sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O guarda noturno

Lá por volta de 1958, os moradores da minha rua no Bairro da Penha, inclusive meus pais, resolveram contratar os serviços de vigilantes de rua.
Eram chamados de Guarda-Noturnos. Começavam a trabalhar às 22hs e ficavam até as 5h da manhã.
Na porta de entrada das casas, eles afixavam umas plaquinhas, mostrando que aquela residência, estava protegida pela guarnição.

Nós, os adolescentes, nunca entendemos bem o motivo dessa contratação.
Assaltos não haviam, no máximo ladrões de galinha. Tanto que, nossas portas eram abertas pela manhã e só eram trancadas à noite. Então... Por que guarda-noturno? Achávamos que era somente para nos vigiar.
Naquele tempo, namorávamos no portão, ou embaixo da soleira da porta, procurando ficar o mais longe possível da luz que vinha dos postes e de olhares curiosos dos vizinhos, que espreitavam pelas janelas.
As vezes, estávamos tão envolvidos num abraço aconchegante, ou trocando beijinhos apaixonados e pronto... Lá vinha o guarda-noturno, com seu apito estridente, ferir os nossos ouvidos e acabar com as emoções.
Meu pai, que era muito enérgico e zeloso com os filhos, trancava a porta à noite e levava a chave para seu quarto.
Um dos meus irmãos, no auge dos seus 17 anos, tinha sempre um "compromisso inadiável". Então, pedia socorro à nossa mãe. Ela, mui amiga, depois que o papai adormecia, pegava a chave e colocava no quarto das meninas.
Eu era encarregada de ficar acordada, até a hora determinada pela mamãe, para então abrir a porta, sem que meu irmão necessitasse tocar a campainha. Ela, antes do papai acordar, recolocava a chave no lugar.
Isso deu certo por um bom tempo até que, certa vez, numa daquelas noites frias,
com a garoa típica de São Paulo, eu adormeci e, bem quentinha, "nos braços de Morfeu", não consegui acordar para cumprir o combinado.
O pobre do meu irmão, ficou esperando na porta e, não resistindo ao frio, resolveu entrar na casa pela varanda, que ficava no andar de cima.
Aí então, chegou o tal do guarda-noturno, apitando e gritando - ladrão, ladrão!!!
Meus pais acordaram e os vizinhos também. Foi um rebuliço danado.
O coitado do meu irmão, acabou levando toda a culpa, para não comprometer a mamãe, e as futuras saídas de outros irmãos.
Depois de uma trégua, o esquema voltou a funcionar, mas meu irmão passou um bom tempo sem falar comigo.
Guarda-noturno, bedel, lanterninha de cinema, etc... Muita gente para vigiar os adolescente da época, não é?

Por Bernadete Pedroso

8 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Outros tempos, cara Bernadete.
Boas lembranças de uma São Paulo tão tranquila, que o guarda era mais uma figura folclórica. E que dureza, com os adolescentes: além
dos pais, tinham de driblar o guarda. Tais guardas ainda existem, mas não pôem mais plaquinhas. O da minha rua ainda apita, quando não dorme a bom dormir na sua guarita. É bom saber que está ali, mas se tiver perigo mesmo, deve ser o primeiro a dar nos calos! Abraços.

Soninha disse...

Olá, Bernadete!

Em nossa rua tinha o Sr. Francisco, guarda noturno que, depois de tantos anos trabalhando por lá, acabou virando da família....de todos os moradores.
Nas festas juninas, quando fazíamos fogueira e muita comilança, lá vinha ele, depois da primeira ronda, sentar-se conosco e saborear os quitutes.
Hoje, ainda temos os vigias das ruas, naõ é mesmo?! Motorizados e com sirenes sofisticadas, celulares, alarmes, códigos, etc...
Tiveram que segir a modernidade para não perderem seus empregos.
Há lugares onde os próprios "bandidos" vigiam as ruas, becos e bairros inteiros...infelizmente.
É o preço da urbanização sem planejamento e da injustiça e desigualdade sociais.
Mas, seu texto foi bem oportuno.
Adorei!
Mande-nos mais, tá?!
Obrigada.
Muita paz! Beijosssssss

Arthur Miranda disse...

Bons tempos, Bernadete, tenho até saudades daqueles guardas noturno. Hoje os vigilantes noturnos aqui de Lorena, passam rapidinho com suas motos de hora em hora a noite toda, ao passarem em frente as casas dos pamonhas que os contrataram acionam um alarme que acorda todo mundo da casa como também toda a vizinhança. E durma-se com um barulhos desses.
Acho até que para melhor servir a nossa comunidade nossos quardas noturno só trabalhassem de Dia. kkkk, rsrsrsrs Gostei da narrativa

Modesto disse...

Mesmo que não funcione, sabendo que eles estão lá fora, ACORDADOS, a gente dorme um pouco mais tranquilos. Uma madrugada, anos atraz, surpreendi um "guarda noturno" fugir quando eu saia de casa; ele pensou que eu fosse o ladrão.
Feliz recordação, Benadete, parabéns.

MLopomo disse...

Quando eu era pequeno em que a cidade não era tão violenta os guardas noturnos tinham uma placa que era colocada nas casas. Era uma placa azul marinho, de ferro que tinha um cachorro de orelha em pé. Nos anos 1960 essa mania de guarda noturno virou comercio. No Brooklin Vila Olímpia tinha o Pedro que virou guarda noturno. Não contente chamou outros amigos e emprezariava eles. Cobrava uma taxa dos moradores e ficava co 50% da arrecadação. Não se sabe até que horas eles fiavam. Hoje tem guarda de Moto, que fica apitando. E como tem muito roubo e assaltos,dizem que ele apitando avisa onde está para os ladrões roubarem em outro lugar. Quando o guarda esta naquele lugar onde ouve roubo os ladrões vão roubar onde ele tinha apitado. Ao final o produto do roubo é dividido.Trouxa quem paga. Mas enquanto você paga, viva o Guarda Noturno

MLopomo disse...

Quando eu era pequeno em que a cidade não era tão violenta os guardas noturnos tinham uma placa que era colocada nas casas. Era uma placa azul marinho, de ferro que tinha um cachorro de orelha em pé. Nos anos 1960 essa mania de guarda noturno virou comercio. No Brooklin Vila Olímpia tinha o Pedro que virou guarda noturno. Não contente chamou outros amigos e emprezariava eles. Cobrava uma taxa dos moradores e ficava co 50% da arrecadação. Não se sabe até que horas eles fiavam. Hoje tem guarda de Moto, que fica apitando. E como tem muito roubo e assaltos,dizem que ele apitando avisa onde está para os ladrões roubarem em outro lugar. Quando o guarda esta naquele lugar onde ouve roubo os ladrões vão roubar onde ele tinha apitado. Ao final o produto do roubo é dividido.Trouxa quem paga. Mas enquanto você paga, viva o Guarda Noturno

Zeca disse...

Bernadete!
Bons tempos aqueles, em que os guarda-noturnos não eram necessários para espantar ladrões, mas sim para vigiar nossas brincadeiras de adolescentes!
Hoje, infelizmente, muitos deles servem mais de informantes para quadrilhas que planejam seus roubos com requintes de detalhes.
Abraço.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Bernadete, felizmente no meu tempo não tinha um guarda-noturno na minha rua, eu podia namorar sossegado, bons tempos, abraços, Nelinho.