Com base num fato ocorrido em São Paulo, na primeira metade do ano de 2007, elaborei, em estilo de cordel, um exercício de síntese verbal e da musicalidade poética.
1987, com dois filhos saudáveis,
no 8º mês do terceiro, enfrenta
anemia, precisa de sangue, urgente.
Trágicos descuidos, prováveis.
Transfusão mortal a alimenta,
por profissional indiferente.
Luciana nasce, mãe a rejeita,
não quer filha contaminada,
num triste fim, morre, sem amparo.
Como num teste, Lu é eleita,
primeira criança contemplada,
ao coquetel anti-Aids, caso raro.
Lu, sempre medicada, cresce,
amparada pela maternidade.
Adotada pela família Conceição,
linda menina, que floresce
doente; Lu, por unanimidade,
recebe módica pensão.
Dificuldades pra falar e andar;
Maria Paiva, infectologista,
consegue num esforço inédito
fazer a Lu, o coquetel tomar;
nunca em criança, arrisca,
tenta, tem sucesso, com mérito.
A droga grata, na Lu, logo se nota,
o vírus assassino cede ao mal,
outras crianças são medicadas.
Uma esperança de cura, remota,
renasce nos doentes, na fase final,
nas mãos de pessoa tão dedicada.
Daniel, vizinho e pedreiro,
por Lu se apaixona, perdidamente,
sabendo do drama, não se importa.
Lu tem um amor verdadeiro,
acalenta um sonho, ardente,
por um filho, tudo suporta.
Com carga viral abaixo do nível,
Lu não oferece perigo, ao Daniel,
sem saberem os dois, desse detalhe.
Decidem ter um filho, incrível,
com o risco do bebê e do seu fiel,
que concorda e amor, dar-lhe.
Sem preservativo, em Deus confiam.
Contrariam observações, conselhos,
a gravidez acontece e as críticas
más, suas esperanças desafiam
os riscos que correm, alheios,
superam, numa áurea mística.
Nasce sem o mal, Ana Vitória,
Daniel, o companheiro, imune.
Lu, em tratamento, a espera
que outro milagre, venha agora,
se a filha foi salva, incólume,
ela, também, coitada, quem dera.
Por Modesto Laruccia
1987, com dois filhos saudáveis,
no 8º mês do terceiro, enfrenta
anemia, precisa de sangue, urgente.
Trágicos descuidos, prováveis.
Transfusão mortal a alimenta,
por profissional indiferente.
Luciana nasce, mãe a rejeita,
não quer filha contaminada,
num triste fim, morre, sem amparo.
Como num teste, Lu é eleita,
primeira criança contemplada,
ao coquetel anti-Aids, caso raro.
Lu, sempre medicada, cresce,
amparada pela maternidade.
Adotada pela família Conceição,
linda menina, que floresce
doente; Lu, por unanimidade,
recebe módica pensão.
Dificuldades pra falar e andar;
Maria Paiva, infectologista,
consegue num esforço inédito
fazer a Lu, o coquetel tomar;
nunca em criança, arrisca,
tenta, tem sucesso, com mérito.
A droga grata, na Lu, logo se nota,
o vírus assassino cede ao mal,
outras crianças são medicadas.
Uma esperança de cura, remota,
renasce nos doentes, na fase final,
nas mãos de pessoa tão dedicada.
Daniel, vizinho e pedreiro,
por Lu se apaixona, perdidamente,
sabendo do drama, não se importa.
Lu tem um amor verdadeiro,
acalenta um sonho, ardente,
por um filho, tudo suporta.
Com carga viral abaixo do nível,
Lu não oferece perigo, ao Daniel,
sem saberem os dois, desse detalhe.
Decidem ter um filho, incrível,
com o risco do bebê e do seu fiel,
que concorda e amor, dar-lhe.
Sem preservativo, em Deus confiam.
Contrariam observações, conselhos,
a gravidez acontece e as críticas
más, suas esperanças desafiam
os riscos que correm, alheios,
superam, numa áurea mística.
Nasce sem o mal, Ana Vitória,
Daniel, o companheiro, imune.
Lu, em tratamento, a espera
que outro milagre, venha agora,
se a filha foi salva, incólume,
ela, também, coitada, quem dera.
Por Modesto Laruccia
8 comentários:
Belo poeta, Laruccia! Parabéns!
Olá,Modesto!
Bavana esta sua veia poética cordelista!
Mas,foi um milagre mesmo. Haja vista os pacientes terem de ser osprimeiros a tomarem as medidas de segurança para a relação sexual segura.
Bem...é um orgulho, para nós brasileiros, pois Brasil é pioneiro na distribuição gratuita do coquetel para o tratamento de AIDS e acredito que temos um papel importante nesta caminhada, mesmo porque, a indústria farmacêutica nacional está assumindo a fabricação de alguns medicamentos retrovirais.
Legal, né?!
Valeu, Modesto!
Obrigada.
Muita paz!
PARABÉNS, MODESTO!!!
Assunto normalmente não discutido, muito menos poetizado, embora de enorme importância para todos nós, mesmo para aqueles que se autoclassificam "imunes" aos riscos.
O preconceito e a discriminação ainda continuam sendo os grandes vilões a este mal que aflige tanta gente. Muitos não se salvam por não terem os conhecimentos necessários, não receberem aconselhamento e não terem coragem de procurá-lo, por receio de se tornarem ainda mais discriminados.
Quantas vidas poderiam ser salvas se as pessoas deixassem de lado a hipocrisia e passassem a falar e a discutir abertamente sobre os problemas e as soluções existentes para esse e para outros males que infernizam silenciosamente tantas pessoas que vivem entre nós! Quantas vidas poderiam ser salvas se as pessoas fizessem como você e colocassem em verso ou em outras formas de manifestação artística, historinhas como essa que nos contou?
PARABÉNS, MODESTO!!!
Continue dando exemplo de integridade e de solidariedade a todos nós!
Abraço.
Larù: Uma frase antiga: Primeiro você chora. Depois enfrenta!
Mais que sofre com a AIDS, os doentes tinham que enfrentar o preconceito - que era e ainda é - pior que a doença.
E por medo ao preconceito dos outros, poucos bucavam ajuda.
Hoje a situação melhorou um pouco. Hoje aqueles que enfrentaram a doença e o preconceito, recuperaram o direito de ser feliz.
Davvero hai fatto una poesia bellissima a ricordarci che ha sempre la speranza da portaci avanti.
Abração,
Natale
De tanto em tanto/ A vida se manifesta/Causando espanto/ Sufoca e arrasta/ Libera e cerceia/ A boa poesia/Neste canto de prosa e tanto. Parabéns.
Pior que qualquer doença é o preconceito, pois para o mesmo não existe remédio. Parabéns Modesto, como sempre você sempre surpreendendo-nos e se superando .
ô, poeta também?????
Bravo, bravissimo...
Adorei
Laruccia, mais uma vez você nos brinda com uma emocionante narrativa, desta vez em forma poética, parabéns, Nelinho.
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