As tendências da memória acredito eu, são sazonais e atingem a todos, basta um começar e os demais o acompanham. Por exemplo, um participante deste blog, me parece que foi a Soninha, começou a escrever sobre o tema medo e já teve vários seguidores.
Eu, como não poderia deixar de ser, acompanho a massa. Para tanto registro, aqui, uma das minhas memórias infantis.
Sou Miguel não por acaso. Um tio de minha mãe, de quem já muito escrevi, também chamava-se Miguel e, em sua homenagem, fui com este nome batizado.
Reza a história que o afilhado, se bem batizado, segue os passos de seu padrinho, eu confirmei essa assertiva.
Como meu tio de 2º grau, também me envolvi com teatro e música e o nomeei meu grande ídolo e tio mais querido.
Por causa dele, conheci na íntegra o Teatro Municipal, os vários tenores, baixos, as contraltos e as sopranos, bem como os maestros e músicos que pisaram aquele sacrossanto ambiente teatral.
Com ele aprendi, entre muitas coisas, a arte de assustar.
Meu tio, quando ainda estava na ativa em suas tarefas de agenciar as companhias líricas, que se apresentavam no teatro Municipal de São Paulo, residia na bairro do Cambuci, mais precisamente na Rua Diogo Vaz, perto da fábrica de chapéus Ramenzoni, que estava estabelecida na esquina das Ruas do Lavapés e Scuvero.
Era uma casa grande e muito confortável, como todas as casas de meu tio, térrea, embora construída em terreno alto e que tinha um porão bastante amplo, que servia de depósito para alguns moveis e tranqueiras, ainda não disponibilizadas para o destino final, ou seja, o lixo.
Nesse porão, estava também, um dos motivos que assustavam de forma definitiva o pirralho do meu irmão. Eu, na época, já era um homenzinho de 10 ou 12 anos e totalmente abstraído de medos.
Conforme disse, nesse porão, meu tio dizia que tinha, aprisionado, um monstro de nome Romuvaldo – nome horrendo para um monstro horrível – que, às vezes, resolvia berrar e sapatear assustando os mais incautos ou inocentes.
Meu tio, desde que o conheci, tinha por hábito, fazer a sesta após o almoço. Nada que ultrapassasse 60 minutos; era depois desse período que o Romuvaldo teimava em aprontar das suas, desde que eu e meu irmão estivéssemos passando nossas temporadas em sua casa, temporadas que eram comuns e constantes.
Aí, Romuvaldo urrava, sapateava por uns bons minutos, até que meu tio, surgindo dramaticamente nervoso e aborrecido, trocava algumas palavras áridas com minha Tia Maria que, preocupada, pedia para ele não assustar o menino (meu irmão).
Ele, então, pegava o Carlinhos pelas mãos dizendo que ele deveria ir ajudá-lo a dar uma surra no Romuvaldo.
Nesse momento, meu irmão não aguentando o suspense, abria o berreiro e chorava. Quanto mais chorava mais meu tio insistia em levá-lo para punir o Romuvaldo, ao mesmo tempo gritava com o Romuvaldo mandando-o ficar quieto. Às vezes, dava sozinho, uma corridinha ao seu quarto, para fazer com que o monstro desse mais alguns gritos e saltos.
Toda essa pantomima levava bem uns 30 minutos, tempo esse que eu me matava de tanto rir.
Passado esse tempo, meu tio fazia perceber que o monstro tinha se calado, sentava meu irmão no seu colo e, com carinhos, dizia que ele não precisava temer, que estava bem protegido.
Até hoje, o Carlinhos tem medo de escuro e de outras “cositas más”.
Por Miguel Chammas
Eu, como não poderia deixar de ser, acompanho a massa. Para tanto registro, aqui, uma das minhas memórias infantis.
Sou Miguel não por acaso. Um tio de minha mãe, de quem já muito escrevi, também chamava-se Miguel e, em sua homenagem, fui com este nome batizado.
Reza a história que o afilhado, se bem batizado, segue os passos de seu padrinho, eu confirmei essa assertiva.
Como meu tio de 2º grau, também me envolvi com teatro e música e o nomeei meu grande ídolo e tio mais querido.
Por causa dele, conheci na íntegra o Teatro Municipal, os vários tenores, baixos, as contraltos e as sopranos, bem como os maestros e músicos que pisaram aquele sacrossanto ambiente teatral.
Com ele aprendi, entre muitas coisas, a arte de assustar.
Meu tio, quando ainda estava na ativa em suas tarefas de agenciar as companhias líricas, que se apresentavam no teatro Municipal de São Paulo, residia na bairro do Cambuci, mais precisamente na Rua Diogo Vaz, perto da fábrica de chapéus Ramenzoni, que estava estabelecida na esquina das Ruas do Lavapés e Scuvero.
Era uma casa grande e muito confortável, como todas as casas de meu tio, térrea, embora construída em terreno alto e que tinha um porão bastante amplo, que servia de depósito para alguns moveis e tranqueiras, ainda não disponibilizadas para o destino final, ou seja, o lixo.
Nesse porão, estava também, um dos motivos que assustavam de forma definitiva o pirralho do meu irmão. Eu, na época, já era um homenzinho de 10 ou 12 anos e totalmente abstraído de medos.
Conforme disse, nesse porão, meu tio dizia que tinha, aprisionado, um monstro de nome Romuvaldo – nome horrendo para um monstro horrível – que, às vezes, resolvia berrar e sapatear assustando os mais incautos ou inocentes.
Meu tio, desde que o conheci, tinha por hábito, fazer a sesta após o almoço. Nada que ultrapassasse 60 minutos; era depois desse período que o Romuvaldo teimava em aprontar das suas, desde que eu e meu irmão estivéssemos passando nossas temporadas em sua casa, temporadas que eram comuns e constantes.
Aí, Romuvaldo urrava, sapateava por uns bons minutos, até que meu tio, surgindo dramaticamente nervoso e aborrecido, trocava algumas palavras áridas com minha Tia Maria que, preocupada, pedia para ele não assustar o menino (meu irmão).
Ele, então, pegava o Carlinhos pelas mãos dizendo que ele deveria ir ajudá-lo a dar uma surra no Romuvaldo.
Nesse momento, meu irmão não aguentando o suspense, abria o berreiro e chorava. Quanto mais chorava mais meu tio insistia em levá-lo para punir o Romuvaldo, ao mesmo tempo gritava com o Romuvaldo mandando-o ficar quieto. Às vezes, dava sozinho, uma corridinha ao seu quarto, para fazer com que o monstro desse mais alguns gritos e saltos.
Toda essa pantomima levava bem uns 30 minutos, tempo esse que eu me matava de tanto rir.
Passado esse tempo, meu tio fazia perceber que o monstro tinha se calado, sentava meu irmão no seu colo e, com carinhos, dizia que ele não precisava temer, que estava bem protegido.
Até hoje, o Carlinhos tem medo de escuro e de outras “cositas más”.
Por Miguel Chammas
8 comentários:
Olá, amor!
Agora sei de quem você herdou a mania de assustar.
Hunfff...
Que maldade! Assustar as criancinhas!
Tem sentimentos e emoções que ficam marcadas para sempre, quando adquiridas na infância. Ficando bem difícil, depois, eliminá-las.
Que maldade, credo!
Seu tio merecia um belo puxão de orelhas, isso sim.
Tadinho do Carlinhos.
Mas, valeu pelas lembranças dos velhos casarões, com seus sótãos ou porões que, além das relíquias e bugigancas que guardavam, faziam crescer a imaginação das crianças, submetendo-as ao medo.
Obrigada.
Muita paz! Beijosssssss
Caro Miguel, coitado de seu irmão! Era castigado por não aprender a ler, aterrorizado pelo tio com histórias de monstros!Que horror!
Quem já não teve seus medos infantís? Assistindo Branca de Neve, de Disney, quase tive convulsões, vendo a horrenda bruxa em que a má madrasta se tornava! Criança sofre!!!
Miguel, eu também adoro das sustos, a Denise passa muito sufoco, e eu levo cada bronca,
Mas seu tio era mesmo o Boris Karloff,(23 de novembro de 1887 - 02 de fevereiro de 1969), que aterrorizou a minha adolecencia.
nossa época foi mesmo um Terror.
Parabéns pela pitoresca e apavorante narrativa.
Miguel, sinceramente eu desconhecia esse seu lado de Bela Lugosi do Cambucí, malvado! parabéns pélo texto, abraços, Nelinho.
Miguel, mas que maldade!!! Que dupla você e seu tio formavam heim? Bela Lugosi, lembrado pelo Modesto, perde de goleada para vocês dois. Cruzes!!! Fiquei com pena do Carlinhos.
UUUUUUUU... pra você.
Um abraço.
Habib, parodiando o ilustre padre e paranormal de plantão Quevedo, 'estas coisas 'non equizistem'... rsrsrssss.
Mas, o imaginário é sempre o imaginário e o tal monstro de nome 'Romuvaldo', até parece ser daqui do nordeste. Ô nomezinho horrivel...
Abraços
Miguel, caríssimo amigo!
Não sei se o pior era o Carlinhos se borrando de medo ou o Romisvaldo, aprisionado pelo seu tio! Mas você herdou todas as "qualidades" do padrinho e deveria contar-nos alguns dos sustos que andou (ou anda?) pregando por aí.
Quando criança eu também gostava muito de pregar sustos. Principalmente na minha mãe, coitada! Eu pegava uma velha pele de raposa e a enrolava dentro do guarda-roupas, sobre os travesseiros. Quando ela ia pegá-los para arrumar a cama para dormir, era aquela gritaria até se dar conta de que era a velha pele que tantas outras vezes já a tinha assustado. E ela ficava rindo, depois do susto, sem me fazer nada; hoje até acho que ela fazia um pouco de fita...
Abração.
Desculpe, Boris Karlof, vc e seu tio, Bela Lugosi, deveriam ser severamente castigados. Onde já se viu pregar peças desse tipo a uma criança? mas ele vai revidar, vc vai ver... " la vendeta sara bruta",
Chammas, leva um abraço e beijos pra Sonia. Parabéns pelo texto.
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