sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cicatrizes de uma saudade

Longe estou de meu pedaço e de tenras saudades. Os olhos cerrados, me levam ao subconsciente da saudade e lá, posso rever as coisas que deixei no velho e saudoso 'Bixiga'.
Sim, sempre ele, o velho Bixiga é minha quase que constante inspiração, em quase tudo o que penso e penso sempre com saudades daquilo tudo que alí deixei. Parentes, amigos, lugares, os velhos casarões, as saudosas malocas, os cortiços. Ruas de minha infância, caminhos de minha mocidade, tudo tem a atmosfera da saudade.
Que bom seria se tudo permanecesse como um dia deixamos e, quando pudéssemos retornar, tudo estivesse no mesmo lugar. Até as pessoas, que um dia dividiram conosc
o os mesmos espaços, e que já não mais estão por lá. É pedir demais, eu sei, mas, ninguém comanda as saudades, principalmente aquelas que insistem em morar em nosso peito e a toda hora batem à porta de nossos corações para dizer: 'ei, tá na hora de você se lembrar do Jabra, do Tito, do Seu Benjamin. Do cheiro envolvente da fábrica de esmaltes para unha, no início da Conselheiro Ramalho, esquina com a Ricardo Batista. Do outro lado da rua, ficava a Delegacia Regional do Trabalho, onde tirei a minha Carteira Profissional de Menor, aquela de cor verde.
A farmácia do Álvaro, na Santo Antonio, esquina com a mesma Conselheiro Ramalho, da fábrica de espelhos São Pedro, também na Santo Antonio com o viaduto Martinho Prado. Hoje, é uma área aberta e transformada em estacionamento. O velho campo do Boca Juniors, com a sua quadra de bocha no alto do barranco que dava para a avenida Nove de Julho, da casa do Ariovaldo e do Aristeu, primos consanguíneos e amigos meus. Da maloca do 'doido' Moacyr, o doido mais esperto que o Bixiga já conheceu e que hoje, via de regra, cedeu o terreno para outro estacionamento de automóveis, lá na mesma rua Santo Antonio.
São Paulo cresceu em população humana e também em população automobilística e, com isso, foi necessário descaracterizar algumas áreas para dar vazão ao fluxo do trânsito, já bastante caótico, no centro da cidade, expandindo-se para os bairros e o meu Bixiga sofreu com essa 'modernização' quando um prefeito, com idéias modernas, rasgou numa única cutelada, algumas ruas tradicionais do bairro.

Sumiram as ruas João Passalacqua, Quatorze de Julho, parte da Conselheiro Ramalho, Manoel Dutra. A João Passalacqua misturou-se à rua Rui Barbosa e se transformou em uma larga avenida. E, tudo isso, para dar passagem à via expressa, a radial Leste-Oeste, que se interliga ao 'minhocão'.
Destas ruas que citei, só restou o sentimento nostálgico de outrora, com as casas que já não mais existem e que, um dia, abrigaram tantos amigos, como o velho sorveteiro da João Passalacqua, a velha padaria da Quatorze de Julho, onde eu sempre comprava o pão italiano, o 'redondão', a casa do meu amigo 'Careca' e de tantos outros.
Essa nova artéria, rasga o Bixiga como se fosse um espectro de filme de ficção mas, o que fica debaixo de seus elevados, é algo que amedronta e preocupa pois, suas escuras entranhas parece revelar o inóspito de uma solidão, onde pode-se ouvir as vozes do passado, que antes bradavam as ale
grias da liberdade do ir e vir e do sol que vicejava as poucas várzeas dos taludes e barrancos que já não mais existem.
Até a minha velha rua Santo Antonio já mostra uma 'plástica' de asfalto e novas edificações que tomaram o lugar dos velhos casarões, das malocas e cortiços, expulsando para bem longe, famílias de muitos anos e uma arquitetura de muitas décadas, tudo isso em nome da modernidade.
Que venha o novo. Que viva o novo. Eu, conservarei o doce sabor da saudade e quando por lá estiver, andarei com os olhos fechados, teimando em só enxergar o passado.

Por Nelson Assis

11 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Ue paesano!!!!!
Como stai amicci?
O nosso velho Bixiga já está completam,ente desfigurado, mas sde vieres para cá, faço questão de acompanhar num passeio pelas entranhas doi velho e querido bairro e, depois de uma bela caminhada iremos degustar uma perna de cabrikto na Cantina do Roperto.
Topas???????

Miguel S. G. Chammas disse...

Ue paesano!!!!!
Como stai amicci?
O nosso velho Bixiga já está completam,ente desfigurado, mas sde vieres para cá, faço questão de acompanhar num passeio pelas entranhas doi velho e querido bairro e, depois de uma bela caminhada iremos degustar uma perna de cabrikto na Cantina do Roperto.
Topas???????

Soninha disse...

Olá, Nelson!
A vida passa depressa, mas, ficam as doces recordações de bons tempos vividos.
Somoa saudosistas, mas, o tempo passa e não volta...Nem seria justo.
Evoluimos, assim como as cidades...Saimos das cavernas, conquistamos o mundo e o espaço...Construimos e destruimos...
Ainda assim, temos saudade do que vivemos. É a história de nossa vida.
Salvador tem um pedaço de Sampa, através de você, amigo...e Sampa, tem milhões de nordestinos, nortistas, sulistas, centristas e de todos os cantos do Brasil...
Isto é São Paulo!
Parabéns por seu texto, Nelson.
Obrigada pela participação.
Mande-nos mais, ok?!
Excelente final de semana.
Muita paz!

Zeca disse...

Pois é, Nelson!

A "cultura desenvolvimentista" que tomou conta dos manda-chuvas de São Paulo, não teve tempo (nem vontade) de preocupar-se com os marcos e símbolos daquela que se transformaria em uma das maiores metrópoles do mundo e, no afã de rasgar avenidas e erigir edifícios, cada vez mais altos, foi demolindo tudo o que encontrava pela frente. Diferentemente de outras grandes cidades que, em seu desenvolvimento, mantiveram ou incorporaram casarões e prédios antigos, sem prejudicar a caminhada para o futuro. Destruiram até mesmo o transporte ferroviário, cujas locomotivas deram um dos mais conhecidos apelidos ao Estado... mas não destruiram a memória e a saudade, que permanecem vivas e serão transmitidas aos nossos descendentes por belos textos como este com que nos presenteou.
Parabéns pelo belíssimo texto!
Abraço.

Arthur Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arthur Miranda disse...

Nelson, parabéns por reviver esse cantinho tradicional de São Paulo, onde existe de tudo um pouco. Cultura, boemia, lazer, tradição e muito,muito trabalho.

Modesto disse...

Uma coisa aprendi (ou, estou aprendendo)com vc, Nelson é a força de cultivar e curtir lembranças que só em sua memória permanecem. Morando longe, as imagens e pessoas, ficam intactas em seu "cerebero", despertando, vez ou outra, pra um relax imperativo nas horas nostálgicas. Sua primorosa narrativa, nos envolve de tal forma que a gente chega a sentir saudades de algo que nunca viu. O Bixiga, se não é mais aquele que permanece em suas lembranças, sente-se grato pelo dileto filho que o abandonou mas, que não o esquece. Parabéns, Assis.

margarida disse...

Nelson, acho que foi muito difícil segurar o crescimento de São Paulo. Os interesses mais individuais do que coletivos, muitos sonhos, a crença de que aqui a vida seria melhor e tantos outros atrativos, fizeram com que ela se tornasse uma cidade gigante, sendo inevitável uma transformação. Acredito que a transformação do seu bairro, como de tantos outros, tem como responsável todos que sempre pensaram egoisticamente, uma característica do ser humano. Ainda bem que você tem na sua memória as cenas originais e sempre que a saudade bater poderá revive-la com as suas mais lindas emoções. Um abraço e parabéns pelo lindo texto..

Unknown disse...

Que saudade deliciosa Nelson!Fiquei muot emocionada com seu relato. O melhor de tudo, é que essa saudade gostosa, nenhum progresso poderá destruir.
Um abraço

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Nelson, o progresso pode modificar a parte material do bairro mas jamais poderá apagar a lembrança que mora em nossos corações, parabéns pelo texto, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Wilson Natale disse...

Nelson, distante do Bexiga, ou de qualquer outro bairro; distante dessa amada Paulicéia, não importa. A Cidade está conosco. Pois, longe, perto São Paulo é onipresença.
Abração,
Natale.