sábado, 16 de abril de 2011

Feliz Páscoa dos Natale


Ler os textos dos outros memorialistas sempre me dá algo mais que uma ótima narrativa. Dão-me fatos novos, surpresas e funcionam como desencadeadores das minhas próprias lembranças.
Foi o que aconteceu quando li o texto do ARTHUR...
Lido o texto, feito o comentário, uma voz infantil (a minha voz mesma) começou a cantar dentro da minha cabeça.
Era uma música singela, que cantávamos na classe, no tempo do Grupo Escolar, nas semanas que antecediam à Páscoa:

“Coelhinho da Páscoa,
O que trazes pra mim?
Um ovo, dois ovos,
Três ovos, assim!

Coelhinho da Páscoa,
Que cor eles têm?
Azul, Amarelo, vermelho também” !

A música, singela, deu asas ao meu pensamento e lá me fui, de bom grado, de volta ao passado.
Nos tempos do meu tio Amedeu, a Páscoa era à napolitana. A “nonna” cozia os ovos de galinha, deixava que esfriasse e os tingia com anilina em, cores variadas. Depois que os ovos coloridos secassem, eram decorados finamente por uns e, “male e porcamente”, por outros com desenhos florais, bichinhos, etc.
E, entre os tantos ovos de galinha, havia um ovo especial que causava grande emoção: Era o sonhado e desejado ovo de pata!
Os ovos, juntamente com muitos “caramelli" (balas, caramelos) eram embalados em papel celofane e escondidos pela casa toda. E, também escondia-se o ovo de pata.
Tio Amedeo e os netos dos meus avós, enlouquecidos, viravam a casa de pernas para o ar em busca dos ovos. Algazarra, gritos... De repente, um grito mais forte. Alguém encontrara o ovo de pata!
Feliz da vida, o vencedor apresentava-se ao vovô e recebia como prêmio, para inveja dos outros, um saquinho cheio de bombons!
Eu, nos primeiros anos da minha vida, participei dessa “caça aos ovos”. Infelizmente, nunca achei o ovo de pata... Meus primos chegavam a ele antes de mim. E que raiva me dava!
Um belo dia, eu não sei se foi a situação que melhorou, ou se o chocolate barateou, só sei que começamos a ganhar ovos de chocolate na Páscoa. Foram-se os ovos de galinha e o de pata, para o país das tradições perdidas. Mas, o ritual continuava o mesmo. Escondiam-se os ovos pela casa toda.
Ritual que teve o seu ponto final por causa do meu tio.
Como o Arthur, meu tio Amedeo tinha a paciência e empenho em procurar, à noite, pelo seu ovo de Páscoa e, quando o encontrava, levava-o para o seu quarto e em pouco tempo devorava-o todo! No dia seguinte, ria-se na cara dos meus avós, mostrando os papéis, remanescentes do ovo.
Chocólatra que era, passava o resto do dia mendigando um naco dos nossos ovos. Quando o negávamos, ele “sacanamente” apelava para a condição de tio – a quem devíamos obediência e respeito – e se refestelava.
Por causa do titio acabou-se a caça aos ovos.
Ovos comprados e trancados a sete chaves no guarda-roupa da vovó.
Véspera da Páscoa: Sentado à mesa da sala de jantar eu via a minha mãe e minha avó a forrar caixas de sapatos com papel de seda verde e amarelo, enquanto o meu pai cortava com a tesoura tiras e mais tiras de papel celofane branco e amarelo transparentes para forrar o “ninho”, onde o coelhinho da Páscoa deixaria o ovo.
À noite, levávamos o “ninho” para o nosso quarto e o colocávamos no chão, junto à nossa cama.
Eu sempre fazia um tremendo esforço para ficar acordado e ver o coelhinho “botar” o ovo no “ninho”, mas o sono vencia sempre!
Manhã de domingo, acordava e lá estava o ovo! Era só abrir e começar a comer!
Dez horas da manhã, chegavam os meus primos e vovó trazia o restante dos ovos escondidos no guarda-roupa e os distribuía aos netos. Dez horas da manhã, tio Amedeo, que já havia devorado o seu ovo, mendigava um pedacinho de ovo de cada sobrinho. Pedia, se impunha, ameaçava a todos. A nossa sorte era a vovó que, vigilante, sempre acabava com a “festa” do titio.
Saudade!

“Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim”?...

Por Wilson Natale

14 comentários:

Soninha disse...

Olá, Wilson!

Eu até jácomentei em outro texto sobre ganharmos um único ovo grande,de meu avô maerno, e dividíamos entre tdos lá de casa...
Mas,antes de sabermos que era meu avô quem nos dava, acreditávamos que erao coelhinho quem trazia... Então, preparávamos tudo...deixávamos cenouras e água fresca para ele, num lugar da sala...fazíamos uma cestinha com capim, cenoras e um recipiente com água. Pea manhã, no domingo de Páscoa,corríamos ver e lá estava...Aquele ovo de chocolate,lindo...era uma emoção bem grande!
Quando tive meus filhos, já numa situação melhor, preparava a casa toda...enfeitava com coelhos de pelúcia e outros enfeites...fazia o ninho para que meus filhos também deixassem cenouras e água para o coelhinho. Fazia patinhas de coelho pela casa toda e lá iam eles, na manhã do domingo de Páscoa, seguir as pegadas e procurar os ovinhos e o ovão maior (um para cada um, felizmente)...Era uito divertido e tenho muita saudade.
Valeu, Wilon!
Obrigada.
Muita paz!

Soninha disse...

Em tempo...
Já contei que meu teclado é ruim, né?!
Perdoe-me os erros de digitação!

Mais paz e muuuuuuuuito chocolate!

Miguel S. G. Chammas disse...

Natale, essa melodia ainda ressoa em meus velhos ouvidos. Ela era cantada por minhas filhas e meu filho por muitas páscoas, depois, meus netos continuaram o recital e a musiquinha continuou sendo cantada por vários anos.
Hoje, confesso, um tanto triste, não a ouço mais e sei, daria mito por ouvi-la de novo como antigamente.
Ah! Os ovos de chocolate, bem esses eram simples figurantes da grande harmonia do lar.
Que pena, tudo "se acabou-se"...

Luiz Saidenberg disse...

Que trazes pra mim? Isto: uma bela crônica Pascale, meu caro Natale.
A eterna busca aos ovos, e às lembranças de outros tempos. Com o final mais feliz possível: todo mundo se empanturrando de chocolate e serotonina, na maior alegria deste mundo ! Abraços.

Wilson Natale disse...

Soninha: Muitas famílias faziam isso.
Em casa mesmo, os netos todos ganhavam ovinhos que, dependendo do dinheiro, variava de 150 a 250gramas.Em alguns anos, como complemento, ganhávamos um saquinhos de balas de mel, balas que eram caras, pois tinham uma grossa cobertura de chocolate.
quanto ao teclado, não "esquenta". Eu tenho um teclado ótimo, mas tenho "mãos de fada"... Ou seja minhas mãos e dedos são enormes em relação ao teclado. Daí a quantidade de come letras, digita errado, etc (risos).
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Miguel: Canta a musiquinha você, para você mesmo. Faz um bem enorme para a alma!
E você tem razão, mais importante que os ovos, era a reunião dos familiares.
Hoje, eu posso comprar o ovo que eu quiser, do tamanho que eu quiser, mas não posso trazer de volta a magia das Páscoas em família.
Ainda bem que tudo ficou na memória.
Tirando os netos adultos, na época èramos 16 netos crianças a fazer a alegria de vovô e vovó. E eles,claro, faziam a nossa alegria!
Hoje, não me falta ovos. O coelhinho pode me trazer um monte. Mas a magia ele não pode trazer.
O coelhinho hoje, me traz saudade. Mas uma saudade boa!
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Pois é, saidenberg. Como chocólatra eu me empaturro mesmo!
Alías, todo dia é dia de Páscoa para mim...(risos)
Mas, eu continuo acreditando que, mais que os ovos, o importante da Páscoa é a união da família.
Hoje, a páscoa é mais consimismo, pretexto para um longo feriadão, do que tradição. aliás, poucos sabem a significação da Páscoa.
Hoje todos aproveitam e se deliciam com os sabores pascoais, esquecendo-se das ervas amargas...
Abração,
Natale.

Zeca disse...

Natale!

Como é gostoso ler uma crônica como esta, recheada de ternura e de lembranças! Ela (a crônica), nos leva numa viagem deliciosa aos tempos em que éramos "protegidos" pelos familiares e tudo o que devíamos fazer era sonhar e acreditar.
Imagine só, um pobre coelhinho, botando aqueles ovos imensos!!! - hehehe
Mas nós acreditávamos e esperávamos o ano inteiro para que a magia sonhada se transformava em realidade. Doce e deliciosa realidade! - hmmmmm - só de pensar já fico salivando - acho que vou fazer uma loucura, hoje!
Recentemente abriu uma loja da Cacau Show aqui e ainda não tive coragem de aparecer por lá. Os precinhos deles são bem salgados. Mas o chocolate deles é delicioso!
Então, com a boca cheia d'água e a fome que antecede a hora do almoço, estou cheio de vontade de, finalmente visitar a loja nova e gastar um dinheirinho num ovo de páscoa para, antecipadamente, começar a comemorar a minha páscoa. Já que hoje eu sei que o coelhinho não existe... por que esperar, não é mesmo?

Servido?

Uma excelente Páscoa, repleta de chocolate! Afinal, temos mais idade, mas não somos de ferro!

Abração.

Wilson Natale disse...

ZECA: Não me convida, não! Eu sou um chocólatra caso-perdido!!!
Sobre o coelhinho, o que vc disse, era o que dizia o meu tio.
Quando eu insistia em ficar acordado (nunca conseguí) para ver o coelhinho "botar" o ovo, meu tio dizia que era melhor não ver, pois era igual a cena de um filme de terror. Ele me dizia, rindo, "Já pensou como é que fica o ... do coelhinho, depois de "botar" um ovo desse tamanho? Haja remédio para as hemorróidas"! Ahahahaaaaaa!
A Cacau Show é ótima! Pena que os "precinhos" dela se equiparam aos da Copenhagem! O que vale é que os produtos são de ótima qualidade.
Abração,
Natale

Arthur Miranda disse...

Natalle, . Graças a Deus o ano passado fechou uma loja da Cacau Show , que havia aqui em Lorena, e eu ja posso voltar a frequentar a ACA. Associação dos Chocólatras Autenticos. Eu também como o seu tio comia o meu ovo e depois ficava pedindo os das minhas irmãs e se elas bobiassem eu surrupiava sem dó nem piedade. Alias até hoje em dia eu continuo sendo um perigoso afanador de chocolates alheios, e quando compro bombons Garoto já compro de duas caixas uma para dar para os parentes e amigos e outra só para mim e não adianta pedirem do meu eu detesto dividir meus chocolates. Gostei da sua historia. Parabèns.

Laruccia disse...

Natale, de tanto fazer comentários sobre ovo de Páscoa, vou comer os que ganhei de meu filho, que está conosco. Troxe da Malasia chocolate amargo. Ele disse que é o que mais se come lá, por causa do calor... Pô, eu estou no Brasil, falei pra ele, gosto também do "mezzo-amaro" mas este que ele trouxe é totalmente negro. Mas, isso é problema meu, vamos falar do seu texto. Espetacular, gostoso como o novo lançamento da Lacta, chocolate "Delícia", já esperimentou? não? ahhhh. So vendem em caixas de 270 grs.
Parabéns, Natale.
Laruccia

Wilson Natale disse...

Pois é, Arthur! Os ANTROS DE PERDIÇÃO (Chocolatarias, ou chocolaterias)vão desaparecendo, ou mudando-se para os shoppings.O Centro histórico de São Paulo perdeu todas as lojas Copenhagen. Em meu caminho para o trabalho, eu passava, entrava comprava, pagava e comia toneladas de chocolate, principalmente na loja da Patriarca e na da Barão.
E meu vício começou cedo, lá por 1955, numa loja da Sonksen, na São João e nunca mais parei. Lá se vão mais de 50 anos e nunca tive uma "over dose" (risos).
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Larù, carissimo: Sù, preto! Magia tutti l'uovo di sciocolatte che ti ha portato il tuo figliolo. Ma, magialo presto, perchè se non lo fà, vaddo in casa tua e lo mangio io!
Eu, mio bello, gosto de tudo quanto é tipo de chocolate. Mas adoooro o chocolate amargo e o do tipo Moka! E hoje os médicos dizem que o chocolate amargo serve de prevenção a muitas doenças.
E uma saudade "chocolática" que tenho é a dos meus primos que vinham da Itália a nos visitar e traziam na bagagem as caixas de chocolate Perugia... Lambo os beiços só de lembrar!
Abração,
Natale

suely schraner disse...

Para ler e reler estas boas memórias. Parabéns!