quarta-feira, 20 de abril de 2011

Entendendo a Páscoa


São Paulo é uma mistura de raças e tradições, em decorrência de seu imenso poder de inserir a todos em suas carnes de concreto e asfalto.
Então, por ocasião desta festa tão tradicional que é a Páscoa, quero aprender um pouco sobre sua origem e entender a diversidade de comemorações em nossa querida Sampa.

A palavra Páscoa vem do aramaico pashã, cujo sentido original é muito discutido. Pode significar "saltar".
No hebraico pesah (pessach) significaria originariamente "dança cultual", ou conforme alguns, a passagem do sol pela constelação do carneiro ou da lua pelo seu ponto mais alto. No livro bíblico de Êxodo, a palavra toma o sentido de "passagem".
Originariamente, o pesah e a festa dos ázimos eram duas festas distintas. A primeira dessas festas tinha relação com a vida dos nômades, a segunda com a dos agricultores sedentários.
Como ambas as festas caíam na primeira lua cheia da primavera, foram mais tarde unidas, e celebradas em memória do êxodo dos judeus, porque, conforme a tradição, esse se dera na primavera.
Os ritos para a comemoração da Páscoa foram se transformando, ao longo dos anos. Ao tempo de Jesus, a refeição pascal era tomada em grupos de dez a vinte convivas, em casas particulares.
Os cordeiros, para a ceia, eram mortos no Templo, no dia 14 de Nisan, (ou Abib), que corresponde ao nosso mês de abril (talvez dia 6 ou 7), entre 14h30min e 17h, mas comido depois do pôr-do-sol.
A festa tomou verdadeiramente o caráter de comemoração da libertação do Egito, o que explica os ritos da festa, pela pressa com que os israelitas saíram, o que os obrigou, naquela oportunidade, a usar a massa que estava na masseira, antes que pudesse levedar.
Além do cordeiro e do pão ázimo (sem fermento) utilizavam-se, ainda, o "charoset", isto é, um prato de frutas desfeitas em vinagre, formando uma pasta cor de tijolo, que servia para recordar a argamassa que os filhos de Israel empregavam nos trabalhos do cativeiro egípcio. Ervas amargas recordavam as agruras da escravidão.
As ervas eram mergulhadas no "charoset" e comidas, em meio a preces de gratidão a Deus. O pão ázimo era distribuído em pequenas parcelas, a fim de recordar a antiga escassez de víveres. O vinho era indispensável, misturado com água: 4 cálices ao todo, servidos pelo chefe de família e seguidos, um a um, de explicações a respeito da simbologia daquela comemoração especial e de entusiásticos louvores dos Salmos. As famílias que não o pudessem adquirir, deveriam buscá-lo no Templo, de forma gratuita, especialmente entregue para a ocasião, que era imprescindível de ser celebrada por todos os varões de Israel. As mulheres poderiam participar, se o desejassem, não sendo a isto obrigadas.
De acordo com os Evangelhos, a prisão, condenação, flagelação e a morte de Cristo coincidiram com a festa em que os judeus comemoravam a libertação do cativeiro egípcio, a sua Páscoa. É por este motivo que, posteriormente, se ligou o episódio da ressurreição de Jesus à Páscoa, tendo a liturgia Católica a adotado em seu calendário.
Quanto aos símbolos da Páscoa, responsabilizam-se os teutônicos pelo ovo de Páscoa. Antes eram ovos mesmo, símbolo da vida e da fertilidade, provavelmente proibidos como alimentos durante a Quaresma (liturgia católica) e reaparecendo no cardápio do domingo da ressurreição.
Contudo, o costume de oferecer ovos como presentes nessa época, remonta aos antigos egípcios. Entre nós, esse costume foi trazido por missionários que visitaram a China. Só que, antigamente, eram ovos mesmo, de pata ou de galinha, coloridos e enfeitados. A partir do século XVIII, incorporou-se o ovo de chocolate como símbolo da Páscoa, admitindo-o como indicativo de fertilidade e renovação. No Brasil, os ovos de chocolate foram introduzidos entre os anos 1913/1920, por imigrantes alemães.
O coelho, outro símbolo ligado à Páscoa, conforme a Liturgia Católica expressa a capacidade da Igreja em reproduzir novos discípulos. Alguns historiadores associam isso a antigos ritos de fertilidade, o que se justifica, pois o coelho é o animal que mais se reproduz.

Extraído do texto e da pesquisa de Maria Helena Marcon

“Toda complexidade atrasa o relógio da evolução e não devemos nos prender a exterioridades.”

Por Sonia Astrauskas


9 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Belíssima explicações, cara Soninha, sobre tão antigas e distantes tradições, que sobrevivendo ao tempo e às marés, vieram aportar e sobrevivem, fortes, até hoje, na Terra Brasilis.
Abraços.

Luiz Saidenberg disse...

Desculpe; belíssimaS!Como sou péssimo digitador!

Zeca disse...

Soninha!

Parabéns pelo texto, claro e limpo, onde nos explica as origens desta festa, comemorada no mundo todo.
Como símbolo de renovação, que aproveitemos essa data para ressurgirmos com mais sabedoria e renovarmos nossos caminhos.
E já que o coelhinho da páscoa simboliza a procriação, que seus ovos de delicioso chocolate se multipliquem cada vez mais!

FELIZ PÁSCOA A TODOS!

Abraço.

LAERTE CARMELLO disse...

SÔNIA:
Sinceramente esta é a primeira vez que leio um texto sobre a Páscoa tão completo, tão elucidativo e tão provocador a mudanças pessoais.
Reforçando as palavras do Zeca - que tal ressurreição/renovação aconteça em cada um de nós, em nossa maneira de pensar e agir.
Bem como permitir que tal renovação brilhe em nossos olhos para que possamos transmiti-la aos que nos cercam.
Parabéns pelo excelente texto!
Que Você, sua Família e nossos Amigos do MS tenham uma fantástica Páscoa! Laerte.

suely schraner disse...

Ôba! Aprendi mais umas coisinhas nesta travessia cultural. Valeu, Soninha!

Wilson Natale disse...

Soninha: Muito rico e interessante este texto da Marcon! E que bom que você o publicou!
Quem nasceu na Velha Mooca, querendo ou não, tornou-se, como eu, Ave! Shalom! Salaam! e teve contato com todas as tradições.
Li o texto e lembrei, embora de forma não precisa,que um sacerdote do Templo introduziu uma forma diferente na comemoração do Pesach. Não via inconveniente em se colocar todos os alimentos entre os pães ásimos e, com isso, deu origem aos primeiros sanduíches da história (isto, segundo alguns rabinos).
É uma pena que se tenha cristianizado a significação da Páscoa. Com isso acabámos por perder os valores morais do Pesach, que é a unidade da família, a fé e a reverência a Deus.
Hoje, para muitos, importa o feriadão e não a significação da Páscoa.
A uns desejo uma feliz Páscoa, a outros um feliz Pesach!
Abração,
Natale

Laruccia disse...

Muito instrutivo seu texto, Sonia, sendo a autora a Marcon que, por seu intermédio, nos consagrou com essa interessante esplicação sobre a Páscoa, (ou Pásqua, qual é o certo?)Em todo caso, feliz Pesach, como diz nosso mestre Natale. Parabéns, Soninha.
Laruccia

Soninha disse...

Olá, amigos!

Obrigada pelos comentários.
Quero acrescentar sobre a pronúncia correta do pesah... Síbalaba tônica no "pe" e com com som de S no "sah"...ficando mais ou menos como pêssah a sonoridade da palavra...
Ótima Páscoa a todos, cheia de paz!
Beijossss achocolatados!

Miguel S. G. Chammas disse...

Amor, mesmo muito atrasado, li teu texto e me convenci, mais ainda, da qualidade de suas investidas na literatura.
Quando você não escreve, enontra coisas que merecem ser lidas e nos presenteia com elas.
Obrigado!