quarta-feira, 21 de julho de 2010

Bairro do Braz

A origem do nome Braz, hoje Brás. Até fins do século XIX, nas cercanias do gasômetro, atravessada pelo Tamanduateí, situava-se a chácara do ferrão, que os moradores conheciam também por Chácara da Figueira. Pertenceu antes à Marquesa de Santos, que tinha uma enorme figueira secular, considerada a mais velha e mais bonita de São Paulo. Seus galhos enormes caíam sobre os muros de pedra e debruçavam-se na rua que lhe tomou o nome. Em 1905, foi derrubada e só ficou aquele enorme sobrado de quatro águas, isolado com duas linhas de janelas em arco.

Essa chácara da Marquesa de Santos ou do Ferrão serviu para demarcar os limites do Brás, mas existem histórias diversas. Nuto Santana, por exemplo, nega veemente tais versões. A verdadeira origem do nome Braz, segundo ele, está no nome de um português chamado José Braz, que teria residido, em m
eados dos século XVIII, entre o Gasômetro e o Largo da Concórdia, conforme consta nos anais da Câmara José Braz. Foi quem construiu, em 1803, a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, hoje, Matriz Bom Jesus do Brás.

Os limites populares do Brás vão além, do velho Mercadão até a Bresser, Rua do Gasômetro até a Radial Leste. Em 1865, foi construída uma porteira
para impedir qualquer desastre de trem, a célebre porteira do Braz, que funcionou até o dia 23 de maio de 1967. Em 25 de janeiro de 1968, surgiu o viaduto Nalberto Marino, eliminando, assim, o trânsito que ficava emperrado na Rangel Pestana e Celso Garcia. Surgiu aí o metrô, para dar o golpe mortal, que deu emprego para milhares de nordestinos e eles assumiram os cortiços que um dia foram dos italianos e espanhóis. Golpe mortal em muitas famílias estrangeiras, mais de mil desapropriações.

O Largo da Concórdia, do Teatro Colombo, virou praça de fotógrafos lambe-lambe, daqueles que emprestavam paletó e gravata para tirar fotos 3x4 da carteira de trabalho. Sumiram as lojas tradicionais, como Móveis Paschoal Bianco, Pirani, Gigante do Braz, Eletroradiobras, Século XX, surgindo clínica que fazia dentaduras em seis horas, os hotéis perto da Estação do Braz, ou norte ou Roosevelt.

O metrô fez, a 16 de setembro de 1975, a última (e grande na época) desapropriação, rasgando o coração do Brás. Retornando no tempo, na década de 1920, o Brás procurava fugir do abandono, relegado como bairro próximo ao centro. Os fiéis de San Vito Mártir faziam as procissões para erguer a igreja na Álvares de Azevedo. A porta do bairro era Rua do Gazômetro, hoje só de madeireiras. Naquela época, formavam atoleiro, pois as águas desciam ladeira abaixo no aterro da várzea do Carmo. O bonde saía da Praça do Correio, antigo Largo do Tesouro, e ia até a Penha. A viagem era tão demorada por causa dos problemas nos trilhos que os passageiros costumavam levar lanches para comer durante a viagem.


O Braz tinha movimentos artísticos, como Tito Schipa e Gino Becchi, cinemas como Brás Politeama, antes circo, o Cine Ideal, Babilônia, Oberdan, Glória, o Teatro Colombo, o cinema nos fundos da Confeitaria Guarani, com Dona Victória, o cantor Nino Nello, Chico Alves, João Dias, Vicente Celestino. Carlos Galhardo cantou e gravou “Rapaziada do Braz”, de Alberto Marino, ilustre no bairro. O cantor Vadico.

Pizzarias do Don Carmello, adega do Braz, 1060, Balilla, Avenida Chic, do Luiz. Pizzarias, cantinas, adegas e restaurantes mesclavam a gastronomia. As adegas, quando era permitido, importavam os Chiantis da Itália e engarrafavam no país, como o Barbera, Grignolino, Ruffino, Bertolli, que vinham em barricas.

Deixo aqui este relato, pois outros constam em nossas páginas do São Paulo Minha Cidade. Aos queridos brazenses, um baccio e auguri rapaziada do Braz.

Por Domingos Ricardo Chiappetta

15 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

É isso aí amigo Chiappetta, você deuum banho como historiador do Braz. Relembrei diversos fatios que a memória havia escondido.
Obrigado

Leonello Tesser disse...

Chiappetta, do velho Bráz tenho boas lembranças, da Rua da Alfândega, da Jairo Góes, bons tempos, parabéns pelo texto, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

MLopomo disse...

Embora nascido e criado na zona sul, o Bras é um bairro que já, a mais de 50 anos não sai da minha mente, pelos 3 anos gostosos que passei lá anos 1954-55-56, estudando na escola SENAI Roberto Simonsen Rua Monsenhor Andrade esquina da Rua Assumpção.

Zeca disse...

Domingos,
Quantas lembranças seu texto me trouxe! Com excessão dos anos que moramos no Jabaquara, nos demais moramos em Guarulhos e, naquela época, para chegar "à cidade", só indo mesmo, de ônibus, pela Celso Garcia e Rangel Pestana, com seus (já na época!) gigantescos engarrafamentos, já que havia a porteira do Brás, implacável nas horas de passagem de trens. E mesmo quando morávamos no Jabaquara, para ir até a Penha, visitar meus avós, faziamos o caminho inverso...
Lembro de várias coisas citadas aqui por você e, por elas, agradeço pelo belo texto com que nos presenteou.
Abraço.

Arthur Miranda disse...

Chiappetta, muita coisa eu me lembro do velho Bráz como o Teatro Colombo onde cheguei a atuar a velha porteiras famosas do Bráz. e de criança ia muito ao Belem onde morava uma minha tia na Rua Herval, passei inumeras vezes por todo esse Bráz. Mas o melhor da historia foi ficar sabendo mais um pouquinho de como nasceu esse bairro tão simpático, e famoso de São Paulo.

Unknown disse...

Chiappeta, meus pais eram cinéfilos e assíduos, prequentadores desse Bráz,com seus cinemas,suas cantinas e pizzarias famosas.
Bateu uma saudade!
Um abraço / Bernadete

Soninha disse...

Olá, Domingos!

Lembro-me das compras que fazíamos no bairro do Brás...
Tínhamos, também, amigos que moravam neste bairro.
Agora, sabemos da importância do bairro, sua história e tudo de bom que ele tem, graças à sua narrativa.
Obrigada.
Muita paz!

margarida disse...

Chiappetta, muito bom saber um pouco mais sobre o Brás. Dele, lembro muito das compras que fazia por lá.Parabéns pelo texto.Um abraço.

Modesto disse...

Chiappetta, narrador brazense, dos bons, como é prazeiroso ler sua narrativa. O Braz do nosso tempo, não volta mais, infelismente. Como vc não retratou com pinsel e cores, nesse texto conseguiste superar um quadro de pintura acadêmica, onde os mínimos detalhes superam o vizual que um quadro poderia mostrar, com a desvantagem de não permitir que a pintura dê vazâo as nossas emoções.
Parabéns,Domingos.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Soninha, excelente a idéia de publicar novamente esta crônica do nosso saudoso amigo Chiappetta, que Deus o tenha, abraços, Nelinho.

jodison disse...

A todos os brazenses: Quem quizer "matar" a saudades do cine gloria é so acessar o link: http://saudadesampa.nafoto.net/photo20110315203125.html que vao encontrar uma foto de 1952 do cine Gloria quando em funcionamento.

Dias Lopes disse...

Sou colunista do caderno Paladar (jornal O Estado de São Paulo). Procuro informações sobre a cantina 1060: quando surgiu, tempo de funcionamento na av. Rangel Pestana, SP, nome dos seus proprietários, cardápio etc. Quem poderia me ajudar. Suspeita-se que o filé à parmigiana tenha nascido (ou foi lançado) ali. Faz sentido? Dias Lopes jadiaslopes@gmail.com

Jayme disse...

Muito boa a lembrança do Sr. Dias Lopes em relação a Cantina 1060. Gostaria de saber que fim levou, pois foi o melhor restaurante que frequentei na decada de 1950.

Anônimo disse...

0 aroma do frango com polentas e seu tempero inigualavel..do 1060..continuam na minha memoria !!

Franco disse...

Eu me lembro muito bem quando morava no bras em 1956 até 1962 na rua monsenhor anacleto, 138 apt 13 em um prédio de 2 andares e bem em frente tinha um galpão que ainda existe onde funcionava a famosa cantina 1060, não me lembro muito bem de quando ela se mudou para av. Rangel pestana. se alguém tiver mais informações gostaria de ser informado: pier8@terra.com.br
para troca de boas lembranças do bras, cantinas, cinemas e comércios.