O que eu poderia escrever sobre o Laruccia? Afinal, nem conhecê-lo
pessoalmente, eu consegui! Só sei que, nestes dois anos e meio de blogue, lendo
seus textos, fui ficando cada vez mais encantado com sua prosa direta e modesta
em textos bem elaborados, onde vai nos contando, pouco a pouco, sua vida e seus
amores. E, junto a seus depoimentos de vida, vai tratando também de assuntos do
cotidiano desta cidade que todos nós tanto amamos!
O primeiro dos seus textos, que li aqui, falava do casamento da
Maria Clara com o Fabiano, seu sobrinho-neto. Em seguida conta a história do
Osmar, aquele repórter que, procurando uma notícia para seu “diretorzinho
meia-boca”, teve que “virar gay” pra se livrar do assédio da Verônica,
prostituta agradecida.
Depois disso, falando sobre uma cirurgia no joelho, conta-nos
sobre os “porões de torturas medievais”, onde os torturadores são os
fisioterapeutas, em sua maioria “torturados” pela delicadeza com que devem
conduzir seus trabalhos diante da dureza com que a vida, às vezes os
presenteia.
Com o texto “Cruel Direito”, ele fez uma singela homenagem à
Argentina, onde as brutalidades da ditadura deixaram marcas indeléveis, como,
aliás, todas as ditaduras. Passando pelos torturadores “do bem” e pelos da
ditadura, ele traz a leveza do “O Flato”, onde nos conta sobre um quarteto
composto por dois casais que tanto entende de música, quanto de uma das
prerrogativas dos idosos que é flatular à vontade e ainda se divertirem com os
sons, afinados ou não. Em “O Degenerado”, ele faz uma confissão surpreendente
que me tocou profundamente. Já sabia, então, que esse escritor seria um dos
meus prediletos no Memórias de Sampa.
E estão pensando que ele só escreve textos? É também poeta! Brindou-nos
com um belo poema homenageando nossa língua que de madrasta não tem nada,
intitulado “Meu idioma, minha madrasta”. Pouco depois, o poema “Um amor
sincero”, descreve com lirismo e sensibilidade, a linda história de amor de sua
vida e da vida de sua amada Myrtes, ali, a grande homenageada! E, finalmente,
em “O milagre”, baseando-se num fato ocorrido em São Paulo, elaborou, em estilo
de cordel, um lindo poema onde, através da história de luta e vitória de
Luciana, fala sobre um dos assuntos “invisíveis” para todos: a AIDS! O
preconceito e a discriminação ainda continuam sendo os grandes vilões deste mal
que aflige tanta gente, mas poucos têm a coragem de comentá-lo, como se assim
ele se tornasse invisível e não nos conseguisse atingir. E o nosso Modesto
Laruccia, com seu estilo e sua coragem o coloca em versos, mostrando-nos aquilo
que preferiríamos não ver! Só que, antes desse poema, ele escreveu “Uma fábula
a respeito do surgimento de uma doença ainda incurável”, texto magistral que
também me marcou profundamente.
Mas, além de tudo, ele também surpreende, quando resolve nos
transmitir suas receitas de dar água na boca! E foi isso o que fez com a
receita da Carne Loca, tirada do programa da Palmirinha (quem não a conhece?) e
também com a da bruscheta, tirada de um jornal de São Paulo, mas antes, dando a
sua própria e especial receita, que gosta de preparar, com esmero e capricho,
pela manhã.
Ele mostrou sua veia de contista com “Um amor eterno”, contando a
história de Tom e Irma e seu amor que venceu a morte. E quando resolve falar
sobre São Paulo? Presenteia-nos com textos como “Uma cidade fadada à grandeza”
ou “São Paulo faz aniversario – 25 de janeiro, 1554 – 2011”. Mas traz também
“Uma cidade dinâmica”, “Arrogância”, “Anos de guerra, anos de paz”, “Turma do
Braz contra os coca cola”, “Histórias da Light”, “42 anos sem Braz” e “Uma
explosão de alegria”, onde nos fala não apenas da amada São Paulo, mas do seu
amado Braz (com Z), do Parque Continental onde mora atualmente e das histórias
ali (e acolá) acontecidas. Sem esquecer “O Treme Treme, tremeu e caiu”, fazendo
um belo passeio em torno do mercadão e relembrando o antigo Edifício São Vito e
“Rafael – o craque”, onde homenageia um grande jogador de futebol – do Braz,
naturalmente!
Também não posso deixar passar os textos mais intimistas, onde nos
fala sobre familiares ou pessoas muito próximas, que é o que vemos, comovidos,
em “Aconteceu no Natal de 1945”, “Mensagem de Natal e Fim de Ano”, “Sem
consultar seu coração, uma trágica opção e premonição, a escolha, única
preocupação e a esperança da volta a seu torrão”, “Apelidos e alcunhas”, “A
decepção do sonho americano”, “Meu pai” e “Natal e Fim de Ano – 2011 / 2012”,
todos trazendo nas entrelinhas, costumes familiares, amor à família e as “italianices” dos moradores do Braz (com Z), que ora nos
divertem, ora nos comovem tanto. Seu texto mais recente, “Uma tragédia urbana”
mostra que não está apenas ligado nos fatos recentes, mas também sua ligação ao
passado, onde ameniza a tragédia contando-nos uma peraltice infantil. E em seus
textos natalinos mostram claramente seu enorme e generoso coração, com todo o
carinho, cuidado e atenção que dispensa a todas as pessoas, o que o faz tão admirado
por todos os que o conhecem, seja pessoalmente, seja apenas através dos seus
escritos.
Mas não é só isso! Quando resolve dar “aulas de história e de
conhecimento”, ele arrasa! Basta ler “Dois anos presa por levar queijo e
biscoito”, em que levanta a discussão sobre a justiça e o desrespeito pelos
menos favorecidos que acabam recebendo o mesmo tratamento dispensado aos
verdadeiros bandidos. Em “Páscoa e um congresso inesquecíveis”, traz para o
presente o ano de 1942 onde, aos dez anos de idade, vê com seus olhos infantis
a iminência da guerra que desafiou e modificou o mundo. Já em “Casa dos dois”,
nos lembra das antigas cadernetas e das atuais casas onde tudo custa R$ 1,99,
assim como em “O que o nosso povo quer”, traz um grande discurso de lucidez política
que chegou a mexer com os meus brios de brasileiro. Em “Música, Divina
música!”, mostra seu excelente gosto musical e em “Relíquias”, mistura um pouco
da sua própria história ao nos apresentar o belíssimo texto sobre uma das
grandes artistas do passado: Izaura Marques! Aliás, em seus textos, quase
todos, ele mistura ao assunto principal a sua própria história, abrindo-se para
nós em sua (re)conhecida modéstia.
Mas o Modesto também ri – e nos faz rir – com seus textos
brincalhões, como aquele em que faz uma brincadeira sobre seus membros
superiores e inferiores (“Os quatro irmãos gêmeos), que quase me levou a
acreditar que se tratasse de uma confissão verdadeira! Em “Porcelanato, o
piso”, nos conta uma engraçada história envolvendo a troca do piso de sua sala
e cozinha com a desastrada história de Antonio Carlos, o técnico do fabricante
que veio verificar defeitos apresentados após a colocação.
Enfim, o nosso homenageado é um grande escritor, um dos mais
fecundos do nosso grupo,que nos presenteia com sua prosa agradável e seus
assuntos variados que jamais deixam de despertar nossa atenção!
Não sei se esqueci algum texto, mas sei que o que posso escrever
sobre o Senhor Modesto Laruccia, é que ele, do alto dos seus oitenta anos de
idade e através dos seus escritos, nos mostra ser uma pessoa íntegra, sensível,
calorosa e carinhosa, que através de uma prosa totalmente intimista, vai-nos
abrindo sua vida, suas experiências, sua visão do mundo que o cerca e seus
conhecimentos com tanta clareza e lucidez que eu, simplesmente me envolvo em
suas palavras de tal forma que chego quase a imaginar estar vivendo suas
histórias, sentindo o que ele sentiu, aprendendo com ele muitas coisas que
desconhecia e me tornando, dessa forma, um pouquinho do que ele é.
Parabéns, caríssimo Modesto Laruccia! Não apenas pelos seus
oitenta anos, mas principalmente por ter sabido utilizar essa longa jornada
neste planeta com tanta sabedoria e por ter se tornado um exemplo a ser
admirado por todos e seguido, sem qualquer dúvida!
Aceite o meu abraço fraterno. E a minha admiração.
Por Zeca Paes Guedes