quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Memórias medrosas

Medo, foi o tema que se manteve por aqui com os textos do Natale, lendo-os lembrei-me de uma estorinha que era contada nos “outroramente” pelos mais velhos, não sei se para provocar medo nos seus dedicados ouvintes ou, ainda, para mostrar a esses ouvintes a sua coragem em tocar no assunto.
Contava minha mãe uma estória que ouvira de seu pai, consequentemente, meu avô, que era assim:

Um dia, certo boêmio, em suas andanças pelo centro da cidade de São Paulo, descendo a Rua da Consolação, deparou-se com uma linda jovem.

O adiantado da hora serviu como desculpa e ele se aproximou da moça, perguntando se ela não temia andar por aquelas paragens, tão próximas de um cemitério, naquela hora da noite.
Ela respondeu que tinha, claro, algum receio, mas, precisava voltar à sua casa e assim sendo, não poderia perder muito tempo.
Galante, o homem se prontificou a acompanha-la à casa e perguntou onde ela morava.
Como resposta, ouviu que sua moradia era na Ladeira da Saudades nº 13.
Conhecedor de São Paulo como poucos, ele imediatamente lembrou que essa ladeira ficava no centro e ligava a Rua Xavier de Toledo com o Vale do Anhangabaú.
Era uma ladeira simpática, orlada de árvores e decorada por uma fonte.
Calculou a distância do trajeto e percebeu que, caminhando a passos largos, seriam despendidos uns 15 minutos e mais, não o tiraria muito de seu caminho original.
Se propôs acompanhá-la e ela aceitou, de pronto.
Foram, então, descendo a Rua da Consolação e jogando prosa fora.
Realmente, em poucos minutos estavam na Ladeira da Memória, defronte ao número 13.
Ela agradeceu a gentil companhia e já estava atravessando a soleira da porta quando ele, numa última tentativa, lhe perguntou se poderia encontrá-la novamente.
Ela respondeu que ficaria muito feliz se ele viesse em outra ocasião e, de preferência, em outro horário.
Ele concordou e prometeu voltar.
Os dias foram passando e a moçoila não lhe saia do pensamento.
Resolveu ir ao seu encontro e, numa tarde garoenta, lá se foi. Chegando, bateu à porta e quando atendido perguntou pela moça.
A senhora que o atendeu, ao ouvir sua pergunta, empalideceu. Perguntou se ele
a conhecia e desde quando não a via.
Quando o rapaz explicou como conhecera a moça, a senhora se identificou como mãe dela e informou que ele deveria estar enganado pois a moça procurada falecera 3 meses antes e estava sepultada no Cemitério da Consolação.
Ainda descrente, ele obteve informação da velha senhora sobre ao localização do túmulo e se mandou para o campo santo no intuito de comprovar a história.
Lá chegando, no túmulo, em um porta-retrato estava a fotografia da moça que ele acompanhara.
Em desespero, saiu daquele local em verdadeira disparada e, por muitos anos não mais passou sequer na Rua da Consolação ou por suas imediações.

Por Miguel Chammas

14 comentários:

Luiz Saidenberg disse...

São essas famosas lendas urbanas, Miguel, tão correntes em S. Paulo. Lembro-me, ainda do tempo do colégio, da famosa loura fantasma, que aprecia nos banheiros escolares, com algodão nos ouvidos. Pois bem, até hoje se fala dela! Do Bebê Demônio, inventado por Notícias Populares. Tantas coisas, mas pelo menos esta passou-se num ainda belo lugar, a Ladeira da Memória, apesar de castigada pela barbárie de nossos tempos. Abraço.

Soninha disse...

Olá, amor!

Que história, heim?! Uau! De arrepiar...credo!
Mas, eu acredito, sim, nestas coisas...
Até por experiência própria...
Já contei, em prosa, no meu bolg Roda de Prosa e no site SPMC sobre minha aventura na Rodovia Anchieta, sobre o "ser" que me ajudou pedindo socorro quando meu carro quebrou e eu estava com minhas crianças no carro, além de minha avó e minha tia, idosas...bem...sei lá se era alma de outro mundo ou se era ET que nos ajudou....mas ninguém sabia sobre ele na concessionária e na polícia rodoviária, mas ele veio da estrada e me ajudou...depois sumiu.
Valeu, amor!
Obrigada.
Muita paz! Beijosssssss

Arthur Miranda disse...

Miguel. Não acredito em fantasmas mas não entraria sozinho em um cemitério entre as 18:30 e 6:30, por dinheiro algum desse mundo.
Me lembro vagamente de em criança ter ouvido alguma historia parecida com essa contada pela minha avó.
Bela narrativa amigo. Parabéns.

Wilson Natale disse...
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Wilson Natale disse...

Boa, Miguel!
A variante que eu conheço é a da mulher lindíssima caminhando de madrugada, na Teodoro Sampaio. Um homem lhe dá carona até a Consolação e a leva até um prédio, em frente ao portal do Cemitério. Ele pergunta se ela mora naquele prédio e ela diz não. Diz que mora alí e aponta o cemitério e desaparece no ar... Claro que o homem teve que lavar, desifetar e perfumar o banco do motorista... Ahahahaaaa!
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

A mensagem excluída é minha (risos). Saiu em duplicata.
Natale.

Laruccia disse...

Miguel, histórias de fantasma não existem mais... que pena, era tão gostoso viver na expectativa de uma alma penada aparecer, de repente... A modernidade não dá trela, ficção é ficção, a realidade tomou conta de nossos sonhos... estamos proibidos de acreditar nestes relatos. Vc me desculpe, posso imaginar como deve estar aborrecida a alma da moça da Ladeira da Saudade, sendo relegada a uma crônica. Lembro dessa história, meus pais também contavam. Sob a pena do Miguelão, a moça ressucitou. Parabéns, Chammas.
Mô.

Zeca disse...

Eita, Miguel!
Com sua prosa cativante, ressucitou uma das lendas urbanas contadas pelos nossos pais e avós! Eu também lembro de ter ouvido essa história, embora com alguns detalhes diferentes mas, na essência, a mesma coisa. Aliás, nos meus tempos de criança havia, no rádio, um programa que contava essas histórias - não consigo lembrar o nome do programa! - e eu não o perdia.
Abração.

Luiz Saidenberg disse...

Caro Zeca, provávelmente, o programa a que vc se refere era o de Almirante: Fantástico, incrível, extraordinário. Lá ouvi tb uma versão desta mesma história...abraços.

Luiz Saidenberg disse...

Márcia Saidenberg disse...

Pois é Miguel," Há muito mais mistérios entre o céu e a terra,do que pode supor a nossa vã filosofia"
abçs

Soninha disse...

Uh huuuuuuuu!
Que legal! A Márcia Saidenberg por aqui! ebaaaaaaa
Tomara que ela possa nos enviar textos sobre Sampa, também....la la la la la la la la la
Adorei, Márcia!
Seja bem vinda!
Saudade de você, viu?!
Muita paz! beijosssssss

MLopomo disse...

Miguel. E pensar que tive no cemitério da Consolação ano passado fazendo uma pesquisa para a historia do meu Blog. (Turismo cemiterial) Ao ler sua historia me entristeceu não ter encontrado essa moça em meio a vários túmulos visitados e fotografados. Ela no meio do caminho, seria uma entrevista, assas maravilhosa.

MLopomo disse...
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Luiz Saidenberg disse...
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