Festejaremos logo mais uma Páscoa e, antes dela, guardaremos com muito respeito a Sexta-Feira da Paixão.
Recolhido na sala de minha residência comecei a dar tratos à bola e lembrar-me das coisas das Semanas Santas vivenciadas em minhas infância e juventude.
Lembrei que, durante a Semana Santa, não se podia comer carne (comia-se na minha casa quibe de batatas), não se podia falar alto, não se podia cantar ou mesmo cantarolar e, ainda, não se podia brigar. Imaginem como tínhamos de nos policiar - eu, meu irmão, meu primo e minha prima.
Lembrei que, na quinta-feira da Semana Santa, eu participava da cerimônia do lava pés, quando tinha meus pés de coroinha lavados, simbolicamente (minha mãe cansava de recomendar que eu os lavasse muito bem antes de ir para a Igreja, e não a fizesse passar vergonha por ter um filho porquinho), e recebia um envelope, que continha uma cédula de dinheiro. Era a única vez, se não me falha a memória, em que eu torcia para não receber o melhor quinhão.
Explico: éramos doze coroinhas e simbolizávamos os doze apóstolos. Onze dos envelopes continham cédulas de Cr$. 1,00 e um apenas estava contemplado com uma cédula de Cr$. 5,00; quem o recebesse, sabia que estivera representando o Judas, que nas santas escrituras vendeu Jesus por 30 moedas. O aquinhoado recebia a cédula maior e, depois, as gozações de todos os demais; gozações estas que extrapolavam o período sagrado da semana.
Lembrei-me das emoções que sentia quando das vigílias ao Senhor Morto, da enorme fila que se formava na nave da Igreja de Nossa Senhora da Consolação, para ver e tocar o Cristo depois da Procissão do Enterro.
Lembrei das trovoadas simbólicas que eu (sempre) e mais um Congregado Mariano promovíamos na cabeceira da Procissão do Enterro, com as barulhentas matracas que silenciávamos apenas quando a procissão parava, e a Verônica, subindo numa cadeira, cantava com sua voz maravilhosa.
Lembrei que a nossa Verônica era, nada mais, nada menos, que uma cantora linda, de voz mais linda ainda, Salomé Parisi, que hoje mesmo gostaria de saber por onde anda, se ainda está viva. Além de seu fã incondicional, eu era muito amigo do seu filho, Carlinhos. Eles moravam em um prédio, na Rua da Consolação, quase esquina com a Rua Nestor Pestana, que hoje, me parece, não mais existe.
Lembrei, finalmente, que é muito bom estar ainda vivo para poder continuar lembrando tudo isso.
Por Miguel Chammas
13 comentários:
Quantos detalhes atraentes, Miguel pra um evento que todos nós guardamos, na memória pro resto de nossos dias. Que assim seja pra vc e toda a família Chammas e sempre sob o amparo divino. Abraços, Miguel.
Laruccia
Grandes lembranças das Semanas Santas de outrora, com todos esses rituais soturnos e tristonhos, onde até respirar mais alto poderia ser censurável.
Tudo isso é passado, mas para algumas pessoas mais antigas ainda deve ser seguido. Lembro quando convidamos para nossa casa de praia minhas tias Zilda e Zezé, esta com mais de 80 anos. Preparam um cuscuz de peixe, e às três da tarde puseram-se a desfiar o terço, muito compungidas, na Sexta da Paixão. Abraços.
Olá,amor!
De família católica, tínhamos que participar de todos os rituais da igreja e a procissão da sexta-feira santa era obrigatório para nós.
Em casa, minha avó materna não comia carne vermelha durante toda a quaresma e minha mãe não comia carne na quarta-feira de cinzas e em todas as sextas-feiras da quaresma. Também não podíamos ligar o rádio em alto volume e cantarolar...mas,minha irmã mais velha e eu, sempre dávamos um jeitinho para ouvirmos nossas músicas.
Da paróquia Santo Emidio,fazíamos parte da mocidade, então, tínhamos lugares especiais na procissão também...
Jovens, sabe como são, né...Aproveitávamos estas ocasiões para flertar,paquerar, uma "farra"...kkkkkk
Valeu por suas lembranças.
Muita paz! Beijossssssss
Miguel, gostei de sua gostosa narrativa recordando momentos da semana Santa, como também a citação da querida Salomé Parisi, que com a qual trabalhei em um show de boate, e uma revista, uma grande colega e talentosa artista de shows. Parabéns. Vou tentar me informar com a Marly Marley (que sabe de tudo) se a Salomé esta viva ainda)Espero que sim mas infelizmente creio que não.
Miguel: Lembranças mais gostosas!
Estivesse eu no seu lugar ficaria muito p. se não ganhasse os Cr$5,00(risos).
A Salomé Parisio, até o ano passado estava viva e com 90 anos.
Eu tinha um verdadeiro terror da Semana Santa. Pois a minha avó me levava à Igreja de San Gennaro para beijar o Cristo morto. Era um Cristo assustador, com cabelos humanos e todo cheio de feridas e sangue. Mas o que mais me deixava agoniado é que eu tinha que beijar o Jesù morto na face, onde todos o beijavam. Dava-me um "bruto schifo" (maior nojo).
Lembro, entre todas as coisas citadas por você, de ir à matinê e assistir "Vida, Paixão e Morte de N.S. Jesus Cristo" e o "Mártir do Calvário,isso no domingo.No sábado à noite íamos à cidade assistir "O Manto Sagrado", ou "Ben Hur".
Em casa, a partir da quinta-feira, não se comia carne. Tudo era na base da berinjela,sardinha e alice. No domingo, o bacalà com batatas, regado a muito azeite de oliva.
Abração,
Natale
Amigo Miguel!
Como são gostosas estas lembranças! Lembranças, creio eu, partilhada por todos, mantendo-se, claro, as diferenças familiares, de bairros, de descendência, etc.. Mas no geral, era praticamente a mesma coisa! Rádios desligados, sem barulhos, gritarias, brigas (até parece!), correrias, etc.. E as cerimônias religiosas, todas seguindo o mesmo padrão; menos, ao que me lembre, essa história de todos os meninos do "lava-pés" ganharem um envelope com dinheiro! Eu nunca ganhei nem um tostão! E, pelo que me lembro, nenhum outro garoto que participava! Discriminação! Vou reclamar com São Pedro quando (e se) ele me receber nos portões do paraíso... hehehe.
Gostei muito do texto (como de todos os outros!).
Abração.
CARO MIGUEL: Com este post Você conseguiu realmente realçar a fase
mais emotiva da nossa infância e
adolescência. As Semanas Santas eram
Santas e não consumistas como hoje em dia. Eram celebradas em toda São Paulo(todas as Paróquias) mais ou menos da maneira como descreveu.
As Famílias eram muito mais religiosas do que hoje e celebravam o fato mais importante da humanidade:
o aniversário do triunfo de Cristo,
da feliz conclusão do drama da Paixão. Meus Pais eram muito Católicos e dividiam a comemoração da Paixão entre nossa Paróquia no Ipiranga e a Igreja de Santa Ifigênia, a qual na época era a Catedral provisória de São Paulo(foi Catedral entre 1930 e 1954), pois a da Sé estava em construção.
Uma feliz Semana Santa/Páscoa a Você, sua Família e todos os Comentaristas deste blog.
Valeu! Um abração, LAERTE.
Miguel:Lembrei também, e esqueci de comentar, que na época da Páscoa, as vendas (empórios), bares, botequins, padarias, expunham um ovo de chocolate enorme sobre os balcões,ou pendurados sobre s balcões. Esse ovo gigante era rifado entre os fregueses a Cr$3,00 o número... Não me lembro de ter conhecido alguém que tenha ganho o tal ovo... Ahahahaaaa! Acho que era o maior "conto do vigário".
De qualquer maneira, vale essa recordação!
Abração,
Natale
Natale??? Se eu te contar, vcnão acredita!
Mas,eu ganhei a rifa de um OVÃOOOOO de 5 kg...
Putz! Foi lá no clube social que frequentávamos... O restaurante dolocal havia feito a rifa...aquela coisa gigantesca...de chocolate... Chamava atenção da criançada toda...um coisa de louco...kkkkkk
Comprei alguns números da rifa, para satisfazer aos meus filhos...e nãoé que ganhei!kkkkkkkk
Eu não cabia em mim de alegria e meus filhos, então, nem se fale! Para levar para casa aquilo foi uma ginástica aquelas....kkkkkkkk
E tive de distribuir choclate para a família toda!
Muito bommmmmmmmm!!!
Vaeu!
Muita paz!
Ahahahahaaaaaaa!!!
Soninha ganhadora do ovão de Páscoa!
A primeira que conheci, desde 1956, quando vi o meu primeiro Ovão... Ahahahaaaaa!
Abração,
Natale
Natale...
Deixa eu te falar...
Isto aconteceu quando meus filhos eram pequenos...Meu caçula tinha cerca de 10 anos de idade, mais ou menos. Hoje ele tem 28 anos.
Faz tempo, né!
Valeu!
Muita paz!
Tambem como congregado mariano participei das comemorações da emana santa.A não muito tempo estive com Salomé Parisi, gozando de boa saúde, num evento do viva-sp, do centro da cidade, estavam tambem Roberto Luna, Agnaldo Timoteo,
Olá, A SALOMÉ PARÍSIO ESTÁ BEM, NO PRÓXIMO MÊS DE JUNHO (QUANDO ELA IRÁ COMPLETAR 91 ANOS) VAMOS LANÇAR O LIVRO BIOGRAFIA DESTA GRANDE ARTISTA. O LIVRO É ESCRITO POR THAIS MATARAZZO- DIEGO NUNES - FÁBIO SIQUEIRA. INFORMAÇÕES bondedasaudade@gmail.com
Bjs
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