domingo, 20 de março de 2011

Veja,ilustre passageiro...

Veja, ilustre passageiro...
Adentrando os imponentes espaços do Instituto Tomie Ohtake, bem ao fundo, ao lado do restaurante, deparamos com duas curiosas exposições, capazes de despertar lembranças saudosas no mais empedernido e circunspecto dos ranzinzas.

Isto depois de termos dado uma olhada, no andar de cima, nas curiosas obras do badalado Vic Muniz. Descendo a escada e passando pela pequena multidão disputando uma mesa, ali estão: a exposição de rótulos de cachaça, desde os mais famosos aos mais primitivos e anônimos de perdidos alambiques do sertão e a dos Annuncios em Bonds.
Annuncios em Bonds... quem, já de certa idade, não se lembra deles, sendo que em alguns casos foram até sua própria motivação para aprender a ler? Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro...larga-me, solta-me, deixa-me gritar....assim como me vê, são vistos os anúncios da Annuncios em Bonds...
Cada um tem suas lembranças particulares do qual lhe marcou mais, mas Veja, ilustre passageiro é unanimidade, e justamente por isto dá nome à mostra.
Belos cartazes dos primórdios da propaganda em São Paulo. Fora eu de uma geração anterior, talvez também tivesse trabalhado neles, no Atelier Mirga. O atelier foi criado e dirigido pelo polonês Henrique Mirgalowsky, e entre 1928 e 1970 criou os principais cartazes de bondes e ônibus, que hoje fazem parte de nossa história e do imaginário popular.
Entrei na publicidade mais tarde, quando o atelier já estava fechando suas portas, bem como os saudosos bondes, no caso dos que portas tinham, pois peguei o bonde an
dando, agarrado no balaústre - mais uma coisa, e palavra em desuso, como o bonde...
Ainda assim, conheci alguns dos grandes artistas que trabalharam com Mirga: Fritz Lessin, que parecia um conde alemão, mas, era de uma simplicidade cativante; Ivo Araújo, excelente pessoa e diretor de arte; João Cardacci, já velhinho, dirigindo o estúdio da Almap...
Convido-os, então, a entrar nessa exposição e matar a saudades dos cartazes e ver, espantoso, como as artes eram todas manuais, as letras a anos luz da fotocomposição de hoje. Tudo na munheca, e lindo.
E relembrar os velhos nomes. Eucalol, Vic Maltema, Phymatosan, Lavolho, Duchen, Vinho Centauro...e rever, afinal, até aquele belo passageiro, faceiro, que quase morreu de bronquite.

Por Luiz Saidenberg
De 10 de fevereiro a 10 de abril /2011
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201
Entrada pela Rua Caropés, Pinheiros
São Paulo - SP
fone: 11 - 2245-1900
Aberto de terça a domingo das 11 às 20 horas

12 comentários:

Soninha disse...

Olá,Luiz!

Ótima dica para um domingão como o de hoje,com chuva...ao menos aqui,no litoral.
Mas,eu gosto muito de exposições e esta é bem bacana. Entrei no site do instituto...
Vou indicar para meu filho que,assim como você,é publicitário,iniciando a carreira. Vai ser um boa experiência, tenho certeza.
Valeu, Luiz!
Obrigada.
Muita paz!

Miguel S. G. Chammas disse...

Luiz meu amigo, depois dessa deliciosa recomendação eu já me sinto motivado a visitar a exposição, mesmo sabendo que minhas pernas já não conseguem fazer muitas estrepolias.
Aliás, meu amigo, se você tivesse garantido que além dos rotulos, estariam os visitantes capacitados a degustarem os nectares que os utilizaram,eu já estaria lá. com ou sem pernas. rsrsrsrs

Arthur Miranda 27.miranda@gmail.com disse...

Luiz, delicioso texto para que possamos degustar a maravilhosa arte dos fazedores dos reclames de outrora, que marcaram época na divulgação de produtos que até hoje circulam entre nós, adoro rever essas coisas. Parabéns.

Arthur Miranda disse...

Luiz, delicioso texto para que possamos degustar a maravilhosa arte dos fazedores dos reclames de outrora, que marcaram época na divulgação de produtos que até hoje circulam entre nós, adoro rever essas coisas. Parabéns.

Wilson Natale disse...

Beleza Saidenberg! Quem não viu, deve ver e se deliciar com as obras da Tomie e com esse delicioso passeio pelas propagandas que nos trazem a memória dos tempos idos e vividos.
Fui ver e gostei!
Abração,
Natale

Luiz Saidenberg disse...

Muito obrigado, amigos, e especialmente à Soninha, que se apressou a editar este texto, para que os interessados possam apreciar em tempo.
Muito boas essas mostras, mesmo para quem não vivenciou ese tempo e ainda seja abstêmio. É o chamado "tirar o pó da memória", tão saudável e necessário para nós, veteranos.
Abraços.

Luiz Saidenberg disse...

ESSe tempo, desculpem! Ou deveria talvez dizer Aquele Tempo! Ou, como Mestre Pixinga, Naquele Tempo!

suely schraner disse...

Valeu a dica, belas recordações. Abraço, Suely

MLopomo disse...

A propaganda do biscoito Duchem, foi o que mais marcou para mim... Duchen, duchem, duchem. É o trenzinho camarada, onde não se paga nada, onde a gente passa bem...Comendo biscoitos Duchem.

Modesto disse...

Luiz, realmente suas recordações são de despertar o mais dorminhoco dos destemperados e mal-humurados dos inimigos do saudoso bonde. O melhor e mais humano dos transportes urbanos, que foi criado pelos saxônicos(não sei se ingleses ou americanos), o bonde, ainda usado nas melhores e mais respeitosas cidades do mundo, é o transporte que NUNCA desveria ser eliminado. Estes anúncios que vc expõe, realmente serviram pra alfabetizar a grande maioria das pessoas, incluxive eu. Lembro, ainda, dos preciosos lembretes "Cuidado Sempre" "Prevenir acidentes é dever de todos" e por aí a fora.
Os medicamentos, as lojas, os calçados, os produtos de beleza... ai que saudade dos "Amigos da Etelvina, Cito, Pox e Parquetina". Fica gravado na nossa saudade e quem não conheceu os bondes nunca vai saber o que era, REALMENTE, um transporte HUMANO. Parabéns, Saidenbrg.
Modesto

Luiz Saidenberg disse...

Muito, muito obrigado. Por favor, meus amigos, compareçam a essa exposição, gratuíta e num espaço maravilhoso, tranquilo e fácil de ir, num fim de semana. Acho imperdível para nós,memorialistas. Abraços.

Zeca disse...

Que pena, Saidenberg!
Acabo de voltar de São Paulo e só agora, através deste belo texto, fiquei sabendo dessa exposição! Se pudesse, teria ido, com o maior prazer, relembrar aqueles velhos tempos, onde eu também, ia aprendendo a soletrar cada palavra desses anúncios, enquanto o bonde deslizava pelos trilhos até atingir o destino.
Só uma coisa: a palavra bonde escapou de cair em desuso: hoje é usada pelos funkeiros e até pelos flamenguistas, onde o Ronaldinho criou o "bonde do mengão sem freio" ou algo parecido, hahaha.
Parabéns pelo texto!
Abraço.