Cheguei a Israel sozinha, vinda no voo das 5 da manhã. Minha alegria profunda de estar em Israel é parte de outra história, porém, vamos a esta.
Tomei o mini bus para Jerusalem, 6horas da manhã, luz do sol sobre a cidade antiga. Meu primeiro dia em Israel e eu ainda só, a caravana da qual eu fazia parte só chegaria á noite.
Com o endereço do hotel na mão, tomei um taxi.Tudo muito caro em Shekels. Jerusalem, com o sol forte de Maio, apartamentos brancos reluzindo, flores nas varandas, de repente me lembrou dos bairros nobres de São Paulo, uma rua em Moema, talvez. Calçadas limpas, árvores já verdes quando as da Europa ainda se demoravam no inverno, o ar impregnado de vegetação.
Hotel errado. Fiquei ali no saguão pelo menos uma hora esperando comunicado, do meu grupo de turismo , sobre a mudança de hotel. Durante este tempo, uma leve irritação nos meus olhos continuava piorando, não dava mais para ignorar que se tratava de conjuntivite!
Finalmente, munida do novo endereço, tomei outro taxi para o hotel certo. A esta altura, cansada e precupada com os meus olhos ardendo, meu entusiasmo estava um pouco abatido. Coloquei as malas no saguão e apresentei o passaporte brasileiro a um senhor vestido impecavelmente, o gerente do hotel.
- ‘Brasileira, hein? De onde?’
O sotaque dele era inconfundivel, Paulista. Me abraçou, disse que também era de São Paulo, mais precisamente da região do Bom Retiro, Paulista e Judeu. Isaac soltou o Português e não parava mais. Queria saber de tudo, queria falar sobre tudo de São Paulo. Disse que parte da familia ainda morava lá, que tinha muitas saudades, que tinha ali muitos amigos. No meio da conversa, notou os meus olhos de coelho, quando tirei os óculos escuros e, imediatemente, mandou chamar um médico no hotel. Levou-me pessoalmente ao quarto, ainda falando sem parar. Meia hora depois, chega o médico que me atendeu e me deu uma receita que eu deveria ir buscar na farmácia.Tudo em Shekels, naturalmente, a dor no bolso era imensa.
Três da tarde, depois de um descanso, passei pela portaria e bati mais um papinho com meu novo amigo Paulista, que me deu indicações de como chegar na farmácia. Deveria virar a esquerda atrás do Hotel e subir uma escadaria, depois, virar a direita e andar mais um pouco.
Sol escaldante, eu de olhos lacrimejando e coçando atrás dos óculos, num país no qual nunca estivera antes. Tendo pago uma fortuna pela consulta médica , ainda deveria comprar o remédio com o dinheiro que tinha em mãos, pois, bancos só no centro da cidade e eu não queria me aventurar no primeiro dia estando só.
A escadaria não acabava mais! Lá de cima, teria tido uma vista panorâmica de Jerusalem se meus olhos tivessem permitido. Finalmente, achei a farmácia e fiquei na fila. Duas mocinhas serviam ao balcão e, quando chegou a minha vez, me dirigi a uma delas em inglês, o qual ela não sabia. A outra moça se aproximou para ajudar.
-‘Do you speak English?’Perguntei.
-‘Yes’, ela disse. ‘And Portuguese.’
-‘Português? Voce fala Português?’
-‘Sim, sou de São Paulo.
Por favor, acreditem, encontrei dois paulistas no primeiro dia em Israel.
Janete havia nascido no Brooklin Paulista, havia emigrado para Israel, a pouco tempo, para estudar na Universidade Hebraica. Fazia um bico na farmácia para ajudar em seus estudos e moradia.
Fomos para um canto conversar. Quanta saudade de São Paulo entre nós duas! Falamos de tudo, do Museu de Arte da Paulista, onde ela costumava ir, das pizzarias (as melhores do mundo ,concordamos), das feirinhas de Artesanato da Liberdade e da República e, é claro, da 25 de Março. (Mulheres gostam de falar em compras).
Finalmente, ela me vendeu o remédio e, é claro, conseguiu me vender mais um produto não receitado para apressar a cura. Me ensinou o caminho para um museu que eu queria ver e ficamos acenando, uma para a outra; Ela da porta da farmácia e eu, subindo as ruas ensolaradas de Israel, com o coração cheio de São Paulo.
Meu grupo chegou à noite. Ficamos uma semana em Jerusalem e a outra, viajando pela Terra Santa. Isaac e eu conversamos muitas vezes e nosso assunto preferido era sempre a nossa São Paulo, tão distante. Janete, não a vi mais, pois os olhos sararam por completo.
Parafraseando uma outra frase, pode-se tirar o Paulista de São Paulo mas não São Paulo do Paulista. Vi esta verdade bem clara nos dois encontros que tive em Jerusalem, com paulistanos morrendo de saudade.
Por Lygia Souza
Tomei o mini bus para Jerusalem, 6horas da manhã, luz do sol sobre a cidade antiga. Meu primeiro dia em Israel e eu ainda só, a caravana da qual eu fazia parte só chegaria á noite.
Com o endereço do hotel na mão, tomei um taxi.Tudo muito caro em Shekels. Jerusalem, com o sol forte de Maio, apartamentos brancos reluzindo, flores nas varandas, de repente me lembrou dos bairros nobres de São Paulo, uma rua em Moema, talvez. Calçadas limpas, árvores já verdes quando as da Europa ainda se demoravam no inverno, o ar impregnado de vegetação.
Hotel errado. Fiquei ali no saguão pelo menos uma hora esperando comunicado, do meu grupo de turismo , sobre a mudança de hotel. Durante este tempo, uma leve irritação nos meus olhos continuava piorando, não dava mais para ignorar que se tratava de conjuntivite!
Finalmente, munida do novo endereço, tomei outro taxi para o hotel certo. A esta altura, cansada e precupada com os meus olhos ardendo, meu entusiasmo estava um pouco abatido. Coloquei as malas no saguão e apresentei o passaporte brasileiro a um senhor vestido impecavelmente, o gerente do hotel.
- ‘Brasileira, hein? De onde?’
O sotaque dele era inconfundivel, Paulista. Me abraçou, disse que também era de São Paulo, mais precisamente da região do Bom Retiro, Paulista e Judeu. Isaac soltou o Português e não parava mais. Queria saber de tudo, queria falar sobre tudo de São Paulo. Disse que parte da familia ainda morava lá, que tinha muitas saudades, que tinha ali muitos amigos. No meio da conversa, notou os meus olhos de coelho, quando tirei os óculos escuros e, imediatemente, mandou chamar um médico no hotel. Levou-me pessoalmente ao quarto, ainda falando sem parar. Meia hora depois, chega o médico que me atendeu e me deu uma receita que eu deveria ir buscar na farmácia.Tudo em Shekels, naturalmente, a dor no bolso era imensa.
Três da tarde, depois de um descanso, passei pela portaria e bati mais um papinho com meu novo amigo Paulista, que me deu indicações de como chegar na farmácia. Deveria virar a esquerda atrás do Hotel e subir uma escadaria, depois, virar a direita e andar mais um pouco.
Sol escaldante, eu de olhos lacrimejando e coçando atrás dos óculos, num país no qual nunca estivera antes. Tendo pago uma fortuna pela consulta médica , ainda deveria comprar o remédio com o dinheiro que tinha em mãos, pois, bancos só no centro da cidade e eu não queria me aventurar no primeiro dia estando só.
A escadaria não acabava mais! Lá de cima, teria tido uma vista panorâmica de Jerusalem se meus olhos tivessem permitido. Finalmente, achei a farmácia e fiquei na fila. Duas mocinhas serviam ao balcão e, quando chegou a minha vez, me dirigi a uma delas em inglês, o qual ela não sabia. A outra moça se aproximou para ajudar.
-‘Do you speak English?’Perguntei.
-‘Yes’, ela disse. ‘And Portuguese.’
-‘Português? Voce fala Português?’
-‘Sim, sou de São Paulo.
Por favor, acreditem, encontrei dois paulistas no primeiro dia em Israel.
Janete havia nascido no Brooklin Paulista, havia emigrado para Israel, a pouco tempo, para estudar na Universidade Hebraica. Fazia um bico na farmácia para ajudar em seus estudos e moradia.
Fomos para um canto conversar. Quanta saudade de São Paulo entre nós duas! Falamos de tudo, do Museu de Arte da Paulista, onde ela costumava ir, das pizzarias (as melhores do mundo ,concordamos), das feirinhas de Artesanato da Liberdade e da República e, é claro, da 25 de Março. (Mulheres gostam de falar em compras).
Finalmente, ela me vendeu o remédio e, é claro, conseguiu me vender mais um produto não receitado para apressar a cura. Me ensinou o caminho para um museu que eu queria ver e ficamos acenando, uma para a outra; Ela da porta da farmácia e eu, subindo as ruas ensolaradas de Israel, com o coração cheio de São Paulo.
Meu grupo chegou à noite. Ficamos uma semana em Jerusalem e a outra, viajando pela Terra Santa. Isaac e eu conversamos muitas vezes e nosso assunto preferido era sempre a nossa São Paulo, tão distante. Janete, não a vi mais, pois os olhos sararam por completo.
Parafraseando uma outra frase, pode-se tirar o Paulista de São Paulo mas não São Paulo do Paulista. Vi esta verdade bem clara nos dois encontros que tive em Jerusalem, com paulistanos morrendo de saudade.
Por Lygia Souza
9 comentários:
Lygia, tão surpreendente quanto os dois encontros que você teve logo no primeiro dia em Israel, foi a frase "pode-se tirar o Paulista de São Paulo mas não São Paulo do Paulista". Também já tive experiências semelhantes, encontrando paulistas em outros países, o que mostra que, além de locomotiva do país, também exporta gente para todas as partes do mundo.
Parabéns pelo texto!
Abraço.
Lygia muito bonito este teu texto reportagem. Jerusalem, dizem os que a conhecem, é muito bonita, de estatelar os olhos e vc, que pena, ficou os primeiros dias sem poder estatelalos.
Brasileiros, paulistas ounortistas ou ainda sulistas, podem ser encontr5ados em todas as partes do mundo. Somos todos cosmopolitas.
É curioso como se encontra brasileiros rodando pelo mundo...
Em Paris, em Londres( pobre Jean Charles) ou no Oriente Médio, sempre se topa com alguns. Para não falar dos Dekasegis, no Japão. Relato muito rico e interessante, Lygia. Abraços.
Lygia, Eu sempre achei que era o mineiro e o cearense que a gente sempre encontra por toda parte, até o dia que viajando pela Europa, encontrei um Paulistano da Vila Anastacio em Budapeste na Hungria. E outro almoçando em um restaurante em Veneza e que nasceu na Agua Branca pertinho da Pompeia. Pode! Parabéns pela gostosa narrativa.
Lygia,é isso mesmo, ninguém tira São Paulo do coração de um Paulista. Acho que deve ter sido confortante encontrar essas pessoas, apesar de ter "doído no bolso", não é?
Um abraço / Bernadete
Olá, Lygia!
Viagem fantástica pelo oriente, se transformando em algo muito gratificante, encontrando paulistas do outro lado do mundo.
Realmente, impossivel tirar Sampa dos paulistanos, onde quer que estejam.
Valeu, Lygia.
Mande-nos mais textos, ok?!
Muita paz! Beijossssssss
Lygia, vc fez uma viagem instrutiva sem igual. Conhecer Israel, emoção que satisfaz ao mais exigente dos turistas e, ao mesmo tempo, encontrar patrícios num paiz onde tudo começou, judaismo, cristianismo e muçulmano.
Me propiciou uma narrativa que vou preparar. Obrigado e parabéns.
Lygia, quanta emoção ao encontrar pessoas de São Paulo no momento em que você sentia só e precisando de ajuda. O dedo de Deus deu uma mãozinha, não é mesmo! Lindo seu texto, um grande beijo.
Ligya, parabéns pelo belo texto, posso imaginar a sua alegria em encontrar paulistas em Israel, apesar da conjuntivite você com certeza usufruiu bem a viagem, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).
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