Eu queria uma casinha de boneca... Como queria! Passava ali, na Sears, para vê-la, em sua glória de telhados vermelhos, janelinhas com floreiras, terracinho e portas que abriam e fechavam. Não existia, no mundo todo, uma casinha mais linda.
Escrevi ao Papai Noel, explicando bem porque eu merecia ganhar aquela beleza: Tomaria bem conta da casinha, seria a menina mais feliz do mundo, tinha boas notas (mas não mencionei a matemática), dividiria os brinquedos com o meu irmãozinho Beto. Coloquei a carta em cima da mesinha, para o meu pai colocar no correio para o Papai Noel. E fiquei esperando o Natal.
“A carta foi, pai?” eu perguntava todo o dia. Meu pai trabalhava na Rua 24 de Maio, num registro de Imóveis. Eu achava que ele havia levado a carta ao correio central, onde na minha imaginação havia uma caixa especial para ser levada ao Pólo Norte. Na véspera do Natal, fazíamos uma ceia muito bonita aos meus olhos de criança, a toalha era sempre especial.
Os comes e bebes eram diferentes de tudo o que comíamos no resto do ano: nozes, para serem quebradas com martelinho, avelãs que todos desistiam de comer por pularem para o chão, maionese, frango, uma raridade em nossa casa, só visto no Natal. E o panetone, que ainda é nossa tradição, claro, não podia faltar.
O cheiro de panetone me leva direto para aqueles anos e aquelas mesas fartas da minha família. Primeiro íamos à igreja, depois a Ceia era servida e íamos cedo para a cama para chegar logo a manhã de Natal. Só que, neste ano, as coisas foram diferentes. No silêncio do meu quarto, no meio da noite, ouvi passos descendo a escada. Papai Noel? Não tive dúvidas e me escondi atrás da porta para poder em seguida sair dali e descer as escadas atrás dele.
Fui bem devagarinho, as escadas de pedra não faziam ruído. A escada estava às escuras e dali podia ver a árvore de Natal e alguém atrás dela, abrindo uma caixa. Encolhi-me no meu cantinho e ali fiquei, sentindo uma emoção enorme de poder, sem dúvida, ver Papai Noel.
Alguém abriu a caixa e dali tirou várias coisas. Não podia ver o que era. Havia, porém, uma luzinha vinda da cozinha que sem dúvida Papai Noel acendera para poder ver o que estava fazendo. Mas o que ele estava fazendo?
Fiquei ali, morrendo de sono, mas vi tudo. Como o Papai Noel, de pijama listradinho, juntou as paredes da minha casinha, lendo, à luz de uma lanterna, às instruções. Como ele colocou o telhado, com dificuldade, sem querer fazer barulho. Como ele arranjou a casinha embaixo da árvore, prontinha. Levou muito tempo, acho que ele só não desistiu e foi embora para o Pólo Norte porque não era Papai Noel nenhum, era o meu papai.
Corri para o quarto. Papai Noel não existe. Meu pai colocou a casinha embaixo da árvore. Papai Noel não veio de trenó do Pólo Norte pela janela e trouxe a casinha que eu pedi a ele. Foi meu pai. E senti uma onda de amor pelo pai que eu tinha e ainda tenho, que do seu salário tão pequeno comprou aquela casinha de boneca, a mais linda da Sears. E ainda por cima passou todo aquele tempo acordado para deixá-la prontinha para mim.
Dia de Natal. Que festa! Tínhamos poucos pacotes, mas era tanta alegria. Tudo muito simples, mas que alegria! A casinha era a coisa mais linda do mundo mesmo, e com ela brinquei por muitos anos, até que ficou bem velhinha e foi para o céu das casinhas.
Abracei meu pai com mais força naquele Natal.
Por Lygia Martins de Souza
Escrevi ao Papai Noel, explicando bem porque eu merecia ganhar aquela beleza: Tomaria bem conta da casinha, seria a menina mais feliz do mundo, tinha boas notas (mas não mencionei a matemática), dividiria os brinquedos com o meu irmãozinho Beto. Coloquei a carta em cima da mesinha, para o meu pai colocar no correio para o Papai Noel. E fiquei esperando o Natal.
“A carta foi, pai?” eu perguntava todo o dia. Meu pai trabalhava na Rua 24 de Maio, num registro de Imóveis. Eu achava que ele havia levado a carta ao correio central, onde na minha imaginação havia uma caixa especial para ser levada ao Pólo Norte. Na véspera do Natal, fazíamos uma ceia muito bonita aos meus olhos de criança, a toalha era sempre especial.
Os comes e bebes eram diferentes de tudo o que comíamos no resto do ano: nozes, para serem quebradas com martelinho, avelãs que todos desistiam de comer por pularem para o chão, maionese, frango, uma raridade em nossa casa, só visto no Natal. E o panetone, que ainda é nossa tradição, claro, não podia faltar.
O cheiro de panetone me leva direto para aqueles anos e aquelas mesas fartas da minha família. Primeiro íamos à igreja, depois a Ceia era servida e íamos cedo para a cama para chegar logo a manhã de Natal. Só que, neste ano, as coisas foram diferentes. No silêncio do meu quarto, no meio da noite, ouvi passos descendo a escada. Papai Noel? Não tive dúvidas e me escondi atrás da porta para poder em seguida sair dali e descer as escadas atrás dele.
Fui bem devagarinho, as escadas de pedra não faziam ruído. A escada estava às escuras e dali podia ver a árvore de Natal e alguém atrás dela, abrindo uma caixa. Encolhi-me no meu cantinho e ali fiquei, sentindo uma emoção enorme de poder, sem dúvida, ver Papai Noel.
Alguém abriu a caixa e dali tirou várias coisas. Não podia ver o que era. Havia, porém, uma luzinha vinda da cozinha que sem dúvida Papai Noel acendera para poder ver o que estava fazendo. Mas o que ele estava fazendo?
Fiquei ali, morrendo de sono, mas vi tudo. Como o Papai Noel, de pijama listradinho, juntou as paredes da minha casinha, lendo, à luz de uma lanterna, às instruções. Como ele colocou o telhado, com dificuldade, sem querer fazer barulho. Como ele arranjou a casinha embaixo da árvore, prontinha. Levou muito tempo, acho que ele só não desistiu e foi embora para o Pólo Norte porque não era Papai Noel nenhum, era o meu papai.
Corri para o quarto. Papai Noel não existe. Meu pai colocou a casinha embaixo da árvore. Papai Noel não veio de trenó do Pólo Norte pela janela e trouxe a casinha que eu pedi a ele. Foi meu pai. E senti uma onda de amor pelo pai que eu tinha e ainda tenho, que do seu salário tão pequeno comprou aquela casinha de boneca, a mais linda da Sears. E ainda por cima passou todo aquele tempo acordado para deixá-la prontinha para mim.
Dia de Natal. Que festa! Tínhamos poucos pacotes, mas era tanta alegria. Tudo muito simples, mas que alegria! A casinha era a coisa mais linda do mundo mesmo, e com ela brinquei por muitos anos, até que ficou bem velhinha e foi para o céu das casinhas.
Abracei meu pai com mais força naquele Natal.
Por Lygia Martins de Souza
4 comentários:
Lygia,gostei muito do teu texto! E nada é mais maravilhoso e surpreendente do que descobrir que o Papai Noel é o nosso Pai. O que vale dizer que Papai Noel estará sempre conosco.
Um Natal Feliz e cheio de alegrias. E um Ano Novo com muita Paz e realizações.
Abraços,
Natale
Olá, Lygia!
É tão maravilhoso quando percebemos que Papai Noel existe sim e que ele é nosso pai, mais verdadeiro que nunca.
Você foi feliz em ver seu pai querido colocar com tanto cuidado seu presente de Natal e poder vivenciar dias felizes e de muita paz em seu lar.
Valeu, Lygia.
Obrigada.
Muita paz!
Feliz Natal.
Estes momentos tão singelos, cheios de amor nos faz ter a certeza absoluta de que Papai Noel existe. Ele estava "fantaziado" de seu pai e vc, naturalmente, se já amava seu pai, passou a ama-lo mais ainda. Pra isso é que existe PN, revigora o amor sem exijir nada. Parabéns pela narrativa, Lygia.
Tenha um Santo e Feliz Natal e Ano Novo pleno de felicidade.
Modesto
Que lindo,Lygia!
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