sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Tragédia do Cine Oberdan


E aí, o Facebook me fez lembrar do Cine Oberdan da minha infância.

O prédio ainda está lá na Rua Ministro Firmino Whitaker esquina com a rua Sayão Lobato, onde hoje está a matriz das lojas Zelo.

Uma bela construção que já foi teatro de luxo. Escadarias de mármore, fachada imponente, plateia, com frisas e camarotes, balcão também com camarotes e a galeria. Lá se apresentavam grandes companhias de teatro do início do século XX. Isto tudo quem me contava era meu pai amante do teatro e da ópera. Apenas para lembrar, havia também o Teatro Colombo, que ficava no Largo da Concórdia, por onde passaram também os grandes do teatro brasileiro e foi lá a última apresentação de Francisco Alves.

Bem, voltando ao Cine Oberdan. Numa matinê de domingo, o cinema cheio de crianças e o filme era “Criminosos do Ar”. Em dado momento, numa cena de desastre ou algo parecido, alguma criança na plateia gritou “Fogo!” e isso foi o suficiente para que começasse a correria para fugir da sala enorme e lotada.

Naquela época, não se pensava muito em segurança e as saídas não eram suficientemente largas para que a criançada escapasse daquela armadilha, correndo desesperada e em pânico. Conclusão: muitas caíram atropeladas na correria, outras se jogavam escada abaixo tentando escapar do “fogo”, muitas morreram; foram trinta crianças e apenas uma mulher que, para proteger a filha com o corpo, morreu. Era um bebê que sobreviveu.

E o Cine Oberdan também sobreviveu e depois da tragédia e do luto, reabriu e ficou em atividade até o início dos anos 1960. Não era cinema de nenhuma rede, portanto, os filmes que passavam lá, já tinham passado em outros cinemas há muito tempo, mas tinha algo que os outros do bairro não tinham: a fita em série. E eu me lembro muito bem de O Falcão do Deserto cujo último capítulo eu não assisti.

Para mim, isso foi uma tragédia.


Por Teresa Fiore

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Uma tarde no Tatuapé

Imagem: Largo Nossa Senhora do Bom Parto - Tatuapé

Alguns dias atrás fui levar minha mulher na cabeleireira (“Hair Stylist”, que é mais “chique”), que fica no Tatuapé.  Para mim, que moro no Butantã, foi uma viagem de turismo.
Deixei-a lá e perguntei em quantas horas deveria voltar para buscá-la.
 – Umas 2 horas, respondeu. 
Como a percepção masculina e feminina de tempo são naturalmente diferentes, calculei que em 3 horas ela estaria pronta.
Saí então, a pé, pelas redondezas da Euclides Pacheco. Auxiliado pelo “Google Maps” descobri que a umas 6 ou 7 quadras dali havia uma pracinha (o Largo N. Sra. do Bom Parto) onde poderia sentar e terminar de ler “A Amiga Genial”.
E lá fui eu, curtindo a tranquilidade (quase) interiorana da Rua da Saudade, da Guatacaba, da Dona Cândida, até chegar ao Largo. Só essa denominação, “Largo”, já dá idéia de um lugar aprazível, diferente de “Praça”, que remete a comércio, agitação, correria...
Dei uma volta, passando por uma EMEI, com a típica gritaria da criançada que saia para algum passeio de ônibus, quando fui atraído pelo cheirinho de pêssegos, abacaxis e mangas, que exalava de uma multicolorida banca de frutas, ao lado, que perfumava até a calçada.
Pedi um suco de graviola e fui sentar mais adiante, sob as enormes árvores, aonde já se encontravam vários “colegas” da 3ª. idade, aproveitando a sombra naquela tarde ensolarada e calorosa para “compadrear” e jogar damas e dominó.
Mal tinha tomado meu suco (e jogado o copinho numa das várias lixeiras, pois o Largo é bem limpo e cuidado) e retomado a leitura, quando ouvi, atrás de mim, uma conversa entre dois ou três “parceiros”:  um deles explicava que um filhote de sabiá havia caído do ninho, e estava preso a uns galhos, logo abaixo, mas ainda assim muito no alto, e sob o olhar preocupado da mãe.
 – Se deixar ali ele pode cair e se esborrachar no chão, dizia um.
 – Ou anoitecendo, pode vir um gato e aproveitar para jantar, dizia outro.
E assim seguia a conversa, avaliando as possíveis consequências de deixar o filhote aonde estava, ou da conveniência de tirá-lo de lá.
Tudo isso enquanto as pessoas passavam para ir ao banco, ou à sorveteria artesanal, em frente ao Largo.
A conversa acabou se tornando momentaneamente mais interessante do que o capítulo do livro e, lógico, a minha curiosidade sobre o desenrolar da epopeia tornou-se irresistível.
Tanto discutiram que chegaram à conclusão que deveriam tirar o filhote de lá e deixá-lo numa caixa (esse foi outro ítem da discussão), num galho que possibilitasse à mãe sabiá exercer sua vigilância “anti-gatos” mais de perto.
Decisão tomada, um foi buscar uma escada, outro a caixa (devidamente forrada com algodão e algumas folhas secas apanhadas do chão), e iniciou-se o processo de “salvamento”, que atraiu mais 5 ou 6 “parceiros”, que deixaram as damas e os dominós para “palpitar” sobre as melhores técnicas para subir na árvore e mexer com o bichinho, o que durou mais uns 20 minutos.
Salvo o sabiá, todos um pouco mais felizes (principalmente eu), retornei para buscar minha mulher, certo de que havia presenciado uma raridade nesta metrópole de correria, stress, “hair salons”, mas que ainda tem lugares aonde as pessoas curtem a tarde com os amigos, debaixo das árvores de um Largo com ares interioranos, jogando damas ou salvando passarinhos...
PS – cheguei ao salão depois de 3 horas e pouco, e esperei só mais 15 minutos pela minha mulher.


Por Wilson Colocero

sábado, 6 de janeiro de 2018

Creme rinse


Numa conversa com uma amiga de Facebook, me fez lembrar de uma passagem engraçada sobre de minha infância sobre um  produto que ela estava postando, recordando. 
O sabão Rinso. Minha irmã mais velha (a que faleceu há um mês) e eu, Tínhamos cabelos compridos e o meu, particularmente, era cacheado e volumoso... 
Ouvíamos falar de uma novidade para desembaraçar os cabelos quando lavar, um tal creme rinse. 
Nós não conhecíamos o tal creme e quando alguém falava das maravilhas que o produto fazia, minha irmã e eu associamos ao Rinso (sabão em pó). Lá em nossa casa, na Rua Umuarama, na Vila Prudente, minha mãe usava este sabão... Pegamos, sorrateiramente, um punhado e lá fomos nós lavar nossos cabelos.

Ficamos horas para tirar a espuma toda que fez e os cabelos ficaram embaraçados, parecendo palha de aço... Mas ficaram limpinhos!
Levamos a maior bronca de minha mãe, que nos colocou de castigo pela arte.
Muita paz! 

Por Sonia Astrauskas

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

imagem: Teatro Cultura Artísitica - 1965
O ano preciso não sei, mas foi entre 1965 e 1966 quando eu ainda estava buscando um lugar ao sol na TV e fazia diversas figurações na TV Excelsior (precursora da TV Globo) Canal 9, no espaço do antigo Teatro Cultura Artística na Rua Nestor Pestana.
Um dia, o coordenador dos figurantes me chamou e disse que eu deveria ir à casa de ensaios na Rua da Consolação, pois estava escalado para o Teatro da Tarde.
Sem saber o que me caberia fazer, porém alegre por mais uma escalação, me dirigi à referida casa que se localizava quase em frente ao antigo prédio do Cine Odeon. La chegando busquei informações com relação à sala onde estava sendo ensaiado o programa. De posse da informação me apresentei no local e assim que abri a porta da sala senti um tremor por todo o corpo.
Emoção total. Na minha frente estavam alguns atores escalados e, pasmem, dois monstros sagrados das artes cênicas do Brasil, Dionísio Azevedo e Mauro Mendonça.
Segurei as pernas um tanto bambas e avancei dizendo que tinha sido enviado pelo Pirolé para fazer figuração no programa. O diretor (não lembro quem era) me pediu para aguardar enquanto o ensaio se desenrolava e depois falaria comigo.
Encostei-me à parede e aguardei. Ensaio findo, o referido diretor me disse que eu iria fazer uma figuração como guarda e que quando o delegado (Dionísio Azevedo) me chamasse eu deveria me aproximar da mesa dele e dizer “pronto”.
Perguntou se eu tinha entendido, eu assenti e ele me mandou aguardar por ali mesmo para ir, depois, com todo o elenco para o Teatro aonde o programa iria para o ar (na época, era ao vivo, nada de VT).
Enquanto aguardava a brincadeira entre os atores corria à solta, e eu, na minha insignificância, apenas apreciava.
A certa altura o Dionísio avisou a todos que precisava dar uma pequena saída e iria, depois, diretamente para o estúdio. Os demais continuaram por ali e, de repente, sem mais nem menos, o Mauro Mendonça me chamou e disse: “-Vamos aprontar uma brincadeira com o Dionísio, quando ele te chamar em cena, sua fala será, - Pronto Dr. Taufik. Recomendou ainda, se ele te responder estupidamente não leve em consideração. Deixa que eu me encarrego das explicações.” Concordei e calado continuei.
Toca a campainha, silêncio no estúdio, abre-se a câmara e começa a encenação.
Estava embevecido vendo o de desempenho dos meus ídolos que quase perco a deixa. Não perdi e entrei na cena falando em alto e bom som Pronto Dr. Taufik.
Mesmo maquiado percebi que o rosto do Dionísio ficou vermelho, me pareceu que estava doido para me xingar, mas não perdeu a classe, continuou a cena.
Percebi que atrás das câmaras o Mauro Mendonça se contorcia de tanto rir. Eu estava assustado, mas continuei firme e forte até minha saída de cena.
Terminado o programa o Dionísio veio em minha direção dizendo “–Quem te mandou falar daquele jeito seu...” tremi mais ainda. Então o Mauro Mendonça veio gargalhando e disse - Fui eu. Ele apenas obedeceu.
Gargalhadas gerais, apenas eu não conseguia rir, nem mesmo quando me explicaram que Taufik era o verdadeiro nome do Dionísio e que ele nunca gostou de propagar esse nome.
Mais uma vez entendi que como reza o ditado: Manda quem pode, obedece quem tem juízo...
Eu obedeci.


Por Miguel Chammas