Quando morávamos no Jabaquara, meu pai já trabalhava no centro de Sampa, no Banco da América, que ficava no Edifício Martinelli. Foi o primeiro arranha-céu da cidade e o prédio mais alto da América Latina, perdendo esse posto com a inauguração do edifício do Banespa. Mas, foi com certeza, a partir de sua construção, que se iniciou a verticalização da cidade de São Paulo.
Esse edifício teve sua época áurea, com uma mansão em seu topo, onde morou seu construtor, para provar que o prédio era sólido. Foi construído no triângulo formado pela Rua São Bento, Av. São João e Rua Líbero Badaró.
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, abrigou em seus terraços superiores, uma bateria de metralhadoras antia-aéreas, para defender a cidade do ataque dos chamados "vermelhinhos", os aviões do Governo da República, que sobrevoavam a cidade ameaçando bombardeá-la.
Em 1936, quando da vinda do dirigível Hindenburg para São Paulo, foi ao redor do Martinelli que ele sobrevoou, para delírio da multidão que se maravilhava com o “Zeppelin”.
Não tendo apoio governamental para terminar a obra, Martinelli foi obrigado a vender uma parte do empreendimento ao "Istituto Nazionale di Credito per il Lavoro Italiano all´Estero" do Governo Italiano, motivo pelo qual o Governo Brasileiro tomou o prédio para si, após a Segunda Guerra Mundial. Nas mãos da União, o prédio foi rebatizado de Edifício América, nome jamais aceito pelo povo, eternizando o nome original.
Foi ponto de encontro da high society, sediou clubes como o Palestra Itália e a Portuguesa de Desportos entre outros, além de restaurantes, cassinos, night clubs, barbearias, lojas, o luxuoso Hotel São Bento e até o famoso Cine Rosário. Teve também apartamentos e salões concorridos. Após a Segunda Guerra Mundial, como acontece com a maioria das coisas em que o governo coloca suas mãos, começava ali a lenta e agonizante derrocada desse monumento.
Finalmente em 1975, após enorme apelo popular, protestos da imprensa e de setores profissionais, iniciou-se uma obra para reforma do prédio, revalorizando-o e tombando-o. Passou a abrigar setores da administração pública e, quando de nova reforma promovida pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, foram descobertos e restaurados vários afrescos e pinturas originais, valorizando ainda mais esse verdadeiro marco arquitetônico e patrimônio da cidade.
Meu pai trabalhou lá na década de 50 e eu adorava quando me levava para passar o dia com ele, em sua sala de trabalho, passeando pelas demais salas do andar, entre máquinas modernas na época e que hoje devem fazer parte de museus. Também aproveitava o passeio para comer nos restaurantes do centro, passear pelo Viaduto do Chá e de Santa Ifigênia, descer e subir pelas escadas rolantes da Galeria Prestes Maia. Tomar sorvete nas Lojas Americanas da Rua Direita, ou aproveitar para fazer uma oração no Mosteiro de São Bento onde, se tivesse sorte, podia ouvir o Canto Gregoriano que, ainda hoje se pode ouvir, na missa das 10, aos domingos. Aliás, um programa que faço, quando posso e recomendo, sem medo de errar.
Gostava também de ouvir as muitas histórias do Martinelli, contada pelos funcionários que trabalhavam com meu pai e que não me permitiam sair sozinho do andar, devido às muitas histórias macabras, que não me contavam e que já se colecionava na época. E minha imaginação infantil criava histórias assustadoras e, ao mesmo tempo, instigantes, no desejo de descobrir aventuras e verdades por trás delas.
Na década de 60, por amizade a meu pai, um dos diretores do Banco Federal de Crédito, num edifício próximo ao Martinelli, colado ao do Banco do Brasil, na Rua São Bento, me arranjou um emprego como auxiliar de seleção (não comecei como Office-boy... rs). Anos depois esse banco comprou o Banco Itaú Sul Americano, originando o Banco Federal Itaú que, após várias fusões acabou adquirindo o Banco da América (unindo aqui minha recém-iniciada história profissional com a de meu pai), criando o Banco Itaú América, que continuou se unindo a outros até chegar ao hoje Banco Itaú S/A. Nessa época eu já não trabalhava mais no banco, nem morava no Jabaquara.
Por Zeca Paes Guedes
Esse edifício teve sua época áurea, com uma mansão em seu topo, onde morou seu construtor, para provar que o prédio era sólido. Foi construído no triângulo formado pela Rua São Bento, Av. São João e Rua Líbero Badaró.
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, abrigou em seus terraços superiores, uma bateria de metralhadoras antia-aéreas, para defender a cidade do ataque dos chamados "vermelhinhos", os aviões do Governo da República, que sobrevoavam a cidade ameaçando bombardeá-la.
Em 1936, quando da vinda do dirigível Hindenburg para São Paulo, foi ao redor do Martinelli que ele sobrevoou, para delírio da multidão que se maravilhava com o “Zeppelin”.
Não tendo apoio governamental para terminar a obra, Martinelli foi obrigado a vender uma parte do empreendimento ao "Istituto Nazionale di Credito per il Lavoro Italiano all´Estero" do Governo Italiano, motivo pelo qual o Governo Brasileiro tomou o prédio para si, após a Segunda Guerra Mundial. Nas mãos da União, o prédio foi rebatizado de Edifício América, nome jamais aceito pelo povo, eternizando o nome original.
Foi ponto de encontro da high society, sediou clubes como o Palestra Itália e a Portuguesa de Desportos entre outros, além de restaurantes, cassinos, night clubs, barbearias, lojas, o luxuoso Hotel São Bento e até o famoso Cine Rosário. Teve também apartamentos e salões concorridos. Após a Segunda Guerra Mundial, como acontece com a maioria das coisas em que o governo coloca suas mãos, começava ali a lenta e agonizante derrocada desse monumento.
Finalmente em 1975, após enorme apelo popular, protestos da imprensa e de setores profissionais, iniciou-se uma obra para reforma do prédio, revalorizando-o e tombando-o. Passou a abrigar setores da administração pública e, quando de nova reforma promovida pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, foram descobertos e restaurados vários afrescos e pinturas originais, valorizando ainda mais esse verdadeiro marco arquitetônico e patrimônio da cidade.
Meu pai trabalhou lá na década de 50 e eu adorava quando me levava para passar o dia com ele, em sua sala de trabalho, passeando pelas demais salas do andar, entre máquinas modernas na época e que hoje devem fazer parte de museus. Também aproveitava o passeio para comer nos restaurantes do centro, passear pelo Viaduto do Chá e de Santa Ifigênia, descer e subir pelas escadas rolantes da Galeria Prestes Maia. Tomar sorvete nas Lojas Americanas da Rua Direita, ou aproveitar para fazer uma oração no Mosteiro de São Bento onde, se tivesse sorte, podia ouvir o Canto Gregoriano que, ainda hoje se pode ouvir, na missa das 10, aos domingos. Aliás, um programa que faço, quando posso e recomendo, sem medo de errar.
Gostava também de ouvir as muitas histórias do Martinelli, contada pelos funcionários que trabalhavam com meu pai e que não me permitiam sair sozinho do andar, devido às muitas histórias macabras, que não me contavam e que já se colecionava na época. E minha imaginação infantil criava histórias assustadoras e, ao mesmo tempo, instigantes, no desejo de descobrir aventuras e verdades por trás delas.
Na década de 60, por amizade a meu pai, um dos diretores do Banco Federal de Crédito, num edifício próximo ao Martinelli, colado ao do Banco do Brasil, na Rua São Bento, me arranjou um emprego como auxiliar de seleção (não comecei como Office-boy... rs). Anos depois esse banco comprou o Banco Itaú Sul Americano, originando o Banco Federal Itaú que, após várias fusões acabou adquirindo o Banco da América (unindo aqui minha recém-iniciada história profissional com a de meu pai), criando o Banco Itaú América, que continuou se unindo a outros até chegar ao hoje Banco Itaú S/A. Nessa época eu já não trabalhava mais no banco, nem morava no Jabaquara.
Por Zeca Paes Guedes
10 comentários:
Olá, Zeca!
Muito legal seus registros...
Suas lembrançase a semelhança das situações vivenciadas por você e por seu pai...
EU adorava passar em frente ao Martinelli e observar aquele giagante de concreto...
Mas, poucas vezes tive que entar no prédio...engraçado...
Bacanas estas fotos, sobretudo a do documento folha de cheque.
Parabéns, Zeca.
Obrigada.
Muita paz! Beijossssssssss
Zecamigaço, estou ainda tremendo de emoção depois da leitura de teu texto.
Meu relacionamento com o Martinelli começou, também, nos anos 50.
Meus carnavais começaram nas matinés do CAFE (Centro Associativo Fazenda Estadual) que tinha sua sede social num dos andares desse edifício.
As ultimas vezes que nele entrei foram nos anos 90, quando prestei serviços profissionais à COHAB.
Tudo mais que vc relatou neste texto me diz muito. Vivi de novo uma parte da minha vida. Obrigado.
Caro Zeca, saboreei suas memórias com felicidade, pois trabalhei, de 60 a 62, nesse famoso prédio, conhecendo bem muitos de seus pitorescos frequentadores. Tinha, com três amigos, um estúdio de desenho na sala 1922, 19o.andar. Muitas aventuras vivemos por ali, e pelas redondezas, no então ainda belo centro da cidade. O Martinelli ficou como marco inesquecível do final da minha adolescência, e há algum tempo, convidado a falar sobre ele pela Tv Bandeirantes, pude novamente visitar minha velha sala, totalmente transformada em grande departamento burocrático, com direito a fotos e tudo. Abraços.
Zeca, na década de 49 tive oportunidade de conhecer o Martinelli como ofice-boy de uma firma de despachos, fui muitas vezes ao Banco da América e quem me atendia era um senhor gerente Snr. Meira, no Rosário assistí o filme "Gilda", parabéns pelas lembranças, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).
Zeca, ótimas suas informações sobre o Edifício Martinelli. Ele foi importante para a cidade de São Paulo e como você mesmo cita, depois de sua construção nossa querida Sampa não parou mais. Eu quase não freqüentava o centro, mas ouvia meus pais falarem deste edifício, só mais tarde fui conhe-lo. Parabéns pelo seu texto, foi muito prazerosa sua leitura. Um abraço.
Um belo edificio, mas cheio de vicios, scroques, falsarios e estelionatarios. Tinha tambem pessoas honestas e escritorios do bem. Alguns formadores de opinião. Um amigo meu ia sempre lá comprar dolares e talões de cheques, roubados. Eu fui apenas jogar bilhar no sub solo. Mesas muito boas.
Zeca, que bom ler suas narrativas, em 1955 aos 15 anos trabalhei de Boy em um escritório de Contabilidade no l5º desse prédio sala 1405 realizando assim um velho sonho que eu acalentei muitos anos. Entre os 8 e 13 anos eu do alto do Largo da Matriz da Freguesia do Ó ao lado da Igreja de Nossa Sra. do Ó, olhando o longinco horizonte avistava o edifício Martinelli, ao Lado do Prédio do Futuro hoje extinto Banespa ainda semi construido e ainda inacabado, acalentava então um desejo enorme de conhecer aquele majestoso e famoso Edifício. Parabéns.
Zeca, a única (e última)vez que entrei no Martinelli, conto num texto no site do SPMC, amarga experiência que nunca mais vou esquecer. Se o Miguel e a Sonia permitir, posso repeti-lo aquí. Sua narrativa a respeito do edifício é formidável, realmente, um marco da nossa querida cidade. Detalhes interessantes, alinham esse soberbo texto. Parabéns.
Zeca, morávamos na Penha e meu pai somente permitia nossas incursões até o Tatuapé. Portanto, adorei seu texto,com essas informações interessantes sobre o Marinelli e o centro de Sampa.
Um abraço / Bernadete
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