sexta-feira, 15 de abril de 2011

Coisas que eu gosto de fazer em São Paulo - Parte II

No texto anterior falei sobre o Mercado Municipal, o Mercadão, que desde muito tempo me acostumei a visitar, tanto para comprar algumas iguarias quanto para degustar os acepipes que apenas ali encontro. Mas, existem outros lugares na cidade onde se come muito bem e vou aproveitar para falar rapidamente sobre alguns deles.
Desde os tempos de minha juventude, quando fiz o cursinho FGV na Rua da Consolação, 2068, sempre gostei de comer no Bar/Boteco/Restaurante Sujinho, também conhecido como Bar das Putas, que servia, entre outras coisas, uma gigantesca bisteca acebolada com salada de repolho que, pelo que é (salada de repolho!), não teria nada demais, se não fosse a Salada de Repolho do Sujinho! É tão boa essa salada, que agora faz parte do couvert. A bisteca, já disse que é gigantesca, mas ainda não disse que a carne é macia e saborosa. Já o frango caipira, hummmm, esse é de dar água na boca só de lembrar! E o chope da Brahma, geralmente é bem tirado. Se nada mudou nos últimos anos, o bar funciona direto, servindo suas iguarias tanto durante o dia quanto a qualquer hora da madrugada.
O Sujinho é tão tradicional que a gente até esquece dele. Mas, quem se acostumou a saborear seus pratos bem servidos e a pagar os módicos preços por eles cobrados, não poderá jamais esquecê-lo!
No início, era um bar frequentado na madrugada pelas prostitutas da Consolação e pelos taxistas que, junto com os motoristas de caminhão nas estradas, são sempre uma indicação de comida boa e preços idem. Sujinho era o apelido daquele Bar, sem outros atrativos, que foi conquistando os frequentadores das inúmeras boates e os artistas que se apresentavam no Teatro Record, ali perto, como, por exemplo, alguns artistas da jovem guarda que lá se reuniam para saborear os deliciosos bolinhos de bacalhau ou pedaços de pizza, enquanto aproveitavam para observar as “damas” que ali se davam alguns momentos de descanso, ou se permitiam aceitar algum convite mais ousado de algum frequentador. Elas eram, no geral, belas mulheres, já que a região era considerada a “boca de luxo” da época.
Era o bar “sem nome”, do Careca e do Cabeludo (ambos portugueses de nome Antonio), nascido nos inícios dos anos 60, na esquina da Consolação com a Maceió. E onde se encontra até hoje.
Aos poucos, com o sucesso, foi aumentando. Começaram a servir refeições num anexo e hoje, seu salão bastante limpo (contrastando com o nome) ostenta um enorme painel com uma foto antiga de São Paulo, bem ao estilo “boteco chique”. Mas, os garçons continuam se comportando como os antigos atendentes do bar: mal humorados, rudes, quase grosseiros. Porem, na hora em que a comida chega, qualquer maltrato desaparece e nosso apetite se abre como o sorriso em nosso rosto.
Uma das maiores e melhores características do Sujinho foi ser sempre um lugar sem preconceitos, com uma mistura de raças, credos e classes sociais, exatamente como é o famoso jeitinho brasileiro. É um lugar que manteve o clima de descontração e de tolerância, até mesmo diante dos maus modos dos seus funcionários. Espero que tenham melhorado um pouco, pois em pleno século XXI, não sei se atendentes mal humorados são suportados pela clientela. No final dos anos 80, os irmãos Antonios resolveram se aposentar, após tanto tempo se revezando em turnos de 12 horas, fazendo eles mesmos os churrascos que abriram o caminho da fama da casa. A casa acabou sendo vendida para os Afonsos, pai e filho, ambos igualmente portugueses de Vianna do Castelo e com farta experiência no ramo de restaurantes, churrascarias e padarias. Adquiriram o bar e mantiveram as características que o tornou conhecido, além de criar mais dois endereços, sempre focando na qualidade dos produtos ali oferecidos.
Estou lembrando exatamente da última vez em que lá estive, há uns dois anos quando, cheios de coragem, eu e o amigo que me acompanhava, resolvemos pedir a feijoada para 2 pessoas. Mentira! Dá para 3 ou, até 4 pessoas! É daquelas feijoadas “das antigas”, sem medo de ser feliz, com todas as carnes, gordas ou magras, servida numa cumbuca que veio borbulhando e transbordando, exatamente como deve ser servida. E acompanhada de arroz, couve, mandioca, bisteca, linguiça, torresmo, farinha e pimenta. Você acha que adianta chupar laranjas depois de tanta comida? Eu não acredito! Assim como não acreditei na conta, incrivelmente baixa para a feijoada, a caipirinha (oferta da casa) e as cervejas super geladas que bebemos.
Preciso voltar ao Sujinho! Este texto me deixou com saudade e com a boca cheia d’água.

Por Zeca Paes Guedes

10 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Sujinho, caro amigo Zeca, foi, e sempre será, um dos pontos de minha preferência.
Como voce mesmo afirmou, a bisteca éra seu prato de vanguarda, nos tempos em que o endereço era unico. Hoje, tendo se alastrado, outros pratos são tambem servidos com a mesma qualidade de outrora.
Minha boca já esta salivando. Acredito ser melhor parar meu comentário por aqui.
Posso, porém, garantir que o Bardas Putas é unico em nossa imensa Sampa.
Valeu a lembrança.

Soninha disse...

Olá, Zeca!

Mais uma vez devo dizer sobre minha PÉSSIMA memória para nomes, títulos de músicas,de filmes, etc... Nunca guardo estes nomes...kkkkkkk... E fico encantada com vocês todos,autores, que nos trazem os nomes de lugares, de ruas, de pessoas, de tudo...
Ai, que invejaaaaaaaa!
Mas, lembro de alguns barezinhos perto da Mackenzie,onde estudei, e que ficavam apinhados de estudantes, fazendo jus aos ditados que rezavam que onde tem bastante freguesia é sinal que a comida e o serviço eram bons, né?!
Fique com vontade dos quitutes aqui citados,viu!
Vamos marcar uma rodada de redondas lá?! Hummmmmm
Valeu, Zeca!
Obrigada.
Muita paz!

Zeca disse...

SONINHA!

Sinto tanto discordar de você!!! Mas bares apinhados de estudantes, na verdade, são mais conhecidos pelos preços do que pela qualidade... hehehe

Mas, para contrabalançar, CONCORDO PLENAMENTE com a sua sugestão de fazer uma rodada das redondas lá no Sujinho! Tenho certeza de que todos irão gostar!

Miguelito! Que tal pensar com carinho nessa sugestão???

Abração pros dois.

Wilson Natale disse...

Zeca: Crete fervoroso da Santa Comilança, entrei em tudo quento era bar, lanchonete e, claro, o bar das putas.
E como é bom comer bem e barato!
No Centro Histórico (Cidade) só não frequentei um restaurante francês, que ficava na Pça. da República, quase ao lado do antigo Cine República. Não me ocorre o nome do restaurante.
Ótimo texto-roteiro!
Abração,
Natale

Soninha disse...

Olá, Zeca...
Como vc viu, eu não era frequentadora de botecos ao redor da faculdade....kkkkkkkk
CDF de plantão, só pensava em estudar mesmo e fazia o lanche no campus, nas lanchonetes....que besta, né?!
Mas, fiz....fazer o que?! rss
Valeu!
Muita paz!

Luiz Saidenberg disse...

Bela lembrança, caro Zeca, e o sujinho, tão famoso em sua simplicidade que até ganhou tal nome, é boa sugestão para uma Rodada dos Redondos, ou não.
Mas não sabia que tb faziam pizza, lá! Sempre ótimo texto. Abraços.

Passageira disse...

Zequinha!!!
Olha, e eu nem sabia que vc estava por aqui, menino! Mas que prazer em te ler novamente, viu?
Delícia de memória, querido. Sem ter a menor noção do que seja Sujinho, fiquei morrendo de vontade de conhecer! rs... Texto bom é assim, né?
Beijo, querido!

Zeca disse...

Miguel, Soninha, Natale e Saidenberg:

Eu acho a sugestão da Soninha demais!

Então, estou lançando a campanha para uma rodada lá no Sujinho.

Para os que não conhecem, uma oportunidade para conhecer; para os que conhecem, uma oportunidade para visitar um lugar que, com certeza, não se esquece.

Abraços.

Zeca disse...

D'Euza!

Há algum tempo ando por aqui, contribuindo com meus textos e minhas lembranças da minha cidade.

Agora, mais feliz, com a sua visita tão especial. Espero que venha outras vezes.

E o Sujinho, ou Bar das Putas, como era mais conhecido nos meus tempos, é uma das delícias perdidas no emaranhado de pessoas, asfalto e concreto que forma esta amada cidade! Quem sabe, um dia, possamos ir juntos até lá?

Beijos carinhosos, amiga querida!

Laruccia disse...

Zeca, sujinho ou limpinho, não tem importância. O importante é vc ser BEM atendido. Se, como vc diz, antes de qualquer evento saber se o tratamento mudou.
Seu texto é muito explícito e bem adequado as vesperas da Páscoa, será que eles tem cabritos lá?
Cordeiros, leitões, peixada etc. Gostaria de conhece-lo.
Parabéns, Zeca.
Laruccia