De nome Modesto, sua presença é a pura negação do nome.
Exuberante, expansivo, imponente. Rosto corado, cabelos de algodão.
Nosso caro Modesto parece um criança que cresceu demais, amadureceu sem perder a inocência.
E ele fala, parla, parla, parla sem parar. Como em seus textos, onde sempre se derrama em confissões sobre suas lembranças, suas origens baresas. Sobre seus tempos de rapaz no Brás, criado aos pés de San Vito Mártir, aos fundos do então tranquilo parque D. Pedro, nos
labirintos apetitosos do Mercado Municipal.
Bem alimentado a ficazella, ghimirella, richitelle e outras extravagâncias de Polignano a Mare, uma cidade cujo nome já nos faz sonhar.
Cevado ao bom vinho de Manduria, forte como as uvas da região, ele mesmo parece uma videira bem plantada, com bons e copiosos frutos.
Bem Adoniram podia ter colocado no samba – O Modesto nos convidou prum samba, ele mora no Brás...
Bem Adoniram podia ter colocado no samba – O Modesto nos convidou prum samba, ele mora no Brás...
Pois o Brás foi a base para toda sua vida paulistana.
Docemente constrangido, um dia foi obrigado a deixar o amplo parque, às margens do Tamanduateí, fluindo ao lado da bela estátua de mármore do leão, que trocou aquele pacífico verde de selva pelo movimentado Ibirapuera, servindo agora de cavalinho para as crianças.
Não faz mal, Modesto. San Vito perdoa...
O Brás, San Vito, o Parque, o Mercadão, continuaram sempre presentes naquele inarredável recanto barês de sua memória.
Atinge agora seus oitentinha, com um jeitão de quem ainda vai muito longe, sempre nos contando suas longas histórias, de uma vida saudável e muito bem vivida.
Que assim seja, por muitos anos, e que também nós possamos continuar acompanhando-o em suas aventuras.
Que assim seja.
Por Luiz Saidenberg
20 comentários:
Que seja assim!
Assim, com o Mo parlando muito, contando estórias do Braz (com z sim senhor) e alegrando nossos dias.
Mo está no auge sde sua maturidade, nem mcomeçou, ainda, a sua 3a. idade.
Graças a Deus!
Quanto ao Brás ser com Z, acho uma questão pessoal. Para mim, que não morei lá, a grafia correta é com S, e acento, mas para os Bareses pode não ser. É como Mooca- se algum escrever com acento, pode ser até linchado lá. Outros moquenses mais radicais querem que se escreva até Moca!
Que linda crônica! A homenagem conduzida num eixo histórico me acrescentou informações preciosas. Abraço.
Oieee...
É incrivel como algumas pessoas marcam nossa vida, não é mesmo?!
Modesto é uma destas pessoas que entram na vida da gente e ficam para sempre.
E, de uma coisa podemos ter certeza, o paulistano, onde quer que ele vá morar, jamais esquecerá sua Sampa querida e jamais conseguirá deixar de falar sobre ela.
Valeu, Luiz!
Muita paz!
Puxa! Você caprichou na homenagem Luiz. Gostei muito, parabéns.
Nossa!!! Que lindo, que poético, que depoimento profundo! Haja palavras.
SAIDENBERG: Gostei demais do seu texto. E o LARÙ, com certeza vai gostar muito mais!
A vida do nosso amigo está toda aí, no seu texto.Ô coisa boa!
"I nóis num s'importa qui u Braz seja cum "Z", ou Brás seja cum "S". Afinar, nós dizia qui si morava nu BRÁIS"... Ahahahaaaaa!
É como o BEXIGA. Ninguém mora lá. Todo mundo mora no BIXIGA.
Abração,
Natale
Em tempo: Quanto ao BRAZ, tudo é culpa das muitas mudanças ortigráficas que a nossa Língua vem sofrendo através das décadas, assim como o Brazil virou Brasil, o Braz também "dançou", virou Brás.
E a Mooca também "dançou": 'Mo-oca lugar onde se constrói ou fazem casas. OCA - casa moradia e Oca - vazio, sem nada dentro eram palavras homógrafas. Ai criaram o acento diferencial: O vazio, sem nada, virou ÔCA; depois acharam que era melhor tirar o circunflexo de ÔCA e botar um acento agudo em OCA - casa. E OCA virou ÓCA... Depois de tantas brigas, estudos e mudanças, hoje tanto uma como outra, se escreve OCA. Adiferença fica por conta do uso que e faz da palavra na sentença.
E o BEXIGA po BIXIGA, não é culpa da ortografia. É culpa da italianada mesmo. Ahahahaaaaaa!
Abração,
Natale
Puutz!!!
Leia-se ORTOGRÁFICAS!
Natale
Não importa se Brás é com s ou com Z, O importante é que Modesto é com EME, e M de Maior de oitenta. Parabéns Saidenberg, pelo texto, e parabéns Mo, pelos oitenta.
Por falar nisso, eu acho que a uns 60 anos atrás e vi uma Freguesia do Ó escrita com Z, assim ó: Freguezia do Ó.
Meninos, olha só a historia rolando solto, muito bom estas aulinhas relâmpago. Saidenberg como sempre um texto lindo e uma homenagem especial. Um beijo.
Saidenberg,um texto caprichado, com direito a uma aula de história. O Modesto vai adorar!
Uma abraço / Bernadete
Muito lindo seu texto, Luiz, assim como todos os que você escreve! Este para o Sr. Modesto é excepcional. Sei que com vocês, deste blog, eu só aprendo... e muito!
Muitíssimo obrigado pelos elogios.
Mas, acho que o Modesto não gostou...
Luiz agora só me resta beber em largos goles este precioso vinho extraído das raras uivas Laruccia plantadas por você neste suculento texto.
Grande abraço
Falcon
Luiz agora só me resta beber em largos goles este precioso vinho extraído das raras uivas Laruccia plantadas por você neste suculento texto.
Grande abraço
Falcon
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Saidenberg!
Que belo e poético texto você preparou para o "nosso" homenageado! Crônica digna da pena de um artista!
E tão bela e profunda crônica acabou despertando até aulas de ortografia. Isso tudo é Memórias de Sampa, com seus autores e essa maravilhosa troca de idéias, informações, cultura!
Parabéns! Gostei muito!
Abraço
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Ohhh, Luiz, quem falou que não gostei. Gostei e muito. Adorei, como quer a Margarida. Saidenberg, citando vinhos, richitela, ficazzela, guimirela, pesica dolci, cagzzauni (calzone) e uvas, vc lembrou as uvas que colhi da minha parreira que tenho aquí em casa. Uma maravilha, colhi mais de 20 bacias da uva rosê, niagara.
Agradeço a todos os comentarios feitos pelos e pelas amigas, amo a todos vcs, com 80 anos tenho total liberdade de amar a quem quizer. Um abração, Luiz, sua perfeita erudição nos faz modestos demais.
Um abração a todos.
Modesto
Muito obrigado, nobre Modesto.
Fico muito feliz que tenha gostado. Quiéquisso, não sou nenhum erudito, apenas uma pessoa ligada no caminhar da vida. Modestamente.
Grande abraço a você e a Myrtes!
E muito obrigado a todos vocês, generosos autores! Abraços.
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