quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ponto de referência?


Qualquer serviço que se solicite por telefone em São Paulo, é praxe a atendente pedir um ponto de referência para localização. Não fosse assim, ficaria difícil localizar pontos distantes dessa cidade tão grande e diversificada, com ruas, avenidas e bairros que tem o mesmo nome.

Não foi diferente conosco; quer dizer, mais ou menos. Estávamos passando pelo centro da cidade quando nosso carro teve uma pane elétrica e não andava nem com reza brava. Meu marido acionou o seguro por telefone e a atendente, após confirmar alguns dados cadastrais, travou com meu marido o seguinte diálogo:
“-O senhor fala de onde?”
“-De São Paulo”, respondeu ele.
“-Qual a localização do veículo, senhor?”
“-Praça João Mendes, sentido Rua Tabatinguera”
“-Ponto de referência, Senhor?”
Já estranhando o rumo que a prosa ia tomando, pacientemente meu marido respondeu:
“-Centro de São Paulo, em frente ao fórum João Mendes, Praça João Mendes”
“-Senhor, preciso de um ponto de referência, altura de que rua, travessa de onde, em que altura dessa Praça o senhor está...”
Nesse ponto, qualquer interlocutor faria a seguinte pergunta, que meu marido fez:
“-Minha filha, você não conhece a Praça João Mendes no centro da cidade de São Paulo?”
“-Não senhor, eu estou em Recife e atendo as chamadas daqui. Ponto de Referência, senhor?”
O diálogo a partir daí foi surreal, pois não tínhamos mais ponto de referência para dar à criatura e ela se recusava a fechar nosso chamado com aqueles dados, que , segundo ela, eram insuficientes para a localização do veículo.
Argumentamos que ao repassar a chamada para o socorro mecânico de São Paulo, a pessoa saberia onde estávamos, mas foi difícil a moça aceitar nosso argumento; enfim, algumas descargas de adrenalina depois, muita saliva desperdiçada e um quase assalto, ouvimos a frase que soou como uma música aos nossos ouvidos:

“-Vamos estar providenciando o socorro mecânico, senhor; aguarde no local.”

Pensamos em dizer que desceríamos um pouco para a Rua Tabatinguera, a fim de evitar congestionamento na Praça João Mendes, mas achamos melhor não mover uma vírgula em relação à localização, senão, lá viria um novo pedido de ponto de referência.

Às vezes a gente se esquece que quando fala com uma empresa que atende por telemarketing, nem sempre o atendente está na nossa cidade, no nosso estado e, em alguns casos, no nosso país; mas o despreparo dos operadores fica evidente quando algo desse tipo ocorre. Curso e prova contendo questões de localização geográfica da área de atuação das empresas deveria ser obrigatório para atendentes que trabalham com socorro, urgência, resgate, etc.; em termos de Brasil, por exemplo, todos os atendentes deveriam saber onde ficam alguns pontos principais de grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Belo Horizonte, etc, senão corremos o risco de alguém pedir um socorro por telefone em frente ao local que dá acesso ao Cristo Redentor e não saber qual ponto de referência dar para ser socorrido.

Por Márcia Calixto

9 comentários:

Soninha disse...

Olá, Márcia!

Que situação, heim?!
Creio que a maioria de nós já passou por situação pareceida. Como é dif´cil explicar para alguém de fora o que é tão simples para nós.
Confesso, dei boas risadas ao ler seu texto. Mesmo porque, o gerundismo da atendente ilustrou, ainda mais, o despreparo dos atendentes de callcenters e telemarketing, não é mesmo?!
Valeu, Márcia!
Mande mais, tá?!
Ótimo restinho de semana. Bom trabalho.
Muita paz!

Arthur Miranda disse...

Márcia ri um bocado com a situação vivida por você nessa sua historia,acho que vocês deveriam ter dado como ponto de referencia a Lua. ou o Cruzeiro do Sul. kkkkk. Parabéns pela estreia nesse novo Blog.

Luiz Saidenberg disse...

Boa história, Márcia, para exemplificar a incompetência, e mesmo a má vontade de muitos atendentes. A buRRocracia fica em primeiro lugar, o cérebro vem depois. Isto em quase todos setores, notadamnete os públicos. A Telefonica é uma tragédia, em qualquer questão a ser resolvida. Vc é atirada de atendente a atendente, par ficar uma eternidade na linha, esta cair e nada resolvido. Quanto á localização, não é atoa que os GPS ganham cada vez mais espaço. Eles, sim, sabem o que dizem.
Abraços.

Leonello Tesser disse...

Márcia, ponto de referência melhor doque esse que você indicou não existe, as atendentes precisam passar por uma triagem antes de assumirem a vaga, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Miguel S. G. Chammas disse...

Márcia, dsa proxima vez, para evitar maiores estresses, apanhe um taxi, vá até a oficina e guie o socorro até seu carro.
Fica mais fácil e mais rápido.

Modesto disse...

Pois é, Marcia, o poder de comunicação tem estes percalços. Da próxima vez experimente um tambor, quem sabe a recepcionista vai entender. Parabéns pelo relato.

Unknown disse...

Marcia, aqui no Rio não é diferente. O serviço de atendimento da Net fica em de São Paulo e sempre temos o mesmo problema, com os tais pontos de referências.

margarida disse...

Márcia, acertou na mosca! Ponto de referencia se pede até para a entrega um remédio da farmácia aqui de Sampa. Demais não é mesmo!!
Adorei seu texto, um grande beijo.

Zeca disse...

Márcia, parabéns pelo texto, ao mesmo tempo engraçado e, infelizmente, trágico, pois essas situações tendem a tirar-nos do sério e a acrescentar alguns fios brancos aos nossos cabelos. Felizmente tudo sempre acaba se resolvendo e, depois, acaba virando motivo de riso. Ainda bem que somos brasileiros!!!
Abraço.