sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Meu quintal na Freguesia do Ó

Meu quintal na Freguesia era enorme,
isso na década de cinquenta.
Tinha sapos, tinha grilos, gafanhotos e pererecas,
tinha minhocas, tinha aranhas,
formiga então, tinha à beça.
Tinha patos e galinhas, tinha gansos,
Até mesmo uma marreca.
Tinha mamão, jabuticaba,
e eu nunca saia de casa,
para comprar uma goiaba.

São Paulo era tão gostoso
e o meu quintal, uma festa.

Não havia asfalto na rua,
e para não levantar poeira
o pessoal da prefeitura sem raio e sem trovão
trazia uma chuva fininha,
passeando de caminhão.
deixando a terra ensopada
e aliviando o verão.
Ah! como era gostoso o cheiro da terra molhada,
a garotada descalça corria... Pelas calçadas,
Era a festa da molecada.

E quando chegava São João
muita gente fazia festas.
Eram fogos, foguetes, balões,
muitos estouros de Rojões.
Bombinhas por todo lado.

Para essas festas bonitas,
todo mundo era convidado
para comer batata assada,
pipoca, queijo com goiabada,
amendoim torradinho, um saquinho com pinhão,
canjica, arroz doce, o esperado quentão.
muitas broas de fubá.
São Paulo daquele tempo
Muita saudade me dá.
Não faz muito tempo não,
São Paulo tinha nas ruas
bonde aberto e camarão.

Todo mundo jogava bola,
tinha campos pra todo lado.
Quase não tinha ladrão.
Tinha o homem da prestação,
leiteiro e até padeiro no portão.
O salário era pouco, mas a vida era mais barata.
Tudo na base do vintém
e até para ir á Santos a gente pegava um trem.


Minha São Paulo ainda é gostosa,
mudou muito, é verdade, ficou enorme, moderna.
Novas pontes viadutos,
Que às vezes nem a reconheço,
olhando-a de minha janela.
Tenho até dificuldades de andar pelas ruas dela,
mas, continua bonita e também acolhedora.
E, mesmo eu estando longe, continuo como criança,
Sentindo paixão por ela.


Por Arthur Miranda (tutu
)

9 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

Bela poesia, Tutu. A Freguesia merece; apesar de tudo, continua simpática e pitoresca, com o Frangó, o Bar do Alemão e a Pizzaria do Bruno. Pena que o Recanto Jaraguá tenha fechado ! Abraços.

Soninha disse...

Olá, Arthur!

Todos temos saudade de nossos quintais, da casa da mãe, da casa da avó, não é mesmo?!
Como é gostoso recordar a infância, os bons tempos de meninos, as guloseimas, as brincadeiras, nossos parentes, familiares...
Ah, o tempo! Inexorável! Ainda bem que conseguimos reter na memórias todos os fatos de nossa vida, para contarmos para nossos filhos e netos.
Sua querida Freguesia, retratada em seus lindos versos, enterneceu nossos corações e nos fez lembrar de nossos quintais, também!
Valeu, Tutu!
Obrigada.
Muita paz!

Miguel S. G. Chammas disse...

Lindo poema Tutu.
Só posso dizer que não era só o teu quintal que era bom.
O meu lá na Rua Augusta, era tão fantástico quanto o teu.
As minhas festas de São João e São Pedro tambem eram sensacionais.
Eu tinha até um bando de cabras que desciam a Rua Augusta para nos fornecer leite quentinho.
Ai quanta saudades!!!!

Zeca disse...

Uau, Tutu!

Que belas lembranças
me vieram com esses versos!
Os quintais das nossas infâncias,
a bicharada de criação,
(faltou o totó que todos tínhamos,
ou o bichano que se enroscava
nas pernas em busca de um afago!)

mas sobravam frutas maduras
e a poeira da estiagem,
aplacada pelo passeio de caminhão
(que bela construção você fez aqui!)
mas não faltaram as festas juninas
com tudo a que tínhamos direito
e até mesmo o bonde aberto
chegou até aqui disfarçado de camarão!
Ou o trem de ferro pra descer a serra
nos levando pra praia durante o verão!
Nossa cidade ainda é sim, gostosa!
Mas não mais com toda a magia
daqueles nossos tempos de outrora!

Abração.

Unknown disse...

Arthur,como eram gostosos nossos quintais, cheios de árvores frutífera e com espaço suficiente para nossas brincadeiras repletas de criatividades.
Muito bonito você retratar em versos essas lembranças.
Um abraço

margarida disse...

Arthur, também tive um quintal assim como o seu. Adorei relembrar os tempos que ficaram marcados em nossas lembranças.
Um abraço.

Wilson Natale disse...

Beleza, Miranda! Fomos felizes nesses quintais imensos, nessas ruas semi-vazias que nos convidavam a brincar, a jogar. E os grandes descampados, então? Quantas aventuras! A vida era a Vida, as pessoas não eram estranhas e nós podíamos vadiar e vadear por locais desconhecidos do Bairro. Abração, Natale.

Adonis disse...

Rapaz, deixei até um comentário anterior achando que vc era o Miguel...rs Quanto a este texto, êta saudosimos bom! Abraços.

MLopomo disse...

Os velhos tempos dos quintais era nos anos 1950-60. No Itaim -Vila Olímpia onde eu morava e bairros adjacentes os quintais era bem grandes porque os terrenos tinham de 10 a 12 metros de frente x 30 a 50 de fundos. Na frente tinha uma área gramada com roseira, dália, Hortência e margarida, que faziam um jardim bastante florido quando chegava a primavera. Nos fundos do terreno uma bela horta, com um galinheiro e um galo dentro que dava conta de varias galinhas poedeiras e que também chocavam ovos durante 21 dias, quando apareciam as primeiras picadas por dentro dos ovos para sair os pintinhos. Não posso terminar sem antes de dizer que saído do jardim para o fundo passava-se pelo corredor onde tinha a parreira de uva que quando estava próximo ao fim do ano ficava carregado de cachos, esverdeados e que muitos ficavam da cor do vinho. Realmente são detalhes que não escapam da mente de saudosista.