terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bixiga e eu - primeira parte

Minhas primeiras lembranças do Bixiga vêm do início da década de 1950.
Meu pai já trabalhava no Banco da América, no Edifício Martinelli e, em todos os finais de ano, o banco fazia uma grande festa para os filhos dos funcionários, com distribuição de presentes, brincadeiras e guloseimas. Não tenho certeza, mas me parece que foi no ano do quarto centenário (1954) que a grande festa foi realizada no Cine Teatro Paramount, na Avenida Brigadeiro Luis Antonio.

E, pela primeira vez ouvi o nome “Bixiga”, denominando um bairro, o que muito me intrigou, pois em minha cabecinha infantil, bexiga era um balão de borracha, que demandava muito trabalho de nossas bochechas e trazia muitas alegrias com suas cores.
E lá fomos nós para aquele “palácio” enorme e luxuoso, onde passamos um dia divertido que deixou lembranças para o resto de minha vida. Ganhei alguns presentes, mas o que mais gostei mesmo foi o do “Pequeno Construtor”, com peças de madeira colorida para “construir” casas, prédios, ou o que minha imaginação criasse. Ali também conheci a Coca-Cola, um refrigerante escuro, dentro de uma garrafinha cheia de curvas, mas com um gosto forte e do qual não gostei nem um pouco. Por muitos e muitos anos continuei preferindo o Guaraná ou a Soda Limonada, que aparecia em nossas mesas nos finais de semana ou nos dias de festa.
O Cine Teatro Paramount foi inaugurado em 1929, na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, bem no início do “Bixiga”, ou Bela Vista. Foi o primeiro cinema sonoro da América Latina e seu palco enorme, cheio de recursos moderníssimos fizeram dele, durante muito tempo, um modelo para todos os demais teatros do país. Seu estilo eclético, mais para o neo clássico, revela bem o gosto dominante na época, com bonitos detalhes arquitetônicos e muito, muito espaço! Podia receber até 2.000 espectadores, oferecendo ampla visibilidade de qualquer lugar! Claro que tudo isso só vim a saber muito tempo depois.
Naquele dia só queria mesmo a diversão, com os palhaços, os shows e as brincadeiras. E depois da abertura dos presentes, na saída do teatro, fizemos um passeio de carro subindo a Brigadeiro até a Avenida Paulista, de onde seguimos para casa felizes da vida com aquele dia que era esperado o ano inteiro, quase tanto quanto o próprio Natal.
O Cine Teatro Paramount foi palco de grandes eventos, o maior deles, sem dúvida, o Festival de Música Popular Brasileira transmitido pela TV Record, onde, Edu Lobo e Capinam venceram o de 1967 com Ponteio e Sérgio Ricardo, vaiado ao apresentar Beto Bom de Bola, quebrou o violão no palco e o arremessou contra a platéia. Tom Zé, em 1968 apresentou São Paulo, Meu Amor e Caetano Veloso cantou Alegria, Alegria – entre tantos outros intérpretes que por ali passaram.
Em 1969, grande parte de suas instalações foram destruídas por um incêndio, o que ocasionou a paralização de todas as atividades, retomadas anos mais tarde com diversas salas pequenas de cinema e, depois, com a grande e criteriosa reforma que o transformaram no atual Teatro Abril, palco de grandes superproduções com a vinda para o Brasil de grandes musicais.

Por Zeca Paes Guedes

10 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Zeca, bela homenagem ao famoso teatro, uma das glórias remanescentes de S. Paulo.
Continua mesmo uma beleza, salvo que foi da decadência dos cinemas, quando, para evitar sua destruição foi dividido em várias salas. Agora, como Teatro Abril, retornou a seu apogeu, com espetáculos dignos da Broadway.
Grande abraço.

Modesto disse...

Requintado passeio pelo Teatro Paramont, Zeca, conheço-o de há muitos anos mas, não sabia destes detalhes e curiosidades que vc mencionou nesta deliciosa narrativa. Engraçado, também tive a mesma reação com a Coca Cola, surgida logo depois do término da
2ªguerra mundial, década de 40. Até lia o nome com Coca "Cota", pensava que o corte na letra "éle" fosse o complemento de um "t".
Muito oportuna sua descrição, Guedes, parabéns.

Soninha disse...

Olá, Zeca!

Adorei conhecer um pouco da história deste teatro maravilhoso e parte de sua infância.
Só lembro da parte boa do teatro, felizmente.
Recentemente fui assistir ao espetáculo "O fantasma da ópera", musical com produção Broadway, especialmente editada para o Brasil.
Amei!
Fui sozinha, mas, nem sofro...tomei champagne no hall de entradqa do teatro Abril e assiti ao espetácuo, envolvida em muita emoção.
Muito obrigada, Zeca, por este texto maravilhoso.
Muita paz!

MLopomo disse...

Não sou Bixiguento, mas adoro o Bixiga. Já escrevi ate um texto a respeito que qualquer dia mando a Sônia. O Bixiga é um reduto de grandes amigos como a família Vicentini e Galvão. Faltou no texto muito bem escrito, o Aristocrata Clube, que surgiu de uma cisão do Boca Juniors, da qual fez parte Agostinho dos Santos que no Boca jogava. Cada vez que eu ia da Vila Olímpia até lá de bicicleta, e subia pela Rua Rocha até o pico do morro, ia avistando a Avenida Nove de Julho, e como não havia ainda muitos espigões dava para ver a Praça da bandeira, e o centro da cidade. Era uma Bela Vista, será que foi por isso que o bairro é assim chamado? Uma coisa tem que ser dito. O correto é bexiga, mas diga sempre Bixiga, pois é a linguagem dos Italianos que por lá aportaram no inicio, do bairro.

MLopomo disse...

Não sou Bixiguento, mas adoro o Bixiga. Já escrevi ate um texto a respeito que qualquer dia mando a Sônia. O Bixiga é um reduto de grandes amigos como a família Vicentini e Galvão. Faltou no texto muito bem escrito, o Aristocrata Clube, que surgiu de uma cisão do Boca Juniors, da qual fez parte Agostinho dos Santos que no Boca jogava. Cada vez que eu ia da Vila Olímpia até lá de bicicleta, e subia pela Rua Rocha até o pico do morro, ia avistando a Avenida Nove de Julho, e como não havia ainda muitos espigões dava para ver a Praça da bandeira, e o centro da cidade. Era uma Bela Vista, será que foi por isso que o bairro é assim chamado? Uma coisa tem que ser dito. O correto é bexiga, mas diga sempre Bixiga, pois é a linguagem dos Italianos que por lá aportaram no inicio, do bairro.

Arthur Miranda disse...

Zeca um pouco antes, da Tv Record assumir o Paramount, o mesmo foi palco para apresentações de grandes Revistas Musicais e uma famosa que assisti foi, É de Xurupito, montagem do saudoso e inesquecivel Walter Pinto, No elenco se não me falha a memória, estavam Valter Davila, Zeloni e Paulo Celestino, e como era de costume nesses espetaculos montados pelo empresário, presente também lindos modelos nús vindos da Argentina. foi + ou - em 1956 ou 57.
Seu texto provocou uma gostosa saudades em meu coração. Parabéns e obrigado por lembrar esse enorme monumento da Vida Artistica brasileira. Teatro Paramount.

Miguel S. G. Chammas disse...

Zecamigão,
eu, Bixiguense de quatro costados, li seu texto e me emocionei.
Primeiro que vc fala do meu bairro com muito carinho, depois por que fala do Paramount (depois Brigadeiro e depois ainda, Abril.
Nesse tatro além de tudo que vc mencuionou e das lebranças do Arthur (Tutu) eu me lembrei que foi nele que assistio o maior humorista brasileiro no "EU SOU O ESPETÁCULO".
Vi, pela primeira vez, um conjunto famoso os "GOLDEN BOYS" cantarem toda as musicas de uma revista musical, acomodados num pequeno mesanino na lateral do palco, sem poderem, sequer ver as coristas se exibirem, por não terem idade para tal.
Aguardo com grande expectativa a segunda parte desta narrativa.

margarida disse...

Zeca, não conheci o Teatro Paramount, mas acompanhei os festivais daquela época lá de casa. Lembro bem do lance do violão, ato bem comentado na época.
Muito bom conhecer um pouco da historia deste teatro que marcou nossos anos de juventude.
Um grande abraço e parabéns pelo texto.

Nelson de Assis disse...

Os festivais da canção, 'O Fino da Bossa', 'Show do Simonal' 'Show do Dia Sete', eram algumas das atrações que embalavam as programações semanais da antiga TV Record, canal 7 no Teatro Paramount. Seu texto me deu muitas saudades da velha brigadeiro Luiz Antonio.

Leonello Tesser disse...

Zeca, o velho Bixiga de tantas tradições, da antiga Cantina do Capuano, do cordão dos esfarrapados que saí nas segundas-feira de carnaval, do Paramount onde tive a oportunidade de assistir ao shoe de rock com Bill Halley e Seus Cometas, quantas lembranças meu amigo, parabéns pelo texto, abraços, Nelinho.