoso ano do Golpe Militar, eu trabalhava em uma Revista no Teatro Santana com texto de Max Nunes com produção e direção do saudoso e na época grande homem de teatro, J. Maia, ao lado de um grande elenco composto de Celeste Aída, Rodolfo Arena, Dino Santana, irmão do Dede e sobrinho do famoso Cole Santana, mais Maria Quitéria e Judite Barbosa.
Após a seção íamos invariavelmente para o Restaurante do Papai na Praça Júlio de Mesquita, ou o Restaurante Parreirinha e até mesmo às vezes para o Moraes, onde em contato com outros artistas, ficávamos sabendo das ultimas fofocas do dia, como também tomávamos conhecimento de novos shows e de novas piadas.
Depois aqueles que participavam de shows em casas noturnas iam para o seu trabalho, e então os mais famílias voltavam para suas casas, e os sem compromissos ou aqueles que não ligavam muito para esse fato, iam badalar pela noite até a madrugada e depois ainda faziam uma hora extra na Adega do Arouche ou no Restaurante do Eduardo no inicio da Rua Augusta.
Em uma dessas noites depois do jantar, alguém que eu não me lembro mais, me convidou para fazer um show com um bom cachê em Presidente Prudente, Fiquei estão em uma sinuca de bico, pois o cachê pago para esse show de duas horas era mais que metade do meu salário mensal no Teatro.
Fui para minha casa com a cabeça queimando entre o dever para com o Teatro, e a tentação de uma viagem com um belo cachê e então, combinei para dar a resposta logo cedo no dia seguinte
Acordei depois de dormir muito mal, e então na manhã seguinte cheio de remorsos optei pelo maior ganho e combinei o show em Presidente Prudente no ginásio do Estádio da Prudentina, depois de ligar para o escritório do Teatro e deixar o recado de que eu iria faltar por luto, e que minha mãe havia falecido.
E assim eu fui à Presidente Prudente faturei o cachê, e no dia seguinte fui para o Teatro, assim que cheguei novo drama de consciência. J. Maia e os colegas solidários vieram me abraçar e trazer suas condolências. Fiz a minha participação cheio de remorsos, foi mais uma noite de muito sofrimento e consciência pesada.
O tempo passou entrou o ano de 1965, e seis meses depois do triste episodio, e então minha mãe depois de um derrame veio a falecer de verdade enquanto eu estava trabalhando.
Quando voltei para casa e tomei conhecimento que o enterro dela seria no dia seguinte às dezessete horas, eu liguei para o Teatro dizendo que não iria trabalhar, e como não mais podia dizer que minha mãe havia morrido disse que a morta agora era a minha irmã.
Acho que J. Maia não acreditou muito em minha conversa e juntamente com um secretário, foi até a minha casa na Freguesia do Ò, para ver se a minha historia era verdadeira. Eles chegaram um pouco antes da saída do enterro.
Chegaram me abraçaram deixaram suas condolências, e foram embora.
No dia Seguinte assim que cheguei ao Teatro o porteiro me avisou para passar no escritório que a direção queria falar comigo.
Fui sabendo de antemão que haveria na melhor das hipóteses uma chamada de atenção, pois sábia que aquela minha mentira agora descoberta, não haveria de ficar barato.
Preparei o meu espírito, e parti para enfrentar a situação, que pelo zum-zum dos camarins, o meu "leite" estava fervendo na panela, já que todos os colegas estavam fofocando a meu respeito, os mais chegados solidários, mas a maioria condenando.
Cheguei no escritório com cara de deputado condenado pelo mensalão, sem encontrar nenhuma remota justificativa dentro de mim, que justificasse aquela minha conduta, de deixar um espetáculo artístico na mão, sem levar em conta o desrespeito para com os colegas que tiveram que improvisar as cenas das quais eu participava, pois o Lema do Teatro e: O ESPETÁCULO NÃO PODE PARAR.
Entrei na sala onde havia mais cinco pessoas, J. Maia me esperava e aos gritos como era e é da característica da maioria dos diretores de Teatro e de Televisão, perguntou como é que eu tinha feito uma coisa dessas com ele que me deu a grande oportunidade de participar de uma Revista musical, dizendo.
- Arthur porque você mentiu e disse que foi a sua Irmã que havia morrido, e não disse a verdade, que a morta era a sua mãe?
E eu todo sem graça respondi: - Seu Maia, eu falei que foi a minha irmã, por que a minha mãe eu matei o ano passado.
Para minha surpresa, todos os presentes caíram na gargalhada inclusive o saudoso e tão querido, J. Maia.
Infelizmente quatro meses depois J. Maia também deixou esse nosso mundo, em um trágico acidente automobilístico.
Livrei-me da multa contratual, mas paguei muito caro em minha consciência pela mentira, teria sido bem melhor ter resolvido isso, com a verdade.
Por: Arthur Miranda (Tutu)

domingo, 18 de novembro de 2012

OS FANTASMAS DA GAZETA (O São Paulo Insólito)



Contar um conto é acrescentar um ponto. O mesmo acontece com as lendas urbanas. Como no conto, ou causos, as lendas urbanas podem aumentar o seu conteúdo sem que os acréscimos interfiram no conteúdo original.
Outras vezes a lenda urbana nasce de um fato inverídico, de uma situação fictícia que, no efeito dominó que é a lenda, vai virando verdade e é acrescida de outras verdades falsas...
Meu sobrinho Alexandre contou-me o que lera em um desses blogs da vida. Blog voltado ao insólito.
Alex falava-me dos assombramentos do edifício da Fundação Cásper Líbero. Dizia-me que, por lá, os fantasmas faziam das suas.
Eu, ouvindo, não sabia se devia rir à beça, ou interromper. Deixei que ele continuasse a narrativa. Queria ver aonde ia dar essa - para mim - novíssima lenda urbana.
Contou-me que, desde o Colégio Objetivo aos estúdios da Rádio e da TV Gazeta, os fantasmas “faziam das suas” na Fundação. Falou-me mais: Que conversando com os amigos soube de muitas histórias aterradoras acontecidas por lá. Disse-me que o pai de um amigo, no tempo em que lá fazia o Cursinho, vira o fantasma de uma estudante que se suicidara no banheiro. Outros contaram que muita gente entrava no elevador, dizia à ascensorista o andar em que iria descer e, ao abrir-se a porta no andar desejado, a ascensorista havia desaparecido... E eu sufocando de tanto conter o riso...
Falou-me de efeitos físicos. Que fantasmas escondiam coisas, batiam em portas, chamavam as pessoas pelos nomes, etc., etc..
Alexandre foi falando, descrevendo... Eu ouvindo e sufocando...
Complementou dizendo que a causa, a razão do prédio ser tão assombrado era o fato de que ele foi construído em solo amaldiçoado. Que naquele local, há muitos e muitos anos, existiu um pelourinho, onde escravos foram chicoteados até a morte...
Não deu para segurar mais. Explodi em ruidosa gargalhada.
Meu sobrinho, abestalhado e com cara de interrogação, olhava para mim. Eu, findo o ataque de riso, contei a ele a verdadeira história do assombramento da Fundação:
Nunca houve pelourinho no terreno da Fundação. Houve um pelourinho sim, ou melhor, um “tronco”, lá na região do Paraíso, local onde existiu a Chácara do Quebra-Bunda, lugar onde muito dono de escravos levava os seus infelizes para serem chicoteados sem piedade, até ficarem descadeirados. Daí, vem o nome da chácara que pertenceu a José Veloso de Oliveira.
Contemporâneo do Cursinho, depois Colégio Objetivo, eu nunca ouvi falar, li, ouvi - nem no rádio ou televisão - sobre morte natural ou suicídio no Colégio.
E, do Objetivo aos estúdios da TV Gazeta, jamais alguém falou dos tais fantasmas. E, também, nunca se falou, ou se noticiou algo sobre a tal ascensorista que aparecia e desaparecia.
Esta lenda urbana nasceu de uma piada e “pegadinha” que circulou por São Paulo inteiro. E está ligada, não ao prédio da Fundação, mas à TV Gazeta.
A TV Gazeta, canal 11 foi inaugurada em grande estilo. Tudo nela era de primeira linha. O último grito em tecnologia televisiva! Afinal ela fora criada para fazer parte da Faculdade de Comunicação da Fundação Cásper Libero. Porém, alguma coisa acontecia com a transmissão. Nos aparelhos do estúdio, a imagem era perfeita, mas nos receptores caseiros a imagem era ruim, distorcida, com movimentos horizontais e verticais. Os apresentadores apareciam duplicados, ou com uma aura a que chamávamos “fantasmas”. Não havia regulagem de antena, interna ou externa que solucionasse o problema. Algumas pessoas instalavam uma antena somente, para de forma sofrível, sintonizar a Gazeta.
Muitos diziam que o problema era o local, onde havia outras antenas mais potentes, tanto das rádios como de televisão. E a imagem só melhorou quando a TV Globo, por concessão, instalou a sua antena de transmissão no prédio da Fundação e nela adicionou os novos transmissores da TV Gazeta.
Naquele tempo, eis a piada e a “pegadinha” circulavam pela cidade:
“Você sabe qual é o lugar mais assombrado de São Paulo”?
“Sei, não... Qual é”?
“É a TV Gazeta! Ta assim de fantasmas lá”!
“Nossa! Preciso ir até lá, para ver”!
“Precisa não! É só ligar a TV e sintonizar a Gazeta”!...
“E ai, Zé! Ce sabe qual o local mais assombrado de São Paulo”?
“Não”...
“É a TV Gazeta”! Ta assim de fantasma, ó!...
Tai, a piada e “pegadinha” que deu origem à lenda urbana do prédio da Gazeta.
 
por Wilson Natale

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Confraternização dos autores, familiares e amigos


No próximo dia 30 de Novembro estaremos reunidos para mais uma confraternização dos autores, redondos ou não, do site SPMC e blog Memórias de Sampa.
O encontro se dará na Cantina Salerno, na Rua Francisco Leitão, 336, Pinheiros, Sampa, às 20:30 h.
O local é bem bacana e, além das delícias oferecidas pela cantina, teremos a oportunidade de desenferrujar o esqueleto na pista de dança.
Os "pés de valsa" que se apresentem, né?!
Que benção podermos usufruir destes momentos, quando encontramos nossos diletos amigos e seus familiares, nestes encontros inesquecíveis!
Até lá, amigos!
Muita paz!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

MEMORIAS PATERNAIS


                     Fachada do TBC com a porta da minha residencia ao centro e o Toldo do Nick Bar 

Outro dia, dando tratos a uma tristeza profunda, originada pelo descaso e abandono de meus filhos, mesmo depois de ter-lhes dedicado todos os momentos de minha insignificante vida. Constatei também, não sem muita surpresa, que eu, por incrível que pudesse parecer, nunca havia dado muito espaço nos meus textos, para a figura daquele que me dera à vida. 
A bem da verdade, minha convivência com o Sr. Alfredo nunca foi das mais profundas, mas era meu pai e eu, mesmo não o amando como deveria, o respeitava e obedecia.
Pronto. Estava dado o “start” para que mais um texto.

Comecei, então, a buscar na memória cenas onde ficasse evidenciado o envolvimento com meu pai. Diversos flashes, respondendo ao apelo, se apresentaram. Nenhum deles, é verdade, passiveis de sustentarem uma narrativa interessante. Porém, a ideia já estava encravada nos meus sentidos, nada iria permitir que eu abandonasse a vontade de falar daquele sampaulino radical e intragável.

Resolvi, então, fazer um texto com várias drágeas de lembrança e comecei a registrar as recordações.
Lembrei-me de meu pai exercendo suas funções de guarda-livros na firma J. Nigri & Filhos, estabelecida na antiga Rua Santo André, paralela à Rua 25 de Março. Hoje essa rua foi rebatizada e chama-se Rua Comendador Abdo Schahin. Eu até gostava de ir ter com ele no trabalho; era certo que me levaria ao Kiti Kate, uma lanchonete na esquina da Rua Santo André com a Cav. Basilio Jafet. Ali, eu me regalaria com um Kibe à Kiti Kate (assado e regado no molho de tomates) e algumas esfihas de carne.
Outro lance de minha infância com meu pai eram  as vezes que eu o acompanhava ao futebol. Ele era goleiro e eu ia assistir a suas partidas na várzea paulistana. Foi assim que conheci o famoso Óleo Elétrico, muito recomendado nas dores musculares.
Meu pai era sócio e diretor da Associação de Cultura Física São Paulo, um clube de raízes germânicas que ficava na Rua Augusta, 33, local onde hoje passa o minhocão. Por causa disso eu fui militante em ginástica de solo e aparelhos daquele clube até quando, por motivos de saúde, fui obrigado a abandonar as atividades esportivas.
Eu via meu pai com mais tempo todas as quintas-feiras. Nesses dias íamos,  meu irmão, minha mãe e eu, visitar meu avô materno, na sua casa lá na Frua 21 de Abril e, à noitinha, meu pai ia nos buscar. O regresso para casa era sempre motivo de parada para consumo de uma pizza e, então, de maior proximidade com ele.
Ainda solteiro, tive meu primeiro grande desentendimento com ele. Minha mãe descobriu que o “galinho estava cantando em outro poleiro”. Sabedor disso e, buscando a defesa da Dona Thereza, tive uma conversa séria com ele e cheguei, até, pedir que ele saísse de casa. 
Lembro-me dele, também, nas muitas discussões travadas com o proprietário da boate Nick Bar, que ficava nos baixos de nossa casa na Rua Major Diogo. Em muitas delas eu também me envolvi.
Os momentos de maior intimidade com o velho eram à frente do balcão do Lanches Urupês na Rua Major Diogo esquina com a Rua São Domingos.
Depois, já fora dos serviços de guarda-livros, ele foi trabalhar com representação de ferramentais para a indústria de calçados e atuar na região de Birigui e Araçatuba. Seus retornos ao lar eram, na maioria das vezes, mensais e sua estada entre nós, sua família, de 3 a 4 dias. Assim sendo, cada vez mais foi se evidenciando estar ele vivendo em companhia de outra pessoa. O desgaste entre ele e minha mãe já era muito grande.
Um dia, eu já residindo no bairro do Jabaquara, tive a notícia do seu falecimento. Achei que deveríamos, meu irmão e eu, prestar nossos respeitos. Fomos em meu carro, mas, ao chegar no velório da cidade de Araçatuba, tivemos conhecimento que ele já havia sido sepultado. Fomos ao túmulo, fizemos uma prece e retornamos à São Paulo sem o sabor da obrigação completamente concluída.
Enfim, nesses pequenos parágrafos, eu tentei descrever o Sr. Alfredo Chammas, meu pai.
Se mais não escrevi, foi por que nada mais me veio à memória.
por: Miguel Chammas

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A SURPREENDENTE TECNOLOGIA



Quase sempre contamos e cantamos recordações, com o imprescindível confronto com as atuais condições de vida que, por imposição de nossa idade, somos testemunhas vivas (graças a Deus) de tudo que muda em nossa existência. Em vários aspectos, destes confrontos, quase sempre tendemos a sermos favoráveis ao passado como hábitos, alimentos, roupas, saúde etc.

Primeiramente, na área da tecnologia, no que, em minha opinião, o progresso trouxe extraordinária revolução em tudo que implica à recorrência de um sistema moderno, facilitando sobremaneira, a vida neste planeta. Na questão de saúde, a tecnologia, juntamente com a ciência, são responsáveis diretos por nos manter em condições saudáveis nestas transformações e nos colocar como provas dessas assertivas. E, por sermos testemunhas, ainda presentes, de como era e como é, podemos dar uma avaliação mais próxima da realidade.

Na comunicação, por exemplo, a mais ou menos um mês, tive uma extraordinária experiência que me deixou envolvido em fabulosa emoção que, dificilmente, há cinco anos atrás, sonharia com essa ocorrência.
 
Os mais antigos como eu, devem estar lembrados dos seriados que assistíamos nas matines domingueiras, entre o primeiro e o segundo filme, seriados esses que nos obrigavam a voltar nos próximos domingos. Produções baratas, embriões das atuais novelas, vez ou outra, destacavam bons atores. Dentre estes filmes, lembro-me de alguns como “O Sombra”, que projetou um bom ator, Victor Jory, “Flash Gordon”, com Buster Crabbe, em três lançamentos, em 1936, 1938 e 1940, um deles em que ele combatia os “homens de barro”, que saiam das paredes, numa técnica, pra época, muito boa. Quando o Flash se comunicava com seus parceiros ou com seu celebre inimigo Ming, do planeta Mong (ou vice-versa), o que ele usava? Nada mais, nada menos do que o atualíssimo “Skype”.

Quando via aquilo, com meus amigos, ficava imaginando alguém falar com uma pessoa, distante,  ver e ser visto, como uma televisão que, na época já era um sonho irreal, (pelo menos, pra mim...).

No ano de 1954, eu com 22 anos, já namorando a Myrtes, trabalhava, como desenhista, na Shellmar, firma americana de embalagens. Em 1955, entrou na empresa, um desenhista espanhol, melhor dizendo, catalão, de Figueras, norte de Barcelona, com 18 anos. Luis Torrent Caixas era (e ainda é) seu nome.

Como é comum nestas novas amizades, ele, bom desenhista, gostando de desenhar imagens, em nosso bate papo sempre tocávamos no assunto de fazer histórias em quadrinhos, “comics”. Essa amizade durou pouco tempo. Nos últimos anos que o Luis ficou no Brasil, ele trabalhava como “free-lance”, desenhava para a Gráfica Lanzara e, também desenhava sobre vidro, nos cinzeiros promocionais que eram impressos, depois em “silk-screen”. Ele preparava os “lay-outs” pra um representante da indústria, um tal de Bahia e, como estava sempre com muito serviço, me passava algum que eu, recém- casado, precisando de “grana”, ajudava um pouco.

O Luis conheceu uma brasileira, catarinense, Judite, quase da mesma idade dele. Seu pai, patrocinador de sua vinda ao Brasil em 1954, pedreiro, morava e trabalhava no Ipiranga, na Rua Costa Aguiar, não ficou muito tempo aqui. O Luis casou com a Judite, foi se despedir dos familiares da esposa em Santa Catarina e depois foram embora pra Espanha, voltou pra sua terra.

Nossos contatos, porém, foram até 1959 ou 1960, não lembro bem. Ele ficou no Brasil só 8 anos, até 1963. Lembro-me de ele me visitar em meu apartamento, na Rua do Gasômetro, eu já casado, com 2 filhos. Depois, não o vi mais, soube mais tarde que ele havia voltado pra Europa. Nunca mantivemos correspondência, postais, nada de comunicações. Esqueci o Luis e ele me esqueceu.

Mas um dia, com minha sanha de “Sherlok Holms”, resolvi que tinha que encontrar o Luis, (se ele ainda vivia) e, pelo “Google”, soube que ele ainda desenhava pra serigrafia, (silk-screen), escultor e outros serviços relacionados com seu mister. Descobri seu telefone, liguei, falei com ele, depois de 57 anos. Ele não acreditava... Ouvindo minha voz falando em português, aí, foi um deslumbre só.

Mandei-lhe uma mensagem, ele demorou pra responder, (quase um mês...), respondeu, eu já tinha instalado o meu “skype” e perguntei a ele se ele tinha, respondeu: “Minha neta vai me instalar, aguarde” Instalou e vi o Torrent Caixas, e ele me viu, um pouco mais gordo, início de uma promissora calvície, me reapresentou sua mulher, sua filha e sua neta e nos derretemos com os detalhes de sua curta estada aqui em São Paulo. Lembrei logo do Flash Gordon, com seu “skype” saído da memória do Alex Raimond, desenhista fabuloso, criador do herói.

Por isso fiquei encantado, emocionado em ver, ouvir sua voz, lembrar-se de fatos e ocorrências do nosso tempo. Ver suas pinturas e esculturas maravilhosas, sem sair de casa. É ou não é extraordinário esse avanço da tecnologia? Claro que é. E tudo sem pagar nada. Amigos do site, isso, de fato é maravilhoso. Obrigado a todos e a você, Luis, “asta pronto”.
 
(... e ele está lendo nossos trabalhos, turma).

 
Por: Modesto Laruccia