segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Desbravar São Paulo, o início

- Ih, minha filha. Ora se eu me lembro. No dia que vim para cá, era todo mundo vomitando. Aquilo chacoalhava que só vendo.

- Minha vinda foi triste. Só um mês de viuvez. A mais nova recém-nascida. Fui para casa de parentes. Tudo muito custoso e sofrido.


- Eu vim de Maria Fumaça. Com os meninos mais novos. Os grandes, já estavam aqui, trabalhando. Foi preciso dois taxis. Saímos de uma casa de doze cômodos para uma de quatro. Quantos filhos? Vinte e dois.

- E eu? Vim na carroceria do caminhão. Treze dias de viagem. Estrada? Tinha não. Só terra e ribanceira. Vi caminhão que vinha atrás, despencar logo depois que passamos na pinguela.

- Já eu, mudei para uma casa em construção. Nem porta nem janela. Meu marido ia fazendo aos poucos. Filhos? Só uma mais a outra, na barriga que eu peguei, logo ao chegar.

- Chegamos direto na Estação da Luz. Fomos caminhando, da Luz até a Praça da Árvore. Sem costume na cidade, não aguentamos não. Só mais um ano, depois voltamos. Aqui estamos e aqui ficamos.

- Eu vim encaixotado. O agente foi lá em Minas. Falei prá mamãe: “vou trabalhar em São Paulo”. Onde? “Na Light”. Fiquei morando no alojamento. Documento tinha não. Nem registro de nascimento. Nem Light. Só na construção e no galpão.

- Eu, lá em Pernambuco. O homem, mais de 11 meses sem me mandar uma linha. Escrevia pros outros, ora. Aí, me danei. Vim para São Paulo. A menina só urinava que fralda descartável não tinha não. Vergonha daquele fedor no ônibus.

- Vim pra ser freira. Sozinha com 10 anos de idade. Mala e bilhete mais o dinheiro pro táxi. Passagem foi grátis no avião da FAB. Destino: Avenida Nazaré, Convento Sagrada Família. De onde? Cuiabá, Mato Grosso.

- Chegamos apenas com a roupa do corpo. O pai foi trabalhar com a picareta. Tirando paralelepípedos para dar lugar pro asfalto. Onde ficamos? Num cômodo de madeira. Tudo junto e misturado. Quantos? Só dez.

No Dia Em Que Eu Vim-me Embora (Caetano Veloso)

No dia em que eu vim-me embora /Minha mãe chorava em ai /
Minha irmã chorava em ui /E eu nem olhava pra trás /
No dia que eu vim-me embora /Não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui/
Minha vó já quase morta/Minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua /E até o porto meu pai
O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho /Vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo /Nem dos sonhos que eu sonhava
Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada /Fedia, cheirava mal
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo /Sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo /Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital ...


Por Suely Schraner

domingo, 30 de janeiro de 2011

O piano do vizinho

Esses dias tem sido de muito trabalho e a chuva, quase que constante, não me permitem fazer as minhas habituais caminhadas pelo bairro do Ipiranga. Assim, só me resta abrir a janela e ficar olhando o movimento da rua. De repente, o meu vizinho começa a tocar o seu piano; velhas músicas por ele executadas me trazem lembranças, umas boas, outras tristes... As letras ainda permanecem vivas em minha memória:

Nelson Cavaquinho diz:

"Já sei, da notícia que vens me trazer,
Os teus olhos só faltam dizer
O melhor é eu me conformar,
Guardei até onde eu pude guardar,
O cigarro encontrado em meu quarto
É a marca que fumas não podes negar

O piano segue com um tango assim:
"Si supieras
que aún, dentro de mi alma,
conservo aquel carino,
que tuve para tí....
Quién sabe, sí supieras
que nunca te he olvidado,
volviendo a tu passado
te acordaras de mi.

O piano muda para um velho samba:
"Louco, pelas ruas ele andava
O coitado chorava, transformou-se até num vagabundo
Louco, para ele a vida não valia nada,
Para ele a mulher amada era seu mundo

Em seguida, continua:
"Te acordás, hermano? qué tiempos aquellos!
Eran otros hombres más hombres los uestros
No se conocia cocó ni morfina
Los muchachos de antes no usaban gomina
Te acordás, hermano, Que tiempos aquellos,
Veinticinco abriles que no volverán
Veinticinco abriles, Volver a tenerlos
Sí cuando me acuerdo me pongo a llorar...

E segue o piano e eu acompanho:
Ya no tengo la dulzura de sus besos
vago sola por el mundo sin amor
Otra boca más feliz será la duena
de sus besos que eran toda mi pasión...

O piano muda para um velho samba:
Existem cinzas ainda no meu coração
Que o meu primeiro amor deixou
São cinzas de um grande amor
São cinzas e nada mais
Que o pruriu tempo não desfaz

Já o sono vem chegando mas continuo ouvindo:
Devolvi a aliança e a medalha de ouro
E tudo que ele me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas,
Suas juras mentirosas
Com que ele me enganou


Fecho a janela ouvindo ainda os últimos acordes:
Vestida de branco, de véu e grinalda,]
Lá vai Esmeralda casar na igreja
Deus queira que os anjos não cantem prá ela
E lá na capela seu vigário não esteja...

Já deitado ainda ouço:
No salão grená paira pelo ar nota esmaecida,
Tornarás e ter todo meu amor, toda a minha vida,
Sei que voltarás pois hás de lembrar que foste feliz
Nunca houve alguém que quisesse o bem que eu sempre te quis...

A chuva parou, o sono vem chegando, já não ouço o piano do vizinho, amanhã será outro dia.


Por Leonello Tesser (Nelinho
)

sábado, 29 de janeiro de 2011

História de Vila Jaguara (extremo oeste da Capital do Estado de São Paulo, Subprefeitura da Lapa, 42º Distrito)

imagens: Vila Jaguara; ruas Pavuna e Cândido Portinari; Barão de Jaguara; Ulhoa Cintra

1) Os primórdios

Pode-se observar em escrituras de imóveis localizados na parte alta de Vila Jaguara o nome ‘Sitio do Campo dos Pittas’. Mas, sou levado a crer, que uma propriedade denominada ‘Sitio dos Gama’ a englobava. Abrangia inclusive a Fazenda Anastácio. Esta continha as atuais: Vila Anastácio, Vila Jaguara e Vila Ayrosa. Com a emancipação de Osasco, esta última ficou incluída no novo Município. A Fazenda Anastácio tinha, portanto, uma extensa área.
Seu proprietário era um famoso advogado chamado Victor Marques da Silva Ayrosa. Foi ele quem vendeu 23 alqueires da propriedade aos médicos Antônio Pinheiro Ulhoa Cintra e Henrique de Beaurepaire Rohan Aragão. Estes decidiram, então, lotear a área. Contrataram o engenheiro Antônio Mesquita para elaborar o desenho da futura Vila de São Paulo. Para administrar o novo empreendimento encarregaram o senhor Juvenal de Lima (*). Por que do nome Jaguara? O nome ‘Jaguara’ foi dado em homenagem ao pai do médico Antônio Pinheiro de Ulhoa Cintra que, salvo grave engano, tinha o mesmo nome do pai, que foi famoso médico sanitarista da região de Campinas e atuante político (nasceu em 1.837 e faleceu em 1.895), chegando até, por alguns meses, a ocupar o cargo de Presidente da Província de São Paulo. Em decorrência de suas missões, executadas sempre com determinação, recebeu o título honorífico de Barão de Jaguara em 1.888.

A planta foi aprovada em 23 de agosto de 1.923 com o Alvará nº 4.025. O 1º lote foi vendido a um morador de Vila Anastácio chamado Francisco Cordeiro, apelidado de Francisco Lavaredas. Ele era tão conhecido pelo sobrenome ‘Lavaredas’ que é esse apelido e não o sobrenome real que aparece nos recibos, segundo me relatou seu filho Moacyr Cordeiro (Nico) pouco tempo antes de falecer (por volta do ano 2.000). É a data do primeiro recibo, 17 de novembro, que ficou designada para ser comemorado o aniversário de Vila Jaguara (data de 17/11/1.923). Por curiosidade, relato o que me disse ainda mais o Nico: ‘ os filhos nunca ficaram sabendo o por quê de seu pai adquirir um lote num ponto ruim do loteamento (rua Santa Francisca) ponto
que pertencia ao leito do Rio Tietê nos períodos chuvosos, quando havia muitos outros lotes nas partes altas, longe das costumeiras enchentes, com o mesmo preço.’ (Quando adolescente cheguei a ver algumas dessas enchentes. A água do Anhembi chegava até à confluência da rua Rio Turvo (Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança) com a Paranavaí nas cheias mais contundentes!)

Antes do loteamento só um nome aparece como moradora da localidade: Carola. Essa mulher vivia sabe-se lá como, uma vez que Vila Jaguara ficava distante de tudo que se conhece por ‘civilização’. Vivia com filhos e netos, segundo relatos que ouvi de minha sogra Cecília Pavoni, cuja família veio da região da Bela Vista para a longínqua Jaguara, logo em seus primeiros anos.

(*) Conheci o senhor Juvenal de Lima. Não foi um momento gostoso de minha adolescência. A molecada da época tinha o péssimo hábito de matar passarinhos. Certa vez, numa manhã chuvosa, saí sozinho para caçar. Andando, andando, e despachando pedras com meu estilingue, acabei chegando às margens do frígido Ribeirão Vermelho com densa mata ciliar nativa. Ele parou o veículo que dirigia por aquela estradinha que, no futuro, passou a ter o nome de um dos mais terríveis ditadores do Brasil: Avenida Presidente Médici, e me deu uma forte reprimenda. Por muitos anos odiei esse homem. Tempos mais tarde, passei a agir exatamente como ele, que já era um ecologista naquela época, quando nem se falava essa palavra...

Notas: 1ª) Apesar da poderosa ferramenta que temos hoje (2011) que é a Internet, ainda não consegui dirimir minha dúvida sobre o nome do Doutor Hulha Cintra, médico sanitarista, e de seu filho, também médico e que foi morar no Rio de Janeiro. Será mesmo que o filho tinha exatamente o nome do pai? O que está claro é que não foi o pai, mas sim o filho, que decidiu lotear a área. O pai faleceu bem antes do início do loteamento. Nota-se, lendo os documentos de negociação dos terrenos, que descendentes de ambas as famílias (Aragão e Ulhoa Cintra) receberam lotes como herança.

2ª) Há dados do presente texto que poderão sofrer retificações.

3ª) Por falta de visão história os nomes interessantes para a História de Vila Jaguara não foram dados aos logradouros. Somente o Título do Barão e o Córrego do Cintra lembram o passado. Uma pena! Registro aqui meu inconformismo.

Osnir Geraldo Santa Rosa, morador de Vila Jaguara desde 1.953 quando estava com 9 anos. Texto aprimorado em 25 de janeiro de 2.011 quando a cidade de São Paulo comemora 457 anos.


Por Osnir Geraldo Santa Rosa

Reparação




É lamentável ler alguns comentários, no último texto, justamente de quem se diz paulistano autêntico.
O paulistano tem a qualidade de bem receber a todos os quem vem a São Paulo, sem distinção.
Aqui, no blog, que considero um pedacinho de Sampa, devemos agir como bons cicerones e saber ouvir a opinião de todos.
O amigo Jens aqui veio, a meu pedido...Fui eu, Sonia, quem pediu o texto a ele, que já havia publicado em seu próprio blog.
Fiquei muito feliz pela presença de tão ilustre jornalista, José Edi Nunes da Silva, jornalista responsável pelo sindicato dos árbitros de futebol do Rio Grande do Sul (SAFERGS), cujo diretor é nada mais nada menos que Carlos Eugênio Simon, conhecidíssimo árbitro de futebol e jornalista. Jens, como gosta de ser chamado, humildemente e com toda boa vontade, me entregou seu texto. Texto que, aliás, não me deu trabalho algum para editar, pela lisura da escrita.
Minha alegria ficou maior depois de ler os comentários de Wilson Natale, de Arthur Miranda, Miguel Chammas e Luiz Saidenberg, que expressaram as boas vindas, com extrema educação e trato literário. Leram e compreenderam o texto, que foi mais um relato, mais um fato sobre Sampa, nada mais que isso. Não houve ofensa, de forma alguma. Ao contrário, no final do texto a expressão respeitosa à São Paulo.
Que pena que algumas pessoas não compreenderam o que leram. Lamento pelos comentários desairosos e me desculpo com nosso amigo Jens. Que este fato não o afaste de nosso blog.
Eu poderia excluir os comentários,mas, não o faço, justamente por respeito à democracia, por educação e pelo espírito de pacificação que sempre prego.
Muita paz a todos.

Por Sonia Astrauskas

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A primeira vez em Sampa

José Edi Nunes da Silva é jornalista e nosso amigo, lá de Porto Alegre – RS, veio nos dar a honra de seu texto, aqui no Memórias de Sampa, onde anjos e demônios se unem e se transformam em contadores de histórias e fatos sobre São Paulo.
Seja bem vindo, Jens, querido amigo.
Obrigada.
Sonia Astrauskas

Num post anterior falei sobre a ida ao Rio para participar de um congresso de bancários. O primeiro encontro desta natureza a que compareci foi em 1978, quando a pressão popular enfim começou a afrouxar as amarras do Ato Institucional nº 5, um conjunto de medidas repressivas que a ditadura militar impôs ao país 10 anos antes.

Foi em Minas Gerais, no Grande Hotel de Araxá, um complexo outrora luxuoso, na ocasião sofrendo a decadência do abandono, inaugurado por Getúlio Vargas que afiançava em letras gravadas na placa de bronze do salão principal que o local destinava-se ao usufruto da classe trabalhadora. Funcionário do Banrisul, compareci na condição de delegado eleito pela categoria, juntamente com mais 11 companheiros (entre os quais duas mulheres) liderados por Olívio Dutra, então presidente do sindicato.
A viagem durou uma eternidade. Fomos de ônibus. Primeiro até São Paulo. Depois até Belo Horizonte, antes de rumar para Araxá. Pior, a seco – na maior parte do tempo.
***
Pernoitamos em Sampa. À noite, testemunhamos o terror noturno dos bandeirantes ao percorrer a avenida São João e ver os revólveres balançando nos coldres do homens da ROTA prontos para sacar e matar, a exemplo dos cowboys dos filmes de Hollywood. Incautos, escolhemos peregrinar por aquela região influenciados pelos versos de Paulo Vanzolini e a voz de Maria Betânia (o autor e a intérprete definitiva de Ronda). Na esquina com a Ypiranga nos desviamos de um corpo ensanguentado estendido no chão. O homem, ferido de faca, gemia por ajuda, mas parecia invisível para a multidão que passava. Quando retornamos algumas horas depois, ele ainda estava lá. Agora morto, coberto por um lençol sujo.
Na manhã seguinte conhecemos o lado imundo do pecado. Às dez da matina – o ônibus para Minas só sairia a 1 da tarde – um quarteto de intrépidos exploradores do sul adentrou em um cinema pornô na Boca do Lixo (a sordidez pode ser fascinante para espíritos jovens e impressionáveis). Depois da película, fomos brindados com um show de sexo e
xplícito ao vivo (às 11 da manhã!). Se tivesse 13 anos, talvez ficasse empolgado. Como não era este o caso, não mudei de lugar. No entanto, seria hipócrita se não reconhecesse que minha libido não ficou totalmente indiferente à sensualidade doentia que emanava daquele ambiente sórdido. Porém, a repulsa à degradação venceu (não sou totalmente torpe, talvez ainda tenha salvação). Ocupávamos poltronas no meio do cinema. Um dos integrantes do nosso petit comité, adiantado na trilha dos 40 anos, não resistiu e foi ocupar a primeira fila. “Nunca mais vou ter uma oportunidade destas”, justificou. Era casado, naturalmente.
Em Sampa, conhecemos a violência, a torpeza e a indiferença. Apressadamente, conclui tratar-se de uma aldeia de aço e concreto não recomendada para amadores. Muito menos para poetas ou jardineiros de qualquer espécie de utopia. Com o tempo, depois de outras visitas, refiz a minha primeira avaliação juvenil. Pelas ruas e esquinas de São Paulo transitam anjos e demônios, nem sempre em conflito. Como, aliás, acontece em qualquer metrópole urbana.
***
Beijos, gurias. Abraços, guris. Boa semana para todos nós.
Pra cima com a viga.

Por Jens (José Edi Nunes da Silva)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Parabéns!


A última sessão de cinema

Cada vez que vamos lá, rezo para que não seja a última. O cinema, embora modernizado, parece o mesmo de muitas décadas atrás.
Entra-se direto da calçada, em plena via pública, sem os vários lances de escadas ro
lantes, nem os elevadores dos shoppings. Ali, o café, ali a bomboniére, ali os refrigerantes, tudo bem modesto. Em seguida a bilheteria, como em outros tempos.
O velho Lumiére, nome dado em homenagem aos iniciadores da arte cinematográfica. Teve outro nome, em tempos ainda mais distantes, nos primórdios da Rua Joaquim Floriano, quando, creio, não existia sequer o Joaquin´s.
Depois, virou Lumiére. E assim continuou. Com nomes aditivos, de acordo com as mudanças de patrocínio. Foi Estação Lumiére, Lumiére UOL, agora é Lumiére Playarte. Não importa; continua sendo o velho e simpático Lumiére.
É perto de casa, barato, estaciono facilmente nas ruas vizinhas; bons restaurantes e lanchonetes ali é que não faltam.
Há muito o frequento e sua programação sempre foi, garanto-lhes, excelente. Vi magníficos filmes lá, sempre mais voltado para filmes de autor, ou europeus, bem longe do estardalhaço dos blockbusters, que reinam nos muitos e cada vez mais luxuosos shoppings de São Paulo.
Nunca um Harry Potter 8, ou Guerra nas Estrelas 16. É muito frequentado pelo pessoal do bairro, especialmente a turma da terceira idade. Agora tem ingressos numerados, mas, quando não tinha, muitas vezes os idosos se pegavam na fila, estouravam bate bocas e, como diz minha esposa, havia o perigo de bengaladas.
Agora está tudo mais calmo... E, infelizmente, mais vazio. Já se foi a grande maioria de seus assíduos frequentadores? Onde estão as filas na bilheteria, que se viam até pouco tempo?
Um cinema tão agradável e gentil. Seus porteiros cumprimentam e agradecem a todo mundo, e são antigos de casa. De casa antiga, então é justo...
Certa vez, perdi lá um relógio Fossil, comprado no Macy´s de Nova Iorque. Foi já há vários anos. A fivela soltou-se da correia, só percebi na rua e era noite. Voltei lá e deixei a descrição d
o objeto, sem mais esperanças de reavê-lo, nem de voltar à Nova Iorque para comprar outro igual.
Imaginem minha surpresa quando me ligam do cinema, no dia seguinte: o porteiro, simpático baixinho que ainda outro dia vi lá, o tinha encontrado e devolvido. Maravilha, não?
A honestidade somando-se às várias outras virtudes do Lumiére. Grandes filmes, de grandes diretores. Vimos, nesta última- espero que não- vez, O Mágico, animação, sobre uma história de Jacques Tati. O de Meu Tio, estão lembrados, veteranos?
O desenho, francês, belíssimo, pintado à mão, nada das computações de Hollywood. O herói é o próprio Tati caricaturado, seu nome é o mesmo do mestre, Tatischeff. Seus movimentos, os do desajeitado Monsieur Hulot, o personagem que celebrizou Tati.
Lindo e triste, pois fala de um ilusionista decadente, que só encontra platéias vazias. Olhei ao redor e a do Lumiére estava exatamente assim. Pouquíssimas pessoas e na outra vez em que viemos, para ver um filme de muito renome, a desolação era a mesma.
O Lumiére é um herói, um sobrevivente cheio de cicatrizes. Uma vez, estava em péssimas condições, mas a UOL salvou-o e restaurou-o. Um dos poucos, raríssimos, cinemas de rua que restaram na cidade. Agora mesmo fala-se, mais uma vez, no fechamento do Belas Artes, na Consolação... E do esforço titânico que os fãs fazem para salvá-lo.
Temo que, neste ritmo, também logo chegue a vez do Lumiére. Afinal, tudo é mega na cidade. Tudo cada vez mais caro e descomunal. Os grandes shoppings avançam como monstros, prontos a engolir multidões.
O pequeno cinema de bairro, como a vendinha da esquina, as lojas de miudezas, as casas de discos, não têm mais lugar nesse clima de gigantismo. Não adianta repintá-lo, trocar seus estofados, cadeiras Bertoia na recepção, nova tela, projeção digital.
Está no caminho dos mastodontes, dos megalíticos, das babeis desmesuradas e i
nfindáveis que, a cada dia, deixam a cidade cada vez menos identificável para nós, seus velhos moradores. Ele também está tão velho, que nem os frequentadores crêem mais em sua existência... E não vão mais às suas ótimas sessões.
Será muito triste, ao menos para mim, quando esse dia finalmente chegar. Mais triste que o belo filme de Peter Bogdanovitch, a Última Sessão de Cinema.
O letreiro Fim aparece na tela e fecham-se as cortinas do espetáculo. Desta vez, para sempre.

Por Luiz Saidenberg

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Chapelaria Paulista

No ano de 1959, aos 20 anos, trabalhei de vendedor na Chapelaria Paulista, na Quintino Bocaiúva, pertinho da Rua Direita.
A loja era especialista em chapéus, principalmente da marca Ramenzoni, mas, trabalhava também com artigos masculinos como cuecas, camisas, sociais e esportes da marca Ban-tan, também Ramenzoni, e famosa pela qualidade dos três patinhos estampados em suas etiquetas na altura do colarinho.

A loja era dirigida pelo seu Nin,i, que era sócio e sobrinho do Senhor Humberto Zucchi na Firma, H Zucchi & SOB, proprietária da Chapelaria Paulista.

Éramos quatro vendedores dirigidos pelo querido gerente Sr. Hugo. Os vendedores eram os companheiros que nunca mais soube deles e nem sei se ainda estão vivos: Paulo Bretas, Alício, Capanema e eu, Arthur; mais tarde tivemos mais um vendedor, o Simpliciano, que acabou sendo apelidado de sacudo (imaginem a razão).


O vendedor da Ramenzoni que atendia aos pedidos da Chapelaria era um cara muito amigo e gentil com todos nós e, por esta razão, querido por todos; talvez não fosse só por coincidência, mas ele era conhecido com o nome de Cortes, não sei se era nome ou apelido, mas garanto que era isso que mais ele era.

Bem em frente ao Prédio da Chapelaria, havia uma loja, Lá Bela Itália, onde trabalhavam umas moças lindas, e nós, da nossa loja, ficávamos diariamente paquerando aquelas beldades, quando o movimento estava baixo.

Em novembro de 2010, andando pelo centro velho onde visitei o Velho Martinelli, estiquei até a Praça da Sé para matar a minha velha saudade de minha juventude e mocidade; ao passar pela Quintino Bocaiúva, qual não foi a minha surpresa ao notar que a Velha Chapelaria estava ali, exatamente no mesmo lugar. As mesmas vitrines, os mesmos balcões.

De repente eu tive a impressão de estar de volta ao passado... Nunca havia sentido essa gostosa emoção anteriormente. Não resisti a tentação de entrar e pisar no mesmo local onde há 52 anos passados eu havia trabalhado no início de minha juventude.

Emocionado, pedi aos vendedores que me atenderam, para dar uma olhada pelo estabelecimento e naquele ambiente, onde tudo me era familiar, tive uma sensação maravilhosa.

Acredito que a mesma seja hoje a loja mais antiga de São Paulo e que ainda permanece quase com as mesmas características físicas da época de sua inauguração. Um verdadeiro e autentico museu. Se você não acredita, confira pessoalmente.

A proprietária atual é a nora e viúva do filho do meu antigo e falecido patrão, bastante emocionado nem consegui conversar direito com ela.
Saí da loja muito feliz e louco para ficar por lá mais um pouquinho, como também uma vontade imensa de voltar a vê-la outra vez (a loja, é claro!).

Por Arthur Miranda (tutu
)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Bom dia, minha São Paulo (2011)

Hoje eu esqueci a pressa que tu mesma me ensinaste a ter. Hoje não importa o urgir do tempo e nem o sucessivo e preocupante despegar dos dias no calendário. A agenda que apr
isiona o meu tempo foi esquecida na gaveta. Neste momento sou teu. E tu és minha.
A paixão surgiu, acredito, quando abri os olhos para vida.
Deve ter sido, provavelmente, naquela viagem dentro de uma velha Dodge, da maternidade para a minha casa que eu, através da

janela, te espiei. E me espiastes. Enfim, nos espionamos, medindo possibilidades...
Hoje, 62 anos depois estou aqui, para falar-te do amor que sinto por ti. Amor sempre intenso e igual – assim, do primeiro ao meu último dia.
Ainda há pouco, lembrei das velhas canções que fizeram para ti. Canções que desvelavam a sua vida em um tempo que eu não conheci...
Não conheci “teus sobrados de longos telhados”, caiados com o ocre e o branco retirados da tabatinga, nem as tuas ruas estreitas, solarenga às vezes, ou lavadas por tempestades, nem mesmo as vi envolvidas em tua garoa intermitente que, do mês de junho prolongava-se até dezembro. Não conheci, ao longo da Rua de São Gonçalo, próximo à Velha Sé, o casario em cujos quintais predominavam jabuticabeiras e cambucís.
Ah! Tu eras qual uma menina moça a sonhar sonhos, perdida entre os perfumes da luxuriante vegetação que te envolvia... Esperavas na esperança e sonhavas felicidade.
Como sei de tudo isso sobre ti? É que li o relato de tantos outros, teus amantes, a revelar-te para mim. Vi as aquarelas que fizeram de ti. Vi as fotos do Militão Augusto de Azevedo, o primeiro a fotografar-te, desnudando teu corpo, fixando tua imagem para a posteridade... Eu deveria ter ciúmes. Mas não tenho. Afinal, é impossível não amar-te.
Não conheci os teus Lampiões de Gás, mas, mesmo assim, tenho saudades. Nostalgia do tempo que, em ti, os jovens faziam serestas ao luar; tempos em que, principalmente no Brás, a luz mortiça dos lampiões iluminava as festas de rua, onde se bailavam “flamencos” e “tarantelle” ancestrais. E de tuas outras luzes falaram-me os teus amantes: Contaram-me que sob tocheiros de óleo de baleia, a tua gente dançava lundus e cantava acompanhada pela viola, músicas dolentes; sob as luzes dos lampiões de querosene, os estudantes da Faculdade de Direito, embuçados, movimentavam-se em ti, maquinado e executando suas brincadeiras, ou entrando em certas casas do Piques para visitar damas que, à luz do dia, não se visitava nunca...
Estás tão corada, minha linda! Afrontei teus pudores com o que disse? Pudores... Tu, depois de tantos séculos ainda os tens! Tu me desconcertas! Pois tu mesma me ensinaste a não me arrepender nunca pelo que fiz de bom ou de ruim, nem mesmo daquilo que não fiz e poderia ter feito. Disseste-me que tudo é aprendizado.
Esqueça! Fica o dito por não dito. Eu também tenho cá os meus pudores e certo moralismo...
Não te vi brilhando às luzes dos lampiões, como também não te vi guerreira, revolucionária, ao som de “Paris Belfort”, exigindo a Constituição. Não caminhei pela Barão de Itap
etininga gritando por ela e formado barricadas. Não invadi o PPP e não fui ferido à bala. Não te dei o meu sangue. Pena!
Tantos fatos que tu viveste e que eu não vivi em ti... Fazer o que? Eu vim depois.
E vim de longe! O meu gene transpôs um oceano para que eu nascesse em ti e cumprisse o meu destino.
Muita coisa não vi em ti. Mas vi teus brilhos de luz elétrica, andei nos teus bondes remanescentes. Não te vi Vila, não te vi Cidade. Tu já eras Metrópole! Mas te vi transmutar-se em Megalópole... És tão grande. Magna et magnífica! O quê devo ainda esperar de ti?
Corada outra vez? Incomodam a ti as lisonjas merecidas? Tu sempre me surpreendes! Agora tu estás ai, a provar-me que não és fria e insensível como dizem... Corada estás, que fique então. Tenho mais a dizer.
Eu te vi linda, esplendorosa naquele dia 25 de janeiro de 1954! Brilhavas como o sol, diante dos teus amantes que te homenageavam e te aplaudiam ao som de Mario Zan, tocando o “São Paulo Quatrocentão”.
A Espiral Ascendente, símbolo dos teus 400 anos, serve-me até hoje para revelar a dimensão do meu amor por ti. Crescente sempre! Ad infinitum...
O tempo a passar, leva-me a cumprir em ti o meu destino. Cresci, tornei-me adulto e, muitas vezes, me adulterei por condições e mesmo por desculpas... Vive-se e se aprende. Eu aprendi.
Em ti encontrei os meios de sobrevivência. Lá me fui a fazer parte daquele universo que ad aeternum sustenta a cidade e se sustenta: “São Paulo que amanhece trabalhando, São Paulo que não para de crescer. (...) Na reza do Paulista, trabalho é o Padre Nosso. É a prece de quem luta e quer vencer”!
Trabalho! Trabalho! Vivi e vou vivendo contigo. E tempo, cadê o tempo que eu sempre tinha? Não tenho tempo! Como não? Então, reinvento o tempo!
E passei a ter tempo. Tempo de sair por ai, viver de ti, viver contigo. Sair por ai a cantar “São, São Paulo, meu amor”...
Agora, aqui estamos nós em perfeita simbiose. Sem ter que pedir perdão ou desculpas um ao outro. A frase do poeta nos define bem: “A gente nasce para o que se é”. O que i
mporta é que me amas e eu te amo.
É um momento importante este. Pois quero reafirmar o imenso amor que tenho por ti. Um amor que nasceu no século XX e continua pelo século XXI. Um amor perfeito que saiu do milênio passado, entrou neste e seguirá pela eternidade.
Amo-te por tudo o que me deste, pelo que não me deste. Peço-te apenas que nunca me deixes. Foste o meu berço. Não me negue em ti a sepultura.
Feliz Aniversário, minha linda! Fazes 457 anos. Eu, dois dias depois de ti faço os meus 63. Como assim – estás velha? Que diferença de idade? Não dramatize, por favor! Acaso esqueceste que és eterna? Que eu sou eterno em ti? Tu és a minha São Paulo. Eu sou o teu Paulistano. Somos eternos, não temos idade.

Por Wilson Natale

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

São Paulo faz aniversário - 25 de Janeiro, 1554—2011



A cidade de São Paulo me conheceu em 05\02\1932 e só tomei conhecimento dela em 1938. Amor a primeira vista. Só saí de seus limites pra viajar, férias, passeio. Nasci a poucos metros do local de sua fundação, sempre amando loucamente esta cidade. E ela sempre, correspondendo. Do local de minha formação (bairro do Braz), testemunhei seu crescimento e espantosa explosão como megalópoles que é hoje. Desculpem, não estou aqui pra falar de mim.
Minha paixão pela cidade de São Paulo faz de mim um bairrista inveterado, tenho ciúme de tudo, das outras cidades. Desde bem jovem, faço comparações e, quando os números são desfavoráveis, torço pra São Paulo alcançar seu rival. E ela sempre alcança.
Lembro quando sua população, em números, era inferior a do Rio. Em poucos anos alcançou e ultrapassou, não só o Rio como Nova Yorque, Londres, Chicago e chega a ser a terceira do mundo. Primeira a ter TV no Brasil, primazia no Metro, edifícios que brotam do chão como plantações numa extensão territorial sem fim. Bairros antigos desaparecem pra dar lugar a novos centros residenciais modernos. O Centro velho fica nas lembranças dos sau
dosistas, e novos e modernos edifícios erguem-se pra formarem avançados núcleos financeiros.
Quanto progresso, quanta beleza construída pelas mãos dos paulistanos. Recebe e agradece seus migrantes e imigrantes de toda parte que, na busca de uma oportunidade de progresso pessoal, colaboram no espantoso crescimento dessa tentacular cidade. Avenidas largas, modernas, viadutos e estradas umbilicais concebidas com as mais avançadas técnicas de construção, que levam e trazem produções de outros municípios e estados. Veja a beleza do Viaduto das Águas Espraiadas, do Anel Viário, túneis perfurando obstáculos, facilitando o escoamento do trânsito, o maior produtor industrial enfim, São Paulo enche de orgulho não só paulistas e paulistanos como todos os brasileiros e todos os estrangeiros que aqui vivem, trabalham, formam famílias e crescem com a cidade.
Não podemos nos esquecer de mencionar suas escolas, colégios, universidades, sendo a USP uma das mais famosas da América do Sul, a beleza tradicional da arquitetura da
Catedral da Sé, seus cinemas, teatros, shoppings, clubes, restaurantes, centros de abastecimentos, hospitais, sendo o das Clínicas, o mais avançado da América do Sul e que recebe pacientes do Brasil inteiro, centros cardiológicos, clínicas de doenças altamente contagiosas, laboratórios de desenvolvimento científicos equipados com instrumentos de última geração.
Tudo isso e mais algumas coisas, devemos a quem? A todos nós que aqui vivemos, moramos, formamos nossas famílias graças a essa espantosa cidade que completa 457 anos no dia 25 de janeiro. PARABENS, SÃO PAULO, QUE VENHA OUTROS 500 ANOS QUE NÓS, AQUI TE ESPERAMOS.

Por Modesto Laruccia

domingo, 23 de janeiro de 2011

Colação de grau de meu filho

Sexta-feira, dia 21 de janeiro de 2011, o correu a cerimônia solene de Colação de Grau oficial dos formandos do ano letivo de 2010 das Faculdades Oswaldo Cruz, em São Paulo, e meu filhão estava entre eles, pelo curso de Publicidade e Propaganda.
Fiquei muito feliz e orgulhosa, pois considero uma grande vitória dele, depois de ter passado por aquele acidente terrível que o afastou dos bancos escolares por um longo período. Mais orgulhosa ainda porque ele foi o orador da turma, escolhido por unanimidade pelos colegas.
Seu discurso foi muito peculiar e despojado e é com muito orgulho que o publico aqui.
Meu filho querido, eu te amo muito.

(Sonia Astrauskas)


Olá, tudo bem?
Em primeiro lugar eu quero agradecer à minha sala por ter me escolhido para orador. No dia da escolha só tinha eu na sala; o professor olhou para mim e falou: alguém quer se
canditadar? Eu levantei a mão e ele falou: mais alguém? Mais alguém? Respirou fundo e falou, vai... Pode ser você mesmo. (brincadeira)

Quero agradecer também a todos os que estão na banca, Nossa! Banca? Tô com trauma ainda do meu TCC; a todos os alunos e a todos os que vieram aqui hoje.
Obrigado, de coração, a todos.
Gostaria de me apresentar; meu nome é Vicente e sou aluno de Publicidade e Propaganda. Opa! Desculpa ai gente, não sou mais aluno. Desculpa; força do hábito.
Estou aqui, com essa roupa engraçada, um chapéu bem fashion e um canudo na mão. Na real, eu achava que ia estar com o canudo já! Desculpa.
Nos tempos de faculdade, tentei ser uma pessoa legal com todos e sempre fui metido a engraçadinho; acredito que alguns daqui estão esperando um texto bem debochado e sem noção, bem parecido com os 4 anos que passei aqui, mas, sentado em meu quarto tentando dar o toque especial do Vicente no texto, vi que esse momento é uma responsa muito grande. Então, não fiquem decepcionados se eu não falar as coisas debochadas ou sarcásticas agora.
Não sei se todos os presentes sabem, mas existe um ditadinho muito conhecido entre os estudantes:
“Entrar na faculdade é fácil, difícil é sair.” Já ouviram?
Fiquei pensando algum tempo sobre esse ditado e cheguei a algumas conclusões. Hoje, depois de 4 anos de faculdade, posso vir aqui e dizer, com toda certeza, o porque é tão difícil sair da faculdade.
Sair não é difícil por causa do custo e dos gastos que se tem quando se é um estudante. Nem por causa da indesejada matemática das notas, exames e DP’s que você acumula durante a sua jornada aqui.

O difícil mesmo é que, depois de tanto tempo, deixar o convívio diário com tantos amigos, até os que você não gosta muito, deixar somente na lembrança tantas histórias, tantos amores, e os desamores também, não é tão fácil assim. Deixar é claro, os tão polêmicos botecos, (Mãe, eu não bebo tá? Só eles que bebem), deixar cenário de tantos acontecimentos, os amados mestres, como a Maria Tereza... Não gente, tô brincando. Os professores, esses sempre tão bons contatos profissionais (aliás, professores, imprimi uns currículos tá, vou deixar com vocês quando acabar aqui, só por garantia), enfim, é muito complicado enfrentar a vida adulta. (Olha mãe, quem diria que um dia eu ia falar isso heim?).
Enfrentar a vida adulta, mas, agora com a responsabilidade de exercer a profissão que escolhi, de ser bem sucedido no mercado de trabalho, ou ser devorado pelo mesmo.
Lembro que, no meu primeiro dia de aula, um professor perguntou o que eu queria seguir, e respondi: Criação. Ele me olhou e falou que também era de criação; fiquei muito feliz... Por 4 segundos. Porque depois de me falar, ele estufou o peito, me olhou firmemente nos olhos e mandou sem respirar: Seja bem vindo! Nossa! Mal eu terminei de respirar ele falo
u: Você tá ferrado. acabaram as suas noites de sono, seus fins de semana e tudo o que você mais gostava de fazer... E tudo isso, no primeiro dia de aula.
O mais engraçado em tudo isso é que, ao falar para as outras pessoas sobre o curso que escolhi, falavam: Publicitário? Isso é profissão de vagabundo!
- Publicidade faz o que mesmo? Musiquinha pra comercial e fundo colorido para propaganda de revista? Você é o cara que faz aqueles frufruzinhos que tem nos intervalos do pânico, né? E ainda ganha para fazer isso?
- Ah! Fala a verdade, você escolheu esse curso porque não gosta de exatas. Cambada de preguiçosos!
Olha, pensando bem... Estou achando mesmo que...
NÃO! NÃO É!
A Publicidade te escolhe!
Quem estudou sabe o sentimento que dá (sentimento esse que podemos chamar de inveja), quando você vê um anúncio ANIMAL em uma revista.
Ou um comercial de TV, com um jingle irado, com uma sacada que faz você pensar:
PUUUTZ! Eu queria ter feito isso ai!
Queria estar envolvido com isso, de alguma maneira.
A Publicidade influencia você. Para mim, um anúncio perfeito, está lá, em algum lugar, só esperando chegar alguém perto e ela o escolher para produzi-la.
Quem não se lembra do comercial que fala assim: - pipoca na panela começa a arrebentar, pipoca com sal, que sede que dá. Ou o : O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa, é a poupança Bamerindus , dus dus dus!
Pois é! É disso que eu estou falando!
Propagandas como essas te levam à Publicidade, faz com que você se sinta escolhido.
Mas, como tudo na vida, também há o lado negro da coisa, e você pode se sentir um escolhido, depois de ter assistido a esse comercial.

-Oi, eu sou o Dolynho, seu amiguinho, vamos brincar, Dolly, Dolly guaraná Dolly, o melhor.
Ai, você pensa: Meu, é isso mesmo que eu vou fazer, vou mudar para Administração... Não... Estou brincando, pensa, eu vou estudar essa PORRA! Porque não é possível! Eu sou capaz de fazer alguma coisa melhor que isso!
O importante é que estamos aqui. Novinhos em folha!
Tendo escolhido ou sendo escolhido pela profissão. A conclusão da faculdade, além de um passaporte, é um sonho realizado.
Agradeço em nome de toda a turma, aos nossos familiares e, principalmente, aos professores, que tornaram o meu sonho e acredito que o de todos aqui, bem real.
Por hoje é só.
Obrigado!

Por Vicente Astrauskas Neto

sábado, 22 de janeiro de 2011

Memórias de um nome

Ano 1971, Dezembro, estávamos vivendo o penúltimo mês de nossa gravidez. O parto, já sabíamos, não seria natural. A torcida era para saber qual data o médico, Dr.Bianchi, iria marcar para promover a cesariana.
Eu e a Da. Cida tínhamos decidido, desde o nascimento da Renata, que os nomes de todos os nossos filhos, se acaso houvesse outros, seriam simples (não queríamos nomes compostos), e iniciariam pela letra R.
Tínhamos corrido diversas listas de sugestões de nomes, listas do antigo INPS, em busca de nomes com a inicial escolhida.
Foi, então, que uma preocupação assomou a minha mente de pai dedicado.
O nascimento se daria em Janeiro, mês em que minha cidade
aniversariava também. Se a cesariana fosse marcada para o dia 25, eu, em sã consciência, não iria poder manter o acordo e o nenê (não quisemos saber o sexo), não poderia ter seu nome iniciado por R.
Teria que, obrigatoriamente, chamar-se Paulo ou Paula, em homenagem à minha Sampa das 13 listas.
Eu, por minha vez, tinha resolvido ainda, cantar a plenos pulmões, a marcha rancho de autoria, se não me falha a memória, de João Pacífico e gravada por Nelson Gonçalves, intitulada Bandeira das Treze Listas, cuja letra, me lembro bem, era assim:
Abre a Bandeira das Treze Listas
E apresente ao Turista
Esta imensa São Paulo, gigante troféu.
Mostre atrás dessa bandeira,
A jóia bem brasileira,
Cidade dos arranha-céus.
Abra os braços ao mundo inteiro,
E conte ao estrangeiro,
A historia dessa criança
Conte o seu passado de glorias
Conte por fim toda a historia
Que é do Brasil a esperança.
Mostre atrás das terras meu sertão
Minha casinha de sapé
Mostre o ouro branco, nosso algodão,

O ouro verde o café
Mostre as nossas verdes matas,
Mostre o céu azul de anil.
Mostre o seu cartão de visitas,
Essa bandeira paulista,
Este São Paulo, Brasil.
Enfim, por ser feriado, o médico resolveu que a cesárea seria efetuada no dia 26 de Janeiro, um dia depois do aniversário de Sampa, na tradicional Maternidade São Paulo.
Nossa filha nasceu e de acordo com o combinado, foi batizada Roberta. Roberta Chammas.
Ela, com o passar dos anos abominava a data de seu nascimento por que, era em pleno mês das férias escolares e, em suas festas, suas coleguinhas não apareciam e, lógico, menos presentes ela abiscoitava, mas esta é outra lembrança e será relatada noutra ocasião

Por Miguel Chammas

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Praça Patriarca e arredores

imagens: Rua Riachuelo (1956) e antiga loja Casa Fretin
Revirando uma velha caixa de madeira, onde costumo guardar diversos papéis, deparei-me, com surpresa, com um caderno no qual fiz algumas anotações na década de 50. Nessa época, eu trabalhava em uma loja de material elétrico, que ficava em frente à Repartição de Águas e Esgotos, na Rua do Riachuelo.

A casa chamava-se Excelsior Elétrica Importadora, cujo proprietário era o Senhor Salvador Cutolo Caetano. Na hora do almoço, eu costumava passear pelas redondezas, levando um caderno para memorizar alguns endereços de firmas que adquiriam produtos da loja.
Hoje, revendo aqueles rabiscos, ali estão os nomes da Casa São Nicolau, Perfumaria Fachada, Casa Fretin, Cia. Oscar Rudge de Papéis, Casa Hélios, Casa Vermelha de Calçados, Casa Sotero, Botica ao Veado D’Ouro, Cine Teatro Recreio, Casa A Fidalga de Calçados, Leiteria Pereira e Calçados Venizelos.

A maioria desses estabelecimentos já não existe mais, mas permanecem vivos em minha memória e, como dizia Fiore Gigliotti, ficarão para sempre encrustados no meu cantinho de saudades.

Por Leonelo Tesser (Nelinho
)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Basilicata

Quando foi inaugurada, há noventa e seis anos, a Basilicata tinha um pouco de tudo, alho, macarrão, enlatados, cebola, vassouras... E, é claro, pão italiano, sua marca registrada, que fabrica cerca de 5.500 unidades por dia, que saem dos fornos da padaria, no mesmo endereço até hoje (Rua treze de maio, 614).
A receita veio da região de Nápoles, no sul da Itália, junto com o fundador, Domenico Laurenti. Atualmente, o comando do negócio está nas mãos da terceira geração de descende
ntes de Laurenti, o homem de Chapéu e suspensórios que aparece na foto ao lado, da década de 20, ao lado de clientes.
Na foto acima, a padaria Basilicata nos dias de hoje, ainda no mesmo endereço, Rua 13 de Maio, Bela Vista, o popular Bixiga, seguindo a linha do fundador, servindo seus clientes, fabricando e vendendo no balcão e entregando a domicilio o seu mais precioso produto, o pão italiano. A Basilicata é a caçula das padarias do Bexiga. Fundada em 1914, seu nome é uma referência à região de onde veio a família Laurenti. É, contudo, a mais espaçosa que as demais padarias da vizinhança; a Basilicata distribui seus pães para inúmeros endereços em São Paulo e demais localidades do país. Além de vender pães italianos de todos os tamanhos e formatos, dispõe de azeites importados, balsâmico de Modena, alichi em conserva e vinhos de diversas regiões da Itália.
Para quem interessar...Padaria Basilicata: Rua 13 de Maio, 614 – Bela Vista – (11) 3289-3111.

Por Mário Lopomo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

De pequenas guerras a grandes curas

Alfabeto Braile – as partes pretas são em alto relevo
para que o deficiente visual as identifique


O Brasil tem 2 milhões de deficientes visuais.
Maria da Paz, sofre de retinose pigmentar ( também conhecida como retinite pigmentosa,ou retinitis pigmentosa, retinopathia pigmentosa, RP). É uma doença genética, que ataca a retina causando a destruição de suas células. Foi perdendo pouco a pouco a visão.

Dona de uma audição apurada e memória quase fotográfica. Faz todo o trabalho de casa. Para telefonar, disca a partir do número cinco. É que ele tem um pontinho, que serve de referência. Frita o bife contando até 60 para cada lado. Mas, é perigoso. Lava a roupa sempre cheirando. A louça, ela sente no tato se ainda tem detergente. Limpa o chão direitinho, sentindo todas as saliências. Os rejuntes ficam mais limpos do que os de quem enxerga bem.
O mundo visto pelos ouvidos, vozes, cheiros e pelo toque.
Muito animada, participa do curso Arte em Cabaça no Centro de Cidadania da Mulher de Santo Amaro.
Exemplo de superação no grupo de estudos de Arte e Cidadania. Desenho e pintura em exposição. A primeira cabaça pintada, uma emoção.
Faz curso de bengala branca no Dorina Nowill, para finalmente ter mais autonomia de locomoção.
Quando pequena, se a professora mandava formar grupos, ninguém a queria. Restava o grupo dos bagunceiros e repetentes. Graças a isso, acabava fazendo o trabalho sozin
ha, que apresentava em nome de todos. Envolveu-se e desenvolveu-se. Daí a habilidade de falar em público.
Muitas vezes, a exclusão começa na própria família, que tem dificuldade em lidar com o problema e também sofre com ele. É movida a sonhos e determinação. Faz trabalhos voluntários e está de bem com vida. Sabe que ser incluída é poder circular pelo mundo com desenvoltura. Na guerra contra o preconceito, na cultura da paz e harmonia.

13 de dezembro dia nacional do cego.

Por Suely Schraner

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A 120 na 23 de Maio


imagens: Alfa de Saidenberg com ele ao volante e sua filha a beijá-lo; 23 de Maio em 1974; Rua Veiga Filho; Windhuk

Olhei para o lado do passageiro. Britto estava lívido, agarrado à alça do teto.
-Estou muito rápido? Eu diminuo...
- Não, menino... Está tudo bem, disse com voz trêmula.
O mostrador da Alfa marcava 120, e eu voava através da 23, ultrapassando todo mundo.
Eram tempos mais amenos, embora meu modo de dirigir não demonstrasse tal.
Não havia limite de velocidade na grande avenida e o trânsito era menor, embora sempre intenso.
Estávamos em 1974, pois hoje tal façanha seria impossível, sob qualquer circunstância.
Britto era um dos sócios da agência de propaganda, na Rua Veiga Filho; tínhamos ido à Moema para ver umas fotos de modelos. Nesse meio tempo, minha namorada dirigia-se à agência, para me esperar.
Tínhamos combinado um cinema.
No fotógrafo, as coisas atrasaram; modelos não compareceram e comecei a ficar inquieto.
Já o Britto, parecia estar curtindo muito. Para ele, a saída da firma era uma pausa nos seus afazeres rotineiros. Estava de ótimo humor, apesar dos contratempos. E assim ficaria, até por os pés no carro.
Decidiu voltar, enfim; mas, ainda queria tomar um chope no Winduk que, naquele tempo, ainda ficava na Av. Ibirapuera. Consegui dissuadi-lo e, enfim, toca a retornar, ele muito a contragosto.
E a Márcia, me esperando! Quando consegui entrar na 23 de Maio, pisei fundo no acelerador. Hoje, jamais faria uma coisa dessas, mas, como disse Rubem Braga, éramos jovens!
O carrinho roncou nos seus 130 hp e, para horror do pobre Britto, nuns vinte alucinan
tes minutos estávamos em Higienópolis. Paramos abruptamente no pátio da firma.
Ele quase baqueou ao sair; depois, vim a saber que tinha horror a velocidade quando não era o motorista. Sempre procurava ficar no banco trazeiro. E não tinha sido o caso.
- Que pena, disse eu, brincando. Se soubesse dito, teria caprichado mais um pouco!
Ah, insensato coração! Poucos anos depois, a 23 nunca mais seria a mesma.
Nem eu.

Por Luiz Saidenberg