quarta-feira, 14 de julho de 2010

Memórias Farmacológicas

Nestes tempos de idade avançada, as visitas aos balcões das farmácias são constantes e caras. Nem o fato de prestar meus préstimos profissionais a uma rede farmacêutica reduz o custo das drogas que preciso consumir diariamente.
O preâmbulo deste texto é significativo. Hoje, depois de mais uma visita fármaco-turístico para adquirir alguns produtos, aproveitei para conversar com o farmacêutico de plantão.
É um profissional com todas as características dos antigos farmacêuticos de outrora. Entende do riscado. Formado e depois de anos de vivência, chega a ser quase um clínico geral.
Reconhece os males, sabe quais os medicamentos indicados para curar ou, pelo menos, servir como lenitivo, podendo nos facilitar a vida.
Pois b
em, esse profissional me fez lembrar de outros, mais antigos que, na minha juventude, me conheceram e medicaram com sucesso.
Entre eles, lógico, estão o Haroldo e o Álvaro (este também muito conhecido do nosso querido baiano bixiguense, Nelson).
Lógico, todos os males que nos acometiam, antes de uma visita ao profissional médico, eu corria a falar com um dos dois.
Era um tal de chegar na frente do balcão de vidro e dizer: - Álvaro, peguei aquela gripe brava, me aplica uma bomba atômica que eu não posso perder o baile do sábado, ou então, Haroldo, acho que vou precisar tomar uma série de penicilina - neste caso a bronca vinha com toda certeza, você não vai aprender a tomar cuidado nessas suas orgias? – mas, depois da bronca, vinha o tratamento e este, claro, infalível.

Remédios, onde comprávamos?
Eu os comprava nas farmácias do bairro, mas minha mãe preferia se deslocar até o centro da cidade e comprá-los nas farmácias tradicionais.
Lembro-me de algumas bem antigas, “O Veado de Ouro” na Rua São Bento com suas instalações em madeira escura que lhe davam um ar bastante sóbrio, a Drogaria Farto na Praça
da Sé em um primeiro andar, com seus descontos imbatíveis e a principal, no meu modo de ver, a Drogadada, localizada na Rua 24 de Maio, esquina com a Rua Conselheiro Crispiniano.
Eu gostava de acompanhar minha mãe até lá, pois, alem de entrar numa farmácia instalada no subsolo da loja, podia tomar um suco de laranja feito em máquina especial – novidade na época - era fantástico.
Hoje as farmácias são, simplesmente, pontos comerciais, onde balconistas quase autômatos, revendem remédios receitados por médicos, em receitas escritas em caligrafia quase ilegível ou, de conformidade com a lei, impressas em sistema de informática.
Remédios, hoje, são apenas uma mercadoria a ser revendida e os balconistas apenas leitores de receitas e “pegadores” de remédios, ou seja, a farmácia moderna perdeu seu charme!

Por Miguel Chammas

9 comentários:

Soninha disse...

Olá, amor!

Que legal!
Meu avô materno, sempre escolhia a botica Ao Veado D'ouro para manipular os remedinhos da família.
Também tínhamos, perto de casa, um "farmacêutico doutor" ajudava a todos, com seus conselhos e medicamentos certeiros.
Realmente, hoje, as farmácias e drogarias mais parecem supermercados, com gôndolas variadíssimas, ao alcance dos usuários que mal falam com o balconista e vão direto ao caixa para finalizar.
Muito legal seu texto.
Valeu!
Muita paz! beijossssssss

Luiz Saidenberg disse...

Caro Miguel, belo texto e justa homenagem ao abnegado farmacêutico ( farmacista, diria um italiano ) de outrora. Os de hoje nada têm mais a ver com aqueles; são apenas técnicos burocráticos, nada do quase "médico", que tudo sabia e aconselhava. Sobraram poucas e antigas exceções...
abraços.

Arthur Miranda disse...

Miguel, realmente já não se fazem farmaceutico como antigamente, hoje os balconistas de farmacia são na realidade umas DROGAS. kkk. E eu todo hipocondriaco gostei do sua narrativa.

Leonello Tesser disse...

Miguel, realmente hoje as nossas idas às farmácias vão ficando cada vez menos espaçadas mas o atendimento já não é mais o mesmo infelizmente, parabéns pelo texto, abraços, Nelinho.

Unknown disse...

Miguel, é bem verdade tudo isso. Hoje as farmacias são meros mercadinhos. Acho que não existem nelas, nenhum farmaceutico responsavel.
Um abraço / Bernadete

Modesto disse...

Miguel, os chamados "práticos" de antigamente, ajudavam muito com "sugestões" ou interpretações de receitas ieroglifadas e eram nossos vizinhos. Agora temos técnicos de redes farmaceuticas interessadas no prazeiroso (pra eles)"empurra" de medicamentos de laboratórios localisados geralmente, em cidades longínquas e o medicamento se revela inóquo, quando não, prejudicial. A farmácia antiga, morreu Miguel, foi medicada com a moderna tecnologia. Parabéns pelo atraente texto.

margarida disse...

Miguel, antigamente as farmácias tinham créditos e o farmacêutico conhecia as pessoas do bairro incluindo os médicos da redondeza, os laços de amizade eram fortes e muito familiar. Hoje em dia tudo é mais frio e distante.
A farmácia Veado de Ouro era muito conhecida e nada faltava por lá.
um abraço.

Unknown disse...

Miguel, bom era o tempo que a gente ia à farmácia pra tomar suquinho de laranja de máquina. Agora, um pouquinho mais velhos, a gente chega a fazer "tour" por farmácias e drograrias, em busca de descontos. Aí, meu caro, até crônica sobre o tema nos parece interessante. Sinal dos tempos! (do nosso tempo que está passando), né? Bem lembrado o assunto. Um abraço

Zeca disse...

Boa, Miguel!!!
Como sempre, um ótimo texto, que nos remete aos tempos dos "farmacêuticos de família", aquele profissional que conhecíamos pelo nome e que, tantas vezes nos receitou o que precisávamos para curar doenças rotineiras. E quando a coisa era mais grave, o próprio "receitava" uma visita ao médico! Hoje, aliás, quase não precisamos mais ir à farmácia, já que basta um telefonema e um moto-boy nos entrega, em casa, aquilo que pedimos...
Abração, velhaamigo.