terça-feira, 1 de março de 2011

Poeira nas estrelas -memórias


imagens: Emilinha Borba e Lurdinha Bittencourt; teatro Santana; Eliana Macedo; Eliana e Adelaide Chiozzo; Carmen Costa



Sou remanescente de um passado longínquo! Na minha juventude e mocidade fui um cinéfilo inveterado. Comia, bebia, e respirava cinema. Hoje não mais consigo assistir um longa metragem por completo. Os olhos vão se cansando, as pálpebras pesando, o sono vai chegando e eu caio prostrado nos braços de Morfeu.
Se cair nos braços dele não fosse, por si só, uma vergonha, eu, pasmem, ainda ronco. E ronco alto, de conformidade com os depoimentos
daqueles que se aventuraram a ter minha companhia numa sessão cinematográfica.
Bem, este preâmbulo foi, somente, para introduzir o prezado leitor no tema principal de meu relato.
Além dos filmes estrangeiros, eu, naqueles tempos, era aficionado pelos filmes brasileiros. Comédias puras e leves, estreladas por Oscarito, Grande Otelo, Ankito, Zé Trindade, Colé e vários outros desbravadores do cinema nacional me levavam ao delírio.
Eu era fã incondicional dos galãs Anselmo Duarte, Alberto Russhel, Cyl Farney, e embasbacado pelas atrizes maravilhosas do nosso mundo cinematográfico, tais como Tonia Carreiro, Eliane Lage, Ilka Soares, Cacilda Becker, Eva Wilma, Fada Santoro, Odete Lara e, lógico, a minha musa principal, Eliana (depois Macedo) e sua companheira quase inseparável Adelaide Chiozzo.
Eu babava sempre que aparecia uma cena com Eliana. Era realmente uma verdadeira paix
ão.
Certo dia, ao passar em frente ao Teatro Santana, na Rua 24 de Maio, vejo anunciada, em curta temporada, a revista musical “POEIRA NAS ESTRELAS”, tendo como figuras centrais a dupla Eliana e Adelaide Chiozzo.
Imediatamente, fui até a bilheteria, solicitei a presença do Sr. Ernesto (parceiro de meu tio Miguel no Teatro Municipal) e, explicando-lhe minha situação, perguntei se poderia entrar de bicão em alguns espetáculos.
Ele, sempre solicito e gentil, me disse: Venha sempre que quiser e mande me chamar.
Foi exatamente o que fiz. E pude assistir, assim, por diversas vezes, nas matinês
de quartas- feiras e sábados, o grande espetáculo.
Lembro-me que, além dos números musicais da E liana e da Adelaide, outra figura marcante do cenário musical brasileiro se apresentava nessa revista. Era ela, Carmem Costa, que acompanhada por seu marido, o guitarrista Carlos de Mattos, cantava diversas músicas de seu repertório, tais como:
Yayá cadê o jarro? / O jarro que eu plantei a flor./ Eu vou te contar um caso /eu quebrei o jarro e matei a flor / Que maldade, que maldade / você bem sabia / no jarro de barro eu plantei a saudade.
Agora sim, só me resta cantar “Que saudade, que saudade...”

Por Miguel Chammas

10 comentários:

Arthur Miranda disse...

Querido Miguel, tínhamos os mesmos gostos Adelaide e Eliana. Sendo que eu ainda tive o privilegio de contracenar com o Grande Otelo, Ankito, e o querido Colé, Parabéns pelo texto revivendo essa bela fase do cenário artístico brasileiro, pois foi essa época e esses artistas que despertaram minha vocação artística.

MLopomo disse...

Era os bons tempos do teatro chamado de rebolado. O Paramont era outro que apresentou muitas desses espetaculos. A musica,Yayá cadê o jarro? foi composta por Geraldo Blota, radialista que apresentava um programa nas manhãs de domingo nos cinemas da capital. Levava varios cantores e cantoras do Cast da Radio Record "A maior".

MLopomo disse...

Jarro da saudade (autor Geraldo Blota)

IAIA, CADÊ O JARRO / O JARRO QUE EU PLANTEI A FLOR / EU VOU TE CONTAR UM CASO / EU QUEBREI O JARRO E MATEI A FLOR / QUE MALDADE ... QUE MALDADE!/ VOÇÊ BEM SABIA / NO JARRO DE BARRO / EU PLANTEI A SAUDADE!/ QUE MALDADE... QUE MALDADE!/ VOÇÊ BEM SABIA / NO JARRO DE BARRO / EU PLANTEI A SAUDADE!

Luiz Saidenberg disse...

Belas lembranças, Miguel. E com isto, vc dirime muitas dúvidas que têm certas pessoas sobre o Teatro Santana. O autêntico ficava na 24 de Maio, mesmo. Mas, alguns colaboradores do SPMC, talvez de gosto mais vulgar, afirmaram ficar ele nas proximidades do Paissandu, ou da Av. Rio Branco. Esse já era outro Santana, decadente e pornô, nada tendo a ver com aquele mais antigo que vc frequentou. Abraços.

Marcia Ovando disse...

ah !as meninas sonhavam em ser um dia Eliana, tão lindinha,meiga.

Zeca disse...

Miguel,
só mesmo um texto leve e gostoso como este para tirar a tristeza que as lembranças deflagradas pela leitura da calamidade do Andraus trouxe ao meu coração!
Eu não cheguei a conhecer, de perto, esse teatro de variedades que você descreve. Peguei a fase final, decadente, do teatro de rebolado, onde as grandes estrelas e as suntuosas vedetes já não tinham mais vez. Algumas delas foram aproveitadas pela televisão, outras foram para o teatro, como atrizes e, algumas, simplesmente desapareceram.
Belas lembranças, amigo!

Abraço.

Wilson Natale disse...

MIGUEL: Que saudade mesmo! Não vi esse espetáculo, mas via todos os filmes da ATLÂNTIDA. e a minha paixão era a FADA SANTORO!
Adorava a voz da Carmen Costa e suas músicas.
Lembro de "Ya-á, cadê o jarro", que Alvarenga e Rachinho fez uma paródia criticando o Adhemar de Barros. Era assim: Adhemar, cadê o carro./ O carro que você roubou?/ Eu vou lhe contar um caso,/ Eu roubei o carro e o país pagou.../ Que ladrão!/Que ladrão!/ Você bem sabia/ Que o Chevrolet custava um milhão!/...
UMA INFORMAÇÃO: Esse teatro da foto é o antigo Theatro Santana da Rua Boa Vista, demolido quando da construção do viaduto que ligaca a Rua Boa Vista ao Páteo do Colégio, no início dos anos 30.
O da Rua 24 de Maio é posterior, mas com o brilho das personalidades artísticas que passaram por lá.
É célebre o caso das brigas de Luz del Fuego com Elvira Pagã, que lá se apresentaram. Rivais que eram, viviam se provocando e dando manchetes aos jornais. Numa dessas manchetes, Elvira queixava-se que as serpentes de Luz vivia comendo os seus caros sabonetes franceses.
Ah! Os velhos tempos em que de tudo se fazia para promover as "Revistas" apresentadas pelo teatro! Luz e Elvira eram amicíssimas.
Gostei muito do seu texto!
Abração,
Natale

Soninha disse...

Oie...

Eu adoro cinema e você bem o sabe...
Ests filmes antigos são encantadores. Eu os assisto até hoje,pela TV Cultura de São Paulo...Todos os domingos,~no período da manhã, tem o programa "Reis do riso"que são exibições destes filmes anigos, com todas estas estrelas e astros citados pr você.
Vale conferir.
Muita paz! Beijosssssss

Modesto disse...

Miguel, sua apaixonante narrativa nos leva a uma época de verdadeira felicidade em matéria de teatro de revista. Até os anúncios nos jornais e revistas, chamando o público pra mais um show, com os maravilhosos artista que vc tão bem lembrou. E os filmes, então... alegres, simples e genuinamente brasileiros. Hoje, quando os produtores começaram a seguir a linha francesa de produção, (e nunca conseguem...)vc assiste filmes em que a atriz fica olhando o ator por uns dez minutos, sem dizer nada. É vc, espectador quem tem que adivinhar.
Parabéns, Miguel.
Modesto

suely schraner disse...

Miguel, eu vou te contar um caso. Mergulhei de cabeça neste relato e fiquei saudosa. Abraços e parabéns, Suely