sexta-feira, 4 de março de 2011

Minha história mesclada à de Sampa – 6ª parte

Nossa nova casa, embora tivesse um quintal menor, era bem maior que as anteriores. E
mais moderna, pois havia sido construída para nossa família. Na
frente tinha um jardim todo gramado (novidade naquela época, com jardins repletos de flores), apenas uma seringueira no meio e poucos arbustos espalhados, entre eles, um chamado mil cores que eu achava muito bonito. Ele contrastava com o excesso de verde do gramado e da seringueira que crescia rapidamente, transformando-se numa enorme árvore que, um dia, precisou ser cortada, pois suas raízes estavam levantando o calçamento em volta do jardim e ameaçando derrubar o muro de entrada e outro lateral.
Meu pai sempre foi apaixonado por carros e, para nosso desespero, gostava dos antigos. Assim, em plena década de sessenta, ele teve um enorme Hudson 1949, ou um Chevrolet “saia e blusa” 1950. Só na década de 70 se tomou de amores pelo fusca e comprou um, que esteve com ele até morrer. Eu nunca me interessei por automóveis, nem sequer quis aprender a dirigir. Mas meu irmão, já co
m oito anos, de tanto prestar atenção no meu pai, sabia dirigir e, não sei como, conseguia ligar os carros do meu pai com aquela chavinha que abria as latas de aveia Quacker.
Um dia, minha tia estava no jardim da sua casa quando viu passando pela rua o carro do meu pai (na época um Chevrolet 1948, preto). Só que o carro estava rodando sozinho, sem ninguém dirigindo! Apavorada correu até nossa casa e constatou que o carro do meu pai não estava na garagem. Já estava apelando para todos os santos quando o carro apareceu na rua, vindo em direção à nossa casa. E novamente sem motorista! Era o meu irmão, que tinha oito anos na época e, de tão pequeno, sumia dentro daquele carão. Ele estacionou o carro e desceu para abrir o portão e entrar na garagem. Mas tudo o que conseguiu foi ser agarrado pela orelha pela minha tia que, nervosa, disse que o carro iria ficar na rua até a hora em que meu pai chegasse do trabalho e que ela mesma iria contar para ele a arte que o meu irmão aprontara. Não adiantou implorar nem nada. Ela prometeu e cumpriu! Meu pai deu uns safanões no meu irmão, minha mãe deu outros e até pra mim sobraram alguns, pois como irmão mais velho sempre era castigado por “não ter vigiado o peste do meu irmão”.
O único detalhe que passou despercebido por todos foi a maneira como meu irmã
o conseguira ligar o carro. Ninguém perguntou e ele também não falou! E continuou ligando os carros do meu pai com a chavinha de aveia Quacker e, às veze, dando uma voltinha com eles, por muito e muito tempo. Só depois de adulto contou o truque para o meu pai que, nessa altura, deu muitas risadas com a criatividade dele. E o mais engraçado é que não adiantava meu pai trocar de carro; em todos a chavinha de aveia Quacker servia! Eita aveia de mil e uma utilidades!
Nessa mesma época, eu já com mais de dez anos de idade, começava a me preparar para o curso de admissão ao ginásio e andava às voltas com as primeiras namoradinhas. Lembro da Sandrinha, linda moreninha do 4º ano primário, que sentava algumas carteiras à frente da minha, mas que sempre trocava olhares comigo. Não lembro como, mas de repente estávamos namorando! Os coleguinhas faziam aquela algazarra à nossa volta e íamos orgulhosos, de mãos dadas, em direção ao colégio. Eu me sentia um homenzinho, o único entre os meus colegas que já tinha uma namorada. Mas lembro que o único beijo que dei nela foi no dia do seu aniversário, e o beijo, na face, deixou-a corada e morrendo de vergonha diante dos coleguinhas. Não lembro como terminou nosso “namoro”, talvez quando mudei de colégio. Eu me tornei um grande namorador, quase um “colecionador” de namoradas. Muitos anos mais tarde, ela se casou com um dos amigos do meu irmão. E aquele namoro do primário virou uma espécie de segredo entre nós. Coisas de outros tempos!

Por Zeca Paes Guedes

7 comentários:

Arthur Miranda disse...

Zeca, como é gostoso ler essas historias, a gente volta a ser criança a lembrar daquelas coleguinhas do nosso tempo de criança, que se não a namoramos por timidez, bem que gostaríamos de ter namorado.
Parabéns por essa sua historia tão bem contada e cheia de detalhes, e que no final me deixou com raiva, pois uma vez tive que sair às pressas de carro e não achava a chave da ignição do mesmo sem sabia dessa hiper serventia das chavinhas de abrir latas. Vivendo e aprendendo. Parabéns.

Wilson Natale disse...

ZECA: Como você, numca fui chegado a dirigir carros. Agora, apanhei muito por "roubar" a bicicleta motorizada Merc-Suiss do meu primo mais velho. Era só ele encostar, eu a a motobicicleta sumíamos.
Quanto aos carros, os pais eram tradicionais. A velha perua DODGE, comprada pelo meu pai em 1946 o acompanhou até 63, quando ele resolveu partir para o FUSCA... Mas, não era tão bom como a DODGE (risos).
Gostei do texto!
Abração,
Natale

Modesto disse...

Como é gostoso ler estas linhas tão cheias de ternura, namoricos de crianças que sempre ficava naquilo. Zeca, vc nos leva aos sonhos que todos tem, uma garota desejada e, só por causa da maldita timidez, perdia a chance, deixando pra outro (que era sempre mais feio...) abocanhar aquilo que te pertencia.
Com relação a carro, sempre tive facilidade e oportunidade pra aprender a dirigir. Depois vou contar essa história. Parabéns, Zeca.
Modesto

Soninha disse...

Olá, Zeca!

Nossa!Quanta saudade!
Lendo seu texto,fui lembrando, de imediato, as cenas de minha adolescência, quando esperávamos meu pai ir descansar aos domingos à tarde...motivada pelos primos, pegávamos a chave do carro (escondida), empurrávamos o carro para fora da garagem, tinha umam descidinha que ajudava a colocarmos o carro na rua e só depois dávamos partida no motor e lá íamos nós,rodarpelo quarteirão de casa, na maior aventura,pois eu tinha cerca de 15 anos...que loucura!
Sempre fui apaixonada por carros e adoro dirigir. Ao volante, tudo fica mais calmo para mim...é terapêutico.
Sem moralpara dizer aos meus fikhos sobre não dirigirem enquanto menores, acabei ensinando a eles, mas,orientando sobre não dirigirem sem habilitação...Assim que fizeram 18 anos, tiraram a CNH e são ótimos motoristas.
Ai, Zeca...que saudade dos bns tempos!
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!

Luiz Saidenberg disse...

Caro Zeca, saborosas memórias. É curioso,vc, de uma família de automaníacos, jamais ter se interessado por dirigir. Talvez fosse para compensar os excessos dos outros. E que bom que atualmente os carros têm chaves codificadas, que bloqueiam toda a parte elétrica. Senão, a chavinha de seu irmão poderia continuar um grande sucesso, desta vez em mãos mais que indevidas...
Na adolescência, meu irmão comprou uma moto Jawa. Aprendi a dirigir, mas todas vezes em que saí acabaram não muito bem. Pensei mesmo que nunca dirigiria nenhum automotivo. Mas, aos trinta anos revelei-me um às do volante....mas isto já é outra historia. Abraços.

suely schraner disse...

Maravilha, Zeca. O que você não tinha de motorista, sobrava de D.Juan. Eu gostei muito do seu relato.Abraço.

Miguel S. G. Chammas disse...

Zecamigaço, lindas essas tuas memorias. Os primeirs namoros a gente não esquece jamais.
Me desculpe de não ter comentado antes mas estava viajando e não tinha acesso da internet.
abraços