O Natal está às nossas portas... É uma data de festa cristã onde o centro de atividades é a família.
Festeja-se, simbolicamente, o nascimento de Cristo.
Montam-se presépios e pinheiros ornamentais, trocam-se presentes, come-se e bebe-se em harmonia e sem preocupações com abusos.
Com este rabiscador de textos tudo isso também acontecia. Na véspera de Natal eu me reunia com todos os parentes (mais ou menos 30) e fazia uma festança de
arromba, com direito a me fantasiar de Papai Noel e distribuir os presentes que estavam colocados ao pé da Árvore de Natal, anunciando cada um dos presenteados, todos membros da família de dona Cida e que, com total reciprocidade, nós havíamos adotado, formando uma fantástica família.
Esta tradição caminha comigo por mais de 40 anos e, mesmo depois que me separei de dona Cida, ela vem se realizando a cada 24 de dezembro.
Há 10 anos, já separado e morando aqui na praia, trouxe para viver comigo a velhinha que num dia 26 de maio me trouxe ao mundo.
Em 24 de Dezembro de 1999, ela já bem caidinha nos seus 82 anos de vida e sofrimento, ficou sabendo que eu iria para São Paulo passar o Natal com toda a família, ela ficaria em casa e passaria a data com meu irmão e meu sobrinho.
Já pronto para viajar, fui ter com ela, que estava deitada, para me despedir. Meu peito abrigava um coração apertado e eu levava um nó amargo na garganta. Mesmo assim, para não contrariar o meu modo de ser, brinquei e disse a ela que não queria meu presente ainda, que só iria recebê-lo quando do meu retorno.
Ela ouviu, deu um pequeno sorriso, mas nada disse. Estava saindo do quarto quando ela me chamou, olhou bem firme e pediu que eu desse um beijo por ela nos meus filhos e na dona Cida.
Prometi que assim faria, abracei meu irmão e meu sobrinho e saí quase correndo, como se quisesse fugir do inevitável.
A noite transcorreu como previsto, estávamos reunidos na casa de uma tia da minha ex esposa na Freguesia do Ó.
Todas as tradições foram cumpridas, inclusive a de não dormir para não “sofrer” as brincadeiras de sempre.
Depois do almoço, nos sentamos à mesa, nos fundos da casa, para as famosas partidas de caxeta. O jogo ia a pleno desenvolvimento, quando ouvi o tilintar do telefone e senti um arrepio correr por toda minha espinha dorsal.
Com os sentidos em alerta percebi que minha ex esposa, meio escondida no batente da porta da cozinha, fazia sinais tentando chamar a atenção do Durval (primo dela). Chamei-a e disse que não tinha necessidade de todo aquele cuidado, pois eu já estava consciente da ocorrência. Esperei sua reação e, como ela se calou e baixou a cabeça, eu tive certeza que havia me tornado órfão de mãe.
Depois de ouvir todos os conselhos para me acalmar, fui informado que o Durval iria me levar para a praia e foi o que aconteceu, terminei o dia de Natal percorrendo IML, agência funerária e finalmente, ao lado de minha mãe numa sala fria de velório.
Natal, sinônimo de nascimento, de natalidade, passou a ter mais um significado depois desse ano, passou a significar, também, morte e orfandade.
É assim que me preparo, hoje, para o próximo dia de Natal.
Bola pra frente!
Por Miguel Chammas
Festeja-se, simbolicamente, o nascimento de Cristo.
Montam-se presépios e pinheiros ornamentais, trocam-se presentes, come-se e bebe-se em harmonia e sem preocupações com abusos.
Com este rabiscador de textos tudo isso também acontecia. Na véspera de Natal eu me reunia com todos os parentes (mais ou menos 30) e fazia uma festança de
arromba, com direito a me fantasiar de Papai Noel e distribuir os presentes que estavam colocados ao pé da Árvore de Natal, anunciando cada um dos presenteados, todos membros da família de dona Cida e que, com total reciprocidade, nós havíamos adotado, formando uma fantástica família.
Esta tradição caminha comigo por mais de 40 anos e, mesmo depois que me separei de dona Cida, ela vem se realizando a cada 24 de dezembro.
Há 10 anos, já separado e morando aqui na praia, trouxe para viver comigo a velhinha que num dia 26 de maio me trouxe ao mundo.
Em 24 de Dezembro de 1999, ela já bem caidinha nos seus 82 anos de vida e sofrimento, ficou sabendo que eu iria para São Paulo passar o Natal com toda a família, ela ficaria em casa e passaria a data com meu irmão e meu sobrinho.
Já pronto para viajar, fui ter com ela, que estava deitada, para me despedir. Meu peito abrigava um coração apertado e eu levava um nó amargo na garganta. Mesmo assim, para não contrariar o meu modo de ser, brinquei e disse a ela que não queria meu presente ainda, que só iria recebê-lo quando do meu retorno.
Ela ouviu, deu um pequeno sorriso, mas nada disse. Estava saindo do quarto quando ela me chamou, olhou bem firme e pediu que eu desse um beijo por ela nos meus filhos e na dona Cida.
Prometi que assim faria, abracei meu irmão e meu sobrinho e saí quase correndo, como se quisesse fugir do inevitável.
A noite transcorreu como previsto, estávamos reunidos na casa de uma tia da minha ex esposa na Freguesia do Ó.
Todas as tradições foram cumpridas, inclusive a de não dormir para não “sofrer” as brincadeiras de sempre.
Depois do almoço, nos sentamos à mesa, nos fundos da casa, para as famosas partidas de caxeta. O jogo ia a pleno desenvolvimento, quando ouvi o tilintar do telefone e senti um arrepio correr por toda minha espinha dorsal.
Com os sentidos em alerta percebi que minha ex esposa, meio escondida no batente da porta da cozinha, fazia sinais tentando chamar a atenção do Durval (primo dela). Chamei-a e disse que não tinha necessidade de todo aquele cuidado, pois eu já estava consciente da ocorrência. Esperei sua reação e, como ela se calou e baixou a cabeça, eu tive certeza que havia me tornado órfão de mãe.
Depois de ouvir todos os conselhos para me acalmar, fui informado que o Durval iria me levar para a praia e foi o que aconteceu, terminei o dia de Natal percorrendo IML, agência funerária e finalmente, ao lado de minha mãe numa sala fria de velório.
Natal, sinônimo de nascimento, de natalidade, passou a ter mais um significado depois desse ano, passou a significar, também, morte e orfandade.
É assim que me preparo, hoje, para o próximo dia de Natal.
Bola pra frente!
Por Miguel Chammas
11 comentários:
Miguel, os índios americanos sempre diziam : este é um bom dia para morrer. Morrer, ou nascer, não importa; sempre será um bom dia. Um dia a mais, ou a menos na vida.
Mas a carga de festividade da data é que tornou muito mais trágica e dramática a lamentável morte de sua mãe. Triste coincidência natalina, pois Natal significa Nascimento. A Morte? No Dia de São Nunca, talvez.
Mas, católico que é, pode tomar esse dia como um renascimento de sua mãe, num mundo melhor. Abraços.
O Natal para mim teve três ciclos. Até os 18 anos um natal que a gente ficava até meia noite praticamente ocioso esperando a meia noite chegar, Ai tinha a tal Ceia, todos comiam bebiam em seguida cama. Dos 18 em diante deixei a “clausura” não era mais refém de casa, a Rua era a passarela dos meus passos, e até o ano 1969, meus natais eram na Rua. Cada ano de forma diferente. Alguns anos com estranhos comendo e bebendo,Alguns anos em igrejas, São Gabriel, Catedral, Santa Ifigênia, Em outro ano num hotel muito bem acompanhado e assim foi até 1968, depois casei, e os Natais foram aqueles mais ou menos na infância. Com uma diferença nos primórdios não tinha presentes, depois sim veio um depois outro e por fim mais outro, e haja dinheiro para comprar presentes, mas valeu a pena.
Miguel, vejo que além de um tio temos algo mais em comum:a intuição.(A minha está acima, no comentário do texto da Sonia).
E os Natais não são os mesmos que vivemos um dia. Porisso, os nossos Natais, mesmo com poucas pessoas,são cheios das lembranças felizes trazendo até nós décadas e décadas de Natais Felizes.
E para nós, sempre, o que importa é o aniversariante.
Abração,
Miguel, Natal para mim foi sempre uma época triste, desde os meus seis anos, talvez por ter ficado órfão de pai aos cinco anos e meio, ou por ter sempre passado meus Natais sem ganhar presentes, e assistindo muitas crianças minhas vizinhas a brincar com os seus. Colocava como eles meu sapatinho na janela com um pouco de capim e meu pedido bem simples, um revolver e cartucheira de brinquedo Isso no dia 24 à noitinha, e no outro dia... nada havia, apenas uma cartinha dizendo: Você não foi obediente com sua mãe e com suas irmãs, por esta razão vai ficar sem seu presente esse ano. Teria sido preferível encontrar uma cartinha com a realidade. Uma cartinha escrita em nome de minha mãe, dizendo. Filho somos muito pobres mal temos para comer e viver e como sou analfabeta pedi para sua irmã mais velha escrever esse bilhete, para dizer que não tenho dinheiro para te comprar presentes, mas garanto que fome você jamais passara enquanto eu for viva. Assinado. Sua Mãe que muito te ama. Tenho absoluta certeza que qualquer criança pobre do mundo,vai preferir essa cartinha com essa realidade do que a ilusão de um presente, seja ele qual for.
Miguel: Como dizia Pessoa: "Morrer é só não ser visto" e você, imortalizou sua mãe nesta crônica. Parabéns!
Miguel,
crônica emocionante, que me fez pensar um pouco mais no fio, tão fluído, que separa o momento do nascimento daquele da morte. Nós, cristãos ocidentais, não estamos nem um pouco preparados para lidar com perdas, principalmente as perdas de entes queridos. Para nós, a morte de uma pessoa próxima sempre acarreta um sentimento de perda e, de certa forma, de solidão. Mas também sabemos que a morte, assim como o nascimento, faz parte do ciclo da vida, desta vida, tal como a conhecemos. De qualquer forma, o que importa mesmo, hoje, é a beleza e a emoção passadas pelo belo texto que criou. Para mim, "nossos" mortos estão seguindo suas vidas de outra forma, que nós não sabemos compreender.
Abração.
Miguel, que a tristeza da lembrança da morte de sua mãe, nesse dia, não impeça de vc de se consolar com seus filhos, com a Sonia (que precisa de seu amparo)e seguir adiante pois, sem filosofar muito, a passagem de nossas vidas se dá sempre com alegrias e dores, eternamente, enquanto vc estiver respirando. Deixando de lado o triste da data, festejamos a alegria que ela nos proporciona. Feliz Natal a todos vcs de casa.
Modesto
Miguel exclui um comentário,pois postei-o incompleto e acabei postando o mesmo sem o complemento. Então segue só o complemento.
Minha mãe assim como também a sua,foram tão boas mães nessa terra, que receberam o convite de Jesus para participar da festa do aniversário dele ao seu lado,aniv ersário este que nem sempre é bem comemorado, por nós aqui nesse mundo.
Esse convite que um dia também será oferecido a todos nós, e até hoje que eu saiba ninguem deixou de comparecer.
Caro Miguel, infelizmente alguém já disse que a morte também faz parte da vida, não escolhe dia nem hora para chegar mas, acredite, a sua querida mãezinha, de onde estiver, com certeza estará lhe enviando os votos de feliz Natal na noite santa, parabéns pelo texto, abraços, Nelinho.
Olá, amor!
Penso que foi uma benção isto tudo...
Sua mãe partindo para a espiritualidade, num dia de festa...festa que se comemora o nascimento de Jesus, que para nós é libertador...Ele pôde libertar sua mãezinha da dor, do sofrimento da carne, libertando seu espírito, preparando os familiares que aqui ficaram com o espírito natalino...de reconciliação, de mansuetude, de confraternização, de paz...
Que Jesus abençoe sua mãe, onde ela estiver.
Muita paz! Beijosssssss
Postar um comentário