domingo, 11 de julho de 2010

A Casa da Rua Padre João



As casas desta rua tinham quintais enormes que terminavam na Rua Goulart Penteado, uma travessa da Dr. João Ribeiro ou da Rua da Penha, era mais conhecida como Rua do Atlético, local onde os jovens passavam horas nos bailes vespertinos e noturnos.

Por um tempo, quando ainda era bem pequena, morei no numero 212 da Rua Padre João, no bairro da Penha.

Nesta casa havia um quintal com os mais diversos tipos de árvores frutíferas, lembro de algumas como a pitangueira, o mamoeiro, a figueira, o limoeiro, o abacateiro e de uma bela parreira de uvas e um pé de romã. Deviam ter mais algumas, mas consegui lembrar apenas destas. Este quintal também terminava na rua do Atlético e muitas vezes me arranhava toda para dar uma espiadinha e observar o que havia do outro lado, saciando assim a minha curiosidade.

Era gostoso brincar por lá, eu e meus irmãos fazíamos as cabanas, subíamos nas arvores e fazíamos rampas com pedaços de madeiras, mas sempre tinha um que se machucava na cerca ou no chão q
ue era todo de terra. Apenas o corredor que nos levava até ele era de cimento.

Certa vez, já de madrugada, ouvimos um barulho perto da janela do nosso quarto, parecia que alguém queria abri-la.
Meu pai também ouviu, e logo pediu para que ficássemos quietos e rapidamente orientou meu irmão mais velho junto com minha mãe, irem ao distrito policial que não era tão longe dali.

Enquanto isso, meu pai, para ganhar tempo, resolveu conversar com o individuo que insistia para que ele abrisse a porta. Claro que ele não abriu, mas disse ao transeunte que iria abri-la se ele dissesse o que estava fazendo no quintal de casa àquela hora da madrugada.

O home
m, muito esperto, mas querendo se fazer de bobo, dizia que havia entrado em uma rua e não num quintal, que havia se perdido e agora não conseguia achar o caminho de volta porque estava muito escuro. O Sr. Pedroso, meu pai, pediu para que ele esperasse um pouco mais e que iria abrir a porta.

Passado um tempo a policia chegou, fez a revista no quintal inteiro e nada achou. Claro que o homem havia percebido a técnica do meu pai e fugiu. A polícia ficou fazendo a ronda até o dia clarear, mas não encontrou o tal homem. Dele restou, em minha lembrança, apenas uma sombra de voz baixa e meia roca, com alguns acessos de tosse forçada.

Ficamos por um bom tempo com receio de brincar no quintal, aliás, ele nunca mais foi o mesmo para mim, tinha medo só de pensar que alguém estranho, o suposto ladrão, ousou violar aquele espaço que sentia ser o mais seguro. Brincar naquele quintal era a minha melhor diversão.

Logo que escurecia minha mãe trancava tudo. Com o espaço diminuído e dentro de casa, tivemos que inventar outras brincadeiras, mas por pouco tempo logo mudamos para outra casa.

Por Margarida Peramezza

11 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Marga, que linda estréia neste blog.
Como sempre, vc gosta relembrar fatos assustadores da infância e nos deleitar com tantos detalhes.
Passeei pela Penha tendo vc de cicerone. Foi legal!

Unknown disse...

Mana, moramos nessa casa por 2 anos. Esse fato foi muito marcante na nossa infância, pois naquele tempo ladrões eram raríssimos, somente os de galinha.
Para quem não sabe, essa é a foto da casa onde ocorreu o fato e nela estão 6 dos 9 irmãos. Eu e a Marga estamos juntas exibindo os vestidinhos. O meu é o mais escuro.
Bjos mana.

Luiz Saidenberg disse...

Ótima história, Marga. Retrata bem aqueles tempos de tranquilidade, mas não isentos de medos. De assombração, do Homem do Saco, bêbados, ladrões baratos...
E a foto da casa compõe bem a nostálgica narrativa. Abraços.

Soninha disse...

Olá, Margarida!

Seu texto, repleto de recordações de sua infância, fez-me recordar de minha infância distante, quando também meus irmãos e eu temíamos os pseudo monstros, gerados em nossa imaginação, por conta de ruídos que nem sabíamos de onde vinham. rss
Nossa mãe, ao anoitecer, fechava toda a casa e a escuridão do lado de fora fazia com nossa imaginação corresse solta ,imaginando monstros e fantasmas, que só as crianças conseguem conceber.
Muito boa história, a sua.
Agradeço pela participação.
Parabéns!
Mande mais, ok?!
Excelente semana.
Muita paz! Beijosssssssssss

Arthur Miranda disse...

Puxa Margarida, sua narrativa me fez voltar ao passado, quando morria de medo depois que o sol encerrava o seu espediente diário e a noite iniciava o seu turno ou a sua jornada de trabalho, eu e minhas irmãs ficávamos no quarto recordando historias terríveis de mulas sem cabeça, homem do saco, lobisomens e vampiros, e outros monstros menos famosos, fico imaginando como seria atualmente a nossa infância cercados que estamos de Nardones, Brunos e os Misaeis da vida.

Unknown disse...

Olá Margarida, que susto, hein! eu tenho um parecido que vou contar em breve. Como sempre, seu texto é gostoso de se acompanhar. Um beijo.

Modesto disse...

Peramezza, se o seu pai fosse um homem violento, já iria de arma na mão e disparando contra a janela. Com um pacífico diálogo, intencional ou não, fez o intruso por as "barbas de molho" e dar no pé. As vezes, o bom senço equivale a um gesto mais violento, sem os problemas que poderiam surgir. Parabéns pelas recordações, lembro da rua Padre João, minha falecida irmã morava la perto, na rua Caquito.

Leonello Tesser disse...

Margarida, que bom que vocês ficaram quietinhas e seu pai revelou grande presença de espírito em não sair, parabéns pelo texto, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Vera de Angelis disse...

Querida Margarida, que pena o ladrão ter acabado com a alegria de vocês de brincar no quintal. Incrível como sua narração deixa na gente a imagem plantada da cena e do sobressalto. Noite, alguém tentando arrombar e seu pai conversando com a pessoa? Chego a sentir o medo que vocês devem ter sentido. Ainda bem que foram para a outra casa. Seria aquela que conhecia, onde viviam nossos avós?
Parabéns pelo texto e um abraço. Vera

Zeca disse...

Margarida,
se não estiver enganado, meus avós maternos moraram nessa mesma rua, na Penha! Foi há tanto tempo que já nem tenho mais a quem perguntar se a rua era essa mesma... mas tenho quase certeza que sim.
Quanto ao intruso no quintal, eu e meu irmão também passamos por situações parecidas em nossa infância. Embora amedrontados com o "desconhecido", jamais poderíamos supor que no início do século XXI, as invasões não seriam mais tão pacíficas... que pena!!!
Mas gostei muito do texto, que me remeteu ao meu passado, aos meus medos e aos sustos que tomei. Parabéns.
Abraço.

Fabio D´Lorian disse...

Oi Margarida, tudo bom? Bem, pela foto, acredito que você tenha pelo menos uns 40 anos né? Eu tenho 38 e talvez você possa me ajudar a reencontrar alguém. Você lembra da casa 337 da sua rua? Me lembro da casa ser um tom de roxo. Então, se você lembra e conhecia o pessoal de lá a Tieta e o Keko, eu gostaria muito de ter o contato deles, se você tiver algum, blz? Abraço (meu email é fabiodlorian@hotmail.com)