quinta-feira, 22 de julho de 2010

Memórias Tangueiras



Estou emocionado. Os Redondos, pelo menos por um tempo, abandonam as Redondas e partem para novas experiências. Estamos nos preparando para uma Noite de Tangos em um reduto da música portenha, no Bairro do Ipiranga.
Essa idéia foi sugerida pelo Nelinho, um amigo das noites de boemia, que cruzou comigo sem saber, por diversas noites, em diversos anos. Nem eu sabia disso, apenas deduzi por conhecer todos os lugares noturnos que ele frequentava e eu também.
Hoje me peguei imaginando o que será a noite do próximo dia 13 de Agosto. Ima

ginei a emoção que, com certeza, sentirei ao ouvir as velhas melodias portenhas. Será maravilhoso.
Imbuído em tais pensamentos, comecei a lembrar, a mente anuviada de emoção levou-me aos anos 50/60, estava novamente em um salão de bailes que muito freqüentei, o Recreio das Carpas, na Cidade Adhemar, lá atrás do velho Aeroporto de Congonhas.
Minha visão reconheceu diversos frequentadores. Olhei para o palco e vi que os mús

icos ali estavam para envolver a todos com suas interpretações.
Firmei mais o olhar e reconheci, lógico, à frente estava o velho Joaquim Barrios, rodeado da sua orquestra típica de músicas portenhas.
Era ele sim, alto, espicaçado com a responsabilidade de liderar aquela plêiade de músicos qualificados, trajando o batido terno preto, portando a mesma carequinha brilhante, coroada com uma aureola de cabelos brancos, segurando o seu precioso sonoro bandoneon.
Ao piano reconheci o velho e competente Copinha. Do violinista, também velho conhe

cido, não recordei o nome. O ritmista era, nada mais, nada menos que o velho Mãozinha que, em vários momentos, durante as seleções de boleros, mambos e chá-chá-chás me deixava acompanhar o ritmo com as maracás ou, até, me emprestando seu “precioso” bongô.
Agucei mais o olhar e percebi que o Joaquim distribui as partituras da próxima seleção musical. Pronto, partituras distribuídas, Joaquim abraça seu bandoneon, aproxima-se do microfone e anuncia: Senhoras e senhores, Recreio das Carpas, tem a imensa satisfação de apresentar a voz brasileira do Tango Argentino, Carlos Lombardi.
É

ele mesmo. Entra em cena com seu Black-tie impecável, e depois de agradecer os aplausos, oferece a primeira musica ao “amigo Miguel” (eu) e começa a cantar Garufa:

Del barrio La Mondiola sos el mas rana
Y te llaman Garufa por lo bacan,
Tens mas pretensiones que bataclana
Que hubiera hecho suceso con um gotan.


Durante la semana, meta al laburo
Y el sábado a la noche sos um doctor.
Te e

ncajas las polainas y El cuello duro,
Y te venis al centro de rompedor.

Garufa
Pucha que sos divertido
Garufa
Vos sos um caso perdido
Tu vieja... dice que sos um bandido
Porque supo que te vieron,
Lá outra noche
“aonde Carlito” (eu perguntava)
Em el Parque Japones

Caes a la milonga en cuanto empieza
Y sos para las minas el bareador
Sos capaz de bailarte La Marsellesa
La marcha Garibaldi y El Trovador

Com um café com leche y uma ensaimada
Rematas esa noche de bacanal
Y a volver a tu casa de madrugada
Decis...”Yo soy um rana fenomenal”..

Garufa
Pucha que sos divertido
Garufa
Vos sos um caso perdido
Tu vieja dice que sos um bandido
Porque supo que te vieron,
La outra noche
Aonde Carlito? (Eu perguntava novamente)
Em El Parque Japones.

Finalizado o primeiro número, depois de estrondosos aplausos, Carlos dava continuidade ao show, entoando vários outros tangos, entre eles Cuartito Azul, Por una Cabeza, Volver, Nostalgias, Mi Buenos Aires querido, Adios Muchachos, Yra Yra, Cafentin de Buenos Aires, Cambalache, e ainda atendia aos pedidos da platéia.
Depois antes de finalizar o show, solicitava que Joaquim tocasse alguns tangos para q
ue os bailarinos pudessem apresentar seus passos. Era a hora em que o Paulinho “polícia”, tomava conta do salão e com toda sua habilidade, dançava um tango de nos fazer babar.
Finalmente, ao som de um tango famoso, especialmente escolhido para a ocasião, meu amigo Carlos Lombardi encerrava o show e convidava os presentes a continuar dançando.
Terminado meu sonho, volto à realidade e fico torcendo para que dia 13 eu possa a ter um pouco mais de todas essas emoções.
Prometo que depois escreverei sobre o assunto.

Por Miguel Chammas

7 comentários:

Leonello Tesser disse...

Miguel, com certeza nós nos cruzamos naquelas noites, quer no Carpas, ou no Lilas, quem sabe até a gente tenha tomado umas cervejas juntos, teu relato me transporta para aqueles tempos que não voltam mais, vamos recordar aqueles momentos no próximo 13 se Deus quizer, parabéns pela lembrança, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Arthur Miranda disse...

Miguel, que delicioso relato, não cheguei a ser muito chegado ao tango( apesar de aprecia-lo um bocado) mas ler sobre os queridos companheiros, Carlos Lombardi, maestro Copinha, e o querido mãozinha,(com aquela cara de Oscarito que o mesmo tinha) foi de lascar, estou até emocionado e morrendo de saudades. Parabéns e obrigado.

Luiz Saidenberg disse...

Tomo y obligo...mande-se un trago! De las mujeres no hay más que hablar.
Todas, amigo, dán muy mal pago...
La mia experiencia lo puede afirmar! Siga un consejo: no te enamores. Fuerza, caneco, toma y no llores, que un hombre macho no debe llorar!
Bela e milongueira narração, caro Miguel ! Abrazos.

Zeca disse...

Caro amigo Miguel,
não cheguei a participar dessas noitradas boêmias, mas lembro das orquestras que enimavam os bailes e dos músicos, muito mais acessíveis e próximos, que ofereciam músicas aos amigos.
E do tango, sempre fui fã!
Abração.

margarida disse...

Miguel, nunca freguentei um lugar assim. Os bailes que frequentava eram no salão do Aeroporto, Clube Militar e mais alguns, mas tango gostava mesmo de apreciar os lindos passos que esta dança tem.
Com certeza a noite Tangueira será fantastica. beijos.

Soninha disse...

Olá, amor!

Sempre gostei de tangos. Uma dnça muito sensual...
Eu gostaria muito de aprender a dançar tango.
Lembro-me dos passos básicos que dançava com meu pai, nas brincadeiras de família. Meu avô materno também dançava.
Vamos dançar, amor?!
Ao menos, cantar já estará de bom tamanho.
Valeu!
Muita paz! Beijossssssss

Modesto disse...

TANGO, QUE ME INSISTE DANHO, QUE SIN EMBARGO, TE QUIERO POS'ER L'ALMA DE ARRABALDE.... e por aí afora... Miguel, se eles tocarem pelo menos a metede desse repertório, a noite está salva. Belíssima lembrança a sua, "...por una cabeza, de un nobre potrillo...." pelas barbas que o Zé Barbeiro raspou, na época, enquanto esperava a minha vez, ouvindo Gardel, no programa do Ricardo Diaz, na rádio Panamericana, (hoje Jovem Pan), vai ser uma noite de se guardar pra sempre. Até lá, nobre Pachá.