Anteontem, 26 de agosto 2010, depois de um longo e tenebroso inverno, fui convencido a entrar numa sala cinematográfica.
Eu, inveterado cinéfilo dos anos 60, há muito tinha deixado de frequentar os cinemas, onde, invariavelmente, o sono me abraçava e eu, sem qualquer esforço me entregava aos braços de Morfeu, chegando, frequentemente, a roncar e, por que não dizer, babar.
Alguns meses atrás, eu tinha feito uma experiência e confirmado com minha queda por dormir durante as projeções cinematográficas. O filme tinha um tema que muito me interessava, CHICO XAVIER, por isso mesmo, totalmente imbuído em me manter desperto, consegui a proeza de chegar até a primeira terça parte do espetáculo.
Novamente sai do cinema com a sensação de ter gastado uma verba inutilmente e ainda sujeito a ouvir poucas e boas da minha cara metade.
Pois muito bem, ontem anui em fazer nova tentativa. O filme, um documentário, me interessava muito. O título: “Uma noite em 67” deveria me trazer muitas sensações.
Entramos no cinema, Cine BomBril no Conjunto Nacional, tão meu conhecido de outrora, mais uma vez estranhei por termos comprado um pacotão de pipocas, nos meus áureos tempos o máximo que levava para dentro da sala de projeções era um “dropes” Dulcora (embrulhadinhos uma a um) e, ainda, corríamos o risco de sermos admoestados pelos vizinhos mais próximos por causa do barulhinho irritante do papel celofane. Hoje, para meu espanto, além das pipocas leva-se latas de refrigerante, garrafas de água etc e tal.
Lugares escolhidos quando da aquisição das entradas (outra novidade para mim), aguardamos apenas alguns minutos para o início da sessão.
Outra novidade, não mais surge na tela o Jornal do Primo Carbonari. Agora, apenas uns poucos slides de lojas da região são projetados no telão, substituindo de forma cabal a antiga cortina de anúncios que, nos meus tempos, escondia a tela.
Bem, vamos ao principal. O filme documentaria a noite de 21 de Outubro de 1967 e a finalíssima do 3º. Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record – Canal 7.
Ano de 1967 que, entre muitas coisas, registrava no dia 18 de Abril o meu casamento.
Eu, amante incondicional da MPB, vinha acompanhando todas as edições desses festivais e nesse, em especial, me colocava frontalmente contrário à invasão do rock, da guitarra e dos absurdos de alguns intérpretes.
O filme começou e foi mostrando tudo o que eu já havia assistido, ao vivo e a cores. A sensação era um misto de saudades, lembranças, torcidas, decepções e êxtase.
Os finalistas foram sendo apresentados, entremeados por declarações de quem havia, com eles, dividido o espetáculo.
Surgiram meus, na época, inimigos mortais, Gilbeto Gil, Caetano Veloso, Beat Boys, Os Mutantantes, Roberto Carlos. E meus heróis, Chico “o Buarque de Holanda”, MPB4, Edu Lobo, Marília Medalha (cantora de um único sucesso).
As músicas “Domingo no Parque” e “Alegria Alegria”, por mim execradas, e Maria Carnaval e Cinza, por mim quase desapercebida, ontem já mexeram com minhas emoções e me lembraram que, tempos depois, foram por mim aceitas e celebradas.
Finalmente, Chico com sua Roda Viva e Edu Maria Lobo Medalha com a campeã “Ponteio”, quase me levaram ao êxtase.
A visão de figuras proeminentes do cenário artístico da época tais como Randal Juliano, Cidinha Campos, Sérgio Cabral ( o pai do governador carioca), Zuza Homem de Melo, Paulo Machado de Carvalho Jr ( o filho do Marechal da Vitória) Sérgio Ricardo e seu violão voador, foram tão absurdamente marcantes que o filme chegou ao final sem que eu me desse conta e, pasmem, sem que eu pregasse, por pelo menos um pequeno minuto, as minhas pálpebras em sono conciliador.
Sai do cinema empolgado e na esperança de que venham a surgir novos documentários iguais a este e que me levem novamente aos cinemas de Sampa.
Por Miguel Chammas
Eu, inveterado cinéfilo dos anos 60, há muito tinha deixado de frequentar os cinemas, onde, invariavelmente, o sono me abraçava e eu, sem qualquer esforço me entregava aos braços de Morfeu, chegando, frequentemente, a roncar e, por que não dizer, babar.
Alguns meses atrás, eu tinha feito uma experiência e confirmado com minha queda por dormir durante as projeções cinematográficas. O filme tinha um tema que muito me interessava, CHICO XAVIER, por isso mesmo, totalmente imbuído em me manter desperto, consegui a proeza de chegar até a primeira terça parte do espetáculo.
Novamente sai do cinema com a sensação de ter gastado uma verba inutilmente e ainda sujeito a ouvir poucas e boas da minha cara metade.
Pois muito bem, ontem anui em fazer nova tentativa. O filme, um documentário, me interessava muito. O título: “Uma noite em 67” deveria me trazer muitas sensações.
Entramos no cinema, Cine BomBril no Conjunto Nacional, tão meu conhecido de outrora, mais uma vez estranhei por termos comprado um pacotão de pipocas, nos meus áureos tempos o máximo que levava para dentro da sala de projeções era um “dropes” Dulcora (embrulhadinhos uma a um) e, ainda, corríamos o risco de sermos admoestados pelos vizinhos mais próximos por causa do barulhinho irritante do papel celofane. Hoje, para meu espanto, além das pipocas leva-se latas de refrigerante, garrafas de água etc e tal.
Lugares escolhidos quando da aquisição das entradas (outra novidade para mim), aguardamos apenas alguns minutos para o início da sessão.
Outra novidade, não mais surge na tela o Jornal do Primo Carbonari. Agora, apenas uns poucos slides de lojas da região são projetados no telão, substituindo de forma cabal a antiga cortina de anúncios que, nos meus tempos, escondia a tela.
Bem, vamos ao principal. O filme documentaria a noite de 21 de Outubro de 1967 e a finalíssima do 3º. Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record – Canal 7.
Ano de 1967 que, entre muitas coisas, registrava no dia 18 de Abril o meu casamento.
Eu, amante incondicional da MPB, vinha acompanhando todas as edições desses festivais e nesse, em especial, me colocava frontalmente contrário à invasão do rock, da guitarra e dos absurdos de alguns intérpretes.
O filme começou e foi mostrando tudo o que eu já havia assistido, ao vivo e a cores. A sensação era um misto de saudades, lembranças, torcidas, decepções e êxtase.
Os finalistas foram sendo apresentados, entremeados por declarações de quem havia, com eles, dividido o espetáculo.
Surgiram meus, na época, inimigos mortais, Gilbeto Gil, Caetano Veloso, Beat Boys, Os Mutantantes, Roberto Carlos. E meus heróis, Chico “o Buarque de Holanda”, MPB4, Edu Lobo, Marília Medalha (cantora de um único sucesso).
As músicas “Domingo no Parque” e “Alegria Alegria”, por mim execradas, e Maria Carnaval e Cinza, por mim quase desapercebida, ontem já mexeram com minhas emoções e me lembraram que, tempos depois, foram por mim aceitas e celebradas.
Finalmente, Chico com sua Roda Viva e Edu Maria Lobo Medalha com a campeã “Ponteio”, quase me levaram ao êxtase.
A visão de figuras proeminentes do cenário artístico da época tais como Randal Juliano, Cidinha Campos, Sérgio Cabral ( o pai do governador carioca), Zuza Homem de Melo, Paulo Machado de Carvalho Jr ( o filho do Marechal da Vitória) Sérgio Ricardo e seu violão voador, foram tão absurdamente marcantes que o filme chegou ao final sem que eu me desse conta e, pasmem, sem que eu pregasse, por pelo menos um pequeno minuto, as minhas pálpebras em sono conciliador.
Sai do cinema empolgado e na esperança de que venham a surgir novos documentários iguais a este e que me levem novamente aos cinemas de Sampa.
Por Miguel Chammas
10 comentários:
Miguel, que saudades tenho desse tempo, quando os programas eram ao vivo, e sem esses horríveis cortes em clipes, onde você fica impossibilitado de acompanhar o desempenho do artista em cena, você vê tudo menos o que interessa; que é o artista.
Parabéns por reviver essa pagina de ouro dos musicais da Televisão brasileira, das quais jamais esqueceremos, e que pelo jeito jamais se repetirão infelizmente.
Miguel, felizmente não sou picado pela mosca tsé-tsé durante filmes, então continuo cinéfilo inveterado. Também assisti este filme, do qual tinha ótimas referências, e é mesmo sensacional. Um periodo de quando ainda era jovem, e como diz a música, com a cabeça cheia de problemas...bom, ainda cá estão, mas um filme como esse, que nos retorna a décadas atrás, numa das últimas fases de ouro de nossa música, dissolve bastante tais preocupações. Abraços.
Ah, my friend, se vc quer ver mais documentários de musicais sensacionais, pegue em vídeo "Vinícius de Morais". Vi-o no cinema e tenho o filme em casa, e de vez em quando revejo, para deliciar-me com as belas músicas e importantes depoimentos sobre o poeta. Abraços.
Ah, my friend, se vc quer ver mais documentários de musicais sensacionais, pegue em vídeo "Vinícius de Morais". Vi-o no cinema e tenho o filme em casa, e de vez em quando revejo, para deliciar-me com as belas músicas e importantes depoimentos sobre o poeta. Abraços.
Miguel,
só posso agradecer pela bela crônica que me trouxe à lembrança tão belos e saudosos tempos, com tantas pessoas de grande importância no cenário artístico brasileiro que passava por uma fase duríssima da ditadura, gerando, assim, uma fase de ouro para a criatividade dos artistas envolvidos. Hoje, não existe motivo para a reedição desses saudosos festivais; as músicas curtidas atualmente vão dos sertanejos-rock-pop-românticos aos funkeiros, passando pelos raps e outras "coisas" que não consigo engolir...
Grande abraço.
Miguel,
só posso agradecer pela bela crônica que me trouxe à lembrança tão belos e saudosos tempos, com tantas pessoas de grande importância no cenário artístico brasileiro que passava por uma fase duríssima da ditadura, gerando, assim, uma fase de ouro para a criatividade dos artistas envolvidos. Hoje, não existe motivo para a reedição desses saudosos festivais; as músicas curtidas atualmente vão dos sertanejos-rock-pop-românticos aos funkeiros, passando pelos raps e outras "coisas" que não consigo engolir...
Grande abraço.
Olá, amor!
Foi uma noite memorável, com certeza!
Adorei tudo...o filme documentário, o cinema, a pipoca e, principalmente, a companhia.
Quero mais!
Valeu!
Muita paz! beijosssssss
Que a paz e a permanência em sua memória destes eventos sejam eternos pra, de vez em quando, a gente se deliciar com estas recordações. Parabéns, Migueluccio.
PS - Ontem a noite fui a última noite da festa de N.S. Aqueropita, no Bixiga. Agora, só no ano que vem.
Habib. Tudo isso é verdade. Cinema, hoje, é sinônimo de 'pic-nic', de tanta 'tralha' que leva. Só falta passar uma carrocinha de 'cachorro-quente' e nos dias de muito calor, termos a velha 'raspadinha' - rsrsss.
Vou esperar, aqui na Bahia, que este espetáculo saia em DVD pois, cinema, aqui no sertão, só as noites estreladas.
Miguel, festivais no antigo canal 7, que pena que já não se repetem, saudades também do velho Dulcora sabor de menta, abraços, Nelinho.
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