quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Lembranças de uma avó

foto: Bernadete e seus netos
Minhas filhas, assim como todas as mulheres modernas, trabalham fora exercendo a chamada "dupla jornada" . Por conta disso, estou sempre rodeada dos netos. Eles vem em busca de um dengo, de ajuda nos trabalhos escolares e, principalmente, saborear alguns quitutes, típicos de "casa da vovó". Mas, gostam muito, também, de ouvir as histórias que conto sobre minha infância. Desde o mais velho, com 20 anos, até o pequeno, com 7, divertem-se muito ouvindo os relatos das travessuras, das brincadeiras de rua, todas elas já conhecidas de todos nós. Eles gostam de saber os detalhes e já tive que contar a mesma história várias vezes.
Outro dia, o menorzinho, Leonardo, hoje com 7 anos, olhou-me com tristeza e perguntou:
- Vovó, você não tinha play?
Expliquei a ele, que a rua era o play das crianças e ali nos divertíamos muito, brincando de "estátua", de "jogar sério" "jogar pedrinhas", brincadeiras que ele não conhecia. Inclusive, o teatrinho de rua, onde e
ncenávamos pequenos roteiros ou sinopses, feitos pelos mais criativos. Também fazíamos as roupas dos personagens, com muito papel crepom,cola e purpurina. Tudo muito colorido.
Nossa platéia, era formada pelos vizinhos, que traziam suas cadeiras e, ainda, nos aplaudiam muito. Depois, servíamos lanchinhos de pão de forma e água com groselha, comprada em litro, no Zé da venda.
Meu netinho, ainda não satisfeito, tornou a perguntar:
-E, também não tinha shopping?
Novamente tive que explicar que nosso shopping era ali mesmo, a céu aberto, onde os vendedores vinham até nós para oferecerem seus produtos. Eram os mascates que vendiam roupas, vendedores de livros, os verdureiros, o peixeiro, etc.... Mas o que mais gostávamos mesmo, eram dos vendedores de doce como o "quebra-queixo", "machadinha", "biju" e,
principalmente, do vendedor de "sonhos e "maria-mole", com seu carrinho envidraçado e todo pintado de branco. Que delícia!
Além dos vendedores, tínhamos, também, os compradores. Uns compravam jornais e papelão, outros garrafas, metais.. etc... E nós, (acho) iniciando a reciclagem, juntávamos todo esse material e ficávamos à espera dos compradores. Os cruzeiros e centavos, obtidos com essa transação, eram facilmente trocados por gibis, ou pelas delícias açucaradas descritas à cima.
Acho que hoje é difícil para uma criança, imaginar toda essa liberdade que tínhamos, pois as ruas, agora, são assustadoras.


Por Bernadete Pedroso

11 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Bela família, Bernadete. E delicioso relato de tempos mais amenos e ingênuos. Onde a praça do shopping, inclusive de alimentação, era em casa mesmo, nas ruas de terra, nos quintais arborisados. Não havia técnica, a não ser a do trato com outros humanos, do qual as crianças de hoje estão cada vez mais excluídos, refugiados atrás das máquinas e grades. Abração.

Laruccia disse...

Pois é, Bernadete, do jeito que vc conta, apesar de conhecermos todas as brincadeiras da época, renovamos nossas emoções como se tudo fosse novidade. É difícil de aceitar mas, fácil de entender, estas brincadeiras, nascidas das profícuas imaginações das crianças, não se renovam mais porque estas criatividades foram podadas por um passatempo que vem prontinho, nem corda precisa dar. Os efeitos disso...deixa pra lá, é um outro assunto. Parabéns, Bernadete

Miguel S. G. Chammas disse...

Que delícia de texto, que saudades dos velhos tempos!
Tenho um texto publicado no SPMC que tinha como tema as garrafas de meu avô e que eu dei fim.
Acho que vou reedita-lo neste cantinho.
Aguarde!

Miguel S. G. Chammas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Soninha disse...

Olá, Bernadete!

Brincar com os netos é tudo de bom ponto com.
É tão engraçado como eles se surpreendem quando falmos de nossas coisas, de nossas brincadeiras, de nossas canções, de nossos passeios, de nossas máquinas, não é mesmo?!
Minhas netas também gostam de conversar comigo sobre estas antiguidades (rss). Mas, quem mais ri sou eu, por suas carinhas curiosas e indagadoras.
Então, digo a elas que nós, os mais maduros, somos melhores porque procuramos aprender a usar estas modernidades, enquanto que eles não sabem quase nada dos recursos tecnológicos antigos, a não ser por fotografia ou informações que obtem na intenert.
Mas, valeu ler seu texto e relembrar nossas brincadeiras de crianças...recordações que fazem tão bem aos nossos corações.
Obrigada, amiga.
Muita paz! Beijossssssss

Zeca disse...

Bernadete,
parabéns pelos netos que, independente de idade, se interessam pelas suas histórias e pelas brincadeiras de que todos nós nos lembramos com saudade! Com as facilidades tecnológicas atuais, não são todas as crianças que se dispõem a sentar com os avós e escutar com atenção suas histórias; geralmente eles estão "muito ocupados" para essas coisas...
Abraço.

Arthur Miranda disse...

Bernadete, você esta parecendo àquela cozinheira que ao temperar a comida deixa a casa impregnada de um cheirinho tão saboroso que atiça o apetite de todo mundo que estiver presente. Sua narrativa me deixou com uma vontade enorme de voltar a ser criança e assim poder brincar desse mesmo jeito de sua historia, parabéns.

MLopomo disse...

Por que será que a gente gosta mais do Vô e da Vó, do que do pai e da mãe? Penso que é porque eles são mais doces, ou melhor, compram mais doces...

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Bernadete, parabéns pelos netos que Deus lhe deu, eu mesmo tive um carinho muito especial com os meus avós pois eles é que me criaram após a morte de minha mãe, abraços, Nelinho.

Vera de Angelis disse...

E eu perdendo todos esses textos e lembranças maravilhosos.
Textos com aroma de bolos e quitutes saindo pelas janelas da infância. Que maravilha.
Já comentei que não "tem preço" uma avó assim tão bem informada e ao mesmo tempo tão avó contadora de história e quituteira. Parabéns, prima, mais uma vez, por tudo. abraços. Vera

margarida disse...

Mana, lembrar nossa infância através dos nossos netos....que saudades! Grande verdade, fazíamos de tudo naquela rua e sem querer com toda nossa inocência a transformamos no shopping mais freqüentado do bairro. Adorei seu texto e parabéns pela avó mais querida e amada pelos seus netos.
Um grande beijo.