quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Para a menina de casaquinho de ban lon

Tudo começava na troca de olhares no "footing" das noites de sábado, na Rua da Penha. Eram olhares, as vezes lânguidos, as vezes fulminantes ou que arrepiavam, mas eram olhares que diziam tudo.

Após essa " tirada de linha", formavam-se casais, que iam de mãos dadas, até a quermesse do Largo do Rosário. Alguns, simplesmente passeavam entre as barracas, outros, querendo mais privacidade, iam direto para a roda gigante, onde podiam trocar afagos e beijos acalorados, principalmente quando a tal roda parava, mantendo os casais lá no alto.
Para quem não conseguisse seu par, sempre restava esperar o serviço de alto falante da quermesse. Ali, as músicas eram oferecidas de maneira anônima..."Agora vamos ouvir Bienvenido Granda, cantando Angústia, oferecido com muita ternura, para a menina de vestido rosa com casaquinho de Ban-Lon branco".
Todo sábado e por muito tempo, esse oferecimento anônimo foi transmitido pelo auto falante. A mesma quermesse, a mesma música, tudo igual; O que mudava, apenas, era a roupa da menina. Ela, por algum tempo, procurou através dos olhares paqueradores, o admirador desconhecido, mas infelizmente, nunca conseguiu encontrá-lo. Talvez ele fosse tímido demais, ou, magro, gordo, sabe-se lá.
Hoje aquela menina, transformou-se numa senhora, mãe e avó muito feliz. O casaquinho de Ban-Lon não existe mais, vestido cor-de-rosa ela tem alguns, mas, sei que ainda sente uma curiosa saudade, quando ouve a voz anasalada de Bienvenido Granda, cantando “Angústia”.

Por Bernadete Pedroso

8 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Que bela lembrança, garotinha de Ban-Lon- coisa que nem mais existe!
E tb essas chamadas de quermesses, será que terão ainda lugar numa cidade como S. Paulo? Duvido muito, mas graças a vc pudemos reviver período tão romântico.
Parabéns! Grande abraço.

Soninha disse...

Olá, Bernadete!

Que agradavel lembrança!
Lembrei-me da blusinhas de ban lon que, certa vez, meu querido avô nos deu...à minha prima, à minha irmã e a mim...todas iguais, para não brigarmos, disse ele.
Odiei tanto isso, pois nunca pudíamos colocar as blusas ao mesmo tempo...parecia que estávamos de uniforme e eu morria de raiva. Então, eu usava somente quando elas não colocavam. Acabei pegando raiva da peça e raramente usava.
Os "footings", tive experiência quando íamos para o interior...aí, sim, víamos é aderíamos, ao redor da igreja local...era muito divertido o modo como as garotas eram abordadas pelos paqueras.
Valeu, Bernadete, por suas doces recordações que também são nossas.
Muita paz! Beijosssssss

Miguel S. G. Chammas disse...

Ai ai ai ai ai....
Cade esse tempo que não volta mais?
Deveriamos fazer uma greve monstruosa e exigir sua volta.
Linda lembrança Bernadete, fiquei realmente emocionado.

Arthur Miranda disse...

Sua historia me levou de volta aos anos 50 e eu me vi no meio de um daqueles bailinhos da época dançando Boleros na voz do Bevenido Granda e seu Perfume de Gardenia, seguido pelo Lucho Gatica e Gregorios Barrios do qual mais tarde em 1970 fui colega em shows.Parabéns pela saudosa narrativa.

Nelson de Assis disse...

Nossa... Ha muito tempo não ouço a expressão 'footing'. E as blusas de 'Ban-Lon' foram a febre dos anos 50's.
Bienvenido Granda 'El Bigode Cantante', enriqueceu as películas mexicanas de 'Cantinflas', filmes que muitas vezes assisti na televisão.
Ainda temos algumas quermesses sim, mas, sem o sabor e o romantismo das quermesses de outrora.

Modesto disse...

Algum dia ele aparece, Bernadete, pode esperar, vai aparecer um velhinho na sua porta e perguntar se vc é a garota do Ban-Lon, vc responde que sim e, aí ele vai querer que vc. prove, mostrando o casaquinho... vc não tem mais e ele cairá num copioso choro, dizendo:..."vc não me esperou.... por que...?" Parabéns, Pedroso, seu texto é lindo.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Bernadete, quem seria o misterioso personagem que oferecia a música? fica aquí essa dúvida, e onde estará o casaquinho de ban-lon, perdeu-se nas azas do tempo, bonita história, parabéns, Leonello Tesser (Nelinho).

Zeca disse...

Bernadete,
sua narrativa me levou aos idos da década de 60 onde, eu também, era "locutor" de quermesse, oferecendo músicas de enamorados às suas enamoradas, algumas delas de casaquinho de ban-lon. E eu também, entre as músicas, costumava oferecer algumas músicas às meninas que chamavam a minha atenção.
Esse tempo passou, mas a doce saudade ficou... obrigado por despertar tão doces lembranças.
Abraço.