1959 eleição para vereador

O calendário eleitoral marcava para o ano de 1959, eleições para vereador no dia 4 de outubro, uma eleição desvinculada da eleição para prefeito que seria para o ano de 1961. Naquelas eleições, eu fui trabalhar para a candidatura de Milton Peruzzi, um radialista esportivo que, na época, trabalhava nas Rádio e TV Tupi. Tinha, também, uma coluna no jornal A Gazeta Esportiva denominado “O periscópio”.
Milton fazia uma campanha verde e branco, já que todos sabiam que ele era palmeirense roxo. Na campanha, eu estava junto aos irmãos Rivetti, meus amigos da Vila Olímpia, também palmeirenses como Peruzzi e eu. Milton Peruzzi estava com seus 40 anos e recém casado, dizia ele que sua esposa dona Cecília já estava reclamando que ele estava mais na rua do que em casa, sendo que, ele como jornalista, já tinha essa vida, mas, como um futuro político, já estava se esquecendo que tinha casa.
Peruzzi tinha um jeito de prepotente, falava alto parecia que gritava, mas era o seu jeitão. Jeito de italiano nato. Eu, Flávio e Hugo, os irmãos Rivetti, fazíamos o trabalho na zona Sul, que era nosso reduto. Tanto eu como eles, conhecíamos bem o Itaim, Vila Nova Conceição, Vila Olímpia e Brooklin, pois desde garotos morávamos naquele pedaço.
Lá no Brooklin Rua Geórgia, morava também o radialista eclético Aurélio Campos, que era locutor esportivo da Rádio Tupi e, posteriormente, apresentador da TV Tupi, com o programa “O Céu é o Limite”, programa de perguntas e respostas. Aproveitei para levar as cédulas e os “santinhos” do Milton.
Eu trabalhava juntamente com os irmãos Rivetti, Hugo e Flávio, como representante do candidato nos bairros de Vila Olímpia e Itaim Bibi e Vila Nova Conceição.
Faltando uns quinze dias para a eleição, começou a aparecer uma pichação no asfalto, dizendo: Para vereador, vote em CACARÉCO.
Cacareco era um Rinoceronte vindo do Zoo carioca e era a sensação do nosso zoológico, inaugurado nove anos antes. Não se levou muito em consideração e não se ouvia falar nada a respeito daquelas pichações e nenhuma manifestação a respeito. Mas era o voto de protesto que o povo estava pedindo para punir os políticos que aqui em São Paulo não compareciam às seções da Câmara e não davam a mínima atenção aos reclamos da sociedade. Tinha até quem dizia: - Afinal, para que vereadores se eles não fazem nada em prol da cidade que está abandonada?
A eleição estava marcada para o domingo 4 de outubro e o trabalho era já estafante, tendo que levar panfletos e cédulas para todos os cantos da zona Sul, que fazíamos a pé pelas ruas da Vila Olímpia e, também, de bicicleta. Mas, no sábado, véspera da eleição combinamos um descanso porque o nosso Palmeiras ia jogar na Vila Belmiro contra o Santos pelo primeiro turno do campeonato paulista.
Com certeza até o nosso candidato estaria de olho na TV para ver os pupilos de Osvaldo Brandão barrar a equipe de Pelé e companhia. Arrependemos amargamente, em dar aquela parada no trabalho para ver aquele jogo que o Santos deu uma tremenda sova no Palmeiras de 7 a 3.
No dia seguinte com a cabeça inchada lá fomos nós à batalha, distribuir cédulas nos locais de votação. Podíamos, com a licença do presidente da mesa, colocar cédulas nas cabines indevassáveis. O meu local de votação era o Grupo Escolar Mário de Andrade, Rua Joaquim Nabuco, Brooklin, onde aproveitei para ir a todas as seções e abastecer as cabines de cédulas.
Com aquela educação “meia boca” adentrava na sala e perguntava: - Senhor presidente, permite colocar cédulas do meu candidato na cabine?
- Quem é o seu candidato?
- Milton Peruzzi do PSP!
- Ah, o Peruzzi? Eu o conheço, mande um grande abraço a ele!
Quando começou a apuração foi que se viu a grande zebra daquele pleito. Cacareco teve quase 50 mil votos. E, dos votos válidos, o mais votado foi Manuel de Figueiredo Ferraz, com 5 mil votos, aproximadamente.
Por legenda o PSP foi o partido mais votado, tendo ele recebido 42.518 votos, com seu filiado Manuel de Figueiredo Ferraz recebido 4.417 votos sendo o vereador mais votado, depois veio no partido Wilian Salen 3.592 e Aurelino de Andrade 3.487—PDC- teve 36.143 votos, o mais votado Valério Giulli 4.131—PSD-3 0.135, Ruth Guimarães, 2.233 votos e Luís Domingues de Castro, 2.005—PTB, recebeu-29.818, Rio Branco Paranhos, 3.022 votos—UDN-29.465, Homero Silva, 4.059 votos, --PTN – 27.262, Tarcilio Bernardo, 3.338

Por Mário Lopomo