sábado, 1 de outubro de 2011

A hora e o lugar errados


Tem-se falado, neste site, de acontecimentos estranhos, que fogem àrazão, à lógica.
Visões entrevistas, pressentimentos, estranhas sensações em lugares de passado tenebroso.
Sim, pois eles existem em toda parte e São Paulo não foge à regra.
Meu caso, porém, não trata de nada disto. O que não lhe tira a estranheza. Não vi vultos, nem ouvi vozes sussurradas em becos sem saída.
Ainda assim...
Apenas como citação, no belíssimo filme de Woody Allen,"Meia Noite em Paris" (se não viram não sabem o que estão perdendo), o personagem principal, após ter estado num bar dso anos vinte com Hemingway, retorna logo depois, para não achar mais bar nenhum, apenas uma moderna lavanderia.
No livro "Memórias, sonhos, reflexões", Karl Jung relata ter estado em Ravenna, em companhia de uma amiga. Lá visitaram a antiga tumba de Gala Placidia, onde se maravilharam com os numerosos afrescos internos. Até que um dia retornou a Ravenna, para descobrir que a tumba não tinha, nem jamais havia tido, afresco algum.
Alucinação? Mas, e aí, ainda por cima compartilhada?
Pois bem. Márcia e eu caminhávamos, como fazemos quase todos os dias, pelas ruas do Brooklin, todas elas velhas conhecidas. Mas neste dia, passamos por um espaço que nunca me havia chamado a atenção. Uma larga entrada, com vários carros estacionados. Um deles, uma bela e impecável Alfa Duetto, conversível vermelho, com placa preta de 1974.
Embora um dos carros tivesse placa de vende-se, nada mais constava no local deserto, nem na Alfa. Nenhum letreiro comercial, ninguém para atender. O prédio fechado, como se jamais houvesse sido aberto.
A Alfa era um belo espetáculo; e sou fã dessa marca italiana, da qual, em tempos mais amenos, cheguei a ter uns exemplares. Mas, agora, no meu pobre status de aposentado, nem pensar! Ainda assim, sonhar é grátis e, quem sabe um dia eu pego um bolão na Mega Sena, aí sim, vocês vão ver!
Noutro dia, novamente passeando pelo bairro, desta vez só, tentei rever o belo conversível. Mas, onde? Não o encontrei, nem sequer o pátio onde estava estacionado. Girei e revirei as ruas, bem familiares. Nada! Fôra nesta? Ou naquela outra? Na Guararapes? Na Nebraska? Na Indiana? Onde, que rua, afinal?
Tenho boa memória, principalmente visual. Localizo-me facilmente, como se tivesse um GPS interno e sempre, instintivamente, acho o lugar buscado.
Mas, não desta vez. Como se o carro e o lugar nunca tivessem existido, a não ser na minha imaginação. Será o Alemão, aproximando-se aleivosamente? Mas, a Márcia estava junto e não me deixa mentir.
Tento novamente achar o lugar perdido, só para tirar a teima? E não achando, como é que ficamos?
Mais um episódio da série “Mistérios de São Paulo”.

Por Luiz Saidenberg

12 comentários:

Wilson Natale disse...

Saidenberg:
Acho que no caso houve o fenômeno, não de afeitos, mas de defeitos físicos - seu ou dos espíritos (risos).
Bricadeiras à parte, o fenômeno pode ter sido uma rápida entrada em outra dimensão. Isso segundo o meu velho porfessor que era físico, matemático; outros "ísicos e áticos". Era um apaixonado pela teoria de mundos paralelos.
Agora, perder a entrada do Alfa, ops! - da outra dimensão, ninguém merece.
Coisas aquém e além da imaginação!
Um dia, no futuro, você vai dar de cara com o terreno e o Alfa.
Abração,
Natale

Miguel S. G. Chammas disse...

Saidenberg,
a explicação teorizada do que te aconteceu já foi amplamente explicada pelo Natale.
A mim, pobre leigo nos assuntos "iticos e aticos", me cabe uma unica pergunta:
Você tem cefteza que esta visão bão aconteceu depois de uma Rodada de Redondas????
Sabe como é, uns copinhos a mais podem fazer a diferença....

Miguel S. G. Chammas disse...

Saidenberg,
a explicação teorizada do que te aconteceu já foi amplamente explicada pelo Natale.
A mim, pobre leigo nos assuntos "iticos e aticos", me cabe uma unica pergunta:
Você tem cefteza que esta visão bão aconteceu depois de uma Rodada de Redondas????
Sabe como é, uns copinhos a mais podem fazer a diferença....

joaquim ignacio disse...

Saidenbergh...
É! Mistérios! Outra(s) dimensão(ões)? Star treks?
Para algumas coisas que acontecem com a gente não existe uma explicação racional. Eu sou um daqueles que acredita no inacreditável... melhor assim, não preciso ficar esquentando a cabeça e durmo sossegado.
Não procure explicação; aconteceu, oras!

Zeca disse...

Saidengerg!

Explicações podem ser encontradas várias! O difícil é encontrar aquela que nos satisfaça plenamente. No seu caso, creio que melhor satisfação seria, não apenas encontrar o local para ver novamente a Alfa, mas tê-la para si. No meu caso, ficarei satisfeitíssimo se amanhã, voltando aqui, ainda conseguir encontrar este texto... já que de carros - antigos ou novos - eu não entendo nada!
Mas dizem que não se deve crer em bruxas, mas que las hay, las hay... brrrr!

Abraço.

suely aparecida schraner disse...

Ilusão ótica? E ainda com testemunha? Sei não. Só sei que o texto é primoroso. Parabéns!

margarida disse...

Saidenberg, são mistérios da nossa vida sem explicação definida. O mais importante é que por um breve momento você pode matar a saudades de seu Alfa. Muito agradável ler seu texto.

Soninha disse...

Olá, Luiz!

Há mais coisas entre a terra e o céu do que possa sonhar nossa vã filosofia!
Eu não estranho nem duvido de nada.
O mais importante de tuo istoé que se transforma em textos incríveis,para nosso deleite... Além da oportunidade de conhecermos cada canto desta Sampa que tanto amamos.
Valeu!
Muita paz!

Laruccia disse...

Saidenberg, vc melhor do que ninguém sabe que o ceticismo não é um argumento muito forte pra derrubar certas crenças. Vc não foi a r. Nova Yorque, nem na av. Portugal, nem na Bandeirantes. Vc teve, com sua esposa um pequeno lapso de memória, resultado da somatória das lembranças e sonhos em ter novamente um Alfa. Isso, vc não percebe, tirou vc da realidade por milésimos de segundos, apagando de sua memória o local em que está o carro. Deixe passar alguns dias e vc vai achar como se acha uma camisa ou peça de vestir que vc jura que colocou naquele lugar e encontrou-o em outro. Se vc quizer continuar com a fantasia, é tão bom que vale a pena deixar a "realidade encoberta com o manto diáfano da fantasia", como dizia o Eça de Queiros. Parabéns, Luiz.
Laruccia

Arthur Miranda disse...

Saidenberg, Como atualmente você e a Márcia encontrariam muitas dificuldades para viver, Meia Noite em Paris, e estar num bar dos anos vinte com Hemingway, sua super mente de publicitário que escoteiramente esta sempre alerta, ou melhor ativa. Removeu as dificuldades naturais e projetou uma versão telecinematografia nacional, de Meia Noite em Paris para, Meio Dia no Brooklin criando assim uma replica de um ALFA com motor de OMEGA e Esse Alfa e Omega, proporcionou a nos todos esse gostoso texto com um Grande começo e um maravilhoso Fim. Parabéns.Ah!
como sou bandido.

Luiz Saidenberg disse...

Muito obrigado, amigos, pelos elogios e elaboradas teses de explicação. Dizem que o que não tem explicação, explicado está. Eu achei a solução do mistério, mas seguindo a sugestão de meu caro Modesto, acho melhor deixar o caso assim mesmo, suspenso no ar. Curti muito a história, de como o cotidiano nos engana. A vida sem enigmas é muito tediosa...abraços.

Wilson Natale disse...

Saidenberg:
Então foi Alzares da sorte. Um pequeno Eclecimento, não é?...
Ahahahahahaaaaaaaaaa!
Abração,
Natale