sábado, 31 de julho de 2010

84ª Festa N. S. Achiropita

Ano de 1926. As ruas são de terra batida, algumas dezenas de casas espalhadas e os caminhões puxados por juntas de bois passam lentamente.

Ao cair da noite, as famílias se reúnem diante das portas de suas casas para conversar. Começa a escurecer e o pequeno sino da capelinha chama os fiéis para a bênção.
Cada pessoa, carregando sua cadeira, caminha para a pequenina igreja. Com a chegada de mais famílias, a capela já é insuficiente para acomodar a todos e boa parte fica do lado de fora. Surge, então, a idéia: vamos construir uma igreja maior! Mas... como fazer? O meio mais tradicional de angariar fundos é lembrado: a quermesse. Mobilizam-se e cada família contribui com prendas, animais e aves para serem vendidos ou leiloados.
Improvisam barracas para a venda de pratos preparados pelas "mammas". Abrem-se listas para doações. Com a transformação oficial em paróquia, um novo ânimo impulsiona a todos. Iniciam-se as obras que, após alguns anos, chegam ao final. A carência de recursos adia por muito tempo a pintura da igreja, devido ao elevado custo.

Somente na década de 50, no apogeu das associações religiosas da comunidade, a pintura é executada. Nesta época também os paroquianos decidem fazer uma coroa para a padroeira e, para isso, realizam uma campanha de doação de anéis, jóias e brincos.


Com o advento do Encontro de Casais com Cristo e, conseqüentemente, com a agregação de muitas famílias, os moradores do Bixiga partem para a construção da primeira grande Obra Social: o Centro Educacional Dom Orione, que atende crianças dos 7 aos 15 anos. Lá, essas crianças recebem alimentação, complementação escolar, artes, iniciação em informática, assistência dentária, encaminhamento profissional etc. Obra dispendiosa, que exigiu a ampliação de nossa festa: o aumento de 5 para 15 barracas e a criação da cantina interna. Com fé na Divina Providência, a comunidade não se acomoda: parte para a construção de mais uma obra, a Casa Dom Orione, com o objetivo de acolher a população de rua, dando-lhes local para higiene pessoal, café, almoço, orientação psicológica, apoio dos Alcóolicos Anônimos e trabalho de recuperação e reintegração social.
O trabalho com a terceira idade também ganhou espaço lá: musicoterapia, artesanatos, convivência, coral...
Ano de 2001. Iniciada com a participação de algumas famílias, a festa hoje reúne cerca de 800 pessoas voluntárias, que se empenham ao máximo para oferecer aos participantes uma festa alegre e gostosa, com shows contagiantes e comidas saborosas. Cada equipista assume a sua missão com alegria, disposição e doação. Mais de 120 mil pessoas visitam o Bixiga e a Festa d’Achiropita todos os anos. Todos – equipistas e visitantes – nos unimos no louvor a Nossa Mãe querida, lembrando o lema de Dom Orione: "Ave Maria e avante!" .
A festa de N.Sra. Achiropita é a cara da comunidade. Ela é o resultado do esforço de paroquianos e do bairro, que se movimentam para que ela seja um grande sucesso.
CONHEÇA A "FAMÍLIA" ACHIROPITA.
A festa tem muito a ver com o bairro do Bixiga. Teve início com a chegada dos italianos no início do século XX os quais trouxeram a devoção a Nossa Senhora Achiropita. Com a necessidade de construir a Igreja, onde todos pudessem prestar culto à Padroeira, foi lançada a idéia de promover uma quermesse para angariar fundos necessários. Outros grupos que moravam ou chegavam ao bairro como os negros, nordestinos, portugueses, etc, foram se integrando a comunidade.
Hoje a comunidade é composta de descendentes de todos estes grupos que morando ou não no bairro, por ocasião da festa, fazem questão de participar da mesma, motivados pela grande devoção à Mãe Achiropita.
FESTA PRAQUE?
No início a festa era realizada para a construção da igreja e hoje o principal objetivo é levantar recursos para as Obras Sociais. Nosso trabalho vai além de socorrer as pessoas em suas necessidades básicas, acreditamos em recuperar o ser humano, resgatar sua dignidade e cidadania. Este é o nosso m
elhor investimento.
PARTE RELIGIOSA
A festa religiosa é o ponto central das comemorações. A programação inclui:
• Novena da Padroeira.
• Procissão pelas ruas do bairro com Nossa Senhora abençoando as casa e moradores.
• Missa solene com coroação de Nossa Senhora.
BÊNCÃOS
Todos os sábados e domingos, durante a festa, ocorre a visitação a nossa senhora e de hora em hora são dadas bênçãos aos fiéis presentes que lotam a igreja, numa profunda demonstração de fé.
FESTA NA RUA
Nas ruas Treze de Maio e São Vicente são instaladas 35 barracas onde o público pode deliciar-se com variados pratos típicos italianos, como fogazza, fricazza, polentas à bologneza e frita, antepasto, sardela, peperone e malanzanas al forno, calabrezas, macarrão, pizzas, etc... Vinhos e refrigerantes também são servidos em quantidade e qualidade. Uma grande variedade de doces típicos, como sfogliatelli e canole, são servidos nas barracas. No ano 2000 houve ampliação das opções de lazer, com uma barraca de diversões e uma ba
rraca de souvenir.
FESTA NA CANTINA MADONA ACHIROPITA
Nossa cantina é um grande salão carinhosamente decorado, alegre e festivo, onde é impossível não se deixar contagiar pela música italiana ao vivo. O convite à dança é irresistível: a pista central torna-se pequena e a dança se espalha pelo salão. Nos intervalos os leilões e sorteios mantém o clima de animação e a disputa pelas prendas é bastante acirrada, além do incomparável macarrão ao molho Achiropita. Os convidados podem deliciar-se com variada mesa de antepastos, saladas, frios, polenta frita, pão italiano, sardela, diversos tipos de beringela, etc. Tudo à vontade.
À parte das iguarias preparadas pelas "mammas", podem também ser saboreados: peperones e melanzanas al forno, fogazza, fricazza, etc. Os ingressos para a Cantina são vendidos a partir da primeira semana de julho, com lugares reservados e preços variados.

ATRAÇÕES ESPECIAIS
• A "linha de produção" da fogazza com mais de 120 pessoas preparando esta deliciosa comida italiana, com inconfundível qualidade e um toque especial.
• O queijo provolone com dois metros de comprimento e mais ou menos 100 quilos, um dos prêmios mais cobiçados da festa.
• O tapete de flores confeccionado pelos alunos da Escola Maria José em homenagem à Padroeira, para a procissão na Rua São Vicente
PÚBLICO
Estima-se a presença de 200.000 pessoas no período da festa e é previsto o consumo de 10.000 quilos de farinha de trigo, 10.000 quilos de macarrão, 4.500 latas de óleo, 5.000 quilos de mussarela, 5.000 quilos de lingüiça, 5.000 quilos de carne, 10.000 litros de vinho, 15.000 litros de chopp e 15.000 litros de refrigerante.
SEGURANÇA
Toda a área da festa e vizinhança conta com cerca de 100 policiais, viaturas, motos e uma unidade móvel da polícia militar para maior segurança dos convidados, além da segurança particular no ambiente restrito da festa.

Acesse: http://www.achiropita.org.br/

Por Laer Passerini

9 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Belo histórico, Laer. Pena que a festa, como tudo em S. Paulo, não seja mais o que era em seus primórdios, simples, barata e ingênua. Mas, continua velendo. Abraços.

Miguel S. G. Chammas disse...

Quem nunca foi deve ir, quem já foi vale voltar,e quem vai uma vez sempre volta.
Essa é a festa do Bixiga e tenho dito.
Memórias de Sampa é, tambem, roteiro de programas de alto nivel.

margarida disse...

Laer, bonita a historia e a festa nem se fala, não é a toa que tantas pessoas marcam sua presença. Ela modificou, cresceu mas não perdeu seu objetivo. Um grande abraço.

Zeca disse...

Laer,
a gente conhece a festa da Achiropita, vai, come, bebe, brinca, se diverte, mas nem sempre sabe suas origens e objetivos. E isso, hoje, você mostra com clareza nesse belo texto com que nos presenteou.
Parabéns pelo texto!
Obrigado pelo presente!
Abraço.

Soninha disse...

Olá, Laer!

As festas paulistanas são especiais.
Adorei sabe o histórico da festada Achiropita.
Valeu, Laer!
Obrigada.
Muita paz!

Unknown disse...

Laer, você sempre nos trazendo informações preciosas sobre nossa São Paulo e sobre outros lugares também
Gostei muito.
Um abraço.

Modesto disse...

Apetitoso roteiro, Passerini, minhas filhas estiveram lá, nesse fim de semana e adoraram. Muita e boa comida, seu texto mostra isso. Parabéns, Laer.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Laer, as festas da Achiropitta são inesquecíveis, já estive lá algumas vezes, são sensacionais, parabéns pelo texto, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Wilson Natale disse...

Laer, boa lembrãnça dessa tradição dos imigrantes calabreses e que se tornou uma tradição dos paulistanos.
Fui a muitas dessas festas.
E, na infãncia, ouvia repetidamente a história "della madonna ach'ropitta".
Abração,
Natale