segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Memórias do Natal

Conforme já contei em outras memórias, meus natais foram sempre rodeados de parentes e amigos.
Quando solteiro, por meus familiares, e depois de casado, pelos familiares da minha ex
posa; Aí surge a minha primeira grande dúvida: não sei se eu os adotei, ou se a família me adotou. Depois de muito meditar, cheguei à conclusão que foram ambas as opções conjuntamente juntas que aconteceram.
Muito bem, vamos ao que mais interessa. Os Natais eram sempre comemorados na minha casa e eu morava na Rua das Perobas – no Jabaquara. Eram festas dignas de registro, pois começavam na véspera do dia 24 de Dezembro e varavam a madrugada; seguiam por todo o dia 25 e, em alguns casos, seguiram até o dia 1º de Janeiro do ano seguinte, comemorando no meio dessas duas festas o aniversário do Durval, no dia 27 de Dezembro.
O legal é que, enquanto tivesse música, comida e bebida, ninguém arredava pé. Eram velhos, jovens e crianças, totalmente irmanados e dispostos a festejar e congratular todas essas datas.
Na noite do dia 24, depois da meia noite eu, devidamente paramentado de Papai Noel, entrava triunfante, com meu Ho Ho Ho estrondoso, tomava assento ao lado dos pacotes de presentes e começava a distribuí-los, um a um, para alegria de todos.
Essa operação levava, no mínimo, duas horas. Depois dos presentes distribuídos, dos muitos “ah” e “obas” exclamados, depois de juntados os presentes de cada um, começava a comilança e a beberança, e tinha que ter boca para aguentar.
Num dia 25, já no final da tarde, aconteceu um caso curioso que, de tão peculiar, será o ponto central deste relato. Vamos a ele:

Um dos tios da Cida, o Tio Dito, casado com a Tia Anésia, exímio enxadrista e ex corredor de antigas São Silvestres, chegou-se até onde eu estava e me disse: - Migué, aquele risoto está uma delícia!
Estranhando o comentário e sabendo toda a sorte de comidas que haviam sido servidas de imediato perguntei: - Que risoto, Tio Dito? Não foi servido nenhum risoto na ceia ou no almoço.
E ele retrucou; - então você estava escondendo para consumo em outra hora, pois estava numa panela em cima do fogão, estava ainda quentinho, eu me servi e comi.
Ainda duvidando chamei a Cida e perguntei: O tio Dito está afirmando que comeu risoto, que risoto era esse?
Ela, fazendo ar admiração, me disse: - Risoto? Não tínhamos qualquer tipo de risoto. E mais admirada ainda, colocando uma das mãos sobre a boca sussurrou: Ah meu Deus, ele comeu a comida da Laika (minha cadela da raça perdigueiro) que eu tinha acabado de fazer e estava esperando esfriar um pouco para dar a ela.
Essa comida, na realidade parecia com um risoto, era feita com arroz quebrado (próprio para cachorro, ração de carne e ossos de frango preparada pelo Frigorífico Torres, nosso vizinho, um pouco de batatas, vagens e cenouras cortadas em pequenos cubos.

Não aguentei, cai na gargalhada, chamei todos os primos para perto do Tio Dito, contei o ocorrido; a gargalhada foi geral, inclusive dele que, para arrematar, olhou para todos e disse: Pois é, tá provado que o que não mata, engorda e mais, o que os olhos não vêem o coração não sente, muito menos a boca e estômago...
Na verdade, não havia Natal que um fato curioso não ocorresse e passasse para os anais da nossa família.
Hoje essas lembranças são reverenciadas e alegram nossas reuniões.

Por Miguel Chammas

7 comentários:

Zeca disse...

Pois é, velhamigo do peito!

Como você bem disse no final, e creio que isso se aplica à maioria de nós, "não havia Natal que um fato curioso não ocorresse e passasse para os anais da família."

Parabéns pela sua crônica, mais uma deliciosa de se ler, como todas as que você escreve, desde que me lembro, há tantos anos! É sempre um presente de Natal ler um dos seus saborosos textos! E neles você nem precisa vestir-se de Papai Noel e dizer "Oh-Oh-Oh"!

Feliz Natal a você e a todos os seus!

Abração.

Arthur Miranda disse...

Bela historia Miguel. Bons tempos e é muito bom recorda-los atraves do seu talento para descreve-las. E quem é esse Dorval que faz aniversário, no mesmo dia 27 que faço eu. Gostaria de parabeniza-lo.

Luiz Saidenberg disse...

Belo "causo", Miguel. Está vendo? Vc não perdeu seu bom humor para com Natais avassaladores. E tem gente que tem estômago de avestruz: o que aparecer, ele traça! Feliz Natal a você e à Sonia!

Wilson Natale disse...

Diz o velho "deitado" que Festas só podem terminar de duas maneiras: Alegria ou pancadaria.(risos)
O mesmo aconteceu comigo e meus primos na chácara dos meus tios, em Rio Claro. Famintos, nos deliciamos com a comida dos Perdigueiros achando que era Arroz à Grega.Ahahahaaaa!
E as festas de fim de ano sempre deixam muitas e inesquecíveis lembranças. E, dos Natais vividos, as lembranças abarrotam, não um, mas vários baús.
Adorei!
Abração,
Natale

Soninha disse...

Olá,amor!

Isso que dá! Aos apressadinhos e esfomeados que não tem paciência de esperar, comem o que nem sabem o que é...
Mas, foi engraçado, com certeza.
Valeu!
Obrigada.
Muita paz! Beijossssssss

Unknown disse...

Miguel, como disse a Soninha,esse tio glutão e apressadinho,comeu o que não devia. Mas fiquei mesmo é preocupada com Laika,que ficou sem sua ração....rssrsrsr..
Feliz Natal e um 2011 com muita saúde.

Modesto disse...

Miguel, isso provou o amor que tinham pela cadelinha e seu tio Dito, conheceu, em parte o que vem a ser vida de cachorro. Se ele gostou, tanto melhor, sem ressentimentos, o que alegra mais o Natal. Por falar de Natal, meus votos de um Feliz e Santo dia de N.S.Jesus Cristo.
Modesto