Foi só escrever sobre o Ferragosto e o tempo virou. Domingo, 5 de setembro de 2010. Pretendíamos dar um pulo à Santos, há muito que não descemos a serra.
E aí, céu encoberto, umidade de quase garoa pairando na névoa e até um discreto friozinho. Fiquemos por aqui mesmo. Tem gente que adora São Paulo frio e cinza, resquícios da herança europeia que lhe corre ainda nas veias, até quando? Eu gosto de sol, mas, mesmo assim, ponho-me a caminhar pelas redondezas e vejo que há atenuantes.
É a hora e a vez dos ipês amarelos. Até o do meu jardinzinho floriu e, desta vez, na hora certa. As ruas do bairro estão tingidas de borrões dourados. Contra a apatia do cimento e o céu uniformizado de cinza, eles formam belo e alegre contraste.
É impossível passar por qualquer rua sem topar com alguns desses espécimes. Antes deles, foram os rosa, antigamente chamados de ipê roxo, com as cascas disputadas para curas milagrosas. As curas eram um embuste, mas o milagre permanece, renovando-se a cada fim de inverno.
Seguido pelo dos amarelos, magníficos em sua plumagem, dourados como um Buda, suprema forma de harmonia, Céu e Terra unidos em esplendor. E suas pétalas, muito efêmeras, transportam, rapidamente, o céu para o chão. Seguimos pisando macios tapetes amarelos, belos como os de Corpus Christi, mas sem a carga da culpa colocada nestes.
Tão belos no asfalto quanto nos galhos. São Paulo, tão sofrida e calejada, vira temporariamente Oz; avancemos pela estrada amarela até casa, onde nosso ipêzinho nos recebe de galhos abertos.
Ano que vem, se Deus quiser, tem mais.
Por Luiz Saidenberg
E aí, céu encoberto, umidade de quase garoa pairando na névoa e até um discreto friozinho. Fiquemos por aqui mesmo. Tem gente que adora São Paulo frio e cinza, resquícios da herança europeia que lhe corre ainda nas veias, até quando? Eu gosto de sol, mas, mesmo assim, ponho-me a caminhar pelas redondezas e vejo que há atenuantes.
É a hora e a vez dos ipês amarelos. Até o do meu jardinzinho floriu e, desta vez, na hora certa. As ruas do bairro estão tingidas de borrões dourados. Contra a apatia do cimento e o céu uniformizado de cinza, eles formam belo e alegre contraste.
É impossível passar por qualquer rua sem topar com alguns desses espécimes. Antes deles, foram os rosa, antigamente chamados de ipê roxo, com as cascas disputadas para curas milagrosas. As curas eram um embuste, mas o milagre permanece, renovando-se a cada fim de inverno.
Seguido pelo dos amarelos, magníficos em sua plumagem, dourados como um Buda, suprema forma de harmonia, Céu e Terra unidos em esplendor. E suas pétalas, muito efêmeras, transportam, rapidamente, o céu para o chão. Seguimos pisando macios tapetes amarelos, belos como os de Corpus Christi, mas sem a carga da culpa colocada nestes.
Tão belos no asfalto quanto nos galhos. São Paulo, tão sofrida e calejada, vira temporariamente Oz; avancemos pela estrada amarela até casa, onde nosso ipêzinho nos recebe de galhos abertos.
Ano que vem, se Deus quiser, tem mais.
Por Luiz Saidenberg
14 comentários:
Lindo textyo Luiz. Nesse mesmo dia, eu e a Soninha nos extasiávamos com as belas paisagens amarelo-ouro de Ipês floridos nas Ruas de Curitiba.
Saidenberg!
Esse é mais um dos milagres com que Deus, ou a Natureza - como preferem outros - nos mostra Sua Face! E esse olhar sensível que percebe e se deleita, é uma belíssima prece de reconhecimento e agradecimento.
Parabéns pela linda oração!
Abraço.
Olá, Luiz!
Nada mais perfeito que a própria natureza para nos mostrar as obras de Deus.
Que presentão para Sampa, os ipês e outras árvores que florescem, dando um colorido bem alegre à nossa amada São Paulo.
Adorei sua ótica dos tijolos amarelos, pisando sobre as flores dos ipês que caem, humildes, para que caminhemos sobre elas feito reias e rainhas...
E que benção, a sua, poder chegar em casa e ser recebido por seu lindo ipê, amistoso e sorridente...
Valeu, Luiz!
Obrigada.
Muita paz!
Poesia urbana, ipê...nizada e acolhedora, respeitando o colorido que Deus nos envia, num mundo preto-e-branco.
A terra bem tratada sempre tem a resposta que se espera. Ela não regateia, devolve em cores o que recebe com amor. Bela elegia, Saidenberg, a descrição desse milagre só vc sabe dar o toque de Midas. Tudo fica dourado. Parabéns, Luiz.
Poesia urbana, ipê...nizada e acolhedora, respeitando o colorido que Deus nos envia, num mundo preto-e-branco.
A terra bem tratada sempre tem a resposta que se espera. Ela não regateia, devolve em cores o que recebe com amor. Bela elegia, Saidenberg, a descrição desse milagre só vc sabe dar o toque de Midas. Tudo fica dourado. Parabéns, Luiz.
-Vê,estão voltando as flôres
-Vê,nessa manhã tão linda
-Vê,como é bonita a vida
-Vê,há esperança ainda.....
Saidenberg,lendo seu belo texto, lembrei-me dessa também linda canção, interpretada se não me engano, por Altemar Dutra.
"Há esperança ainda meu amigo.
Um grande abraço.
Bernadete, vc não se enganou, Altemar Dutra gravou essa linda marcha-rancho, mas para o meu gosto, ela ficou mais linda ainda na voz da queridissima HELENA DE LIMA.
Abraços
Miguel
Após os amarelos, chegou a vez dos ipês brancos. Raros, mais parecem as famosas cerejeiras do Japão. São poucos, senão poderiamos nos imaginam em Kioto ! E tb dos jacarandás mimosos, com suas mimosas flores malva. Combinam bem com tudo, até com o cinza da cidade!
O Luiz foi mexer com flores e acabou de florir todo mundo. A musica é tão bonita que vários intérpretes gravaram. Helena de Lima, Dalva de Oliveira, Miltinho e Altemar Dutra. Vejam que lindos versos elas promovem...
Vê, estão voltando as flores
Vê, nessa manhã tão linda
Vê, como é bonita a vida
Vê, há esperança, ainda
Vê, as nuvens vão passando
Vê, um novo céu se abrindo
Vê, o sol iluminando
Por onde nós vamos indo
[Solo]
Vê, estão voltando as flores
Vê, nessa manhã tão linda
Vê, como é bonita a vida
Vê, há esperança, ainda
Vê, as nuvens vão passando
Vê, um novo céu se abrindo
Vê, o sol iluminando
Por onde nós vamos indo
Luiz, aquí no terreno do estacionamento onde trabalho tem também um lindo pé de Ipê e está bem florido, mas teu relato me lembra ainda uma velha canção que diz:
"Receba as flôres que lhe dou
Em cada flôr um beijo meu...
parabéns pelo seu texto, abraços, Nelinho.
Em cada flôr um beijo meu
Obrigado Saidenberg por esse texto florido e perfumado de Primavera, aqui em casa tenho dois Ipês roxo, e nessa época o gramado do meu jardim que é verde fica salpicado de petalas roxas que caem dos Ipês.
Fica tão bonito coisa prá Mangueirense nenhum por defeito. Belo e oportuno texto.
Ah como fazem bem aos olhos as cores das flores. Minha sobrinha e afilhada Clarissa diz que as flores me chamam para que eu olhe para elas. Acredito que seja verdade porque é automático encontrar qualuqer toque delas pela cidade de São Paulo. Minha mãe sempre diz que hoje há muito mais flores e árvores em São Paulo do que anos atrás quando ela veio de Sertãozinho para cá.
Se me permite uma correção, existe o ipê rosa e o roxo. Uma vez teimei com minha sogra que o ipê visto era roxo e ela não abriu mão de dizer que era rosa. Notei que o roxo floresce antes do amarelo e o rosa floresce com o amarelo e o branco. Aliás, tenho estado em sp por ocasião de internação de minha mãe e notei muitos ipês brancos pela cidade e els não são comuns de ver.
tomara que a cidade floresça mais e mais para atenuar as adversidades que todas as cidades grandes têm.
Mil abraços a você.Vera
Muito obrigado pelos comentários, mas, querida Vera, ipê rôxo, rôxo mesmo nunca vi. Talvez haja falta deles na grande cidade. As outras variedades sim, em sequência. Termina uma floração, começa a próxima, ainda mais bela. Os brancos são mesmo raros, e existem ainda os cedros, de flores parecidas com as dos ipês, mas sem folhas caducas. Florem mais tarde, com imensa quantidade de botões misturados às folhas. Abraços.
Muito obrigado pelos comentários, mas, querida Vera, ipê rôxo, rôxo mesmo nunca vi. Talvez haja falta deles na grande cidade. As outras variedades sim, em sequência. Termina uma floração, começa a próxima, ainda mais bela. Os brancos são mesmo raros, e existem ainda os cedros, de flores parecidas com as dos ipês, mas sem folhas caducas. Florem mais tarde, com imensa quantidade de botões misturados às folhas. Abraços.
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