Na sexta-feira passada, 29\04\11, resolvemos eu e minha mulher, Myrtes, dar um passeio e comprar algumas coisas no Mercado Municipal da Cantareira. Estacionamos o carro na Rua Assumpção e fizemos o “pequeno” (2 km, se tanto) trajeto até lá. Digo “pequeno” por considerar a época que eu morava na Gasômetro, 25 anos, recém-casado, ia às compras com duas sacolas. Agora, com quase 80 anos e a Myrtes, 76, essa distância triplicou.
Indo pela Rua Polignano a Mare, antiga Álvares de Azevedo, primeira surpresa, triste, mas, compreensível, derrubaram o antigo prédio da Metalúrgica Santa Rosa, o famoso “parafuso”, que nos últimos anos servia de estacionamento e cuja parede, no nosso futebol de rua, servia de tabela e que o Rafael Chiarela (famoso palmeirense que brilhou no Corinthians, rrrrrr) “usava” pra dar seus dribles, hoje alcunhados de “drible da vaca”. É verdade que o “paredão” ajudava muito; chamemos, então, de “drible da vaca, com o boi”. Passamos, então pela igreja São Vito, com os preparativos das festas no próximo mês de junho.
Entramos na rua Santa Rosa, aí sim, uma boa surpresa. Os antigos armazéns de cereais por atacado, se transformaram em grandes empórios, com sortimentos bem variados, desde um simples pacote de feijão até o mais sofisticado queijo importado, frios das melhores marcas nacionais e internacionais, castanhas, nozes, avelãs, ervas de todos os tipos, bebidas, licores, frutas, enfim, antes de chegar ao mercadão, já tinha uma amostra do que ia encontrar lá.
Cortamos pela Rua Carlos Garcia e nossa outra surpresa: a demolição do edifício São Vito, o famoso “treme-treme”, cuja lendária fama adquirida, se deve unicamente ao descaso das autoridades municipais. Sua derrubada já estava no fim. Senti certa nostalgia, uma pequena revolta, pois, acompanhei sua construção, nos fins dos anos 40\50 e o prédio pertencia ao Matarazzo, que tinha no último andar a sede da Atlética Matarazzo, onde eram distribuídos os brinquedos aos familiares dos funcionários, como eu. No jornal de ontem, 04\05\11, saiu uma reportagem contando que os destroços da demolição já estavam sendo ocupados por viciados em “crak” e pelos moradores de ruas, na sua miséria e abandono, encontrando lá, mesmo nas ruínas, um alento pra suas desventuras, como se despedindo de um edifício que nunca teve o amparo e o cuidado que merecia. Separado apenas pelo malcheiroso Tamanduateí do mercadão, só teve como habitantes, pobres e famintos. Ironia ou não, esta foi a derrocada do outrora formoso edifício São Vito, cujo destino se assemelha ao santo que lhe empresta o nome, morreu mutilado pelo próprio pai. É muito triste.
Entramos no mercado. Subimos ao mezanino e saboreamos bolinhos de bacalhau, pastéis de palmito e refrigerantes. Nosso principal objetivo era encontrar favas pra Myrtes fazer o “feffe-i-foguie” (favas e folhas), iguaria de origem polignanesa, (de Polignano-a-mare, província de Bari, nas Puglias, sul da Itália). Para os que conhecem o idioma italiano, não há necessidade de se explicar que os termos que levam ”GN” equivalem ao nosso “NH” e os que levam “GL” equivalem ao “LH”.
Atravessamos o mercado de ponta a ponta, saímos e fomos até a antiga Rua Pagé, visitar um antigo amigo, fabricante de produtos sírios e libaneses. O Alcebíade Nasser, filho do meu prezado amigo Basílio Nasser, falecido já, há muitos anos. O Basílio fabricava os melhores doces e confeitos sírios e libaneses, com a pequena indústria instalada na rua Polignano-a-Mare. Após seu falecimento, o filho fechou a fábrica e abriu apenas o comércio que visitei. Comemos e compramos alguns doces sírios, despendi mo-nos e entramos, novamente no mercadão. Fomos direto ao Empório Chiapetta, em homenagem ao nosso ilustre companheiro falecido recentemente. A moça que nos atendeu, parente distante do Domingos, tinha as famosas favas, de origem libanesa. Compramos e voltamos pra casa. Domingo próximo, 08\05\11, Dia das Mães, a quem envio meus cumprimentos, a “Fefe-i-fóguie” está garantida, na casa de meu filho, Marcello, na Aldeia da Serra. Um abraço a todos e as mães, meus sinceros parabéns.
Por Modesto Laruccia
10 comentários:
Olá, Modesto!
Que passeio legal você fez com Myrtes! Andar pelo centro de Sampa,passando pelas regiões que você citou, mesmo com os perigos que nossa querida cidade contém, ainda nos dá imenso prazer.
O Mercadão é tudo de bom ponto com...
O empório Chiapetta com suas frutas exóticas e todos os demais produtos...hummm!
Este prato que a Myrtes faz...com as favas...deve ficar bom, heim! Deu água na boca!
Valeu, Modesto!
Espero que Myrtes tenha passado um dia das mães bem feliz, junto de sua família!
Obrigada!
Excelente semana.
Muita paz!
Em tempo...
Sentimos sua ausência e de Myrtes, no encontro dos autores,lá na Pizzaria Bruno...além dos outros auores queridos e seus familiares,claro!
Desejo seu pronto restabelecimento de saúde e breve regresso ao blog Memórias de Sampa, ao SPMC,aos encontros de autores e tudo o mais que você habitualmente faz.
Fique bom logo,querido amigo!
Muita paz!
Mô, grande tour vc fez com a Myrtes, poderiamos até batiza-lo de tour gastronômico.
As favas que vc comprou lá nos meus "batricios" servem para fazer uma iguaria árabe de nome falafell, ou seja, bolinhosn de fava, por sinal deliciosos.
Fica sabendo velho carcamano, que estamos com saudades de vc e torcemos logo pelo seu regresso.
Quem sabe até na festa junina dia 18 de junho.
Mande notícias tá?
Belo passeio, Modesto. Na verdade, outro retorno nostálgico aos seus pagos da juventude, daí se ressentir com as mudanças que agridem aquela paisagem idealizada,agora só entrevista em sonhos. Foi-se o São Vito, mas na verdade ele já havia acabado há muito tempo. Como muitas outras coisas na cidade que não pára, então só resta registrar para a posteridade. Abraços.
Larù, mio caro. como você entrou na Sta. Rosa, você não passeou pela Piazza San Vito.
E depois do "giretto" pelo Mercadão e petiscar tudo quanto era delícia, você não contou quantochá de Camomilla tomou (Risos).
Infelizmente o Ed. São Vito deu o que tinha que dar. Virou um cortição vertical. Depois a Erundina fez de tudo para reformá-lo. Estava lindo.Mas o povo que morava lá, não cuidaram;não pagavam o condomínio; e transformaram o Edifício num lixão vertical. Depois da Erundina, mais duas reformas foram feita e o prédio continuou um lixão.
E, como poucos se aventuraram em morar lá, e quem se aventurou não tem condições de cuidar, a melhor solução foi demolí-lo... Eu lamento muito a perda desse edifício que um dia foi glorioso.
Abração,
Natale
Modesto, quero te ver novamente por esta razão se cuida tá.
E lamentável a demolição desse tradicional Edifício, mas no estado que estava não davas para continuar, não é mesmo? Sua Saúde é o que nos interessa o resto não tem pressa. Sentimos sua falta na Pizzaria do Bruno.
Belo relato Modesto! Um aqui e agora comparado ao acolá e tradições. Valeu!
Um trajeto e tanto você e a Myrtes
fizeram.Quando menina ia direto com os meus pais na Rua Santa Rosa e no Mercadão que para nossa alegria continua sendo muito bem cuidado.
Tive a felicidade de passar um bom tempinho na belissima região de Bari e pude saborear as
famosas favas.
abraço grande para você e para Myrtes
Que trajeto e tanto você e Myrtes fizeram.
Tive a felicidade de ficar um tempo na linda Bari e experimentar as deliciosas favas.
abraço
Caro Modesto.
Tenho no Bras minha infância nos finais de semana e nas festas da trav Lameirão.
Quantas e quantas vezes fiz esta caminhada que voce mui gentilmente me levou a fazer de novo.
E, tenha a certeza que logo logo vou faze-la outra vez.
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