Olhando aquele quadro, numa exposição na Pinacoteca de SP, eu me vi como Sara que trazia para sua lembrança o rosto de seu amado Leo.
Era como se ela voltasse no tempo, revivendo todos os momentos que eles se amaram.
Ela conseguia, como num passe de mágica, voltar no tempo e ver todas as épocas das vidas que juntos tiveram.
Via-se como plebéia a correr com seu amor pelos campos dos pastores nômades da Roma antiga, escondendo-se dos patrícios que se julgavam superiores a todos.
Recordava os momentos cruéis das cruzadas, a esperar pela volta de seu amado das batalhas sangrentas, depois dos combates contra os inimigos do cristianismo nas Terras Santas de Jerusalém.
Trouxe à memória doces lembranças dos tempos em que se encontrava com seu amado, às escondidas, nos corredores e salas secretas, das maravilhosas igrejas que guardavam, em seus altares e santos, as mais belas juras de amor eterno, ditas por seu querido quando ainda estudante de Galileu Galilei, em épocas renascentistas.
Olhando, agora, a réplica da Gioconda de Da Vinci, naquela sala moderna da Pinacoteca, ouvia o burburinho das grandes festas burguesas da sociedade feudal, quando brindava ao amor, junto com seu amante misterioso, depois de beijos ardentes e promessas de novos encontros secretos nos arredores do palácio.
Conseguia sentir o cheiro das ruas e dos campos cobertos por girassóis, da Rússia em plena revolução, e de feromônios quando se perdia nos beijos e no sexo feito com toda a volúpia, rolando pelos campos, enquanto pôde esconder a barriga da gravidez inevitável. Fruto querido de seu amor vivido com toda a plenitude da juventude.
Doces lembranças de seu amor vivido quando eram ativistas de revoluções comportamentais da década de 1950, quando o mundo experimentava grandes inventos tecnológicos, como a televisão e festejava os fins de guerras e finais de campeonatos esportivos.
Quando enfermeira, em plena guerra do Vietnã, cuidou das chagas de seu amado que voltara da batalha, sangrando e inconsciente, voltando a si com as mãos carinhosas de Sara ao lhe fazer os curativos. Foi amor instantâneo.
Nos sertões nordestinos brasileiros ou nos rincões distantes rio-grandenses, colhendo as mais deliciosas uvas para a produção dos vinhos, viu seu amado deliciar-se, observando-a em seu pisar ritualístico nas uvas.
Ao observar todas aquelas obras de arte da pinacoteca, sua mente se enchia destas doces lembranças existenciais, ao lado de seu amor. Amor que resistia a tudo. Avançaram os tempos se amando sempre, experimentando tudo o que a juventude podia e queria.
Atravessaram o tempo tocando guitarras, fumando baseados e cheirando cocaína, nas sendas dos anos dourados, sem deixarem, um instante sequer, deste amor bandido e, ao mesmo tempo, amor puro, que resistiu ao tempo e às exigências de todas as reencarnações.
Reviveu os dias felizes quando se encontraram, depois de uma reunião entre amigos, quando ela cantava pelo aniversário de um deles e Leo, encantado, foi-lhe cumprimentar.
Desde aquele momento, até o fim, não deixaram de se falar um dia sequer. Encontravam-se sempre em momentos de intensa paixão e amor.
Trocaram juras e promessas, novamente. Viveram, em um ano e alguns meses, o mais intenso amor, o romance mais lindo que eles já haviam tido.
Quantas vezes riram juntos em deliciosas conversas ou choraram juntos com os mais diversos problemas, resolvidos ou não, mas, sempre juntos e amando sempre.
Selavam mais uma existência com este amor maior, que parecia transcender a outros mundos.
Lembrou com lágrimas copiosas o momento supremo da passagem de Leo para a espiritualidade, nesta última encarnação, dizendo: Sara, meu amor, meu eterno amor.
Aquela doença cruel levara seu amado para outra dimensão da vida, deixando-a novamente só.
Mas, Sara sabia que isto era momentâneo. Porque a morte faz parte da vida e a morte é, apenas, uma transformação. Um dia, eles se encontrarão novamente, para viver este amor, realizando todos os sonhos que eles têm direito e para os transformarem em realidade.
Por Sonia Astrauskas
7 comentários:
Sonia: Lindo texto!
E assim acontece, pois os laços são Eternos.
Nada como espíritos afins trilhando a estrada do apredizado.
A morte nada mais é que a Fênix dos antigos - Ela morre,incendeia-se e renasce das próprias cinzas.
Somos todos almas peregrinas à caminho da luz.
Abração,
Natale
Sonia, a vida é uma formação natural que se completa de vários componentes químicos. Poaderia-se, então, fazer um homem com todos os elementos que se encontra na natureza? não, por que falta o principal: a alma. Mesmo que o ser tenha defeitos físicos, ao nascer, ele tem alma. Nasce, cresce, vive e morre sem saber nada disso. Mas,ele faz parte do elo da criação divina. Sim, porque não precisamos estudar medicina pra sabermos a maravilha que é o ser humano. O homem das cavernas, há milhões de anos era formado de boca, orelha, olhos, nariz igualzinho ao homem de hoje. Todos os movimentos, defesas, cheirava, ouvia, olhava como nós. O AUTOR da nossa formação, deve ter feito várias experiências antes de entregar ao "eleito", a alma definitiva.
Lendo seu lindo poema, chego a conclusão de que Deus sabe a quem entregar a graça de fazer seus irmãos entenderem o mistério da reencarnação. Vc, Sonia, portadora da mensagem divina em forma de ode, com a graça de despertar o amor entre os humanos. Parabéns, Astrauskas.
Laruccia
Bela viagem, Sonia, por muitas vidas passadas, revividas em quadros de uma exposição.
Nada como ir a uma bela pinacoteca, como a nossa, e além de contemplar os quadros, entrever em sonhos as miríades de vidas e dramas por trás de cada tela, por trás de cada pincelada.
Saber, pelo clima do quadro exatamente como era o ânimo do autor, quando foi feito.
De uma bucólica e tranquila cena de Corot aos vibrantes quadros do alucinado Van Gogh.
Belo texto, e feliz quem sabe apreciar a arte.
Sonia, com sua alta sensibilidade você pintou com rápidas pinceladas um retrato da alma de uma super escritora. Grande viagem. Beijos.
Sonia, seu texto esta tão bem escrito, e contem um elevado conteúdo espiritual que eu nem encontro palavras para comentar, portanto vou apenas deixar meus: Parabéns.
Soninha,
como um lindo texto pode conter uma linda história de amor entre almas gêmeas, unidas pelo sentimento maior por toda eternidade! Vidas vão, vidas vêm e elas, predestinadas, se encvontrarão para dar continuidade a esse amor tão poderoso em sua singeleza. E contada com a sutileza das pinceladas dos grandes mestres que se expressaram através das cores, dando vida a esses amores! Você captou o clima, a sensibilidade e matizou tudo com o colorido das suas palavras, fazendo com que este conto estivesse à altura de ser apresentado lado a lado com as lindas telas apreciadas.
Parabéns!
Beijo.
Amor, será você a minha Sara?
Ou será, então, a minha Sonia?
Não sei!
Sei, apenas, que é a mulher que em apenas 2 anos me deu muito mais felicidades do que todos os outros 69 anos da minha conturbada existência.
Neste texto, novamente, você suplanta todas as minhas expectativas. Outra vez, o criador se ve prostado diante da criatura.
Não me falte nunca o nectar de suas palavras amor da minha vida!
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