sexta-feira, 13 de maio de 2011

Poltergeist à paulistana


Não é uma história agradável para se contar. Ao menos para mim, que conhecia um de seus protagonistas, o dono da casa. Era uma pessoa honesta e séria, além de descrente em fenômenos sobrenaturais. Por isso, confio cegamente em seu relato.

Meu amigo vivia com uma mulher desquitada, para mim bastante desagradável e autoritária, e na união vieram, como dote, os três filhos dela. Não sei por que ele assumiu tal situação, por culpa, ou por ter perdido a mãe pouco antes; assim, estava muito vulnerável.

De qualquer forma, era trabalhador e muito dedicado àquela família, mas, sentia-se no ar que algo vivia errado.
A infelicidade condensava-se ali, em camadas espessas, como o fog londrino, ou as emanações pútridas em redor da Mansão de Usher, de Allan Poe.

Parecia que bastaria uma fagulha para fazer aquela instabilidade toda explodir. Então, o que aconteceu a seguir não foi acaso, é a minha impressão.

Esse fator detonante surgiu na pessoa de uma jovem vizinha de 14 anos, rústica, mas bonita, que foi contratada como empregada. Pelo início deste parágrafo vocês talvez tenham a impressão de que um romance iria acontecer, mas o que se deu foi uma história estranha, mais ligada a contos de terror.

A casa, no Bosque da Saúde, quando ele a comprou, era bastante simples, num final de rua, com aclive acentuado. Reformada, até que
ficou imponente. E iam ali vivendo... Mal.

Os fenômenos começaram numa tarde, quando a eletricidade acabou, repentinamente. Verificaram-se os fusíveis externos, e haviam desaparecido. Como e por quê? Uma das crianças colocou mais um fator complicador na jogada: disse ter visto um negrinho esgueirando-se pelo quintal.

A furiosa dona de casa não deixou por menos. Chegada a medidas arbitrárias, chamou a polícia para investigar a casa de uns pobres e honestos pretos, os únicos que moravam por perto. E nada se descobriu. A casa entrou em convulsões: vasos caíam, pedras vindas do nada zuniam no ar, chegando a quebrar vidros. A fúria invisível era voltada principalmente contra os vasos. Chegaram a se fazer plantões numa rua mais elevada, donde se tinha visão total da cena do crime. E não se via ninguém, muito menos moleques pretinhos; só a correria dos habitantes, quando sucedia mais uma quebra.

Foram conclamados espiritualistas, de várias correntes. Médiuns espíritas, umbandistas, videntes. Cada um contava uma história diferente, segundo seu credo, tornando impossível acreditar em qualquer uma delas.

Mas, uma coisa tornou-se evidente: os fenômenos só aconteciam quando a empregada estava presente, ou seja, de dia. Noites e fins de semana, sem ela, eram uma tranquilidade absoluta.Um policial sugeriu que a prendessem, para interrogatório. Como era jovem e bonita, nos tempos brutais da ditadura, pode-se imaginar de que forma pretendia interrogá-la.

Meu amigo fez o bom senso prevalecer, impedindo isto. Ela foi apenas
demitida e tudo voltou ao normal. É bem coerente com outras histórias
de poltergeist, onde um adolescente sempre parece ser o deflagrador do
processo.

E meu amigo, como ficou nisso tudo? Extremamente racional, era-lhe difícil admitir forças do sobrenatural. Chegou à imprecisa conclusão de que não se tratavam de espíritos do além, mas de energias daqui mesmo, inteiramente desconhecidas.
Algum tempo depois, afastou-se daquela difícil família, com o profundo sentimento que já ia tarde.

Por estes e outros fatores, jamais voltaria a ser o mesmo. Mas, a casa ainda existe e não ouvi nunca mais falar de fenômenos sobrenaturais,por ali. Aliás, nunca mais ouvi falar deste pessoal.
Mas, nunca se sabe...

Por Luiz Saidenberg

8 comentários:

LAERTE CARMELLO disse...

SAIDENBERG: FENÔMENOS COMO ESTE HÁ
VÁRIOS EM SAMPA. COMO EXEMPLO,CITO
A IMPACTANTE POSTAGEM DE W. NATALE, NESTE MESMO BLOG, EM 31/III/2011 -
O PALACETE DA RUA APA.
SÃO FENÔMENOS DE ARREPIAR!
SAUDAÇÕES! LAERTE.

Soninha disse...

Olá,Luiz!

O que pode ter acontecido naquela casaéo que se chama de telecinésia,um fenômeno que ocorre quando uma ou mais pessoas "doam" energia para movimentar objetos à distância,sem intervenção direta ou contato físico de alguém,mesmo que elas não queiram.
Mas,enteno que nem todos poderão aceitar esta teoria.
Bacana este texto.
Obrigada.
Muita paz!

Luiz Saidenberg disse...

Muito obrigado. Vou ler a história de Natale. E concordo com vc, Soninha. Deve ser mesmo telecinesia, fruto de forças interiores descontroladas e desconhecidas. Incrível, mas verdade! Abraços.

Luiz Saidenberg disse...

Ah, Carmello, eu havia lido e comentado a história do castelinho da R. Apa. Muito impressionante. Abraços.

Wilson Natale disse...

Saidenberg: Antes de comentar, devo confessarque rí muito. Não pelo texto, mas sim porque ele lembrou da última vez que estive em Nápoles. Conversávamos sobre fenômenos paranormais e o meu amigo Giggio, por mais que tentasse não conseguia dizer Poltergeist. Tentou, tentou e saiu isso: Postergáis... Eu já ví Posters de todo o tipo, mas, a gás, nunca! (risos)
Uma empregada normal já quebra muita coisa - de vasos a copos. Imagina uma empregada adolescente, com as energias fora de controle numa casa com uma egrégora tão negativa... E com pessoas, umas externado emoções negativas, outras reprimindo emoções. Só podia dar nisso.
E nós mesmos não sabemos o potencial de energia que temos. Uma das minhas primas, quando adolescente, nos momentos de raiva, quebrava o copo na mão sem se ferir.Ou seja, o copo estourava em sua mão, caindo em grandes cacos no chão. Se ela fizesse de propósito, com certeza, estaria com as mãos cheias de cicatrizes.
Seu texto é ótimo! Mas, seja o Telecine, ou o Poster a gás, tô fora meu! Não é medo, não. É que eu me "borro" todo!...
Abração,
Natale.
PS: Veleu também a lembraça do Poe.

Luiz Saidenberg disse...

Legal, Natale. Muito obrigado. O fato é real, e conheci as pessoas. É curioso como meu amigo, ao invés de sair um crente do evento, ficou mais incrédulo ainda. Agora, que essas forças existem, si, las hay....abração.

suely aparecida schraner disse...

Puxa, Luiz! Meus aplausos para mais este relato cheio de mistério. Grande abraço.

Laruccia disse...

Luiz, tá na cara que era a empregada que fazia tudo acontecer. Ela estava a fim do dono e queria assustar a dona, esperando um enfarte, já que o proprietário não acreditava em "almas penadas". Vc menciona a manssão de Usher, do Allan Poe, li este conto e, realmente a fantasia revigora nossos reais eventos, trazendo, de imediato estes textos do mestre Poe. Parabéns, Saidenberg.
Laruccia