domingo, 17 de outubro de 2010

PESCANDO NA PRAÇA BUENOS AIRES


Final dos anos 40, a molecagem era minha principal atividade. Era praticada na Rua Augusta onde eu morava e nas imediações, diga-se de passagem, que eram definidas muito além de minha residência.
Na Augusta, mesmo diante das traquinagens, eu tinha a mão do velho Ministrinho, outrora grande craque do Palmeiras e da Itália, agora simples sapateiro, alisando minha cabeça de moleque.
Um dia, estava eu na casa do amigo-irmão Zilando, na Rua Marques de Paranaguá, quando surgiu a idéia de promover uma pescaria. Onde? No laguinho que ficava na Praça Buenos Aires (hoje Parque Buenos Aires), nas imediações da Avenida Angélica e da Rua Maranhão, próximo do Estádio Municipal do Pacaembu.

As carpas coloridas que lá nadavam não seriam nossos alvos; nosso alvo de pesca seria as centenas de alevinos que por ali nadavam. Queríamos obter alguns exemplares vivos para tentar completar uma criação em casa.
Idéia aprovada, nos armamos com latas de óleo, devidamente furada, que substituiriam as peneiras, vidros para acondicionamento dos exemplares pescados e saímos em expedição até o local de nossa pescaria.
Lá chegando, assuntamos as redondezas, tentando localizar o vigilante da praça. Sem encontrá-lo ficamos mais tranquilos e partimos para nossa missão.
Estávamos em plena atividade, alguns alevinos já nadavam nos vidros quando um longo e estridente apito foi ouvido. Esse apito foi seguido de um brado rancoroso que dizia “espera lá moleques, que eu já os pego”.
Que esperar que nada! Saímos em desabalada carreira, atravessamos a Avenida Angélica, alcançamos a Rua Itambé, entramos por trás do Mackenzie e alcanç
amos a parte florestal daquele instituto de ensino onde, claro, tínhamos nossa casa em cima de uma árvore.
Começamos a subir na árvore, mas os deuses do dia não eram nossos aliados.
O caseiro do Mackenzie, que já havia nos prometido uma lição, nos surpreendeu, munido com uma espingarda, dando tiros de sal.
Não me acertou nenhum tiro, nem o Zilando foi ferido, mas o susto dobrado quase nos fez sujar as calças (na época ainda curtas).
Correndo ainda, saímos pela “passagem secreta” para a Rua da Consolação e só paramos de correr, esbaforidos e muito suados, dentro da casa do Zilando.
Os peixes e todos os apetrechos? Foram jogados de lado assim que começamos nossa fuga.
Outra tentativa?
Não, decididamente éramos moleques, mas não éramos burros.

Por Miguel Chammas

6 comentários:

Zeca disse...

Que ótima aventura na Praça Buenos Ayres, hein, Miguel? Tô aqui, rindo e relembrando as traquinagens que meninos da nossa época faziam, completamente diferentes das que os meninos de hoje fazem; mas que igualmente deixam suas mães de cabelos em pé... rs.
Quando aceitei o convite para escrever sobre praças de nossa cidade, a primeira que me veio à cabeça foi exatamente a Praça Buenos Ayres, a meu ver, uma das mais bonitas e (acho) mais bem cuidadas da cidade. Nunca brinquei por lá, mas namorei bastante... rs.
Abraço.

Wilson Natale disse...

Ri muito, Miguel.
E por motívos mais ou menos iguais aos seus, riram de mim.
Então, por que não rir de você?
Repetir o èrro? Jamais, never!
Gato escaldado tem medo de água fria...
Abração,
Natale

Luiz Saidenberg disse...

Muito legal, Miguel. Uma verdadeira expedição ao coração da selva, para uma criança. E absolutamente frustrada: como nos filmes de Tarzan, com direito até a tiroteio. Brincadeiras à parte, a Pça. Buenos Aires, montada em bairro nobre, é uma exceção à regra das praças paulistanas: bela, limpa, bem frequentada, com suas várias estátuas em bom estado. Uma praça que ainda dá orgulho ! Abraços.

Laruccia disse...

Alô, Tarzan de Higienópolis, vai pescar? não esqueça, se não levar vara acaba levando chumbo. Safari tem destas coisas, nunca saia desprevenido. Crônica leve (pra nós...) pesada pra quem foi caçar e saiu tostado. Parabéns, Miguel.

Arthur Miranda disse...

Miguel, lendo sua historia e é claro rindo muito, lembrei-me de uma historia parecida acontecida comigo na praça do Largo da Matriz Nova, na Freguesia do Ó vou escrever e contar no futuro. vou até aproveitar o espaço para fazer propaganda " ATENÇÃO NÃO PERCAM - BREVEMENTE AQUI MINHA HISTORIA NA PRAÇA DA FREGUESIA DO Ó (risos)" Parabéns e desculpe a brincadeira.

Soninha disse...

Oieeeee...

Bem...Sou mais novinha...rsss
Mas, tenho imenso carinho pela região da Mackenzie, onde estudei e goato muito.
Belos e bem tratados jardins tem a instituição de ensino citada.
Valeu, amor!
Obrigada.
Muita paz! Beijosssss