Eu adoro chocolate.
Gosto tanto que até fiquei fã do Nat Kim Cole, por conta daquela música que ele gravou que dizia: “TOMA CHOCOLATE PAGA LO QUE DEVES”.
Quando eu era criança, lá em casa na Freguesia do Ó, havia o costume de no domingo de Páscoa, minha mãe com enorme esforço financeiro de pós- guerra, comprar três ovos de Páscoa, esconde-los no sábado da Aleluia, para que minhas duas irmãs e eu procurássemos os ovos até achá-los e, só assim, degustá-los.
Eu então, ainda menino e louco por chocolate (até hoje), ficava super ansioso, e não via a hora de sair à procura do ovo de chocolate.No ano de 1951, eu com 12 anos, já no Domingo de Ramos, estava matando cachorro a grito de vontade de comer chocolate. A vontade era tanta que, no sábado de Aleluia à noite, perto das 22 horas, quando todos já estavam para dormir, eu sabendo que os ovos já estavam devidamente escondidos, comecei disfarçadamente, sem que ninguém notasse, procurar o dito cujo pelos armários e outros cantos da casa... Procurei tanto que acabei achando e então, furtiva e sorrateiramente, como uma raposa que invadiu um galinheiro de penosas “grávidas”, ou melhor dizendo, chocas, surrupiei o mesmo e carreguei carinhosamente para o meu ninho, digo, cama. Tirei-o da embalagem de celofane, deixei-o apenas com aquela embalagem de alumínio. Minha intenção era aguardar que todos dormissem, para que assim pudesse comê-lo, sem deixar vestígios. Porem, como diz o ditado que o castigo vem a cavalo, o meu veio de foguete espacial. Acabei dormindo e, dessa forma, “chocando” aquele principal produto do cacau que amanheceu derretido e eu todo lambuzado como também o lençol, demais cobertas e a fronha.
Ao acordar, o cenário era digno de filme de terror ou suspense; meu pijama, minhas mãos, meus braços e meu rosto, tudo estava da cor do chocolate, eu parecia propaganda do famoso Diamante Negro. Se fosse hoje, muita gente iria sem duvida dizer, que havia acontecido comigo o contrário do que aconteceu com Michael Jackson.
Passei boa parte da manhã me lambendo e, depois de ouvir muita bronca e críticas de minha mãe, fui obrigado a tomar banho frio, pois justo naquele dia, lá Freguesia, faltou energia elétrica durante todo o dia.
Nos anos que se seguiram, o pessoal lá de casa abandonou completamente esse costume de esconder ovo de chocolate na Páscoa.
E eu, mesmo gostando demais de chocolate, prudentemente jamais voltei a “chocar” Ovos de Páscoa.
Por Arthur Miranda (tutu)
7 comentários:
Tutu, já diz o ditado "quem nunca comeu melado, quando come se lambusa"...
Você, mesmo tendo comido o tal ovo de chocolate em outras oportunidades, ao tentar come-lo às escondidas, ficou a ver navios e totalmente melado .
Sabe, me diverti demais com teu causo, o que,diga-se de passagem, não é nenhuma novidade.
Todos os seus relatos, ou pelo menos, a maior parte deles, são verdadeiramente impagáveis.
Feliz Pascoa, e com bastante chocolate tá?
Olá,Arthur!
Muito engraçada sua história,ao mesmo tempo, trágica, né?!
Mas, lembrei-me de nossa infância pobre e que na Páscoa ganhávamos ovo de chocolate de meu avô materno...um ovo grande que era repartio entre todos nós de casa.
Às vezes, nós mesmos fazíamos os ovinhos com o ovo de galinha esvaziado cuidadosamente e e enchidos com chocolate derretido...depois eram pintados e decorados.
Já com meus filhos,pude sempre lhes dar ovos de chocolate. Eu os escondia também, assim como sua mãe...Eu fazia as égadas do coelhinhocom farinha de trigo e espalhava pela casa toda...esconia pequenos ovinhos em vários lugares e um ovo maior em local secreto...Era aquela farra das crianças rocurando os ovos e o ninho do coelhinho...eles deixavam cenouras para ele...muito legal.
Saudade!
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!
Arthur: De um "chocólatra" para outro, digo que a sua história foi muito chocolante! Oops! Chocante!
Pelo motivo chamado Tio Amedeu,em casa, deixaram de esconder os ovos de páscoa.Eles ficavam mais seguros trancados no guarda-roupa da minha nonna.
Adorei o seu texto! Aliás, texto delicioso!
Dia desses, precisamos marcar um encontro numa das tantas Copenhagen que existem pela cidade e tomarmos um porre de chocolate.
Depos do porre, a Chocólatra Anônimos que cuide de nós...(risos)
Abração,
Natale
Arthur!
Depois de um texto "saborosíssimo" como este, só resta mesmo esperar a chegada da Páscoa, para ver se, por algum milagre, o coelhinho da Páscoa se lembre de nós, os mais "crescidinhos", e faça novamente o seu ninho em nossas casas.
Lendo e saboreando este texto, com a boca cheia d'água, relembrei também a época (deliciosa!) onde eu também, junto com meu irmão, nos preparávamos o ano inteiro para, no domingo de Páscoa, nos aventurarmos pelo jardim em busca do famoso ninho do coelhinho, sempre recheado de deliciosos ovos.
O que nunca entendi mesmo foi como um bichinho tão delicado e fofo podia botar aqueles ovos enormes, envoltos em coloridos celofanes e enfeitados com enormes laços de fita!
E confesso que eu também, como bem atesta minha rotunda figura, sou amante do tal do chocolate, sem conseguir resistir, nem sob ameaças, ao seu sabor inigualável! E como chocólatra assumido, tenho o Coelho da Páscoa como um dos meus mais antigos Super heróis.
Abraço.
Chocolate com leite, janduia, crocante, mezzo-amaro, branco, com amêndoas, passas etc. quem não gosta de chocolate? O bom chocolate é aquele que tem o ponto de fuzão na temperatura do corpo normal, 37 a 39 graus. Janduia é a fina flor do fabricante. Uma gostozura. E agora, Tutu, como vamos fazer pra resistir essa delicia com colasterol, triglicérides, diabete, pressão alta? Só de raiva vou comer um pedaço de mezzo-amaro (meio-amargo) que meu filho Moacyr trousse da Espanha. Parabéns, Arthur.
Laruccia
Muito bom, Arthur, e porquê não, bem feito pra você! Você, um chocólatra, chocando os ovos! Belos tempos em que se escondiam os ovos para serem procuradas. Nada mais é assim, e os ovos, hoje abundantes, não precisam de busca. Explodem em pencas a cada supermercado, em cada lojinha de esquina. E em sabores os mais diversos, inclusive o de pimenta, revivendo a velha fórmula maia, em que o Xokolatl, que é como eles escreviam, não era necessáriamente doce. Se gosto? Claro, embora não seja chocólatra militante. Mas, quem não gosta? Abraços.
Doces recordações, Arthur. Com uma pitada de humor e de muito sabor. Valeu!
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