terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Subindo a mais “augusta” das ruas em direção à mais famosa avenida de São Paulo, Av. Paulista... na virada do ano

Com um litro de Pernod Fils  a tiracolo e um amigo com sua garrafa de Cinzano, subimos a Rua Augusta, completamente “tocados”, em direção à Avenida Paulista.
Era 31 de dezembro de 1967.
O plano era passar o dia no sítio dos Andradas, da família da minha então namorada. 
Iciamos nossa jornada etílica na Galeria Ouro Fino, devidamente calibrados, rumo ao topo.
No caminho, paramos para dar um abraço no amigo Valdomiro de Deus, o artista plástico primitivista, que teve a audácia de pintar um quadro da Sagrada Família, vestindo Jesus com uma bermuda e Sua Mãe, de mini-saia.
Valdomiro também usava mini-saia, cabelo à lá Black Power para chamar mais ainda a atenção. Acabou sendo capa do Jornal da Tarde. 
Nesse dia Waldomiro estava meio atacado; deveria estar escondendo alguma gata e não estava pra muita conversa. Ao “sacar” o assunto, levantamos acampamento, desejando a ele um feliz 1968, sem saber que este seria o ano mais complicado para os brasileiros.
Ele morava num quartinho onde funcionava também seu atelier, ao lado do HI-FI, o santuário das músicas importadas, que municiava a guerra das rádios Excelsior e a Difusora, na época.
Entre goles de Pernod e Cinzano nos colocamos de novo em marcha.
No caminho, paramos na Alameda Itu, endereço da turma que nos abrigava naquele tempo, para abraçar os amigos Vadinho, Magôo, Sandra e Dulce, todos embarcados na viagem rumo a Marrakech e pra lá de Bagdá...
Ali ficamos o tempo suficiente para dar um abraço geral na galera, seguindo em frente, só parando no cruzamento da Augusta com a Paulista, esperando a chegada do Ano Novo. E ali permanecemos, tomando nossos drinques, em ritmo de conta gota, até esvaziar a garrafa.
À meia noite em ponto, nos abraçamos e a todos que passavam por ali. Fizemos uma algazarra junto com o buzinaço de quem passava. Algumas pessoa lançavam serpentina e confete nos passantes. Nos divertimos um bocado.
Duas horas mais tarde, o fígado do meu amigo acusou fragilidade...
Seu estado era terrível. Totalmente fora de si, ele se postava de forma ereta, para logo em seguida seu corpo pender para a frente fazendo as mãos encostarem no chão, mas sem cair. Logo retomava a posição de sentido, para depois pender o corpo para frente, encostando as mãos no chão. Ficou assim se repetindo durante uns 30 minutos. Sua postura parecia um polichinelo, variando do dramático ao hilário.
Quando me dei conta eram quase 4 horas, quase amanhecendo, me lembrei que ainda tinha o dia cheio pela frente, no sitio.
Nesse momento, ouço uma voz: “sujei nas calças”. Caraca. Era tudo o que eu não queria ouvir.
Rapidamente deu pra sentir que alguma coisa tinha acontecido.
Assim como um incenso, aquilo tinha tomado conta do ar.
Me deu pânico. Como iria levar o cara pra casa, todo travado e ainda por cima, com “a mala cheia”.
Precisava encontrar uma solução para o caso e também na minha ida para o sitio.
O ‘’perfume” estava cada vez mais triste, difícil de aguentar.
Com muito custo, consegui encontrar um taxi que topasse a empreitada.
Falei com o motorista, que ele havia vomitado e precisava levá-lo para sua casa na avenida Santo Amaro. Após discutirmos o preço e com uma boa gorjeta, ele topou.
Coloquei-o no banco de trás do Ford Mercury, deixando todas janelas abertas e fui na frente, com o nariz pra fora. 
Chegamos ao prédio que ele morava.
Apertei a campainha. Assim que a porta se abriu, vi a figura do pai do meu amigo que perguntava: O que havia acontecido?
Expliquei, enroladamente, que havia bebido umas doses a mais e coisa e tal... daí o estrago.
Ajudei-o a entrar até o meio da sala. O pai dele disse que iria colocá-lo no banho...
Em seguida, virei as costas e cai no mundo.
Passei o dia no sítio, extremante preocupado com o desenrolar da história, pois ambos éramos menores de idade.
Não consigo me lembrar de nada do sitio, somente das felicitações que recebia: Feliz ano novo, Feliz 1968, quando faria 18 anos.
Ainda bem que tudo isso agora é passado. 
Feliz ano novo para todos !
Um feliz 2@12 para nós todos             
Por Luigy Marques

12 comentários:

Wilson Natale disse...

LUIGI: Assim não vale!
Será que nos "cruzamos" pelas "quebradas" da Augusta e Paulista que ambos trilhamos à mesma época?
1967/1968... Eu já era p... véia naquele "pedaço", desde 1965 (17 aninhos) e já tinha bons quilômetros rodados.O "quente" era a Galeria, com a Boate "Saloon" e a filial do Barroquinho. Depois, era dar uma chegadinha no HI-FI... Parece que isso foi ontem!
Por lá tive muitos porres, grande "bodes" e deixei muitos "vomitões" naquelas calçadas... "Estragos", "Desastres"nas caças eu não fiz. Ahahaaaaa!
EM TEMPO: Enquanto escrevia o comentário fiquei pensando: O seu amigo deve estar nadando na "grana", não é? Pelo cheiro ele deve ter feito um "sujão" e tanto nas calças. E no Ano Novo! Quer mais sorte! Pisar na m... significa "grana" E seu amigo deu um cagão mega-sena! Hoje deve estar morando em um triplex ou cobertura... Ahahahahahaaaaa!
Das "personalidades" que circulavam por lá, a esse tempo, você deve ter conhecido o XPTO - um "maluco" que andava com um guarda-chuva colorido e roupas esquisitíssimas. Era um misto de cantor "pop" e dançarino de frevo. Quase um FALCÂO daquela época.
Adorei o texto!
Abração,
Natale

Modesto disse...

Saudoso e interessante relato de um episódio etílico com final feliz. Um feliz e próspero ano novo de 2012.
Modesto

Arthur Miranda disse...

Luigy. Belo,saudoso e maravilhoso relato de uma época espetacular, e ainda no final saudando a passagem do Ano e o aniversário da Nossa estupenda Av. Paulista.Isso é que eu chamo de entrar bem no Ano Novo ou melhor o ano velho de 67.
Aproveito par dizer ao Natale, que eu conheço e conheci o XPTO atualmente ele mora na Vila Formosa.

margarida disse...

Luigy, este ano novo foi abençoado de varias formas. Que bom que tudo passou. Estas molequices acontecem até hoje, não só com os meninos, mas também com as meninas.Um feliz ano novo pra você e toda sua famíla.

Wilson Natale disse...

Que coisa boa Luigy! O teu saudoso e delicioso texto trouxe-me velhas lembranças e, através do Arthur, informações sobre o XPTO, que foi uma figura bissexta na São Paulo dos anos 60/70. Lembro dele, com seu guarda-chuva cheio de "botons", circulando pela Galeria Metrópole, Av. Ipiranga,Consolação, Paulista e R. Augusta.
E saber que ele ainda está por aqui é muito bom! Valeu Arthur, Valeu Luigy!!!
Abração,
Natale

Miguel S. G. Chammas disse...

Luigy, eu também conheci do XPTO, e lógico, devo ter dado vários esbarroões com você e com o Natale na minha velha senhora (Rua Augusta). Sóe que em 1967, eu j´pa me havia transformado em homem sério e devidamen te casado.
Assim, não fiz as estrepólias de final de ano.
Parábens ´pela lembrança e FLELIZ NOVO ANO.

Soninha disse...

Olá, Luigy!

Quantas aventuras, nos tempos da mocidade!!
Memórias gostosas dos tempos idos e que, até hoje, ajudam a contar as maravilosas histórias de Sampa.
Valeu!
Obrigada.
Muita paz!

Zeca disse...

Luigy!

Nada como uma boa "farra" entre jovens que ainda não assumiram todas as responsabilidades que a vida adulta nos traz! Seu texto, delicioso, fez-me lembrar daqueles velhos e bons tempos em que, eu também, ao lado dos meus saudosos amigos, nos entregávamos à esbórnia certos de que éramos imortais!

FELIZ 2012!


Abraço.

Luigy disse...

Olá Caros Amigos Novos da Velha Guarda...
Que bom trazer a lembrança do XPTo, figura indescritivel... figura louca e psicodelica anos luz a nossa frente,
Ah! bela lembrança do Salon, dos bodes, dos grilos na cuca.
Com certeza nos cruzamos e nos esbarramos pela velha senhora e augusta rua. Pena a gente não ter se esbarrado mais vezes.
Com certeza esbarramos com muitos do amigos daqui.
Nesta mesma rua, mas no ano de 68, acabei sendo preso com mais 15 pessoas na mais augusta da rua novamente na passagem do ano proximo a rua Caio Prado e... mas essa ja é mais uma outra historia que fica para outra vez.
Brigadão a todos
Feliz 2012. Vcs estão me estimulando a escrever cada vez mais
Um obrigado do coração a todos

MODESTO disse...

Pois é, Luigy, um "revelion" embalado ao doce e inebriante perfume "cocô-canel", desenvolvido na França em 1516.
Achei sua história bem desnvolvida com toques nostálgicos bem de nosso tempo.
Parabéns, Luigy.
Modesto

Cida disse...

Eca, Luigy kkkkkkkk imaginando a cena heheehehehehheeh.
Abração

suely aparecida schraner disse...

Luigy,

Ri deste episódio e fico imaginando a situação. Que o seu 2012 seja de boas lembranças. Valeu! Abraço.