Li que o pássaro símbolo do Brasil é a Ararajuba. É mesmo muito bonita, com seu brilhante amarelo. Mas, para mim, quem representa realmente a alma brasileira é o sabiá.
Com sua bela, mas discreta plumagem castanha, seu respeitável porte e seu pungente canto, é uma das primeiras coisas que são lembradas do Brasil, lá fora.
Perguntem aos exilados, cantando a terra natal - "Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá..." - Vou voltar, eu ainda vou voltar, é lá, é ainda lá, que eu hei de ouvir cantar minha sabiá... E mesmo aos que aqui permaneceram - "Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou..." - É a unanimidade nacional, o pássaro por excelência, com seu trinado inconfundível.
Certa vez, fomos à Europa, era setembro. Quando voltamos, extenuados, arrastei as malas ainda por desfazer pelo corredor, até o quarto. Depois de um sono dos justos, acordei. Na madrugada o sabiá entoava seus acordes, como de boas vindas. Sons de uma clareza, de uma beleza sobrenatural, que parecia nunca ouvida.
Era algo familiar e também espantoso, pois donde vínhamos era já outono, estava esfriando e nada tinha da nossa primavera. Estávamos, mesmo, em casa, no Brooklin.
Muita gente não reconhece essa maravilha, alguns até a odeiam. Muitas vezes, por motivos mesquinhos. Eu tinha um colega de firma, mulherengo e boêmio convicto. Chegava todas as noites às altas da madrugada e, se sua ingênua esposa acordava e perguntava-lhe das horas, sempre mentia para menos... Mas eis que o sabiá começava seu concerto e não o deixava mentir!
Um outro, prepotente chefão publicitário, político radical de esquerda, mas nada ecológico, enfurecia-se tanto com os belos sons que perturbavam seu augusto sono regado a puro scotch, que atirava sapatos nas árvores do quintal, como se o pássaro fosse algum gato vadio, fazendo serenata no muro!
Pobres coitados, que não sabem aproveitar o que o Brasil ainda tem de bom, mesmo na nossa grande e caótica cidade de São Paulo.
Bendito e louvado seja o sabiá. São os pássaros da primavera, mas alguns começam fazendo hora extra mais cedo. O meu primeiro, deste ano de 2009, foi na madrugada do dia 6 de Julho. Era domingo, prometia ser uma bela manhã, e o bichinho cantando firme, apesar de estarmos ainda no inverno.
Por mim, que cantem muito, seja primavera, inverno, outono ou verão. Nas madrugadas, à tarde, durante o dia todo. Enquanto o sabiá cantar nesta cidade, haverá esperança de um amanhã melhor.
Por Luiz Saidenberg
Com sua bela, mas discreta plumagem castanha, seu respeitável porte e seu pungente canto, é uma das primeiras coisas que são lembradas do Brasil, lá fora.
Perguntem aos exilados, cantando a terra natal - "Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá..." - Vou voltar, eu ainda vou voltar, é lá, é ainda lá, que eu hei de ouvir cantar minha sabiá... E mesmo aos que aqui permaneceram - "Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou..." - É a unanimidade nacional, o pássaro por excelência, com seu trinado inconfundível.
Certa vez, fomos à Europa, era setembro. Quando voltamos, extenuados, arrastei as malas ainda por desfazer pelo corredor, até o quarto. Depois de um sono dos justos, acordei. Na madrugada o sabiá entoava seus acordes, como de boas vindas. Sons de uma clareza, de uma beleza sobrenatural, que parecia nunca ouvida.
Era algo familiar e também espantoso, pois donde vínhamos era já outono, estava esfriando e nada tinha da nossa primavera. Estávamos, mesmo, em casa, no Brooklin.
Muita gente não reconhece essa maravilha, alguns até a odeiam. Muitas vezes, por motivos mesquinhos. Eu tinha um colega de firma, mulherengo e boêmio convicto. Chegava todas as noites às altas da madrugada e, se sua ingênua esposa acordava e perguntava-lhe das horas, sempre mentia para menos... Mas eis que o sabiá começava seu concerto e não o deixava mentir!
Um outro, prepotente chefão publicitário, político radical de esquerda, mas nada ecológico, enfurecia-se tanto com os belos sons que perturbavam seu augusto sono regado a puro scotch, que atirava sapatos nas árvores do quintal, como se o pássaro fosse algum gato vadio, fazendo serenata no muro!
Pobres coitados, que não sabem aproveitar o que o Brasil ainda tem de bom, mesmo na nossa grande e caótica cidade de São Paulo.
Bendito e louvado seja o sabiá. São os pássaros da primavera, mas alguns começam fazendo hora extra mais cedo. O meu primeiro, deste ano de 2009, foi na madrugada do dia 6 de Julho. Era domingo, prometia ser uma bela manhã, e o bichinho cantando firme, apesar de estarmos ainda no inverno.
Por mim, que cantem muito, seja primavera, inverno, outono ou verão. Nas madrugadas, à tarde, durante o dia todo. Enquanto o sabiá cantar nesta cidade, haverá esperança de um amanhã melhor.
Por Luiz Saidenberg
9 comentários:
Saidenberg, um dos prazeres da da vida é ter uma boa noite de sono. Ser acordado pelo cantos dos pássaros é gostoso demais. Tudo isso em Sampa? Então ainda há esperança,como você diz!
Um abraço
Luiz, li este texto e ao terminar a leitura senti que deveria te-lo lido ajoelhado.
Não me ajoelhei, mas este comentário eu termino dizendo:
Amém!
Olá, Luiz!
São Paulo encanta até nisso...
Sua selva de pedras é capaz de manter seus pássaros, mesmo nas poucas árvores da cidade e nas reservas ecológicas que a circundam...
Sampa é amor e ama seus habitantes...Deus nos envia sua criação para alegrar nossos olhos e ouvidos e para nos dar exemplos de perseverança e recomeço.
Seu sabiá fez-me lembrar de meu amado pai...tudo me faz lembrar papai...
Ele tinha um sabiá maravilhoso...cantava muito...
Quando meu pai chegava do trabalho, parecia que o p´ssaro o reconhecia e o saudava com seu lindo canto.
Ficou por muitos anos conosco até que, um dia, infelizmente, o sabiá morreu...de velhice mesmo...
Foi aquela choradeira por todos nós, crianças...em meu pai, em seu rosto, víamos os sinais de tristeza pela perda do pássaro. Levou bastante tempo para nos conformarmos.
Valeu, Luiz!
Obrigada.
Muita paz!
Luis, seu relato me faz lembrar uma poesia que diz:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves quew aquí gorgeiam
Não gorgeiam como lá..
não me lembro o autor, parabéns, abraços, Leonello Tesser (Nelinhoi).
Em Campos do Jordão onde morei 28 anos, todos as manhãs um Sabiá laranjeira, pousava na pereira ao lado de casa e me acordava com seu canto lindo, longo e choroso inimitavel. é muito gostoso ouvi-lo solto cantando,
Todos os dias eu colocava uma fruta pra ele.
Parabéns sua historia trouxe de volta o sons gostoso do canto maravilhoso do nosso sabiá.
Luiz,
textos como o seu nos mostram o quanto precisamos agradecer ao Criador, em Sua infinita sabedoria, por nos ter proporcionado seres tão pequenos e, aparentemente, tão frágeis, que tanto alegram nossas almas!
E a frase com que fecha sua crônica, além de perfeita, nos traz o alento da esperança de dias melhores!
Abraço.
Muito obrigado. Nelinho, é a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. Pois então, foi justamente dali que tirei o título...Abraços a todos.
O Pássaro seja ele qual for, é o violinista sem o violino. É o verdadeiro som do instrumento. O Sabiá de Cor marrom claro e peito amarelo, chamado de sabiá Laranjeira, o canário e, até o pardal que não canta, mas pia,está sempre presente nas manhãs, como se cumprimentando os seres humanos tivesse. Eu tive um canário do reino que cantava como poucos, e como cantava. Era o nosso Caruso, o cantor do gogó de ouro. Todos os dias logo às seis horas da manhã ele dava sua cantada. Cantava, cantava, e como cantava o bichinho. Era um autentico despertador sempre naquela hora exata, como se tivesse a nos dizer. Ta na hora, levante.
Tudo o que se fala das aves, é sempre muito pouco. Luiz, esse testemunho a respeito do sabiá tem o encanto e a sonoridade de um canto de sabiá.`É prazeiroso ouvir- um canto de qualquer pássaro, é a música da natureza, como seu texto, é muito bonito. Parabéns.
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