domingo, 8 de maio de 2011

Dia das mães

Início dos anos 60 eu, além de aluno regular do Colégio Comercial Frederico Ozanam, naquela época ainda na Praça Franklin Roosevelt, 129, era também o seu Diretor Artístico e, como tal, estava sempre promovendo shows com o pessoal do GATO (Grupo Artístico e Teatral Ozanan).
Estávamos chegando ao mês de Maio, e nesse mês, além do meu aniversário, comemora-se também o dia das mães.
Naquele ano, o dia das mães teria de ser comemorado com um belo show, dei inicio às tratativas, recebi autorização do Professor Negrão para o show e solicitei o empréstimo do auditório do vizinho (Colégio Porto Seguro), um auditório lindíssimo com entrada pela Rua Gravataí.
Empréstimo concedido sob os auspícios da política de boa vizinhança, comecei a selecionar os esquetes e os números musicais que fariam parte do espetáculo. O nome do show ficou sendo “O SHOW SHOWMOS NÓS”.
Convoquei os Jograis 9 de Julho para se apresentarem. Eram do Ozanan e, mesmo com todo sucesso que já gozavam e da agenda sobrecarregada, atendiam aos nossos convites com a maior boa vontade.
Resolvi, então, que faríamos uma homenagem a todas às mães. Escrevi um poema para ser declamado em cena aberta e para receber a homenagem estariam no palco minha mãe e a mãe de um grande amigo, o gordo e negro Arnaldo Mathias Serafim (o Bolão) e este que lhes conta esta história seria o declamante.
Tudo preparado, o show devidamente ensaiado. Chega o grande dia.
Vou para o Teatro mais cedo, entro no palco, paro, penso e caio na real. Não iria conseguir fazer a homenagem. Seria muito grande a emoção de homenagear a todas as mães na figura de duas mulheres que eu amava de paixão.
Aguardei uns instantes, tomei fôlego, chamei o Bolão e avisei, decora o texto das mães que você vai declamar em cena (como é bom ter o poder nessas horas cruciantes).
O Arnaldo olhou para mim, não falou nada, pegou o texto e começou a recordar, pois decorado ela já tinha há muito tempo.
O Show foi realmente mais um sucesso e durante a tão esperada homenagem, enquanto o Bolão declamava, o autor do texto e Diretor Artístico da Escola se debulhava em lágrimas nas coxias.
Para arrematar esta memória, quero transcrever o poema que serviu para homenagear as mães naquele dia e em todos os anos a partir dali.
DESTE MUNDO O QUE SERIA?

Mãe que é mãe,
é a mãe que a gente tem.
Sorriso nos lábios,
olhar de ternura,
fortuna maior do rico e do pobre.
Se contássemos fio por fio
de seus cabelos,
veríamos o branco do cansaço
causado por nossas travessuras.
E ouviríamos, ainda,
os pitos e avisos
-"menino, venha p'ra cá..."
-"não faça isso moleque..."
-"Olha que te dou uma surra..."
Ah mamãe.....
por mais que você ralhasse
por mais que você gritasse
e quisesse parecer brava,
eu te juro, nunca vi
nunca mesmo consegui;
ver raiva ou ódio em tua face.
Via somente mãezinha,
amor, bondade, harmonia,
sonhos de doce poesia
disfarçados em caretas.
Careta p'ra quando eu
chegava em casa rasgado,
careta p'ra quando sujo,
eu chegava bem cansado.
E aí, mamãe você dizia:
-"Toma jeito ou apanhas,
te dou uma surra moleque
que nunca mais te assanhas..."
E você batia...
e eu... eu chorava,
chorava de dor doída.
mas ao ver que você
também chorava mamãe,
eu calava e sorria
só p'ra não te ver sofrer
de remorso, de agonia.
Às vezes fico pensando,
se neste mundo não houvesse
alguém que nos amasse,
alguém que por nós olhasse,
alguém que nos ensinasse,
alguém que nos acalentasse,
batesse, ralhasse, brincasse,
ouvisse, beijasse....
Se a mãe da gente não fosse
como a Santa Virgem Maria...
e então pergunto senhores
Deste mundo o que seria?
Este mundo existiria?
Por Miguel Chammas

7 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Amor, esse relato verdadeiro e o poema fizeram-me lembrarda Da. Thereza. Foi emocionante. Obrigado!

Luiz Saidenberg disse...

Bravo, Don Michele! O espetáculo só pode ter sido um sucesso! Abraços.

Soninha disse...

Olá,amor!

Espero que todasas nossas queridas amigas autoras do blog e mães, tenham passadoum lindo dia das mães,com muita saúde e alegria junto às suas famílias.
O meu dia das mães foi muito especial,pois meu filhão amado me fez uma surpresa, vindo atéme casa sem que eu soubesse que ele viria...
Fiquei hiper feliz!
Além de passaro diana companhia de minha irmã e sobrinhos, com você e com meu filho amado.
Seu poema ficou MARA e o texto só acrescentou positivamente,com certeza.
Valeu!
Muita paz! Beijosssssss

Wilson Natale disse...

Miguel - Linda poesia! Valeu!

Lembra-me uma psicografia do Chico Xavier, sobre um espírito que está prestes a renascer. (...) Tu não terás horas para ti. Nem descanço! Vivevrá para os outros e não para ti. (...) Em silêncio, amrgará todas a dores no seu coração. (...) Muitas vezes comerás as sobras das refeções. (...) Viverás apreensiva com o bem-estar alheio.(...) Não terás paz, só preocupação. E sempre te darás por completo, sem esperar compreensão ou agradecimentos.
A alma pergunta: "Senhor, o que serei eu?
Diz-lhe o mestre: Tu serás Mãe!...

E que saudade eu tenho dos JOGRAIS!
Eles fazem muita falta.
Valeu por essa lembrança!
Abração,
Natale

Anônimo disse...

Miguel, linda homenagem ao Dia das Mães. Parabéns.
Laruccia

Laruccia disse...

Miguel, a belíssima homenagem as mães que vc fez, retrata o coração maternal que vc possui. Não é por ser homem e pai que vc não pode ser mãe. Pode, sim. Sua ternura, sua bondade, seu rico amor pelo próximo vc pode ser considerado o "Mãe do Ano" Prabéns, Miguel.
Laruccia

suely aparecida schraner disse...

Comovente homenagem. Parabéns!