domingo, 22 de maio de 2011

A decepção do "sonho americano"


Recém inaugurada, se não me engano, em 1947\49, a Sears Roebuck propagava as famosas calças “Rancheiro”, da Alpargatas, o famoso “jeans” que os americanos usavam (e usam) no dia-a-dia, como se fora um uniforme que transformava a juventude sem estilo definido como integrado na cultura norte americana. E eu não escapei dessa influência.

Na época, trabalhava com meus irmãos na distribuição de gêneros alimentícios, por atacado, principalmente aos feirantes, onde o único lucro compensador que tive foi conhecer minha companheira Myrtes, comigo há 62 anos.

Passávamos pela Av. Paulista, em direção a Praça Oswaldo Cruz, quando meu irmão Santo lembrou da NOVA loja que foi inaugurada, há pouco, ali no fim (ou começo) da Paulista, a Sears, tem de tudo lá, vamos dar uma olhada?

Lembrei que o anúncio no jornal “A Gazeta”, “berrava” uma propaganda da Sears, falando sobre a “nobre calça”. Vocês podem imaginar o que era ter uma calça Rancheiro naquela época? Menino, eu que era “vidrado” em tudo que fosse americano, (hoje, o vidro um pouco ofuscado, mas, ainda transparente), apesar de meu pai ser mussolinista e com muita influência sobre nós, seus filhos, pra mim o maior desejo era ir pra casa do meu tio, João Batista, que morava em Nova York. Ele era irmão mais novo de meu pai e mantinha correspondência constante conosco. Depois de muitos anos fiz a tão sonhada viagem, mas, tanto meu pai como meu tio João, já tinham falecidos. Mas, isso é outra história.

Entramos na loja... Um deslumbre! Meu irmão e eu fomos bem atendidos; oferecia desde um simples boné até o mais luxuoso conjunto de móveis, vestidos, casacos, eletrodomésticos, roupas pra homens, mulheres, crianças, brinquedos. Fiz, até um comentário com o Santo: - “Essa loja vai acabar com o Mapinn”. No roteiro, dei de cara com o jeans exposto. Não me lembro do preço, mas, me encantei com os “pantalones” (calça); compramos e me preparei pra vesti-la e me exibir na quermesse do São Vito. O primeiro e único jeans da turma. Que decepção! A maioria dos meus amigos, todos com calças sociais, num sábado à noite e o pior, os bolsos tão apertados que eu não conseguia por um lenço sequer num dos bolsos. Que é que os americanos viam naquela roupa? Pensei. Apertada nos canos, descômoda, azul que chamavam de “índigo”, sentia-me um papa-mosca dentro da indumentária. Mas, mantive a pose, minhas calças eram idênticas as dos cowboys, só não falei que era americana porque tinha na cintura o logo “Rancheiro”... Pequena decepção do “sonho americano”

Por Modesto Laruccia

10 comentários:

Esyath Barret disse...

É engraçado... ao longo da vida vamos rememorando o passado... e em flashbacks vislumbramos como certas influências nos marcaram... Quase como se berrassem quem éramos em tais fases...
Digamos que ao menos o jeans veio para ficar... rs.

Beijos (Des)conexos!

Miguel S. G. Chammas disse...

Mô, a Sears foi o encanto de todos naquela época, além das calças rancheiro que se tornaram coqueluche e hoje ainda são vestimenta quase que obrigatoria para o dia-a-dia de crianças, jovens e velhos, o que mais me agradava, lógico, era que logo à frente da porta da entrada principal, em vastíssimo balcão, suprido de guloseimas várias, era oferecida (eu sempre comprava) uma castanha de cajú frita de excelente qualidade e sabor. Aiiiii que saudades!!!

MLopomo disse...

A sears Roerbuk que durante muitos anos concorria com o Mapping, foi-se, mas o predio ficou para pelo menos matar a saudade daquela grande loja da Rua 13 de Maio. Lá hoje é o Shopping Paulista.

Soninha disse...

Olá, Modesto!

O prédio da Sears ficou todo majestoso, repaginado em shopping Paulista. São Paulo cresce, engrandece, se moderniza, mas, não é esquecida por seus filhos...não esquecemos de sua história, dos passos dados para que ela se transformasse no que ela é hoje.
As calças jeans chegaram para ficar...e ficaram. Hoje cada vez mais arrojadas, são peças obrigatórias em qualquer guarda-roupa.
Lembro-me de meu primeiro jeans...comprado na galeria Pagé....putz...aquela coisa dura, cheirando a lona, mas que, para mim, era um verdadeiro troféu!
Valeu pelas lembranças, Modesto.
Obrigada.
Parabéns pelos 62 anos de casamento com nossa querida Myrtes.
Muita paz!

Luiz Saidenberg disse...

Pois é, Modesto. O primeiro jeans tb nunca mais se esquece. Já que naquelas priscas eras não tinha grana para comprar Levi´s- acho que mesmo na S. Bento os vendedores ainda ñ apregoavam:
" Calça jeans americana, calça Lee, calça Levi´s"- (óbviamente falsas)- a minha primeira tb foi Rancheiro. Mas ñ tive reação tão negativa como vc. Afinal, na classe do colegial todo mundo estava usando. Pelo que o professor de História reclamou:- Isto está parecendo uma oficina mecânica! Abraços.

Wilson Natale disse...

Larù: A Sears era uma festa!
Nem que fosse só para passear, era bom ir lá.
Eu fui um privilegiado! Morava próximo à ALPARGATAS RODA que tinha um departamento onde vendiam produtos com pequenos defeitos que não passavam pelo contrôle de qualidade. E diretamente da Alpargatas veio a primeira calça RANCHEIRO, que era mais larga. Depois compraram os direitos para o Brasil das calças LEVI'S que aqui foram produzidas com o nome FAR-WEST. Nesses depósitos comprava-se as alpargatas, o as Sete-Vidas, os Congas e as famosas Calças LEE.
Texto ótimo, lembranças idem!
Abração,
Natale

marcia ovando disse...

Sempre muito bom ler seus escritos:
dá para aprender e se divertir!
As calças vieram para ficar ,fazem sucesso e cada novo modêlo lançado: o preço dispara.
Como escreveu o Saidenberg:
o primeiro jeans também nunca se esquece.
abraço para você e para a Myrtes

Luiz Saidenberg disse...

Confessa, Larú: no meio italianado da festa, todos de roupa escura, chapéu e até camiccia nera, vc estava bem jovial. Devem ter dito:- Macché ma che cosa pensate que sei? " Amerigano"? Jon Vayne?
Abraços.

Laruccia disse...

É isso mesmo, Saidenberg, estava apertado mas, mantinha a pose. Como vc diz acima, o "primeiro a gente nunca esquece" (mas, não é soutien, hein?)

marcio leonel disse...

tenho 52 anos e vesti muito as calças farwest que tinha que ser comprada em um numero bem maior, porque na primeira lavada ela encolhia, mas meu primeiro jeans de verdade que a gente nunca esquece foi uma UStop comprada no final de 1973. e nos anos 70 eu só ia namorar de calça e jaqueta Ustop,onde minha namorada perguntava se eu não tinha outra roupa, e eu dizia que o Jeans era meu uniforme, Bons tempos, tenho saudade