Como diziam nas escolas de antigamente, descrição à vista da gravura.
E exibiam grandes e coloridas gravuras- onde terão ido? - Com cenas campestres, paisagens cheias de animais e flores. Neste caso, não é gravura. Uma velha foto, enviada por um tio, já falecido. Ficou inesquecível; um marco numa época de poucas câmeras e raras fotos.
Também, muitas pessoas, aí retratadas, já se foram e só faltaria a cópia estar amarelecida, para dar o devido toque nostálgico. Seria muito justo.
Mas, não está. Todas as figuras bem nítidas, bem como a memória daquele momento mágico, perdido no passado. Local: casa de minha Tia Zilda, na Rua Albuquerque Lins, defronte ao Cine São Pedro. Era Natal, a grande data do encontro da família Simões.
Muitos parentes vinham de outras cidades, como no nosso caso. Na época, Tietê, onde meu pai administrava uma fazenda experimental. Era quase uma obrigação, data oficial no calendário da vasta família. Uma emoção entrar na velha casa, sentindo o agudo cheiro do pinheiro, de bom tamanho, já montado e enfeitado na sala da frente.
A casa não era grande, mas, como continha tanta gente? O que se comia na festa? Não lembro bem, mas talvez leitão assado, farofa, saladas, panetone e as inevitáveis frutas secas.
Abria-se cerveja, refrigerantes e por fim, o espocar do champanhe. Peru, hoje encontrado em qualquer padaria, era coisa para milionário, naqueles tempos.
A grande mesa era montada na sala de jantar que, durante os dias normais, era usada para as aulas extras de minha tia, professora da Caetano de Campos. E os presentes? Existiam? Eram distribuídos ali, para tanta gente? Parece complicado.
-Mas, você falou e falou. Cadê a descrição? Bem, vamos lá.
O grande grupo ocupa toda a sala, vê-se ainda ao fundo uma chapeleira e um quadro metálico da Santa Ceia. Ao fundo, a partir da esquerda estão meus pais e os tios mais altos.
Nas fileiras mais à frente, minhas tias, os tios mais baixos. Ao centro, minha avó com seu semblante severo, perfil de uma Sioux, a grande dama da festa tradicional. Teria mais de setenta anos e viveria até os noventa e quatro.
Na linha de frente, sentados, os baixinhos do pedaço; Tio Amador, do Rio de Janeiro, meus primos pequenos, meu irmão e, bem ao centro, estou eu, vestindo absurdo paletó, apesar da pouca idade. Todos olham para a câmera, operada pelo Tio Rafael, o único ausente do instantâneo.
Mas, fazem mais que isto: olham para o futuro. Para os Natais que ainda viriam; para o mistério insondável do não acontecido...
Vejo, como num espelho distorcido, a imagem do jovem Luiz, que olha diretamente para mim e pergunta o que fiz da minha vida, se consegui conduzir-me bem, através de tantos descaminhos.
Bem ou mal, meu caro rapaz, não sei definir precisamente. Sou um sobrevivente, atravessei muitos outros Natais, e espero resistir a mais alguns. Mas, alguns nos marcam para toda vida, e este foi o caso daquele Natal de 52, eternizado em preto e branco.
Por Luiz Saidenberg
E exibiam grandes e coloridas gravuras- onde terão ido? - Com cenas campestres, paisagens cheias de animais e flores. Neste caso, não é gravura. Uma velha foto, enviada por um tio, já falecido. Ficou inesquecível; um marco numa época de poucas câmeras e raras fotos.
Também, muitas pessoas, aí retratadas, já se foram e só faltaria a cópia estar amarelecida, para dar o devido toque nostálgico. Seria muito justo.
Mas, não está. Todas as figuras bem nítidas, bem como a memória daquele momento mágico, perdido no passado. Local: casa de minha Tia Zilda, na Rua Albuquerque Lins, defronte ao Cine São Pedro. Era Natal, a grande data do encontro da família Simões.
Muitos parentes vinham de outras cidades, como no nosso caso. Na época, Tietê, onde meu pai administrava uma fazenda experimental. Era quase uma obrigação, data oficial no calendário da vasta família. Uma emoção entrar na velha casa, sentindo o agudo cheiro do pinheiro, de bom tamanho, já montado e enfeitado na sala da frente.
A casa não era grande, mas, como continha tanta gente? O que se comia na festa? Não lembro bem, mas talvez leitão assado, farofa, saladas, panetone e as inevitáveis frutas secas.
Abria-se cerveja, refrigerantes e por fim, o espocar do champanhe. Peru, hoje encontrado em qualquer padaria, era coisa para milionário, naqueles tempos.
A grande mesa era montada na sala de jantar que, durante os dias normais, era usada para as aulas extras de minha tia, professora da Caetano de Campos. E os presentes? Existiam? Eram distribuídos ali, para tanta gente? Parece complicado.
-Mas, você falou e falou. Cadê a descrição? Bem, vamos lá.
O grande grupo ocupa toda a sala, vê-se ainda ao fundo uma chapeleira e um quadro metálico da Santa Ceia. Ao fundo, a partir da esquerda estão meus pais e os tios mais altos.
Nas fileiras mais à frente, minhas tias, os tios mais baixos. Ao centro, minha avó com seu semblante severo, perfil de uma Sioux, a grande dama da festa tradicional. Teria mais de setenta anos e viveria até os noventa e quatro.
Na linha de frente, sentados, os baixinhos do pedaço; Tio Amador, do Rio de Janeiro, meus primos pequenos, meu irmão e, bem ao centro, estou eu, vestindo absurdo paletó, apesar da pouca idade. Todos olham para a câmera, operada pelo Tio Rafael, o único ausente do instantâneo.
Mas, fazem mais que isto: olham para o futuro. Para os Natais que ainda viriam; para o mistério insondável do não acontecido...
Vejo, como num espelho distorcido, a imagem do jovem Luiz, que olha diretamente para mim e pergunta o que fiz da minha vida, se consegui conduzir-me bem, através de tantos descaminhos.
Bem ou mal, meu caro rapaz, não sei definir precisamente. Sou um sobrevivente, atravessei muitos outros Natais, e espero resistir a mais alguns. Mas, alguns nos marcam para toda vida, e este foi o caso daquele Natal de 52, eternizado em preto e branco.
Por Luiz Saidenberg
11 comentários:
Luiz, quantas recordações uma pequena foto pode nos trazer.
Nessa foto além do registro daquele momento ficou gravada aternura de toda uma familia emsua reunião natalina.
Valeu muito te ler. Feliz Natal!
Luiz, quantas recordações uma pequena foto pode nos trazer.
Nessa foto além do registro daquele momento ficou gravada aternura de toda uma familia emsua reunião natalina.
Valeu muito te ler. Feliz Natal!
Olá, Luiz!
Poxa! Que legal lembrar das redações descitivas que as professoras aplicavam...colocavam as gravuras e tínhamos que descrever...nossa! Há quanto tempo!
Muito bacana sua lembrança.
Afoto da família reunida...muito legal também. Nossa família também tinha o hábito de se reunir e a foto com todos reunidos era obrigatória.
Dá uma saudade, né?!
Valeu, Luiz!
Feliz Natal! Boas Festas!
Muita paz!
OPs...
Em tempo:
Eu quis dizer descritivas. Perdoe-me.
Muita paz!
Saidenberg, nada como uma foto para nos trazer belas recordações.
Minha família também era grande assim. Talvez alguém tenha retratado,mas a foto,deve estar guardada numa velha caixa no fundo de alguma gaveta.
Então,vou de carona na sua foto, para recordar reuniões natalinas, realizadas em lá em casa nos anos 50/60.
Um feliz Natal para você e sua família. Um beijo especial na sua Marcia, que é sempre tão carinhosa e gentil comigo.
Bernadete
Feliz Natal tb para vc e família, Bernadete, e a Márcia retribui o beijo. Que Deus abençõe o lar de todos, no ano que se encerra.
Saidenberg.
É muito bom ter uma foto, para recordar, dos Natais de sua juventude, Infelizmente não tínhamos câmeras fotográficas em nossa casa, por essa razão são raras as fotos de minha família. Fotos só quando recebíamos visitas dos raros parentes possuidores de câmeras, e que depois mandavam uma cópia pra gente pelo correio, ou traziam nas visitas futuras. Mas bem que eu gostaria de possuir hoje em dia umas fotos de meus tios, primos e primas ainda meninos. Adorei sua historia que me deixou morrendo de saudades, do Natal e do ano de 1952,que como todos sabem foi o ano que meu Corinthians foi Campeão e sua linha de ataque fez 104 e quatro gols no campeonato, houve um festival de charutos acesos em São Paulo.
Luiz,
feliz idéia a sua, de a partir de uma foto da família reunida na festa de Natal, lembrar das redações descritivas que fazíamos no velho Grupo Escolar! Acho que foi a partir daí que comecei a pegar o gosto de escrever...
Mas o assunto de hoje é o Natal, que se aproxima a passos rápidos e nos traz as lembranças dos antigos Natais, aqueles de quando éramos crianças e ainda tínhamos a inocência que o tempo se incumbiria de nos tomar, muitas vezes a duras penas.
Eu não tenho fotos dessas reuniões familiares, embora todos os Natais da minha infância fossem comemorados na casa dos meus pais. Na verdade, os meus familiares nunca se preocuparam em registrar os bons momentos que tivemos, o que é uma pena, pois hoje eu bem que gostaria de possuir fotos como essa sua para lembrar e matar as saudades dos parentes que já estão em outro plano, e também de alguns que "sumiram pelo mundo".
Um felicíssimo Natal para você e para toda a sua família.
Abração.
Beleza Saidenberg!Fotos antigas nos transportam através do espelho. E é sempre bom viajar ao passado, aos antigos Natais; rever os que partiram; sentir os sabores, os perfumes. E escutar as vozes dos que partiram e vez ou outra a nossa própria voz nos perguntando coisas.
É assim que reinventamos a nós mesmos.
Abração,
Natale
Luiz, numa foto em PB, cada figurante traz recordações inesquecíveis. Cada um deles reserva uma história que vc, conhecedor de todos eles, pode lembrar casos alegres, tristes mas, sempre presentes por causa de uma foto. Texto como sempre acontecer, maravilhoso. Parabéns, Saidenberg.
Modsto
Muitíssimo obrigado. É verdade, nessa época as câmeras, hoje tão banalizadas, eram raridades...por isso tão poucas fotos dos velhos Natais. Creio que vi uma outra, tb PxB, com meu irmão vestido de Papai Noel, nessa mesma sala, mas noutro ano. Não lembro onde foi...uma hora descubro. Um magnífico Natal e um Ano Novo só de alegrias para todos !
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